A captura do tordo escrita por Maga Clari, Katsudon


Capítulo 15
Talvez "fica" seja o nosso "sempre"


Notas iniciais do capítulo

Oi, oi, Maga Clari aqui!
Marcela me pediu pra avisar que está com uma net ruim e que pede desculpas pela demora. E que vai responder os comentários assim que possível.
É que eu não quis responder todos, pra não tomar a frente, já que é coautoria kkkkkkk
Se reclamarem muito eu respondo também. Tanto faz.
Beijinhos



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Dr. Hauss estava fazendo alguns exames básicos antes de, finalmente, me liberar. Depois do meu último ataque, eu não apresentei mais “sintomas de mentalmente desorientada” – palavras do próprio médico. Quer dizer, não foi tão fácil assim. Minha mãe teve que assinar um termo se responsabilizando por mim, tive que passar por vários testes, e todos os dias terei que me apresentar para o Dr. Hauss.

O importante é que eu vou poder ficar com minha irmã e mãe.

Desde o dia em que Peeta pediu que eu confiasse nele, não o vi mais. Sei que ele não fez nada contra mim e minha irmã, mas as imagens eram tão vividas que eu sempre ficava em dúvida.

Prim e Gale aparecem na porta e fico feliz em vê-los. Ambos estavam ali para mim, sempre estariam. Corro para abraçá-los, para sentir o cheiro de casa.

– Oh, Katniss – Prim sussurra – Estou tão feliz por você está bem – sua voz parece emocionada – Eu tenho minha irmã de volta.

Prim parece ter crescido tanto, ter ficado madura tão depressa... Igual a mim quando papai morreu.

– Eu também, Patinha. Eu também – disse abraçando-a com carinho.

– Pronta para a liberdade? Ou o máximo de liberdade que se pode ter? – finalmente Gale expressa sua presença.

– Êêêê – finjo animação.

– Você vai gostar daqui, Katniss. – Prim tenta levar meu humor – Todos ajudam uns aos outros, trabalham por todo mundo, não passam fome.

Sei que Prim diz isso para me consolar. O Distrito 13 nunca será minha casa, este posto sempre será do D12. Mas apesar disso, ofereço o meu sorriso mais verdadeiro para ela.

Minha irmãzinha e Gale me acompanham até o meu novo compartimento. É pequeno e tem duas camas. Provavelmente, eu ficaria com uma delas e Prim e mamãe dividiriam a outra. Gale olha algum dispositivo em seu pulso e diz que precisa ir. Antes dele nos deixar, pergunto o que é aquilo.

– É um comunicador. Quando precisam falar comigo, eles me mandam uma mensagem – explica, rapidamente – Bem-vinda de volta, Katniss – ele sorri e vai embora.

– Ele é muito importante aqui – Prim diz, de repente – Gale ajuda a planejar ataques e ajuda Beetee com armas e armadilhas.

Finalmente Gale estava fazendo algo que ele realmente tinha talento”, penso. Está fazendo uma revolução.

– Então, Prim, me diga. O que você aprontou esses tempos?

Prim me conta animadamente sobre sua vida no D13. Disse-me que ela ajuda no hospital, e que prometeram dar para ela um curso de medicina quando estivesse mais velha.

Enquanto ouvia as histórias de Prim, fiquei pensando em como ela era excepcional no papel de cuidadora.

– Eles seriam burros se não a quisessem – afirmo, ao fim de sua história. Ela abre um sorriso. Noto alguma coisa escrita em seu braço. Ela percebe que estou olhando e explica:

– Toda manhã recebemos uma programação, e ao fim do dia, quando tomamos banhos, ela sai. Mas como você esteve internada, você ainda não recebeu nenhuma.

– É.

– Por falar nisso, eu tenho que ir. Colocaram-me no turno da noite – Prim diz isso com um brilho tão intenso nos olhos que meu peito se enche de alegria. Prim estava feliz, apesar de estarmos de baixo do solo.

Eu dou um abraço nela, bem apertado, tentando transmitir todo meu carinho.

– Eu te amo.

– Eu também.

Sozinha, fico observando o compartimento. Além das duas camas, temos uma cômoda e uma janela. Vou até ela e consigo observar o jardim onde chamei Peeta de assassino. Hoje, me sinto horrível por causa disso. Estúpida! Como pude acreditar naquelas coisas que aconteceram na Capital? Como eu não percebi que não era Peeta naquelas gravações? Como duvidei do amor que tantas vezes demonstrou e nunca pediu nada em troca, mesmo sem eu nunca ter correspondido?

De repente, os olhos vazios da minha irmã aparecem em minha mente. É mentira, digo para mim mesma, Ela está bem. Você acabou de vê-la.

Balanço a cabeça para espantar esses pensamentos antes que eu perca a sanidade. Volto-me para a cômoda de três gavetas. A primeira e a segunda tem roupas, todas cinzas. A terceira tem alguns objetos de higiene pessoal.

Por fim, deito na cama, entediada, sem nada para fazer.

Não sei quanto tempo se passou enquanto eu olhava para o teto, mas quando a porta se abriu de repente, eu pulei da cama totalmente em alerta. Quando reconheci Prim, meu corpo relaxou.

– Você voltou rápido.

Prim sorri.

– Eu pedi para ficar com a minha irmãzinha esta noite. – diz ela, alegremente – E eles deixaram. – Agora é minha vez de sorrir, bagunçando a franjinha dela – É muito bom ter você para ocupar minha mente, sabia?

Mas antes que ela possa responder, suspira e tira algo dos bolsos.

– Dr. Hauss – explica, fazendo uma careta – Ele falou para eu trazer alguns remédios para você.

– Não – nego, desesperada. Não iria tomar remédios que vinham de pessoas que eu não confiava. – Não, Prim, eu não vou tomar isso. Eu... Eu não... – gaguejo.

– Katniss – ela me chama, segurando minhas mãos – Por favor, Katniss. Eles vão te internar novamente – olho para ela e vejo lágrimas em seus olhos. – Eu não quero isso – Por favor, Katniss. Por favor.

Eu peso minhas opções. Suspiro pesadamente quando dou minha reposta.

– Tudo bem.

– Obrigada – suspira, aliviada – Eu não quero mais ficar sem você.

Tomo os comprimidos e depois Prim me guia até uma das camas. Temos de nos espremer um pouquinho, mas logo ficamos instaladas, confortavelmente. Passamos o resto do dia conversando, esperando o sono chegar;

Eu não acreditava no que meus olhos viam. O ar puro, as flores enfeitando os espaços, árvores dando seus frutos colorido, os pássaros cantando alegremente. A floresta, minha amada floresta. O lugar onde eu podia ser eu mesma, onde tive alguns dos poucos momentos de felicidade antes de meu mundo virar de cabeça para baixo.

Caminho por entre os grandes troncos até chegar ao lugar onde guardava meu arco e minha aljava de flechas. Quando meus dedos tocam o arco, uma sensação de familiaridade me preenche, e meu corpo relaxa. Eu estava em casa. Eu estava bem.

Deslizo a alça da aljava pelo meu ombro com a mão direita, enquanto seguro o arco com a outra. Rapidamente, chego à pedra onde costumava me encontrar com Gale, apreciando o meu caminho.

O lugar está vazio, então decido esperar sentada na rocha.

Aproveito o sol e o tempo, que parece estar numa harmonia perfeita, aquecendo minha pele de uma forma tão agradável, que um sorriso se desenha em meus lábios. Fiquei tanto tempo confinada que nem me lembrava de como isso era bom.

Há quanto tempo não sinto essas sensações que só a floresta pode me proporcionar?

O som do galho se quebrando me faz acordar de meus devaneios.

– Pensei que fosse mais silencioso que isso, Gale – brinco. Desde que o conheço, Gale é tão silencioso que nem mesmo eu, com meu ouvidos e caçadora, costumo escutá-lo.

– Realmente aprecio o silêncio, Senhorita Everdeen, mas não preciso dele agora.

Paraliso, de repente. Aquela com certeza não era voz do meu amigo. Essa é a voz do meu tormento. Do homem que tornou minha vida um inferno, que destruiu meu Distrito e me torturou. Coloco-me de pé rapidamente, já preparando a flecha para Snow.

O imponente presidente está parado, com as mãos atrás do corpo, me observando com seus olhos de cobra, bem na minha mira. Solto a corda.

Pensando que acertaria Snow, atiro sem dó nem piedade. Vejo a flecha voar para ele. Mas me assusto ao perceber que o corpo que cai no chão, inerte, não é dele. É o corpo de Gale.

Corro para seu lado a tempo de ver seus olhos perdendo o brilho.

– Me perdoe – peço ao corpo que nunca responderia.

– Ele não pode.

Coloco-me novamente de pé, aprontando minha arma de novo. Dessa vez, não atiro. Só observo.

– Temos uma coisa em comum, senhorita Everdeen.

– Não temos nada em comum– minha voz se assemelha a uma navalha bem afiada. Apesar de estar totalmente desarmado, Snow ri tranquilamente.

– Temos, sim. – reafirma, seguro de si – Eu e você destruímos as coisas e as pessoas ao nosso redor.

– Você que destruiu tudo! – grito, exasperada. Ele era o único a ser culpado. Snow sorri, assustadoramente. Leio em seu sorriso: “Garota tola, não sabe de nada”.

– Ora, Senhorita Everdeen, veja seu amigo, por exemplo. Você o destruiu – olho para o caçador, e só então percebo que estou chorando.

– Foi sem querer – sussurro, sentindo a perda de Gale, outra vez. Tento diminuir minha culpa: – Eu queria matar você.

– Verdade.

Finalmente, volto a encará-lo. E fico surpresa ao ver Peeta ao lado de Snow. Aponto meu arco para ele, lembrando-me de toda a tortura. Porém, algo em mim me faz fechar os olhos e lembrar-me que Prim estava viva, que era tudo uma mentira. Respirando fundo, volto a minha mira para Snow. Não iria deixá-lo confundir minha mente novamente, nem matar Peeta.

– Eu sei que Peeta não matou minha irmã.

– Eu também sei que você sabe. Lembre-se: estou sempre um passo a sua frente – um sorriso malicioso brinca em seus lábios – Mas ainda sim, você destrói tudo ao seu redor. Você destruiu Gale e eu destruí Peeta.

Estranhando o silêncio de Peeta, volto o meu olhar para ele. O garoto do pão não parece machucado nem nada, mas assim que encaro seu rosto, um temor passou por mim. Seus olhos azuis pareciam vidrados, como os de um morto, e eu poderia pensar que ele estava, se não fosse pelo seu peito subindo e descendo, indicando que estava vivo.

– Veja o belo trabalho que fiz nele – Snow se vangloria, observando o garoto com um sorriso orgulhoso e sádico – Acabou se tornando justamente aquilo que não queria: uma peça em meus jogos – o presidente solta uma gargalhada que arrepia pelos que eu nem sabia que existiam.

Aproveitando o momento de distração, aumento a precisão da minha mira. No entanto, antes mesmo que eu pudesse soltar a flecha, ele volta a falar:

– A diferença entre a senhorita e eu é que eu não faço sem querer.

E num movimento, rápido a cobra que chamam de presidente faz algo que eu achava humanamente impossível: ele arranca o coração de Peeta com as próprias mãos.

Sem raciocinar direito, largo meu arco e corro para ele. Seguro seu rosto entre minhas mãos, mas seus olhos ainda estão vidrados.

– Peeta! – sussurro, sem acreditar.

Escuto algo caindo a meu lado. Solto um grito e me afasto quando percebo que trata-se do seu coração. Snow apenas ri, se divertindo com toda essa tortura.

– Ele sempre demonstrou que o coração dele pertencia a você. Faça o que quiser dele agora.

E então Snow desaparece.

Volto para perto de Peeta, tentando ignorar o órgão vital. Pego sua cabeça e coloco-a em meu colo. Acaricio seu rosto com minha mão, levemente. O garoto de bom coração e sempre gentil, o garoto que me amava incondicionalmente mesmo sem correspondê-lo, o garoto que se tornou tão importante para mim, estava morto.

– Peeta – chamo. Não. Ele não podia estar morto – Peeta, volta! Por favor. Peeta. – imploro, chorando, mesmo sabendo que ele nunca mais me responderia. – Peeta! – grito, desesperada.

– Katniss, acorda – escuto uma voz distante. Olho para Peeta, mas ele está do mesmo jeito, imóvel – Acorda, Katniss. É um pesadelo.

De repente, a floresta some. Vejo os olhos do garoto do pão; meu garoto do pão.

– Foi um pesadelo. Você está segura, agora – sinto a preocupação em sua voz. Ele toca meu rosto – Está tudo bem.

Seus olhos azuis brilham. Sinto seu toque gentil, deixando-me aliviada. Peeta está vivo e comigo. Então, sem medir as consequências, dou um abraço nele, com toda a minha força. Tinha que saber que era real.

Surpreso com minha atitude, Peeta demora um pouco para retribuir.

– Ei, está tudo bem agora – ele afaga minhas costas. Só então percebo que eu estava chorando e que aqueles sons esquisitos escapavam por minha boca.

Peeta sussurra palavras tranquilizantes em meu ouvido, enquanto me aperta mais forte contra ele. Não me lembrava do quanto fazia falta a sua firmeza ao meu redor.

Depois de um tempo assim, Peeta finalmente consegue me convencer que era tudo um pesadelo, e assim vou me acalmando, aos poucos.

– Quer falar sobre o pesadelo? – ele me pergunta, quando eu pareço estar mais calma, sem me afastar um milímetro dele. Mas eu apenas balanço a cabeça em negação – Tudo bem.

Afasto-me de dele e então percebo que minha mãe e irmã me olham, preocupadas. Prim se solta de mamãe e corre para me abraçar. Era minha vez de acalmar minha irmãzinha.

– Vai dormir, patinha. Estou bem agora – digo para ela.

– Tem certeza? Posso ficar aqui com você até o sono chegar de novo.

– Você tem que ir trabalhar, não é? Então, você precisa descansar.

– Venha, Prim. – minha mãe chama por ela. Era melhor Prim dormir na outra cama mesmo – Katniss também vai descansar.

– Mas... – Prim tenta argumentar.

– Anda, Patinha. – dou um sorriso para tranquilizá-la. A contragosto, ela se deita com mamãe.

– Bem – Peeta anuncia, se levantando. – Acho que vou...

Mas antes que ele possa dar um passo, puxo Peeta pela mão, obrigando-o a se sentar novamente na minha cama.

– Fica. Por favor – peço baixinho, para que apenas ele escute.

– Tem certeza? – certifica-se no mesmo tom que eu, olhando de relance para a cama do outro lado.

– Fica comigo? – peço novamente. Peeta hesita, mas no final acaba concordando com a cabeça.

– Tudo bem.

Abro espaço para Peeta se deitar ao meu lado. Encosto minha cabeça em seu peito, escutando seu coração bater, feliz por poder contar cada batida.

Peeta passa um braço por baixo do meu pescoço, como apoio, e o outro em minha cintura. Esta noite eu não terei mais pesadelos

– Eu fico – Peeta sussurra depois de um tempo – Pra Sempre.

Mesmo de olhos fechados, deixo escapar um sorriso vacilante. Eu teria meu Peeta de volta, afinal.

E exatamente como imaginei, tive uma noite sem sonhos ou pesadelos. Apenas dormi e acordei. Constato isso assim que os primeiros raios de sol batem no meu rosto.

Espreguiço-me vagarosamente, sentindo uma terrível dor nas costas. Mas apesar de ficarmos tortos naquela cama pequena, ter Peeta comigo vale qualquer preço. E por falar em Peeta, onde ele está?

Jogo meu corpo sobre a coberta, numa tentativa inútil de procurá-lo por debaixo delas. Enfim me sento, derrotada, imaginando se tudo fora um sonho ou se aquilo fora real.

– Katniss?

Viro-me para a direção de onde ouvi me chamarem. Escuto alguém bater na porta, tornando a gritar meu nome:

– Katniss! Está acordada? Posso entrar?

– Quem é?

E então, girando a maçaneta, vejo um sorriso doce e intrigante chegar em meu compartimento:

– Sou eu, bobinha. Anne Cresta!


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Notas finais do capítulo

Preparados para o clímax da história? ^^