A captura do tordo escrita por Maga Clari, Katsudon


Capítulo 7
Peeta real X Peeta bestante


Notas iniciais do capítulo

Oi oi meus queridos :)
Quero ver todo mundo comentando, hein? u.u



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Ainda abalada com o que disse a voz e o dono dela, fico totalmente paralisada em choque. Isso simplesmente não faz sentido. Esse tom de voz não combina com o dono. Peeta nunca faria isso comigo, certo? Ele me ama, não?

"Não vou repetir, Senhorita Everdeen. Dirija-se imediatamente à Cornucópia. Ou bestantes farão isso por você"

Lembro-me daqueles cães gigantes com os olhos de tributos e daqueles macacos enormes. Não quero nenhum deles aqui e muito menos encostando em mim. Começo andar lentamente pelo caminho que acredito ser o que leva à Cornucópia.

Quando chego, a cena que vejo me desespera. Prim presa a uma cadeira, com os pés e mãos atados e uma mordaça na boca. Ela me olha desesperada, pedindo socorro por esse olhar já que a boca não pode. Isso basta para que eu correr até ela, mas, assim como na segunda arena, tinha um campo ou um vidro que me impedia de chegar a ela.

– PRIM! PRIM! - grito loucamente.

O corpo de Prim começa a chocalhar e seus olhos amplamente abertos. Leva um segundo até que eu entenda o que está acontecendo. Ela está levando um choque. Fico ainda mais desesperada. Começo a chutar, socar e esmurrar o vidro na esperança de quebrá-lo, porém nada surge efeito. O cansaço vai me dominando aos poucos.

– Prim. Prim - agora minha voz sai como nada além de um sussurro quase inaudível e meus socos perdendo o ritmo.

Vou escorregando pelo o vidro que nos separa até estar no chão, com sons esquisitos que escapam da minha boca por causa do meu choro desesperado, apenas olhando-a sem poder ajudá-la. Chega um momento que minha irmã fica imóvel. Seus olhos estão abertos e completamente sem vida, sua cabeça levemente tombada para o lado e seu corpo mole. Tento inutilmente atravessar essa parede transparente que nos separa quando fica tudo escuro.

"Então, senhorita Everdeen, gostou da pequena surpresa que lhe preparei?", Peeta gargalha de maneira sádica

O que? Como assim? Não ele não pode ter feito isso. Peeta sabe que Prim é a pessoa mais importante da minha vida. Subitamente a adrenalina sobe minhas veias e a raiva toma conta de mim.

– Como você pode fazer isso? – grito. – Ela é só uma criança.

Eu ando por onde estou procurando uma saída, mas nada encontro. Desesperada e frustrada, grito escandalosamente. Isso não pode estar acontecendo. Primeiro eu estou nesse inferno de arena novamente, segundo minha irmã está em perigo se já não estiver morta. Penso que só talvez eles estejam usando a imagem de Prim e não ela em si, como na segunda arena com os gaios tagarelas.

Estou tão concentrada em minhas dores que não percebo quando ele entra. Ou melhor ela. Pequena, sobre quatro patas e um pelo loiro brilhante, a bestante lobo com olhos azuis de minha irmã e uma coleira com número 12 se aproxima de mim. Ela anda devagar como se fosse uma cobra preste a dar o bote e eu fosse a presa. Quando a bestante avança, eu recuo. Ela rosna.

Minha mente já trabalhava em mil formas de sair dali. Se eu corresse, com certeza me alcançaria. Se eu tentasse me aproximar iria avançar em mim. Se ficasse simplesmente parada acabaria comigo em dois minutos. De repente a realidade caiu. Se aquela bestante estava ali com seus olhos quer dizer que Prim está morta. Logo a realidade me bate e eu já estou chorando copiosamente.

A recém-descoberta da morte da minha irmã me distraiu e no momento em que voltei a olhar para a bestante ela já estava pulando em mim. Caímos no chão, com o animal por cima. Ela arranhava meu rosto ou onde tocasse enquanto eu tentava, desnorteada por causa dos olhos, tirá-la de cima de mim. Às vezes a garra dela fazia com que eu batesse fortemente a cabeça. Depois de muitas pancadas na cabeça e muitas tentativas falhas de mel livrar dela eu desmaio.

**

Quando recobro a consciência, sou surpreendida mais uma vez pela minha mente: estou deitada de barriga pra cima, e ainda há sangue na minha roupa; tento levantar, mas meu corpo dói muito do esforço das últimas horas. Ponho a mão na cabeça e guincho de dor.

Respiro fundo e então ouço um barulho distante... quase como se fosse fruto da minha imaginação, mas não é. Estou deitada na margem de uma cascata. Por que, então, eu escuto como se estivesse a metros de distância? Instintivamente, rastejo o meu corpo para ainda mais perto da cascata. Os pingos que caem em mim são rejuvenescedores; me obrigo a ignorar as dores e a mergulhar, membro a membro, naquelas águas milagrosas.

Solto um som de alívio, deixando os machucados serem anestesiados. Estou deitada agora. A água é tão rasa quanto uma banheira. Fecho os olhos, me permitindo ter pelo menos uns instantes de sossego e racionalidade. Não tem mais Prim. Nem Peeta. Nem Snow. Graças a Deus. Por favor, eu estou implorando, penso. O que eu fiz pra merecer tudo isso? Uma terceira arena? Eu fiz de tudo para que minha irmã não crescesse problemática, assim como eu, e tudo foi em vão? Deus, se estiver me ouvindo, me responde, por favor! Por que tinha que levar o meu pai naquela mina idiota?

"Porque você quis mexer com o destino. Era para Prim ter ido desde o começo, Katniss. Aceite isso"

Uma voz surge. Tão distante quanto a cascata. Que diabos está acontecendo, afinal? Levo a mão ao meu ouvido esquerdo e descubro que minha audição morreu de vez; se já era defeituoso, agora só piorou. Droga! Procurei o autor da voz e dei um gritinho quando um rosto apareceu onde antes eu estivera, na margem.

"Se você não tivesse se oferecido, nada disso estaria acontecendo, Katniss"

– AAAAH! - grito. Não pode ser, não pode ser ele.

"Prim agora é bestante. Era isso que você queria, Catnip?"

Espera. Catnip?

"Me responde, senhorita Everdeen. Quer que o caçador também acabe como Prim? Quer ferir mais outra pessoa? Como sempre fez?"

– Peeta?

Minha voz sai como um sussurro. Um sussurro suplicante e incrédulo. Não era ele, não pode ser. O Peeta que eu conheço e o da voz assustadora são pessoas diferentes, não é? NÃO É?

Mas o rosto dele ali, na lama, me faz pensar na ligeira e inconsciente possibilidade dele estar ali, mais uma vez, condenado ao triste destino pelo qual todo o distrito 12 tem que passar. Tento afastar meus pensamentos, mas não consigo. E se toda essa raiva for ciúmes? E se o dono da voz do começo for falso e este, o Peeta camuflado, for de verdade? E se o tiverem raptado também? Estico minha mão, lentamente, em direção a ele.

"Não me toca!"

Afasto os dedos, no impulso, pouco antes de alcançá-lo. Senti um campo elétrico bem forte ali, ele põe o indicador nos lábios.

"Quer que eu morra também? Já não basta ter sido o motivo de me trazem pra cá? Não podemos ser pegos. Você destrói tudo que toca, Katniss Everdeen"

– Peeta... Não, por favor - suplico, já sem saber o que está dando em mim. Consigo sentar e me encostar nas rochas da cascata. Meu cabelo está grudado nas costas - Me desculpa, Peeta, me desculpa.

– ACABOU A FESTA NA REALEZA!

– O... o quê?! PEETA!

Reuno minhas forças, não sei de onde, quando uma flecha em chamas cai em sua direção. A imagem dele fica desfocada e, lentamente, se transforma num bestante também. Não... ele também não. Começo a chorar copiosamente até que as garras dele se armam pra mim; ele não parece sentir a dor das chamas, e eu fico estagnada, no mesmo lugar. Se todos pelo qual valeria a pena estariam mortos, ou à beira da morte, do que adiantaria lutar?

Me encolho toda, com a cabeça baixa, resignada. Então, levo os três dedos estendidos à boca e levanto ambos os braços, parecendo uma ave; a ave a qual eu fui escalada para ser. O tordo. Pode me levar agora, morte. Eu sou o tordo. Eu sou a figura pelo qual todos seguem, sou eu quem deve morrer como mártir. Pode vim. Eu estou pronta.

Antes que eu pudesse abrir os olhos, o que eu não pretendia fazer, sinto meu corpo machucado ser içado para o ar. Eu juro que estava esperando dentes e garras, mas, ao piscar, sou surpreendida por várias imagens misturadas e sem foco: braços pesados e fortes de uniforme me segurando, armas para todo lado, e, ainda, alguns rostos.

Ouço ordens:

– ATIREM ALI!

– NÃO, NÃO, ALI!

Alguns gemidos de dor:

– AAAH!

– LEVEM-NA COMO PRISIONEIRA

E ainda, o meu anunciamento:

– ESTOU COM O PÁSSARO, ABRAM CAMINHO!

Tento levantar a cabeça mas o soldado empurra ela de volta para seu peito.

– Agora não, Everdeen, fica quietinha.

Sinto ele me levar, rápido como um raio, enquanto alguns vigiavam a porta. Vejo os duelos, já sem distinguir quem está de cada lado. Além de ser tudo muito rápido, os uniformes são parecidos. O soldado pula os 9 degraus à nossa frente e eu sinto o impacto súbito ao chegarmos ao chão.

Ele corre como se a vida dele dependesse disso. Talvez o emprego realmente fosse algo importante para sua sub-existência. Ainda estou meio zonza quando as garras do aerodeslizador nos leva até o céu. Ironicamente, estou indo para onde eu implorei para que me levassem. Estou pairando no céu. Voando. Como os outros tordos do bando. Eu cheguei até lá. Só não sei se essas pessoas são da Capital ou do núcleo rebelde.

– Levem-na para a ala médica. E rápido!

– Comuniquem aos outros - um segundo soldado exclamou.

Uma mulher me envolveu numa maca desconfortável e colocou uma borracha envolta do meu braço. Olhei para o lado e ela estava mechendo com agulhas. Arregalo os olhos e começo a gritar e tentar sair dali.

– ME SOLTA - ameaço - Nem pense em encostar isso em mim.

– Precisamos recolher seu sangue, senhorita Everdeen.

– Pra quê? Você vai enfiar um rasteador, huh? O que é que você quer de mim? Perderam a transmissão do seu showzinho e querem tentar de novo?

– Por favor, colabore - ela fala e se aproxima de mim com a agulha e um algodão - A não ser que queira ficar desacordada novamente.

– Não... toca... em... mim - digo pausadamente.

– Ei, ei, ei - escuto uma voz masculina por trás da cortina de privacidade - Deixa ela. Deixa comigo.

Levanto os olhos e os faço parar na figura à minha frente. Ele fecha a cortina atrás de si e para ao lado da enfermeira. Vejo que está suado. Com o uniforme levemente amassado e o semblante numa mescla de preocupação e alívio. Mas, por algum motivo, só vem uma coisa à minha mente: ele virando bestante. Ele me anunciando nos jogos.

– Como ela está? - fala, ofegante e se aproxima de mim.

– Ela não colabora com nada e...

– NÃO ME TOCA! - repito o que ele disse pra mim, minutos atrás.

Peeta, assustado com a minha agressividade, dá uns passos para trás. Ele não tira os olhos de mim. Deve estar me analisando e esperando a deixa para dar o bote. Faço o mesmo. Ele continua. Eu também.

– Escuta, garoto, não temos o dia todo...

– Fica tranquila - ele fala baixinho, e eu só escuto porque ele está do lado da minha orelha boa - Pode deixar comigo.

Então, quando a enfermeira sai da salinha e Peeta - o bestante - pega o material, incluindo as agulhas, vou em sua direção. Sinto um desconforto cada vez mais forte nas minhas veias, o que me deixa ainda mais tentada a avançar em seu pescoço. E é o que eu faço.

Quando o trago para perto de mim, tudo acontece muito rápido. Ele vai ficando roxo e ele espeta a agulha no meu braço, que já estava prendendo minha circulação à essa altura. O barulho desperta alguns soldados vêm e nos separam. Começo a ter algumas alucinações e logo caio num sono profundo. A última coisa que escuto antes de estar no estado alfa é:

– Acho que perdi meu tordo.


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