Querido diário,

esta uma bela noite, não acha? Eu acho que esta. Eu tenho que ser breve pq eu sei que a qualquer instante Pierre vai sentir minha falta. As vezes acho que ele se preocupa demais. Provavelmente vai sentir que não estou deitada do lado dele e vai pular da cama pra me encontrar.

Uma vez, a muitos anos atrás, ele me confessou que o maior medo dele era que algo acontecesse comigo. Ele disse que não suportaria me ver machucada. Eu me sinto tao segura com ele. Sabia que ele ja salvou minha vida varias e varias vezes?

A primeira vez, que eu me lembre, foi quando eu tinha uns sete anos. Eu estava brincando de bicicleta na calçada quando um carro quase passou por cima de mim. Pierre correu a uma velocidade impressionante pra me empurrar da frente do carro. Ele quase quebrou uma perna. Nos dois saímos com vários arranhões. Minha bicicleta ficou toda amassada, e apesar dos esforços de Pierre de concerta-la ela ficou toda destruída. Uma semana depois apareceu o anuncio no jornal de um carro que tinha sido completamente destruido. Era o carro do homem.

Na segunda vez foi algo mais sério. Nossa turma da escola tinha saído pra um passeio no parque e eu queria porque queria ir na escalagem. Tudo parecia bem até eu chegar quase no topo e o cinto de segurança rasgar. Eu quase cai de 4 metros de altura.

Eu sabia que ia cair. Minha mao estava suada e escorregadia, e por mais que eu me esforçasse eu estava com medo. Eu não conseguiria. Eu fiquei esperando que alguem notasse que algo estava errado comigo, que eu estava em perigo, mas as pessoas não estavam prestando atenção em mim. Só Pierre.

No instante em que o cinto se soltou ele começou a subir. Quando ele passou do meu lado eu levei um susto, ele estava escalando rápido demais e sem nenhum cinto, sem nada. Ele chegou no topo e tentou me puxar. Foi nesse momento que as pessoas começaram a gritar e a pedir socorro. Meus pés tinha escorregado e minha mão esquerda também, e a única coisa pela qual eu lutava pra continuar era ele.

Pra alguém que visse de longe ele parecia calmo e sob controle. Mas eu sabia que não estava. Eu conseguia ver o suor descendo pelo seu rosto e o desespero em seu olhar. Ele ficava me dizendo pra ser forte, pra não soltar, dizia que se eu caísse ele pularia e cairia junto.

E eu também fiquei apavorada, porque se ele se machucasse e por mim eu morreria. Ele me puxou pra cima, e quando eu finalmente pude respirar em segurança ele me abraçou, forte. Foi a primeira vez que eu o vi chorar. Eu senti uma lágrima descendo pelo seu rosto, e embora ninguém tenha visto eu vida seus olhos marejados. Ele nunca chorou nem pela mãe dele.

Eu acho que as pessoas achavam que a possessividade dele por mim era perigosa. Uma vez minha irmã chegou a comentar se ele não teria coragem de bater em mim. Eu fiquei triste com esse comentário, mesmo que ele fosse de brincadeira. Eu queria poder explicar pra todo mundo que ele jamais encostaria um dedo em mim. Ele sempre diz, não se bate em uma mulher nem com flores.

Ele viu a mãe dele apanhando quando era pequenininho, e ele nunca iria fazer isso. Pierre pode parecer durão as vezes, mas eu sei o quanto ele é sensível. Ele não gosta de lutar contra um oponente mais fraco que ele, ele prefere alguém do tamanho dele. Ele é um defensor dos fracos e oprimidos. Ele é o meu herói. Ele é o cara que acabou de levantar da cama e está vindo pra cá.

PS: Desculpe tocar nesse assunto. Sua mãe. Eu sei que você não gosta.

PS: Sei que já disse isso, mas parabéns pelo emprego novo. Como você virou sócio de um clube de futebol em menos de duas horas?