Querido Diário,

Estamos nos aproximando de julho, o dia hoje está ensolarado, o vento está fresquinho e gostoso e dá gosto ver as folhas e os galhos das árvores se balançando.

Uma pessoinha disse que eu ronco. Não acredite nele, isso é uma mentira e das grandes.

Eu estou começando a achar que sou a mulher mais perfeita (e infantil) do mundo. Pierre não se cansa de dizer sobre as minhas qualidades (algumas eu nem sabia que tinha) e faz os meus defeitos virarem qualidades, como o fato de eu ser uma medrosa nata. Sim, eu sou (ou era) capaz de enfrentar qualquer pessoa que se metesse comigo, eu consigo colocar qualquer patricinha ridícula no seu lugar, mas NÃO consigo assistir filmes de terror e violentos. Pierre sempre soube disso, claro. E sempre tira vantagem.

Eu sei que ele quer que eu me abra mais com ele. Acho até que ele está com ciúmes de mim e da Gabriella, já que ando saindo e conversando muito com ela. Eu sei que ele quer que eu conte a ele até os meus pensamentos, mas eu não consigo. O bom é que ele sabe disso. Ele sabe que se insistisse eu me sentiria pressionada, me sentiria sufocada, então ele me dá espaço. Exceto nesse diário. Mas eu estou simplesmente amando a ideia, e graças a isso eu estou me sentindo melhor. Muito, muito melhor.

Eu não consigo falar de Matt pra ele, eu travo. E eu sei que ele não iria querer ouvir, embora fosse fingir isso. Que homem quer ouvir sua namorada falando do ex? Embora eu não seja sua namorada. Tecnicamente falando. Esse diário é um meio pra chegar nos fins.

E ele diz que eu não deveria me sentir culpada por sofrer por outro. É complicado. Eu gosto do Pierre, mas... Eu não o amo. Isso é tão...

Recomeçando...

Pierre, falo agora diretamente com você. Como você bem disse (várias e várias vezes), eu estou melhorando. Quero continuar escrevendo aqui, eu gosto disso, mas às vezes não quero fingir que estou falando com um papel quando sei que você vai ler isso. É estranho. Uma hora eu me dirijo a você, outra hora me dirijo ao diário. Tudo bem pra você?

Faz uns dias que você me perguntou se teria uma chance comigo, nem que fosse pouca. Eu não respondi, mas pelo sorriso que você deu, acho que sabe. Você sempre sabe, não é? Não desista de mim.

E eu não agradeci você pelo que fez por mim a algumas semanas. Lembra, quando você me acompanhou até a Sede da revista Teen Book e brigou com os assistentes de lá porque eles não queriam me deixar passar? Eu teria feito a mesma coisa que você. Antes, antes de Matt, de desapontamentos, de tudo isso. Mas não, eu fiquei quieta, parada, feito idiota vendo a cena. E depois eu só conseguia pensar em como eu mudei. Como uma pessoa poderia ter me mudado tanto? Essa não era eu.

Eu preciso ser sincera, embora a sinceridade machuque. Eu não sei se te amei a alguns anos atrás. Nós éramos jovens, você foi embora quando ainda estávamos na 6 º série. Como eu poderia saber o que era amor? Eu só sei que gostava muito de você. E ainda gosto. E seria uma mentira e das grandes dizer que você é como um irmão pra mim, porque eu não sentiria uma vontade louca de ficar beijando um irmão. Parece tão natural estar com você e encostar minha boca na sua. Ou quando você faz isso. Eu estou distraída e de repente você me beija. Você disse que antes desse diário tinha tentado falar comigo e prender minha atenção a você, mas não tinha conseguido. Deveria ter me beijado.

Você disse que estava um pouco confuso quando eu comentei sobre "E se..." . A questão é que se você não tivesse ido pra Itália com sua família (e eu não te culpo por isso) e se não tivéssemos perdido totalmente nosso contato meus sentimentos por você teriam crescido e muito. Mas você precisou ir embora. Eu conheci o Matt e me apaixonei. Não uma dessas paixões de adolescente, foi amor. Amor à primeira vista. Eu não posso mudar isso. Quando não dá certo, às vezes você consegue seguir em frente, às vezes não. Às vezes você consegue esquecer a pessoa e o quanto ela foi importante pra você, às vezes não. Eu faço parte desse 2º grupo. Acha que eu não queria esquecê-lo e seguir em frente? Quantas vezes eu já disse estou tentando e não dá certo?

O amor é um risco. Ou você confia ou não confia. Eu confiei nele várias vezes e só me decepcionei. Eu digo a mim mesma que preciso de tempo, e você diz a mesma coisa. Mas quanto tempo? Não sabemos.

Mas chega de falar de mim, estou me cansando disso. Quero saber de você. Eu tenho sido uma amiga tão negligente, parece até que não me importo com você. É sempre eu, eu, eu, eu.

Você não me contou o por quê de ter desistido da carreira de modelo e jogador de futebol. E até recentemente eu nem sabia que você tinha virado fotógrafo. Eu sei tão pouco do novo Pierre.