A captura do tordo escrita por Maga Clari, Katsudon


Capítulo 23
Epílogo


Notas iniciais do capítulo

Então queridos leitores esse é o último, o fim. Espero que tenham gostado da nossa estória. Obrigada, por mim e pela Clarissa, por terem acompanhado e comentado. Vocês são melhores pessoas. ♥ ♥ ♥ ♥ ♥
Aproveitem esse capítulo bem água de açúcar e mais uma vez obrigada a voçês.



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O cheiro da Campina invade minhas narinas trazendo uma sensação de paz que, graças a Deus, vem sendo uma sensação presente. Não tinha mais guerra, nem Jogos Vorazes, nem opressão sufocante, nem leis injustas. Finalmente tínhamos paz.

Panem ainda não é perfeita, mas tem estado muito melhor ao longo desses dez anos.

Dez anos desde o último tiro, desde a morte de Snow.

Ás vezes, revivo aquele dia na minha cabeça. O dia em que pensei ter perdido Katniss para sempre. Mas, como de costume, ela sobreviveu. Nós sobrevivemos.

No entanto,  sempre que me lembro desse dia, termino recordando o dia do casamento de Finnick. Um dos dias mais felizes da minha vida. Não posso impedir o sorriso que se abre em meu rosto ao me lembrar Katniss dizendo que me amava.

— Por que está sorrindo? – Katniss pergunta.

 Volto meu rosto para o dela e meu sorriso se abre ainda mais. Estamos na Campina, aproveitando a Primavera com um piquenique.

 A floresta agora pode ser visitada por qualquer pessoa, embora caçadas fossem proibidas. Pensei que Katniss ficaria triste com isso, mas não ficou. Ela não precisava. Ninguém mais precisava. Nosso governo tinha feito um plano de governo justo e que beneficiava a todos. Havia ainda a desigualdade econômica, mas ninguém mais passava fome.

Katniss me dá um sorriso esperando uma resposta. 

Ela está entre minhas pernas, com as costas encostadas no meu peito, e sua cabeça na curva do meu pescoço. Resolvo acabar logo com o silêncio:

— Pela mesma razão de sempre. Você.

Abaixo a cabeça, depositando um beijo rápido em seus lábios. Quando nos separamos, Katniss olha profundamente em meus olhos :

— Eu amo você.

Antes que eu tenha a oportunidade de responder, duas vozes infantis ganham nossa atenção.

— "Mi" dá, Will.

— Mas é meu, Rye.

Willow e Rye Mellark. Dois pedacinhos meus e de Katniss. Duas misturas perfeitas de nós dois.

— Parece que temos crianças com problemas para dividir o urso — Katniss ri, divertindo-se com a cena.

Dou uma olhada em meus filhos. Willow se agarra ao senhor Hay, o urso — em homenagem a Haymitch, ela o adora! —, enquanto Rye está de braços cruzados, fazendo um bico por não conseguir o que queria.

Logo, percebo estar sorrindo, lembrando-me de como costumava ser com meus irmãos e eu.

— Então, quer você ir lá resolver isso ou eu vou? — pergunto, notando que Katniss ainda os encara.

— Acho que vai ser nós dois já que eles estão vindo para cá —  ela responde, separando-se de mim e aderindo uma postura séria.

Desvio meus olhos para as duas crianças correndo em nossa direção. Willow vem na frente a passos rápidos, ainda agarrada ao senhor Hay, com uma cara brava igualzinha a de Katniss.

Rye está logo atrás, tentando não tropeçar nos próprios pés, já que caminhar ainda é ainda algo novo para ele.

Willow para na minha frente, encarando-me com seus olhos azuis iguais ao meus.

— Papai. Rye quer me tomar o senhor Hay.

Rye logo se pronuncia. Meu menino se embola nas palavras, evidentemente nervoso,  e seus olhinhos cinzas se enchem de lágrimas:

— Eu só "quelo" brincar um pouquinho com ele — insiste.

Katniss olha para mim, esperando minha reação. Já havíamos brigado por causa das crianças porque, de acordo com minha mulher, Willow me ganhava mesmo quando estava errada. E talvez, só um pouquinho, Katniss estivesse certa. Então, prometi que tentaria ser mais imparcial em relação as crianças.

— Willow, filha, já conversamos sobre emprestar seus brinquedos, especialmente com seu irmão, não é mesmo? 

— Sim, papai. Mas é o senhor Hay... — ela tenta, mas para quando vê meu olhar que diz “Se conversamos está resolvido”.  Will solta um suspiro contrariado e abaixa cabeça. Ela não tira os olhos de seu ursinho de pelúcia — Tudo bem, papai.

— Por que você não quer emprestar o senhor Hay ao Rye? — Katniss se manifesta no diálogo.

— Porque ele não tem cuidado, mamãe. Rye vai deixar ele cair e sujar.

— Tenho certeza que o Rye vai ser cuidadoso, não é Rye? – Katniss reforça, chamando nosso filho para a conversa.

Meu pequeno garoto assente alegremente, afastando o resquício de choro.

— Eu “plometo”, mamãe.

Willow olha de mim para Katniss e finalmente entrega seu brinquedo a Rye, que sai correndo alegremente.

Meu coração aperta ao ver minha pequena garotinha assim. Então, decido contar uma coisa que com certeza a deixaria alegre.

— Ei, bonequinha — chamo a atenção dela que me lançou um olhar magoado — Sabe quem está vindo para cá?

— Quem? — pergunta de má vontade, para fazer birra.

— Nicholas.

Então seu rosto passa de triste e emburrado para iluminado e feliz.

Nicholas é o filho de Finnick e Annie. Eles moram no Distrito 4, mas nos fazem visitas constantemente.

E apesar de não estarem sempre se vendo, Nicholas e Willow acabaram desenvolvendo uma amizade que nem mesmo a distância não consegue atrapalhar.

— Nick está vindo? — as palavras escapam de sua boca, enquanto seus olhinhos brilham.

Afirmo com um aceno:

— Por que, enquanto ele não chega, você não ensina ao Rye como cuidar do senhor Hay?

— Sim, papai — ela deixa um beijo na bochecha da Katniss e outro na minha, pouco antes de partir em direção a irmão.

Katniss volta a se deitar em mim, fechando os olhos. Pouso meu queixo no topo de sua cabeça, e então permito que alguns pensamentos me afoguem. Começo a pensar em nossa trajetória nos últimos anos...

Depois de Katniss dizer que me amava, ainda percorremos um longo caminho até nos acertamos como um casal. Ela estava com as paredes do coração levantadas, e com medo de não ser boa suficiente.

Foi um trabalho árduo convencê-la de que estávamos no mesmo nível; e quando isso finalmente ocorreu, consegui derrubar seus muros e ela se permitiu me amar sem barreiras, como eu a amava.

Confesso que tive a ajuda da minha cunhada durante todo o processo. E sou eternamente grato a ela por fazer meu casamento com Katniss acontecer.

No entanto, ainda tínhamos nossos próprios demônios para superar, nossas cicatrizes abertas. Os pesadelos dos Jogos e da guerra ainda estavam vivos em nossa mente. Foi algo que vencemos. Juntos. Tínhamos um ao outro, e era o que precisávamos, porque era isso que sempre fizemos: protegemos um ao outro, mesmo que não seja fisicamente.

Neste ínterim, Katniss e eu nos casamos. Depois de tudo, não precisávamos de mais enrolação. Queríamos ficar juntos logo. Desesperadamente.

No dia da cerimônia, enquanto fazíamos a cerimônia de torrar os pães, prometemos levar nossa vida da melhor forma possível, para fazer jus a todas as pessoas que morreram. A todos que lutaram para que Panem fosse livre.

Depois de estar casado com Katniss, o próximo passo foi convencê-la a ter filhos. Tive que lembrá-la de que não precisaríamos ter medo de mandar crianças para os Jogos. Nada daquilo existia mais. Só que ela estava tão aterrorizada com a possibilidade de perdê-las que não queria correr o risco. Sua mente ainda falhava, e isto me atormentava profundamente.

Com muita paciência e amor, fiz Katniss acreditar que sempre estaríamos próximos a nossos futuros filhos, e faríamos a mesma coisa que sempre fizemos um pelo outro: proteger.

Nunca vou esquecer dos dias em que Willow e Rye nasceram. Nem como Katniss estava ainda mais linda. Ou como nosso amor pareceu aumentar depois da chegada de nossos bebês.

Quanto aos outros, Finnick e Annie parecem viver um conto de fadas sem fim e eu ficava extremamente feliz por eles.

Haymitch não larga sua amiga aguardente, embora sempre esteja sóbrio quando fica perto das crianças. Na realidade, Katniss o proibiu de chegar perto deles bêbado. Ele claramente não gostou, mas acatou o pedido. E por algum motivo, Willow se tornou a melhor amiga dele. Ela o venera.

Johanna... Bem... Ela não se recuperou totalmente de seus traumas. Vive em seu Distrito natal em eterna observação sem poder sair dele.

A mãe e irmã de Katniss vivem na casa da frente, a casa que Katniss morou quando ganhamos os Jogos. A senhora Everdeen trabalha no Hospital do Distrito 12 como enfermeira. Prim cursa medicina e faz residência no mesmo hospital que a mãe trabalha.

Quanto a Gale, apenas sei que mora no Distrito 2. Mas de vez em quando está no 12 para visitar a família. Ele e Katniss não conseguiram reatar a amizade. Minha esposa disse que algo se quebrou entre eles, algo que não poderia ser reparado nunca mais.

Meus pensamentos são interrompidos por um suspiro profundo de Katniss. Por um momento, imagino que ela esteja dormindo. Mas pela sua expressão, vejo que ela está acordada, e seu suspiro me parece de preocupação. Estico o braço, para um dente-de-leão, e colho um deles.

— Uma flor pelos pensamentos dessa linda mulher — faço graça, parando a flor em frente ao seu rosto. Antes mesmo de abrir os olhos, Katniss solta uma risada. Fico satisfeito em saber que trouxe um sorriso para aquele semblante sério.

— Isso foi horrível — ela abre os olhos, e logo em seguida pega o dente-de–leão.

— Pensei que depois de tantos anos não precisaria ser tão criativo para conquistar você.

Ela ri, outra vez, convidando-me a sorrir com ela. A cena aquece meu coração. Katniss encara a flor, de modo carinhoso, como se o dente-de-leão tivesse algum tipo de significado.

— Então, não vou poder saber sobre o que pensava?

Sua alegria some e ela começa a girar a flor entre o indicador e o polegar, com uma seriedade incômoda.

— Estava pensando sobre os pesadelos. Sobre como um dia teremos que explicá-los às crianças.

Os pesadelos. Foi uma cicatriz que nunca conseguimos nos livrar e talvez nunca conseguiremos.

Seguro delicadamente o queixo de Katniss, virando seu rosto para o meu. Estávamos tão próximos que nossos narizes se tocavam. Ela volta a deixar que as pálpebras se fechem.

— Quando chegar a hora, você tem a mim. E eu tenho você. E eles nos têm. Sempre — afirmo, num sussurro. Tento transmitir toda a sinceridade nas minhas palavras — Vamos dar um jeito, encontrar uma maneira de fazermos isso juntos. Okay?

— Okay.

Encosto nossas testas e fecho meus olhos também.

— Lembra do casamento de Finnick? Quando lhe disse que sempre teve meu amor? — faço carinho no nariz dela enquanto as palavras fluem por minha boca. Ela assente — Você sempre o teve e sempre o terá.

— E você sempre terá o meu.

Minha mão, que ainda estava no seu queixo, desliza para seu maxilar. E quando eu estava prestes a beijá-la, somos interrompidos.

— Quem está cuidando das crianças?

Haymitch.

Tinha que ser.

Reviro os olhos e me afasto de Katniss, levantando-me, e logo em seguida lhe ajudando a colocar-se de pé.

Minha mulher cruza os braços, brava, com o cenho franzido. E é óbvio que Haymitch não perde a chance de provocá-la:

— Desculpa, docinho, não queria atrapalhar a pegação de vocês.

Katniss abre a boca para responder, mas Willow chega para os salvar.

— Tio Haymitch! — grita, enquanto corre na direção do nosso antigo mentor, que a recebe de braços abertos.

— Mini-docinho!

— Tio, tio. Sabia que o Nick está vindo?

— É mesmo? — ele a segura no colo, afastando-se de nós em direção ao Rye — Que legal!

Tínhamos combinado um piquenique. Nós, Haymitch, senhora Everdeen, Prim e o namorado, além dos Odair.

Katniss, as crianças e eu chegamos mais cedo para organizamos tudo.

Depois de Haymitch, não demora muito para os outros aparecerem. O resto dia transcorre bem e feliz, como planejado. Todos nós nos divertimos bastante. Finnick trouxe uma caixa de som e alegrou nosso piquenique com músicas animadas. Nicholas tirou Willow para dançar, e isso rendeu piadinhas do tipo “Fica de olho, padeiro, na sua garotinha” por parte de Finnick e Haymitch, e claro que não pude deixar de ameaçar Nicholas de castração, caso pensasse em encostar na minha bonequinha.

De repente, então, todos estávamos nos divertindo ao som das músicas de Finnick. Compartilhamos uma felicidade que nunca havíamos imaginado que pudesse existir.

No fim da tarde, resolvemos voltar para casa. Finnick, Annie e Nicholas ficariam hospedados conosco até voltarem para o 4. As crianças foram logo dormir, devido ao longo dia. O casal do mar, Katniss e eu não ficamos por muito tempo acordados também.

Depois de deixar o casal no quarto de hóspedes, seguimos para o nosso. Assim que fecho a porta, minha esposa boceja e vai ao banheiro se preparar para dormir. Visto minhas roupas de dormir enquanto espero Katniss sair do banheiro.

Quando ela sai, surpreendo-a colando nossos corpos no meio do quarto.

— Preciso fazer duas coisas que fui impedido de fazer hoje — anuncio, olhando-a intensamente.

— E o que seria, senhor Mellark? — ao perguntar, esboça um sorriso malicioso, como se soubesse exatamente aonde eu queria chegar.

Não respondo com palavras.

Deslizo minhas mãos por sua cintura e colo ainda mais nossos corpos. Katniss passa seus braços pelo meu pescoço e encosta sua testa na minha. E ficamos um tempo assim, apenas aproveitando a presença um do outro.

— Primeira: beijar você como merece. 

Não demoro para puxar o rosto de minha esposa para juntar-se ao meu. Ela cede instantaneamente, como se esperasse por aquilo há muito tempo.

Lembro-me de quando Katniss ainda hesitava em me beijar; de quando seus dedos tremiam ao segurar atrás de minha cabeça. Quando seu olhar era incerto, como se houvesse uma eterna dúvida no ar. 

Hoje, entretanto, os tordos reconhecem um ao outro. Não é preciso um canto, um código sonoro. Katniss e eu nos agarramos ao que mais precisamos no momento: proteção. E é justamente isso o que a faz confiar inteiramente em mim.

Sinto suas mãos apertarem minhas costas, e a lembrança de nosso primeiro Jogo vem antes que eu possa detê-la. Nós dois encolhidos na caverna. Meu amor de infância dizendo que nunca nunquinha namoraria alguém de verdade. E horas depois, roubando um beijo meu.

Será que a Katniss antes dos Jogos, aquela que caçava para se livrar da fome, aquela que tocou meu coração ao ponto de eu aguentar uma surra por lhe oferecer um pão, será que aquela Katniss está feliz ao meu lado?

Tento a todo custo não pensar nisto. Concentro-me apenas nesta Katniss. Na garota em chamas. No tordo-fêmea. Na mulher que deu à luz às duas crianças mais lindas do mundo. E que afirma, todo o tempo, que me ama.

Quando precisamos de ar, ponho as mãos em seus ombros, sem desviar os olhos dos dela, um segundo sequer.

— E a segunda coisa... — concluo, com a voz abafada. Sinto a palpitação de Katniss se misturar à minha — É te lembrar o quanto eu amo você.


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