A captura do tordo escrita por Maga Clari, Katsudon


Capítulo 20
Xeque-mate


Notas iniciais do capítulo

Como estão vocês, tributinhos?
Espero que se divirtam.
Beijos



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Finalmente estávamos arrumando tudo para nossa partida para resgatar Katniss.

De novo.

Tive uma aula básica de tiro com algum instrutor do 13, e acabei descobrindo que sou melhor na pontaria com armas do que com flechas. Parece que foi há dez anos que estávamos treinando para o Massacre. Eu obrigando Katniss e Haymitch a agirem como Carreiristas, Katniss nos dando aula de arco e flecha. Mas faz menos de um ano.

Em algum momento da tarde, Prim vem me ver com uma expressão nada amigável e eu já imaginava o motivo.

– Eu quero ir também – foi a primeira coisa que disse ao parar a minha frente.

Prim estava determinada a impor sua vontade, lembrando-me de sua irmã quando decidia algo. A mesma forma de cruzar os braços, o direito por cima do esquerdo; o pé direito um pouco mais a frente que o esquerdo, seus lábios comprimido formando uma linha fina, e até mesmo as linhas entre as sobrancelhas. É, exatamente como Katniss.

Meu coração se aperta ao me lembrar de meu tordo.

– Ela é minha irmã. Eu tenho que ir. Por favor, Peeta...

Ela me encara com olhos tão suplicantes que quase cedo.

– Prim...

– Não me venha com esse tom usado para crianças que não podem entender – me interrompe, logo quando ia tentar-lhe explicar que não podia permitir isso – Eu sou madura o suficiente para entender o que está em jogo. Sei que posso morrer...

Foi minha vez de interrompê-la:

– É exatamente por isso que você não vai! – grito, quase instantaneamente. Ela se assusta tanto com meu tom de voz autoritário que dá um passo para trás – Você morrer não é uma opção, Prim! Entenda isso.

Sua postura assustada se desfaz e ela parece querer argumentar comigo de novo, mas não lhe dou a chance.

– Você é uma criança. E crianças não vão a guerras como soldados. Não importa o quanto você seja madura.

Prim me lança um olhar chateado que parte meu coração, quase fazendo eu voltar atrás. Droga. Não queria brigar com ela, mas não tive escolha. Se Prim morrer, o que vai ser de Katniss? Qual o sentido de resgatá-la, se a razão de viver dela estiver morta? Não vou permitir isso. Além do mais, apeguei-me muito a essa garotinha para deixá-la ir de encontro à morte.

Prim se vira para ir embora, mas a impeço segurando seu braço e voltando sua atenção para mim. Abaixo-me a sua altura para olhar em seus olhos.

– Sinto muito ter falado com você daquela maneira. – desculpo-me, suavizando a voz. Olho para ela, observando o bico de birra que tinha se formado em seus lábios – E esse bico prova como estou certo – tento brincar, mas a irmãzinha de Katniss revira os olhos, deixando claro que não tinha gostado.

– Eu entendo que queira resgatar sua irmã, entendo de verdade – explico, encarando diretamente seus olhos azuis, com seriedade – Mas ela não pode perder você, eu não posso perder você. Não podemos correr o risco.

Ela dá um longo suspiro. Mas parece ter desistido de lutar comigo.

– Por favor, não fique brava comigo, patinha – abro meus braços para recebê-la nos meus, e fico feliz em vê-la sorrir ante o apelido que sua irmã lhe dera – Voltaremos antes do que você imagina.

– Não disse que concordo – pronuncia-se, finalmente, com a voz abafada pelo abraço – Mas, por favor, voltem logo!

– Não se preocupe.

E então, Prim cruza a porta de meu compartimento, sem nem olhar para trás.

Quando termino de arrumar minha mochila, resolvo dar um pulo no compartimento de Johanna. Faz muito tempo que não a vejo, e, de certo modo, sinto falta dela brigando com todo mundo. Era o modo como ela mostrava se importar conosco, por mais paradoxal que fosse.

Depois que voltou para o D13, Johanna não foi mais a mesma. Diferentemente de Katniss, a piradinha do Distrito 7 ficou com uma estranha calma e mudez. Imagino o quanto sua mente devia atormentá-la, mas ela apenas trocava uma ou duas palavras com alguém, nada mais do que isso. Nunca saía do seu compartimento, exceto para juntar-se a nós durante as refeições.

– Estamos indo trazer Katniss de volta – comunico a ela, tentando iniciar uma breve conversa – Partiremos em poucas horas.

– Não me interessa.

– Hã... – perco a linha de raciocínio temporariamente, pigarreando – Só pensei que você talvez gostasse de se sentir atualizada. E como estão as coisas?

– Estou à base de morfináceos. O que acha?

Observo Johanna apertar a bolsinha para que o líquido entrasse em suas veias mais rápido. De repente, ouço uma voz suave e alegre surgir atrás de mim:

– Animada para o casamento?

Finnick sorri, encostando-se na parede próxima a nós.

– Vai ter bastante comida.... – ele riu, dando uma piscadela – E muita bebida também, huh?

– Ótimo. Ando precisando de algo forte.

Eu e Finnick nos permitimos rir de nossa amiga maluquinha. E afinal de contas, tínhamos que descontrair antes de enfrentar o território de Snow.

– Voltaremos logo, não se preocupe. Anne vai ser a noiva mais linda de todas!

– Iupi! – ela respondeu, com uma falsa animação.

– Tchau, Mason. Vamos, Peeta, estamos atrasados.

Aceno com a cabeça e o sigo para o lado de fora, onde embarcaríamos num aerodeslizador.

Lá, encontro Gale e Boggs à nossa espera, em frente à aeronave.

– Mellark – Boggs anuncia, solenemente – Voaremos em dois grupos. Não podemos arriscar a tropa inteira como alvo. Você vai neste aqui – aponta para o aerodeslizador atrás dele, para ilustrar sua fala – junto com Beetee e a equipe de filmagem. Finnick irá comigo e Gale.

– Por que não posso ir com vocês?

– Porque não, Mellark – Gale se apressa em dizer, com a autoridade que continua achando que tem – Estas são as regras.

– Peeta – o comandante tenta outra vez, com um tom de voz ainda mais firme – Iremos na frente, para deixar a área limpa. Você é muito importante para que se arrisque. Não estou dizendo que não haverão riscos, mas é preferível que vá no esquadrão da retaguarda. Não temos tempo para discutir. Usaremos o Holo dessa vez.

– Holo? – Finnick perguntou, com a sobrancelha arqueada.

– Um dispositivo novo. Criamos para descobrir o campo minado. Soube que Snow planejou sequestra-la como isca. É bem possível que tenha instalado bombas durante o trajeto. No entanto, ele não se atualiza. Não mostram as novas. Por isso precisamos correr. Estamos entendidos?

– Sim, senhor.

– Finnick! Gale! Comigo!

Observo os três caminharem para o lado oposto, enquanto eu me dirijo para meu próprio aerodeslizador. Subo as escadinhas, lentamente, reprimindo as dores finas que sinto em minha perna. Tomo o lugar ao lado de Beetee e conversamos durante toda a viajem.

Fico nervoso demais para conseguir dormir ou relaxar. Minha mente não para de voltar para Katniss e o que quer esteja acontecendo lá na Capital. E se não for tão fácil quanto da última vez? E se Snow só estivesse brincando conosco em seu joguinho de Arena à céu aberto?

O tempo pareceu passar estranhamente rápido. Quando sobrevoamos a Capital, o sol brilhava mais do que o normal. Não sei se isso seria um sinal, mas eu estava confiante.

– Anda, Peeta. Vamos fazer uma tomada aqui.

Nossa diretora de filmagem anuncia, enquanto descemos do aerodeslizador. Eu apenas aceno com a cabeça e subo num monumento próximo à entrada da Mansão de Snow.

– Agora. Em três, dois, e...

– Cidadãos de Panem! – começo, com uma voz áspera e alta – Estamos aqui resgatando pela segunda vez Katniss Everdeen. Não deixaremos que Snow destrua mais um de nós! E estamos dispostos a um cessar-fogo....

– Não, não, Peeta – Cressida reclamou, fazendo sinal para que os meninos cortassem a gravação – Cessar-fogo não! Diga que se for preciso iremos lutar. E queremos que todos façam isso.

Respiro fundo e passou a mão em meu rosto, impaciente.

– Tudo bem. Mas precisamos acabar logo com isso, temos que ir atrás de Katniss.

– Okay. Enquadra aqui, Castor. Isso. Pode ir, Peeta.

– Cidadãos de Panem! Estamos aqui resgatando pela segunda vez Katniss Everdeen. Não deixaremos que Snow destrua mais um de nós! Não acho que seja a melhor alternativa, mas se a Capital não colaborar, estaremos dispostos a travar uma guerra – e então, levanto os três dedos, fazendo o que tornou-se o símbolo da revolução – Cidadãos de Panem! Levantem suas mãos para a liberdade!

– E... Corta! Pronto, pessoal. Podemos ir.

Corremos até a pilastra de entrada tento me comunicar com Boggs pelo walkman:

– Onde estão vocês? Câmbio.

– Nada de bombas aqui. Podem nos esperar no pátio. Câmbio.

Pego minha arma, com as mãos trêmulas. Atiro na construção de pedra e entramos sem maiores problemas. Não demorou muito até o outro esquadrão vir até nós, chamando-nos para juntar-se a eles.

– Onde está Finnick? – pergunto, preocupado.

– Abrindo o caminho. Está esperando lá na frente.

Entramos na Mansão sem dificuldade. Isso nos deixa realmente instigados. Alguma coisa está por vir. Snow nunca facilitaria as coisas sem um propósito maior. Todos sabemos disso.

Aqui e ali nós atiramos em algumas criaturas estranhas e bestantes. Esta talvez tenha sido a parte mais difícil. No meio do caminho, um deles segurou a minha perna, e eu não consegui me livrar dele. Gale teve que atirar em seus miolos para que eu pudesse me libertar. E embora eu agradeça, isso acarretou numa outra discussão:

– Mellark, você espera aqui. É melhor pra todo mundo.

À essa altura, nós estávamos dentro dos aposentos de Snow. Havíamos acabado de chegar. Quando pus os olhos em Finnick, meu coração disparou. Prim, nossa patinha, estava aninhada em seu abraço lateral, com um olhar de firmeza. Como o de Katniss.

– Não acredito que a trouxeram!

– Ela veio escondido – Gale explicou, cansado – Não podemos impedi-la. Katniss faria a mesma coisa.

– Não falem como se eu não estivesse aqui – reclamou, irritada, desvencilhando-se de Finnick – Posso me defender muito bem!

– Não, não pode! – grito, mais alto do que deveria.

– O mesmo em relação a você, Mellark – Gale volta ao assunto, agoniado – Fique aqui com ela.

– Eu não vou ficar aqui, não mesmo.

– Mellark, não podemos correr o risco de dar errado uma outra vez. Quem vai sou eu. Você não corre tão rápido.

– Mas eu estou no comando!

Finnick leva as mãos à cabeça, ficando realmente impaciente. Logo após, segura Prim pelo braço e arrasta ela para outro cômodo, enquanto nos comunica:

– Enquanto as donzelas não se decidem, vou tirar Prim daqui. Não estamos num lugar seguro. E eu realmente espero que quando eu voltar vocês tenham entrado num acordo.

– Quem está no comando sou eu, na verdade – Boggs ajeita a armadura, imponentemente – E digo que todos devíamos ir.

De repente, ouço um barulho. Todas as portas se abrem de uma só vez. O que Snow estaria tramando, afinal? Desconfiados, atiramos algumas balas e flechas todo o trajeto, com uma calma solene. E embora não disséssemos isso, sabia que todos estavam assustados como eu.

Quando estamos quase no fim do corredor, escuto a voz de Katniss. A canção de Rue! Aquilo me deixa desnorteado, mas continuo avançando. Corro na frente de todos, em completo desespero, e mal vejo que há uma arma apontada para mim.

Caio de joelhos, enquanto vejo minha Katniss gritar e vir ao meu encontro. Ela se joga na minha frente, e apaga. O riso de Snow, o riso de prazer dele, ecoa por todo ambiente. Talvez Katniss esteja morta. Não há como saber. Por sorte, a bala atingiu meu joelho. Mas não consigo levantar.

– Gostaram do show, crianças? – o presidente volta a rir – Acharam divertido brincar de esconde-esconde?


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