A captura do tordo escrita por Maga Clari, Katsudon


Capítulo 16
Você vem, você vem?


Notas iniciais do capítulo

Voltamos! YAY!
Espero que gostem! :3



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Finnick e eu começamos a nos dar muito bem. Apesar disso, Finnick ainda não me contou os segredos de Snow, pois, segundo ele, gostaria de falar isso apenas uma vez. Decidi não insistir, afinal, não estava curioso sobre seus segredos, mas sim como acabar com o Presidente.

Nós também conversamos sobre as mulheres que amamos. Finnick me disse que Annie anda muito estranha, provavelmente por causa da tortura que sofreu na Capital. Contudo, ele sempre lutaria para que sua amada voltasse à realidade.

Contei-lhe que, pela primeira vez, Katniss havia baixado a guarda comigo, e que talvez eu pudesse conquistar a confiança dela novamente. Segredei-lhe que tinha pedido a ela para confiar em mim, mas fui covarde demais para esperar a resposta. A verdade é que eu temia que ela me dissesse um grande "não".

Desde então não a vejo.

Ainda sim, nunca deixei de perguntar sobre Katniss. Conversei com Prim milhões de vezes sobre a minha garota, e ela me garantiu que Katniss estava bem melhor.

Meu coração realmente inundou-se de alegria quando soube por Prim que Katniss teria alta.

Ela ficará bem, e talvez, só talvez, poderemos ser amigos novamente, implorei mentalmente por isso, ao ter a notícia.

Uma noite, entretanto, escutei batidas fortes na porta do meu compartimento. Vesti uma camiseta, já que estava só de calça, e atendi à pessoa insistente. Assustei-me em ver Prim, pensando que alguma coisa tinha acontecido com Katniss. Ela parecia assustada.

– O que houve, Prim? – questiono, preocupado.

– Katniss. Ela está tendo um pesadelo e não conseguimos acordá-la. Vem rápido.

Eu queria ir, mas tinha medo de Katniss acabar surtando ao me ver.

– Não acho que...

– Anda logo! – ordena, me arrastando pela mão, sem esperar resposta.

Quando chegamos ao quarto, meu peito fica apertado. Katniss está se mexendo agoniada, geme de desespero, e lágrimas escorrem por seu rosto. Sua mãe tenta acordá-la, sem sucesso. Direciono-me, rapidamente, enquanto a Senhora Everdeen se afasta.

– Katniss, acorda – chamei por ela, sacudindo-a pelos ombros. Sem sucesso, tento outra vez – Acorda, Katniss. É um pesadelo – balanço-a ainda mais forte.

Finalmente, Katniss abrr os olhos. Ela observa tudo à sua volta, com uma expressão confusa, até parar o olhar sobre mim.

– Foi um pesadelo. Você está segura, agora - tentei ser firme, mas minha voz sai preocupada. Não resisto e toco seu rosto para tentar tranquilizá-la. Quero que ela saiba que está segura – Está tudo bem.

Katniss me encara por tanto tempo que chego a pensar que ela quer me expulsar do quarto. Todavia, surpreendendo qualquer expectativa minha, meu tordo puxa-me para um abraço forte e aconchegante.

Surpreso, levo um tempo para retribuir seu abraço. Há quanto tempo isso não acontece entre nós? Escuto Katniss chorando copiosamente e me preocupo de novo.

– Ei, está tudo bem agora – dessa vez minha voz soa mais firme, enquanto afago suas costas, mostrando-lhe que estava mesmo tudo bem. Leva-se um tempo até Katniss conseguir se acalmar. Quando volto a falar, as palavras saem num sussurro – Quer falar sobre o pesadelo? – ela nega com a cabeça. – Tudo bem.

Katniss se solta de mim, e Prim vem correndo abraçá-la. A amizade e o amor entre elas é realmente lindo de se ver. Fico observando, encantado, enquanto as duas interagem. Quando a pequena Everdeen volta para a cama com sua mãe, aproveito a deixa.

– Bem... - digo, levantando-me de onde estou – Acho que vou...

Surpreendendo-me mais uma vez, Katniss me puxa de novo para cama pela mão. Confesso que senti uma corrente elétrica atravessar meu corpo.

– Fica. Por favor? – pede tão baixinho, que, se eu não estivesse perto dela, não escutaria.

– Tem certeza? – pergunto no mesmo tom.

– Fica comigo? Por favor, Peeta.

Lembrei-me daquela noite em sua casa, aquela em que pensei que Katniss tinha fugido. A mesma noite em que ela me fez essa pergunta sob efeito de remédios. Porém, dessa vez, não tinha nenhuma droga em seu organismo. Não consegui negar este pedido simples, mas significativo.

Katniss abre espaço para mim na cama, igual às noites no trem. De repente, uma sensação nostálgica toma conta de mim. Fico feliz com isso.

Acomodamos-nos na pequena cama, ficando tão próximos que posso até mesmo sentir sua respiração em meu rosto.

– Eu fico. Para sempre.

Espero até Katniss estar adormecida para começar a pegar no sono também. Sua respiração vai se aquietando aos poucos, e torna-se parte de mim. O som de seu coração batendo ao meu lado é como uma canção de ninar; como se eu soubesse que tudo estava voltando a ser como antes.

Ter Katniss descansando ao meu lado me traz uma sensação de paz e aconchego. Principalmente em momentos estressantes, como o que estamos vivendo.

Acordo com o sol em meus olhos, e lembro-me rapidamente de que não deveria estar ali. Embora eu seja o tordo-líder, tenho uma reputação a zelar. E nisso não se inclui noites passadas em outros ambientes, senão o meu. Dessa forma, trato de me levantar imediatamente.

Por sorte, Katniss dorme num sono pesado. Consigo me desvencilhar dela rapidamente, direcionando-me para o meu quarto. Lá, procuro pelas minhas roupas cinzentas e tomo um banho frio. Deixo que minhas preocupações sobre Snow irem embora com a água. Eu tinha que ficar feliz, afinal. Katniss havia voltado para mim!

Depois de me arrumar, corro para a Sala Secreta. Esta sala, na realidade, não tem nada de extraordinário. A única coisa importante à respeito dela é que nem todos sabem da sua existência. Gale e eu descobrimos numa tarde dessas, quando tivemos que conversar um assunto sigiloso.

Dessa vez, quem terá assuntos sigilosos a tratar comigo, além de Gale, é Finnick. Combinamos de passar o dia ali, esquematizando todo o nosso plano de ataque emocional. Não queríamos envolver Coin naquilo; precisávamos agir às escondidas, sem qualquer influência externa.

– Precisamos da ajuda de Beetee para acessar a rede televisiva da Capital novamente - Gale diz, num tom soturno - Vocês estão entendendo que não pode haver falhas, não é mesmo? Temos que passar o pontoprop inteiro. Sem cortes.

– Absolutamente - respondo, no mesmo tom - Talvez seja nossa última esperança contra a Capital. Talvez assim a gente consiga até mesmo o apoio dos civis de lá. Aí... - dou uma pausa, recuperando o fôlego - Bem... Snow se verá sem apoio algum.

Um silêncio brota no ambiente, enquanto analisamos nossas possibilidades. Volto a falar:

– O que você acha disso, Finn? Finnick? Está me ouvindo?

Finnick respira fundo e seu olhar sai do transe. Junta as pontas dos dedos, e diz, friamente:

– Qualquer coisa para derrubar Snow. Topo qualquer coisa - enquanto ele soltas as palavras, vagarosamente, eu e Gale nos entreolhamos. Finnick continua: - Não precisamos ter pressa. Contanto que Beetee faça um bom trabalho, claro.

– Escuta, Finnick, você não precisa aparecer no vídeo se não quiser. A gente... A gente pode... Sei lá, podemos...

– Como assim, Mellark? - Gale me interrompe, rispidamente - Já está tudo combinado. Vamos filmá-lo! Ordens são ordens. Não há espaço para sentimentalismos aqui!

– Isso é um assunto delicado para ele, Hawthorne!

– Mais delicado que a revolução ir por água abaixo? Hein?

À essa altura, Gale já havia levantado e estapeado a mesa.

– Mais delicado do que crianças morrendo? Hospitais pegando fogo?!

– Ei, eu ainda estou aqui! - Finnick se levantou também, semicerrando os olhos - E não, Peeta. Agradeço o seu zelo, mas estou bem com tudo isso. Gravaremos o pontoprop hoje mesmo.

– Ótimo! - diz Gale, por fim.

O caçador pôs os olhos em mim, como se eu fosse um dos seus animaizinhos, pegos por ele. Sustento o olhar também, para não mostrar fraqueza. E então ele decide ir-se embora.

– Preciso resolver umas coisas agora. Estão me chamando pelo dispositivo.

– Teremos o vídeo até o fim da noite - Finnick grita, quando Gale alcança a saída. Mas tudo que ouvimos em resposta é o bater da porta.

Finnick dá de ombros, e faço o mesmo. Não adianta mexer com o gênio difícil de Gale. Lidar com ele é como matar um leão por dia. Por este motivo, resolvemos deixar aquilo para lá e ir ao que interessa.

– Podemos começar, então? - pergunto, ternamente.

– Quanto antes, melhor. Vamos logo, Peeta.

Então deixamos a sala e fomos atrás de nossa equipe de filmagem. Por volta das quatro da tarde, estávamos todos na floresta acima do D13.

Polux ajeita a luz, Castor verifica os botões da câmera, e eu estou sentado pacientemente em cima de uma pedra enorme. Observo Cressida andar para lá e para cá, dando uma última olhada para ter certeza de que estávamos sozinhos ali.

Finnick parece estar em transe novamente, fazendo nós atrás de nós na sua corda marítima. Isso parece acalmá-lo um pouquinho. O que é bom, já que precisamos que ele tenha toda a calma do mundo quando estiver gravando. Afinal de contas, Finnick foi bem claro: ele não iria repetir aquilo.

– Prontinho, pessoal. Podemos começar - a voz de Cressida se sobressai entre nós - Vamos, Finn, chega mais para cá. Isso. Perfeito. Luz... Câmera... Ação!

Finnick larga a corda no chão, e Castor fecha o enquadramento da sua cintura para cima. Assisto ao desenrolar do vídeo, calmamente.

– Boa noite, Panem. Ou melhor... Realmente boa só se for entre vocês, da Capital. Porque para o resto dos distritos nenhum dia ou noite é realmente bom. Você apenas vive...

Levanto-me de onde estou e dou uma volta pelo lugar, sentindo-me inquieto por algum motivo. Continuo ouvindo a voz de Finnick de longe.

– E não é muito melhor quando se é um tributo vencedor. Oh, não! A vida só faz piorar... Sabem por quê? Coisas... Muitas coisas acontecem por debaixo dos panos... Como sei disso?

Finnick abaixa os olhos, e solta um sorriso vacilante. Seu tom de voz é de ironia e desprezo. Ele troca o peso de uma perna para a outra.

– O nosso queridíssimo presidente resolveu esperar que eu atingisse os dezoito anos para começar a me oferecer como um presente à sua elite da Capital. Se eu não concordasse em obedecê-lo, tudo estaria perdido. Afinal, Coriolanus Snow ameaçou minha família e amigos. E afinal, o que um garoto de dezoito anos, assustado, faria nessa situação?

Pensei ter visto uma lágrima querer descer dos olhos de Finnick. Como estou muito longe, não posso ter certeza. De qualquer modo, estou muito orgulhoso dele. Esse assunto deve mexer com seu emocional ainda, mas sua determinação e espírito revolucionário superam tudo isso.

– Mas apesar de jovem, nunca fui ingênuo. Eu não queria jóias, dinheiro, roupas caras. Isso tudo eu já tinha, sendo um Vitorioso. Resolvi cobrar a minha companhia através de algo infinitamente mais valioso...

Cressida dá um passo a frente e faz sinal para sua equipe segui-la. A câmera fecha toda no rosto de Finnick. Ele volta a falar, forçando um sorriso, logo em seguida:

– Segredos.

Continuo com essa estranha inquietação dentro de mim. Não consigo sequer ficar parado dando apoio para Finnick. Fico caminhando pelos arbustos, sentindo as folhas secas abaixo dos meus pés. E então escuto uma movimentação. Finnick ainda discursa:

– ... Além de todos esses, ainda resta o segredo-master. O mais importante de todos eles... Alguém já se perguntou o porquê de tantas rosas? O motivo da obsessão que ele tem por rosas?

Afasto-me um pouquinho mais, buscando a origem da movimentação. Escuto gritos abafados, mas não vejo ninguém. Meu coração começa a pulsar fortemente.

– Certa vez, nosso querido presidente usou veneno em inocentes. Pessoas que se comportavam contra ele, claro. Mas ninguém que seja corajoso o suficiente para contrariá-lo confiaria em qualquer coisa vinda dele. Ou seja...

Fico parado, quieto. Como um tordo ficaria ao pressentir seu predador.

– Snow tivera que beber o veneno em seu próprio copo, para conquistar a confiança de suas futuras vítimas. Logo após, ele tomou um antídoto. Mas o cheiro do veneno ficaria impregnado para sempre em seu rosto, oh, pobre Snow! Além do cheiro, ficara lotado de feridas...

Desligo-me totalmente do pontoprop, transferindo minha atenção para o perigo que eu pressentia naquele momento. Meus olhos estavam escaneando o ambiente em todas as direções, muito atentamente.

Quando eu menos espero, no entanto, escuto pés correrem pelas árvores. Viro a cabeça de um lado para o outro, e então sinto alguém agarrar meu braço. Instantaneamente, tento me soltar, num ato reflexo. Até eu ver quem era.

– PEETA! PEETA, VOCÊ TEM QUE VIR COMIGO AGORA!

– Prim, calma - empurro a irmãzinha de Katniss contra meu peito, tentando passar segurança, muito embora meu coração batesse freneticamente - Estamos ocupados agora... O que... O que aconteceu?

Os olhos de Prim esbanjavam terror. Ela não parava de chorar.

– Katniss! Tiraram... Tiraram ela daqui, Peeta! Vamos logo... Segure a minha mão!


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