A captura do tordo escrita por Maga Clari, Katsudon


Capítulo 8
O voo de resgate


Notas iniciais do capítulo

Foi mal a demora, estamos com provas e tem sido muito difícil postar.
Hope you enjoy ^^



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Novamente estávamos naquela sala de reuniões para decidirmos os detalhes do resgate de Katniss. Minha Katniss. Como o combinado, participaria de decisões importantes, claro que eu estaria aqui. Depois da reunião que fiz minhas exigências, a Presidente comunicou todo o Distrito 13. Até ai achei muito bom porque teria testemunhas. O problema veio quando Coin anunciou que se eu não cumprisse meu papel, todas as minhas condições seriam canceladas, ou seja, falhar não era uma opção.

Eu estava suando frio e com o coração acelerado. O plano tinha que ser perfeito, qualquer erro pode ser fatal para Katniss. Além disso, tinha uma presença na sala me incomodando profundamente e não era Coin ou mesmo Gale. Era Haymitch. Ainda não o tinha visto e preferia continuar assim. O que ele fez, para mim, não tem perdão. Sabia que a decisão não cabia apenas ao meu mentor, mas esperava que representasse minha opinião.

Estávamos nos encarando. Eu tentando passar toda decepção e raiva, e ele com olhar “Você não sabe o que é melhor, garoto. Então relaxa e toma um drink”. Eu realmente não o queria aqui.

– Boa noite a todos. – deseja Coin. A presidente não parece muito feliz.

Todos respondemos e nos sentamos.

– Creio que todos sabem a pauta da reunião. – começa. Os presentes assentam – Para o plano de resgate, teremos Beetee para planejar a parte teórica e o Comandante Boggs para executá-lo. Daremos inicio ao planejamento.

Na parte central da sala tinha um telão enorme. A imagem aérea da mansão do presidente Snow apareceu. Beetee começou a explanar seu plano para nós. Explicou que a melhor opção seria invadir pelo o ar e entrar pelo quintal. Como não sabíamos onde exatamente estavam, tínhamos que ter um bom número de soldados, pois, com certeza, haveria muitos guardas tanto dentro quanto fora da casa. Quando finalmente as encontrássemos, sairemos o mais rápido de lá. Algumas ressalvas eram feita, como a proteção do aerodeslizador. Um grupo com armas especiais ficaria guardando o nosso transporte enquanto o resgate acontecia. Algumas simulações foram apresentadas colocando vários pontos possíveis de onde Katniss, Annie, Johanna e Enobaria estariam; prováveis números de guardas e locais protegidos entre outros detalhes.

– Como citado anteriormente, precisaremos de uma grande equipe. Voluntários? – Boggs perguntou.

Automaticamente levantei minha mão. Além de mim, Finnick, Gale mais umas 5 pessoas se ofereceram. Todos me olharam estranho e não entendi.

– Você não vai. – Haymitch decretou. – Você é valioso demais para ser exposto.

– E quem é você para determinar o valor de alguém? – cuspi.

O bêbado estava pronto para responder quando foi interrompido.

– Ele está certo, Sr. Mellark. – disse Coin. – Te expor dessa maneira é quase como entregar sua cabeça numa bandeja para Snow.

– A senhora não está entendendo. Eu preciso ir. Não posso simplesmente ficar aqui enquanto eu não souber que ocorreu tudo bem. – digo indignado e desesperado.

– Essa questão não está aberta a discussões.

– Se... Se eu não for, eu vou... eu vou morrer. – ameaço.

– Você está ameaçando se matar? – ela diz num tom reprovador.

– Você ficaria surpresa com que o ser humano é capaz de fazer no desespero. – respondo olhando diretamente nos seus olhos mostrando toda minha sinceridade.

A presidente fica calada por longos minutos, parecendo considerar a ideia. Isso gera murmúrios reprovadores. Por fim ela resolve aceitar.

– Com uma condição: você será da equipe de guarda ao aerodeslizador.

– O que? Eu não...

– Ou isso ou você fica.

Suspirei derrotado ao constatar que era a única opção.

Terminei de calçar o coturno sendo que era a única peça que faltava no meu traje. Com todos os detalhes resolvidos e número suficiente de soldados, o resgate estava marcado para hoje mesmo daqui a algumas horas.

Alguém bateu na porta do meu compartimento e gritei um breve “entre”. Um pequeno furacão loiro passou correndo pela a porta vindo me dar um abraço apertado.

– Obrigada, obrigada, obrigada! – Prim agradeceu ainda agarrada a mim.

– Pelo quê? – perguntei confuso.

– Oras, por resgatar minha irmã. – respondeu como se fosse a coisa mais óbvia do mundo.

Eu ri. Soltei-me dela e abaixei até ficar a sua altura. Olhei em seus olhos seriamente.

– Você sabe que eu a amo, não sabe? – pergunto e ela balança a cabeça. – Eu faria qualquer coisa por Katniss. Não estou fazendo um favor, estou fazendo o certo. Sou o tordo também e acho que precisamos mais dela do que de mim, certo? As ações delas são inspiradoras, mais que minhas palavras. Então não precisa agradecer.

Prim me abraçou fortemente de novo. Ficamos assim até que deu a hora de ir.

– Vou trazer ela de volta para nós. – pisquei e a loira me deu um sorriso.

Saímos e me dirigi junto a outros soldados para o elevador que iria levar para a área das aeronaves. Chegando lá minha boca se escancarou em admiração.

– Uau. – escapou por meus lábios.

O enorme galpão que adentrei não tinha apenas aerodeslizadores. Tinha tanques de guerra, caças, helicópteros e um arsenal inteiro de veículos.

– Legal, não? – perguntou Gale com um sorriso aparecendo ao meu lado. Sorri também concorrendo. Não que tivéssemos virados melhores amigos, mas aceitamos uma trégua silenciosa por Katniss.

Todos se reuniram perto de um dos aerodeslizadores onde o Comandante Boggs dava instruções.

– Soldados, iremos em 3 aerodeslizadores. O maior será o do resgate do Tordo e os outros dois serão os de suportes. O primeiro descerá no a frente da mansão e 25 de vocês irão entrar a procura das prisioneiras enquanto 10 fazem a guarda. Os de suporte terão 20 soldados cada e irão dar cobertura ao maior. Nas 3 aeronaves há listas dizendo onde cada militar irá. Podem ir procurar.

Eu já sabia em qual eu ia, no do resgate. Gale, Boggs e Finnick estavam lá também. Adentrei nele com um único pensamento.

“Darei um jeito de encontrar meu Tordo”

***

Voamos pelo céu do Distrito 13, arodeando o que antes fora mais uma facção subordinada do Snow; o que sobrara, hoje, do antigo D13 estava em ruínas. Passamos pelo prédio o qual sempre aparece no vídeo que antecede à colheita e, de acordo com o que se é implantado na cabeça dos menos afortunados, onde se foi destruído todo um núcleo de rebeldes. Seria realmente uma pena repetir o que o audacioso e maléfico D13 fez, não é, Panem? Mas que pena... agora nós estamos aqui, prestes a fazer a verdadeira justiça.

Quando adquirimos estabilidade de voo, fomos autorizados a abrir os cintos e a circular pelo aerodeslizador o quanto quiséssemos. Eu não estava com muito ânimo de fazer qualquer coisa naquele momento; optei por continuar no meu lugar, observando através da janela hesitantemente. Escuto um arrastar de pés e o som abafado de alguém que acabava de sentar. Olho para a figura ao meu lado e lhe ofereço um sorriso de canto.

– E aí?

– Ansioso?

– Nossa, você não faz ideia - me inclino para ele e recosto meu corpo na parede. Coloco os pés no banco e dou um suspiro profundo.

– Toma, vai te fazer bem. Só assim eu tô aguentando.

Levanto a sobrancelha inquisitivamente para o cara que ama a mesma garota que eu. Compartilho o riso com ele e acabo aceitando a garrafa de Whisky. Inclino ela de uma só vez e sinto o líquido efervescente queimar-me a garganta. É realmente bom.

– Viu só? Não mata ninguém - ele baixou os olhos e pegou a garrafa de volta - Acho que se fosse noutro contexto eu já estaria gritando um monte de coisas pro pessoal aqui, mas estou tentando ficar calmo e me concentrar.

– Como vou saber que não pôs veneno aqui? - verbalizo minha súbita preocupação.

– Vai ter que ficar com o doce prazer da dúvida - piscou o olho esquerdo e, depois de alguns segundos, riu e socou meu ombro - Ah, qual é, se eu tivesse posto veneno você já estaria morto agora. E eu não teria bebido junto. Vê se cresce, bebezão.

Deu outro gole e pôs as pernas na mesa à nossa frente. Por que ele estava sendo legal comigo? Talvez fosse algo do tipo "vamos ser amigos em prol do desejo comum", mas e depois? E quando Katniss fosse resgatada, o que seria de nós? E quando ela fizessem, enfim, a sua escolha? Odeio representar. E era mais ou menos isso que estávamos fazendo. Representando. Dois amiguinhos. Mas, de fato, ele tinha uma certa razão. Então, por fim, decidi me afastar dele e estava tudo certo.

Saí caminhando pelo aerodeslizador e repassei o plano com os rapazes. À medida que víamos a paisagem mudar, e ouvíamos o tic tac do relógio, meu coração só faltava parar de uma só vez. O que aconteceria lá? Eu nem queria pensar na possibilidade do fracasso. Nós todos tínhamos que voltar com vida e com nossos tributos sãos e salvos.

Essa demora está me matando!

As pessoas percebem essa minha inquietação e Beetee me arruma um calmante. Vai dar tudo certo, no fundo eu sei que vai. O problema é que o Snow está certo; somos os amantes desafortunados. O destino quer que continuemos sempre enfrentando desafios dia após dia e isso tudo tem sido muito difícil. Eu preciso da minha Katniss. Esperei minha vida inteira por isso, agora é minha chance de enfrentar nosso karma. E eu vou ganhar.

– Chegamos pessoal - o piloto grita e há uma série de gritos em aprovação.

Corro para a janela e observo o mundo artificial à minha volta. Flores, prédios, bancos, lagos. Tudo projetado, tudo minimamente detalhado. Não sou mais uma peça desse joguinho deles. Eu não pertenço mais à esse maravilhosamente lindo tabuleiro. Agora é a nossa hora de xeque-mate, Snow.

Vejo os soldados dos outros aerodeslizadores pularem para fora e formar um batalhão na fachada da casa do Presidente. Um outro grupo, ainda maior, aparece correndo e passa pela estreita abertura que eles deixaram para que agilizassem tudo o mais rápido que fosse possível.

Continuo viajando no que estou acabando de presenciar quando algo interrompe meus devaneios; ouço uma voz distante dizer frases sem sentido, repetidas vezes, e tornar a reestruturá-las. Sigo o som e dou de cara com Finnick sentado mais para o fundo. Ele está escrevendo qualquer coisa num papel meio amassado e vez ou outra risca palavras.

– Hey, Finn - sorrio e sento ao lado dele.

– Peeta - ele também sorri e esconde timidamente o papel - Já chegamos, não é?

– Sim... - respondo vagamente - O que você tem aí?

– Ah! - ele ri baixinho e olha pra mim com um sorriso sem graça - É um bilhetinho pra Annie. Eu queria que entregassem a ela antes de me ver. Sabe, nós sempre fizemos esse tipo de coisa, ela é bem romântica. Ei, não me olha assim, não é engraçado.

– Eu não disse nada! - dou risada e pego o papel de volta pra ler - Na verdade, acho completamente idiota. Mas não vou mentir, eu já fiz e continuo fazendo coisas desse tipo, então... Bem, não posso falar nada.

Finnick deu uma piscadela e me observou lendo. Corri os olhos pelas linhas e suspirei profundamente. Ele escrevia bem. Cada um sabe usar seus talentos da melhor forma possível quando se está em situações como essa.

Arrastei o texto de volta pra ele e fiz um ou dois comentários, sugerindo coisas para serem acrescentadas ou retiradas. Ele assentiu em concordância e passamos um bom tempo nisso; nem vimos as horas passarem.

De repente, escuto um barulho brusco do lado de fora. Nosso impulso foi se levantar e ver o que era. Pareciam tiros. E dos feios. Quase que instantaneamente, o piloto aperta o botão e joga a escadinha. Um soldado chega, ofegante, com algo no colo. Meu coração dispara. Mas já?! Será que é... Não, não pode ser ela. Ou será que sim?

Finnick nota minha expressão e diz um simples Vá lá e volta a repetir em voz alta a cartinha que havíamos acabado de escrever. Eu desejei, profundamente, que ele também pudesse compartilhar desse sentimento que eu estava tendo ao cair na real que minha Katniss estava aqui. Era ela sim. Eu vi o final da sua trança balançando ao ser conduzida à ala hospitalar. Sigo o soldado e abro a cortina. Não consigo me controlar e dou um sorriso de orelha a orelha. Ela está viva.

Katniss está gritando sem querer se render às ordens, como sempre, e eu tento tranquilizá-la. Se ela ver que eu estou aqui, talvez compreenda a gravidade da situação e faça o que eu pedir.

– Ei, ei, ei. Deixa ela. Deixa comigo.

Me aproximo do tordo, ofegante, e não tiro os olhos dela um segundo sequer.

– Como ela está? - pergunto.

– Ela não colabora com nada e...

– NÃO ME TOCA! - ela grita subitamente quando eu tomo a iniciativa de tocá-la para ver como está.

– Escuta, garoto, não temos o dia todo...

– Fica tranquila - falo baixinho, dirigindo-me para a aparelhagem médica - Pode deixar comigo.

A enfermeira me instrui sobre o medicamento que devo dar à ela e então coloco o morfináceo na seringa. O que eu não sabia, era que Katniss teria uma reação daquelas: ela me agarrou e tentou me sufocar. O que será que estaria passando em sua mente conturbada? O que o Presidente Snow teria feito com ela? Ignorando meus pensamentos de temor e inferioridade, reuni toda a minha força e injetei o morfináceo de uma só vez nela, antes que eu mesmo morresse ali. Nós dois fizemos um barulho anormal e soldados vieram certificar-se de que estava tudo bem. Mas não estava. Nem um pouco.

Quando me desvencilhei dela, a realidade bateu-me em frente. Ela estava fora de si. Eu sinto cheiro de teleguiadas. Eu mesmo já fui vítima delas um trilhão de vezes. Eu quero, muito, acreditar que não seja nada demais. Eu quero acreditar que amanhã, quando eu acordar, terei a caçadora de volta pra mim. Ela irá ter pesadelos, procurará meu leito e se aninhará ao meu lado. Prefiro acreditar que, quando chegarmos ao D13 novamente, iremos ser um casal de verdade.

Prefiro tentar destruir de todas as formas o pensamento que está resistindo muito à sair da minha cabeça. Porque, uma vez extinto, ele provavelmente não voltará e, alimentando minha última tentativa de esperança, eu estarei errado. Está realmente difícil parar de pensar nisso. Murmuro, derrotado:

– Acho que perdi meu tordo.


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