A captura do tordo escrita por Maga Clari, Katsudon


Capítulo 14
Uma carta na manga


Notas iniciais do capítulo

Voltamos! YAY! Soltem os foguetes kkkkkkkkkk
Espero que gostem.
Beijinhos



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Tenho me sentido muito estressado ultimamente.

Em alguns momentos, pego-me imaginando como seria se eu fosse capturado pela Capital.

Se não está sendo fácil para mim, para Katniss deve estar sendo aterrorizante. Nessas horas, sinto-me um lixo. Um verme egoísta por querer estar no lugar dela pelo simples fato de não aguentar vê-la dessa forma. Não por ela, por mim.

Uma terrível dor de cabeça se instalou em meus neurônios quando Katniss passou correndo por mim, no corredor. Milhões de suposições vieram à mente, mas a única coisa em que consegui realmente pensar foram nas rosas de Snow.

Sento-me num banco e paro um instante para me recompor e raciocinar. Sou um líder, afinal. Preciso vencer esta batalha. Preciso mostrar que não sou mais um joguete e dar o xeque-mate.

Tiro o bloco de notas do bolso e começo a discorrer sobre o assunto, anotando todas as minhas ideias e opções.

Depois de algumas horas, resolvo voltar para o meu compartimento e procurar Prim para ter notícias de Katniss. Mas antes que eu consiga alcançar o meu patamar, Finnick passa por mim e faz um sinal para que eu o espere. Dou um longo suspiro e saio caminhando com ele até alguns andares acima.

– Katniss está no hospital outra vez.

– Já imaginava - ao ver a expressão confusa de Finnick, resolvo dar uma explicação melhor - Eu a vi correr atrás de você. E aliás, por que ela estava lhe perseguindo?

Finnick respira fundo. Ele procura qualquer coisa no bolso da camisa e abre a palma das suas mãos, lentamente. Pelo que posso ver, trata-se dos restos mortais de uma rosa. Tudo está conectado a estas malditas rosas!

– Annie me deu. - ele dá uma longa pausa antes de continuar - Nós estávamos tendo um encontro lá nos jardins. Foi só isso, Peeta. Não teve nada a ver com o Snow, diga isto a Katniss, por favor.

Recolho o que sobrara da rosa romântica de Finnick e guardo no bolso de minha calça cinza.

– Vá dar uma olhadinha nela - ele diz, dando tampinhas em meu ombro - Veja se consegue acalmá-la.

– Aposto que já doparam ela. Você não faz ideia de como eu odeio esses morfináceos daqui...

– Bem, em todo caso, boa sorte com ela, cara.

E então, com um aceno, Finnick deixa o corredor e sobe mais algumas escadas. Observo ele por os pés, lentamente, em cada degrau. Sinto uma pontada no estômago. Acho que o compreendo. Finnick e eu tivemos destinos muito parecidos. Annie foi separada dele e hoje está com uma mente um pouco desorientada. Dizem que Snow torturou ela, coitada.

Quando Finnick chega no topo da escada, grito para ele:

– EI! ESPERA UM MINUTO! - espero ele parar e por a cabeça sobre o corrimão - Preciso conversar com você. Tive uma ideia.

– Okay, hum... - ele coça a cabeça e parece analisar suas possibilidades - A gente se encontra daqui umas duas horas, pode ser?

Balanço a cabeça afirmativamente e vou em direção à porta do hospital. Giro a maçaneta devagar, um pouco hesitante. Quando chego ao leito de Katniss tudo que tenho é vontade de chorar. Ela está se mexendo demais, deve estar tendo pesadelos de novo. Não consigo parar de pensar nas noites que eu dormia ao seu lado, no trem, sempre que isto acontecia. A dor em meu peito é enorme; algo dentro de mim teme que ela nunca mais se lembre de mim como amigo, amante ou qualquer outra coisa que nós possamos ter sido. O que eu mais quero, de fato, é que ela volte a si.

Sento num banco, ao lado dela, e fecho meus olhos por alguns instantes. E se ela não voltar? Nunca mais? Preciso urgentemente pensar no que fazer caso isso aconteça. De certo modo, Katniss continua sendo a líder dessa revolução. Tudo o que faço é por ela. Se não fosse por Katniss, eu dificilmente teria tantas ideias e planos para serem postos em prática quanto a Snow.

Ainda pensando nisso tudo, seguro a mão de Katniss e começo a acariciá-la. Ignoro as lágrimas que teimam em brotar no canto de meus olhos. Katniss se mexe outra vez. Acredito que seu pesadelo está piorando, e isso deve ser efeito dos morfináceos, posso apostar. Katniss grita:

– O QUÊÊÊ?!

– Ei... Katniss, ei!

E então, subitamente, vejo meu tordo abrir os olhos e me olhar com desconfiança. Continuo fazendo carinho em sua mão.

– Está tudo sob controle, Katniss. Confie em mim.

Tento um sorriso acolhedor, seguido de um olhar sério. Katniss vai se acalmando aos poucos e me sinto aliviado. Quando tiro meus dedos de perto dela, no entanto, ela volta a assumir uma postura defensiva. Será que ela pensa que irei espancá-la ou coisa parecida?

– Ei, ei, ei. Pensei que já tínhamos acalmado, não? - não consigo deixar de rir com aquela situação. Apesar de tudo, ela me obedecia - Isso... Muito bem, Katniss.

Observo seus olhos me estudarem de cima abaixo, e sua respiração ir se estabilizando. Sem pensar duas vezes, pego suas mãos de volta e beijo-as delicadamente.

– Não precisa ter medo - digo, assim que solto suas mãos novamente e me aproximo de seu rosto - Eu estou de volta. Não vai mais ter pesadelos, eu prometo.

E então, antes que ela pudesse fazer qualquer coisa, chego ainda mais perto dela e abraço-a bem forte. Confesso que foi um pouco frustrante, porque ela não correspondeu. Mas pensando pelo lado positivo, não houve qualquer indício de recusa. Ela simplesmente me deixou abraçá-la.

Depois, controlando meu emocional o máximo que consigo, caminho em direção à saída. Quando estou prestes a sair, Katniss me chama:

– Espera!

Viro-me lentamente e não faço questão alguma de esconder o sorriso. Ela se dirigiu a mim. Espontaneamente!

– Tudo isso é real? - ela diz.

– Sim - respondo, prendendo a respiração - Sim, estamos no D13 agora.

– Como posso ter tanta certeza?

Aquela pergunta veio para mim como um soco no estômago. Ponho os olhos nela, encarando-a de esguelha. Embora houvesse mil e uma frases borbulhando em minha mente, só consigo proferir apenas duas palavras antes de sair.

– Apenas confie.

**

No caminho de volta ao meu compartimento torço para que ela realmente volte a confiar em mim. Katniss é desconfiada e parece ter confiado em mim totalmente só na segunda arena, e não durou muito. Meus punhos se fecham e meus passos – que já são barulhentos – ecoam pelo corredor. Cada vez mais odeio Presidente Coriolanus Snow.

Encontro Delly na porta do meu compartimento, vestindo as roupas cinza que em nada combina com sua personalidade feliz. Ela abre um sorriso quando me vê, mas não consigo retribuir. Minha amiga parece entender e me abraça forte. A gente entra no meu espaço e olho para o relógio. Daqui alguns minutos, Finnick vai chegar e tenho que contar meu plano a ele.

– Você foi vê-la? – pergunta quando nos sentamos em minha cama. Eu maneio a cabeça afirmativamente. – E como ela está?

– Assustada. Triste. Desconfiada. Temerosa. – repondo olhando para o vazio. A expressão no rosto de Katniss me perturba. – Uma Katniss que não parece ela mesma, que tem medo de mim e de qualquer um que não seja sua irmã e Gale.

Delly passa a mão em minhas costas para me consolar. Sinto as lágrimas inundando meus olhos e o aperto em meu peito crescendo, os soluços escapam altos por minha boca. Apoio meus cotovelos em meus joelhos e meu rosto em minhas mãos para tentar diminuir o choro.

– É minha culpa ela estar assim, Delly. Eu poderia ter evitado. – Deixo escapar entre soluços.

– Ora, Peeta! Não diga besteiras! – ralha comigo. – Os únicos a serem culpados são o Snow e a Capital.

– Mas se eu tivesse rompido a aliança, como ela tinha sugerido, podíamos estar em uma situação diferente. Katniss poderia estar a salvo e sã. Não precisava de ela ter sofrido e ter sido torturada. – sons esquisitos saiam pela minha boca, minha respiração descompassada e irregular faziam meu corpo tremer.

– Peeta. – Delly chamou. – Peeta. – como não lhe dei atenção ela puxou minhas mãos do rosto. – Peeta, olha para mim. – mandou autoritária. Finalmente deixei que tirasse minhas mãos e me fizesse olhar em seus olhos castanhos. – Não é culpa sua.

– Como não é minha culpa, Delly? – finalmente explodo o que faz com que Delly se assuste. – EU poderia ter feito diferente! EU poderia ter morrido naquela primeira arena e ela seria uma vitoriosa feliz e sem alucinações. – grito, e Delly recua temerosa. Foi só então que percebi o quão assustador poderia estar parecendo para ela. Fecho os olhos um minuto e quando volto a falar minha voz sai apenas um sussurro. – Eu poderia ter escolhido fazer diferente e não fiz.

Lágrimas não escorriam mais pelo meu rosto, mas a tristeza em meu coração continuava lá, me maltratando, me culpando e me acusando de que eu poderia tomar outras decisões. Decisões certas.

– Você não poderia fazer nada. Você não sabia do plano rebelde. Não tinha nada que nem você nem ninguém poderiam fazer.

Eu balanço a cabeça concordando, apesar de no fundo do meu coração está outra coisa. Delly diz que tem que ir ajudar na cozinha e vai embora me deixando só com meu sentimento. No tempo que fico sozinho me recomponho para explicar meu plano para Finnick. Passo o rosto na blusa para limpar os vestígios das lágrimas quando escuto uma batida na porta.

– Então, qual o seu plano? – Finnick pergunta se sentando ao meu lado.

– Eu cansei de não fazer nada de útil. Pensei que nós poderíamos fazer uma coisa para ajudar os rebeldes.

– Nós? – pergunta parecendo surpreso.

– Sim, nós Finnick. – digo sério. – Nós, melhor do que ninguém, sabemos o quão ruim foram a Capital e os Jogos. – minha voz sai com raiva. – E fomos manipulados depois de todas aquelas atrocidades.

Finnick leva um tempo absorvendo minhas palavras. Tenho certeza que Finnick foi ameaçado por Snow, e aposto ainda que foi com Annie que ele o chantageou. Porque é assim que Snow faz para conseguir o que quer; ameaça as pessoas que você ama para ceder a seus caprichos.

– É. – a voz dele sai um pouco distante, como se seu corpo estivesse presente mas sua mente em outro lugar. Finalmente parece acordar e me olha decidido. – E o que nós vamos fazer? – eu sorrio.

– Coin disse que tem distritos que ainda estão relutantes com a revolução. Como disse, nós sofremos a total crueldade da Capital. Pensei que podíamos fazer pontoprops falando sobre isso. Que não queremos ser mais peças em seus jogos e queremos a liberdade e a justiça e igualdade. – Expliquei empolgado. – Contar a crueldade de Snow e convencê-los de que um mundo sem Snow e Jogos Vorazes é melhor.

Finnick não parecia muito animado com a ideia.

– Hey. O que foi? Achou a ideia ruim? – perguntei meio triste. Talvez pelas nossas situações parecidas ele fosse me apoiar.

– Não é isso. – respondeu olhando para os próprios sapatos. – Eu só não sei se quero contar o que aconteceu comigo a todo mundo.

– O que Snow fez com você? – perguntei incapaz de conter minha curiosidade. – Quer dizer, ele não ameaçou Annie para fazer com que você fosse todos os anos a Capital servir de rostinho bonito? Não foi isso que ele fez com todos nós? – ele suspirou.

– Não deu tempo de descobrir o que Snow realmente fazia. Sim ele realmente ameaçava nossos amados. Mas... – ele hesitou um momento antes de continuar. – Mas não era só para fazer ceninha.

Percebi que isso era um assunto delicado para ele.

– Não precisa me contar se não quiser.

– Eu estou querendo dizer, Peeta, é que ele vendia meu corpo. – a voz dele soou sem emoção, como se ele estivesse narrando um fato nada a ver com ele e seus olhos estavam distantes também – Ele me oferecia como se eu fosse uma joia rara.

Fiquei pensando em como Finnick era um tributo popular e adorado e mesmo assim nunca pensei que Snow o vendia dessa maneira. Quando ouvi essas palavras saindo do da boca de Finnick um frio cortante atravessou todo meu corpo. Poderia ter acontecido comigo, poderia ter acontecido com Katniss.

– E ele nos deixou bons exemplos do que aconteceria se não fizéssemos o que ele quisesse. Como a Johanna. – continuou.

Apesar de Finnick citar Johanna, lembrei-me de Haymitch. Ele não quis ceder as chantagens e perdeu a namorada e a família. Ficando totalmente sozinho e com medo de amar. Isso quase me fez perdoá-lo por ter me escolhido ao invés de Katniss.

– Só que... – tornou a falar, e me fez voltar minha atenção para ele. Finnick tinha um sorriso um pouco insano. – minha companhia era cara. E não estou falando monetariamente. Ah, não. Eu cobrava algo muito melhor. Algo que pode ser muito útil para usar contra ele.

– E o que é? – eu estava ansioso. Algo para usar contra o Snow tudo o que eu queria. Finnick me olha cúmplice e aumenta seu sorriso.

– Os segredos dele.


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