Querido Diário,

Eu fui no consultório do doutor Bane. Foi uma experiência meio engraçada, porque eu não acho que ele seja realmente um psicólogo. Eu esperava uma sala branca, um ambiente arrumado, uma pessoa profissional. E tudo que eu via ao chegar lá era um lugar colorido e descontraído.

Ele estava usando short. Que tipo me médico te atende assim? Ele me ofereceu conhaque, pediu pra que eu sentasse no sofá e ligou o rádio. Não reconheci a música, mas parecia ser bem antiga. Eu não me lembrava de nenhum médico que ligo o som no consultório.

Ele pediu pra que eu começasse a falar, e eu travei. O que eu iria falar? Eu esperava que ele me fizesse perguntas. Bane pediu pra que eu falasse o motivo de eu estar ali, e levou uns bons minutos pra eu conseguir dizer.

Eu comecei a falar que estava em uma crise no casamento, e ele me mandou parar. Disse que essa coisa de casamento era a coisa mais idiota que alguém poderia fazer, que se prender a alguém não era bom. Ele chegou a dizer que me ajudaria a contratar um advogado caso eu quisesse divórcio. Eu não sabia se ria ou se eu chorava.

Eu não estava ali pra falar mal do Pierre, na verdade eu estava ali pra falar bem. A questão é que isso não deu certo, e não sei se vou voltar lá. Como eu poderia explicar meus sentimentos por Pierre a alguém que não fosse ele mesmo? Eu teria que começar falando como foi que eu o conheci. Eu não poderia dizer. Eu teria que contar coisas que eram só nossas. E se ele me perguntasse o motivo do Pierre ter ido embora? E se ele me perguntasse...

O único amigo que eu tenho é você, diário. Eu não sei se Pierre é meu amigo. Eu entenderia, se ele não quisesse ser. Por que alguém como ele iria querer me ter como amiga? Eu sou horrível.

É por isso que eu tenho que te levar pra todos os lugares, diário. Eu não quero me sentir sozinha. Você é minha única companhia, única.