A captura do tordo escrita por Maga Clari, Katsudon


Capítulo 12
Espinhos explosivos


Notas iniciais do capítulo

Queremos reviews, hein?
Beijinhos



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– Abra a boca. – pediu gentilmente o médico que me atendia. Mecanicamente o obedeci.

Ainda me recuperava do choque de Katniss ter me atacado. Eu não esperava aquela reação dela a mim. Pensar nisso faz meu sangue ferver.

Snow me paga.

– Está tudo bem, senhor Mellark. Apenas os hematomas ao redor do seu pescoço vão demorar alguns dias para sumir. Poderá continuar a ajudar na revolução, nada que maquiagem não resolva. – sorriu.

Dei um falso sorriso em resposta e saí da sala falando um “obrigado”. Não sei se tenho cabeça para o trabalho Tordo. Minha mente ainda está processando o acontecimento do ataque e a palavra dita por Katniss na ocasião.

ASSASSINO.

Eu sei que matei algumas pessoas nos Jogos, porém não pareia ser exatamente por isso que ela me chamava de assassino.

O subterrâneo me deixava um pouco nervoso. Acho que o ar uma hora vai acabar e todos nós morreremos sufocados. Um medo tolo, já que eu fui para os Jogos Vorazes duas vezes e vi muitas maneiras piores de morrer.

Em frente ao meu compartimento encontro um guarda a minha espera. Dou um longo suspiro e deixo meus ombros caírem em desânimo. Não quero ser o Tordo e nem fingir que está tudo bem. Quero apenas entender o que está acontecendo e dar um fim a isso. É pedir demais? Pela cara do guarda, sim, é pedir demais. Então apenas o acompanho até a sala de reunião.

Parece que todos que deviam estar lá já chegaram. Todos me olham, a maioria com pena. Resolvo ignorá-los e sentar no único lugar que está disponível.

A Presidente Coin olha para todos até pousar os olhos em mim. Ela me encara completamente indiferente.

– Bom, senhor Mellark, cumprimos nossa parte do acordo. Espero que o senhor cumpra a sua também. – isso soou como uma ameaça.

Aposto que para Coin eu era apenas um joguete, assim como fui para a Capital durante os Jogos. Tento engolir isso e concordo. Katniss está em segurança e isso é tudo o que importa.

– Uma de suas exigências era participar mais efetivamente da rebelião. – disse. Depois olhou em volta sem parar em alguém em especial. Sei dessa minha exigência, mas, no momento, minha mente não consegue se concentrar em nada a não ser Katniss. – Nossa revolução está caminhando melhor do que esperado. Temos apenas dois distritos que não nos apoiam, mas já estamos resolvendo isso. – ela quase esboça um sorriso satisfeito. – E para ajudar a acelerar o processo, nosso Tordo, Peeta Mellark, irá gravar uma propaganda ainda hoje incentivando-os.

Eu já ia me opor quando lembrei que não poderia falhar. Me comprometi em ser o Tordo se atendessem às minhas exigências e em tempo recorde conseguiram. Eu apenas balanço a cabeça concordando.

– Os Distritos resistentes são o 2 e o 8. Apesar de 8 estar quase completamente dominado, existem muitos feridos...

Paro de escutar quando uma ideia aparece. Talvez tudo o que eu precise para me distrair de tudo que anda me atormentando ultimamente seja justamente o meu trabalho como Tordo. Isso parece quase renovar meu ânimo.

Volto a prestar atenção no que ela está dizendo. Algo como que assim que eu gravar a propaganda irão enviar reforços ao 8 junto a mensagem. Hora perfeita para por meu plano em prática.

– Eu quero ir para o 8. – falo alto o suficiente para todos escutarem.

A sala cai em silêncio mortal por causa da declaração. Todos concentram as atenções em mim e me olham como se tivesse falado uma língua incompreensível.

– Eu quero ir para o 8. – repito ainda mais firme.

– Senhor Mellark. - Coin parece estar nervosa. – Não iremos te colocar no meio da batalha.

– Como a senhora mesmo ressaltou, temos um acordo e nesse acordo eu posso participar mais efetivamente da revolução. – lembro-a.

– Participar mais efetivamente não significa colocá-lo no meio da batalha.

E assim começou mais uma longa discussão sobre eu ir e não ir. Surpreendentemente, ganhei muitos adeptos, inclusive Gale. Não sei se ele esperava que eu morresse lá ou estava realmente concordando comigo. Talvez ele realmente achasse que um tempo longe da Katniss iria fazer bem a ela.

– Silêncio. – gritou a Presidente. – Não iremos colocá-lo no meio da batalha. – ralhou.

– Presidente Coin. – tentaria uma última vez. – Você disse que precisa de ajuda para convencê-los. Quer da incentivo maior aos rebeldes do que eu, o Tordo, lutando ao lado deles? Pense nas vantagens. E melhor ainda, você poderá exibir isso pelo país todo.

Ela me encara e eu sustento seu olhar. Passaram-se alguns minutos até ela abrir a boca novamente.

– Senhor Mellark, espere lá fora.

Eu saí ansioso para saber o que eles iriam conversar. Passou uma eternidade até finalmente eu poder entrar na sala outra vez.

– Decidimos que você poderá ir. Com uma condição.

Claro que teria uma condição. Eu inclino minha cabeça incentivando-a a continuar.

– Irá obedecer completamente o comandante Boggs. Qualquer ordem. Estamos combinados, Senhor Mellark?

– Claro. – respondo. Como se eu tivesse qualquer outra opção.

Depois disso fomos liberados, afinal eu ainda tinha que gravar uma propaganda de incentivo. Novamente tento ir em paz ao meu compartimento.

– Gale me contou o que aconteceu hoje. – me sobressalto ao escutar a voz de Prim atrás de mim. Viro-me pra ela dando um sorriso triste, balançando a cabeça. – Ele não me disse a razão. – Ela olhava fixamente para os meus hematomas. – Pensei que talvez você pudesse me dizer.

– Agora não, Prim - dou um longo suspiro e massageio minha nuca - Já envolvemos você demais nisso. Você é apenas uma criança...

– NÃO SOU CRIANÇA! - ela bate o pé, furiosa. Não consigo parar de compará-la à irmã, Katniss. Prim estava crescendo e tornando-se bem parecida com ela - Pensei que pelo menos você já entendesse isso.

– Prim...

– Não, Peeta. Foi exatamente isso que quis dizer, nem adianta se justificar. Acho que você deve estar cansado, eu entendo. Outra hora conversamos.

Hesito ao vê-la ir-se embora. Apesar de ser uma criança, como eu mesmo disse, ela me parecia a pessoa mais sensata do D13. Eu tinha que admitir isso. Mas eu não tinha mais tempo para pensar em Prim e em como eu fui rude e idiota com ela, que só quis me ajudar. Eu precisava ir ao Distrito 8 com o resto dos soldados. Aceitei essa missão porque, além de distrair minha mente, eu preciso sentir-me dentro dessa guerra; agora virou algo pessoal.

O aerodeslizador sobrevoa as indústrias têxteis e nos dá a visão de mais outro quase aliado. De acordo com Boggs, iremos ao hospital. Mostrar segurança, apoio, esperança. Cressida - a diretora de cinema que Coin nos disponibilizou - diz que vai ser uma cena belíssima e mórbida o suficiente para ajudar nas propagandas. Eu concordo com ela, afinal, nem todos os Distritos sabem o que se passa nos outros. Iremos mostrar a verdade.

Acho realmente incrível que tenhamos três refugiados da Capital para nos ajudar. É um ato completamente rebelde. E eu me sinto feliz em tê-los por perto. Eles sabem de coisas sobre a Capital que não sabemos, e isso é bastante útil. Além da Cressida, temos o Castor e o Pollux. Este último é um avox. Não quis perguntá-lo como conseguiu essa façanha, deve ser algo pessoal e não sou do tipo invasivo para abordá-lo assim. E também não faz muita diferença, afinal.

Quando chegamos no D8, algumas moças que estão na porta do hospital esboçam sorrisos de alívio e nos chamam para dentro. Elas nos mostram toda a extensão do lugar e à medida que caminhamos vemos mais gente demonstrando felicidade em nos ver. Sinto um nó no estômago ao vê-las nesse estado de deterioração. Parecem ver em nós um último apelo à sua sub-existência. Tento não chorar para continuar passando-lhes a força de que precisam.

– O TORDO! - uma meninota de mais ou menos nove anos bate palmas quando chego perto dela. Agacho e lhe dou um beijo na testa. Dou um longo suspiro. Queria poder ajudá-los de verdade. Todos eles.

– Ei, Peeta - Cressida tira-me dos devaneios - O que você veio fazer aqui? Que tem a dizê-los?

Vejo seus dedos apontarem para a câmera e então me levanto bem devagar.

– Estamos com vocês. Viemos ajudá-los, viemos lutar - e então aumento a voz: - Não mandamos outros fazermos por nós. Eu mesmo vim enfrentar o Presidente Snow. Está ouvindo isso, Snow? Estamos aqui. Juntos, faremos o maior levante da história. Em prol da nossa liberdade. Quem está conosco?

De repente, todas as mãos vão aos lábios fazendo o sinal que Katniss aprendeu com Rue. O nosso sinal, o sinal da Revolução. Sorrio, extasiado com aquele momento. Junto-me aos assobios e então Cressida corta a gravação.

Vamos para fora do hospital quando um som de bomba nos deixa alertas. Boggs consulta em seu dispositivo e afirma que um aerodeslizador da Capital estará perto de nós em menos de cinco minutos. Então começamos a correr, correr, correr desesperadamente. Embora quiséssemos salvar a todos ali, antes precisávamos deter as bombas.

Subimos ao topo de um edifício próximo e tomamos posições de ataque. Gale puxa sua flecha de explosão e eu puxo o gatilho de uma das armas que ele inventou. Miramos no aerodeslizador da Capital e o escuto gritar:

– UM. DOIS. TRÊS!

Atiramos. Eles caíram. Um suspiro coletivo preencheu o ambiente e então nos abraçamos. As imagens foram gravadas, temos um ótimo material. Nenhuma nova ameaça de bombas, segundo o dispositivo de Boggs. Descemos, então, para o caminho do hospital. No entanto, fomos todos pegos de surpresa

– Eu não posso acreditar - minha reação sai praticamente inaudível. Pedem-me para repetir, mais alto: - EU NÃO POSSO ACREDITAR!

Balanço a cabeça, incrédulo, e algumas lágrimas teimosas começam a rolar pelas minhas bochechas. Bombardearam o hospital. O hospital, não, cara. Que tipo de pessoa mata enfermos? Minhas mãos tremem e eu entro num estado de choque. Levanto a cabeça lentamente e descubro Castor gravando minhas reações. Cressida faz um sinal e então, com a voz vacilante, dou meu parecer:

– Estamos aqui no Distrito 8. A Capital acabou de bombardear um hospital. Cheio de crianças e mulheres. Deixem de ser covardes - digo isso com uma pitada de ódio - Venham e lutem como homens adultos. Estamos aqui, Snow. E temos uma mensagem pra você: Se queimarmos, você queimará conosco.

– Okay... E... Corta.

Minha respiração ainda está desregulada e meus olhos bem abertos. Caio de joelhos onde antes haviam almas pelas quais lutar, cheias de esperança num novo mundo. Mas agora nada havia restado. Apenas as cinzas e o fogo que derretera seus corpos e sonhos. Eu queria gritar, socar, matar. Sei que aqueles pensamentos não pertenciam ao Peeta do D12. Mas é assim que me sinto ao ver o que o Presidente Snow está fazendo.

– Peeta? Ei, Peeta, acho melhor irmos embora - Cressida se agacha perto de mim e vejo minhas mãos cederem e agarrarem as dela para que eu possa levantar. - Acho que já chega por hoje, hein?

Balanço a cabeça afirmativamente e nós todos - Eu, Gale, Boggs, Cressida, Castor e Pollux, o avox - voltamos ao aerodeslizador que planava não muito longe. Tomo meu lugar, entre Gale e Beetee. Ambos olham para mim, assustados com o estado em que me encontro, e decido me antecipar à pergunta que ainda não me fizeram:

– Nunca imaginei que esta guerra chegaria a esse nível - confesso, com pausas entre um palavra e outra - Cheguei até em pensar num cessar-fogo. Sinceramente? Acho que...

– ESTÁ LOUCO? - Gale me interrompe, os olhos faiscando - Depois de tudo você pensa nesse tipo de proposta, Mellark? Que você tem na cabeça, afinal?

– Ei, ei, ei. Nada de brigas no aerodeslizador - Beetee tenta apartar uma discussão que nem chegou a se concretizar.

Ficamos em silêncio o resto da viagem e quando chegamos ao D13, a Presidente Coin me puxa para o canto. Ela parece estar animada e aliviada com nossas conquistas e pede para que eu grave mais um último pontoprop antes de ir descansar. Estou tão revoltado que aceito; por que não?

Vamos até a parte superior, onde todos pensavam que o D13 havia sumido com as ruínas. Preciso admitir: o cenário de destruição combina perfeitamente com nosso estado de espírito no momento. A noite já havia aparecido e a lua também. As luzes das câmeras parecem me cegar. Todo aquele silêncio me sufoca. Tentamos várias e várias vezes e nenhum take fica bom.

– Deixem ele descansar! - ouço Cressida gritar e mandar Pollux desligar a câmera na mesma hora.

– Mas precisamos do pontoprop hoje ainda, Cressida, a Presidente disse que...

– Castor, não teremos material bom esta noite. Peeta está exausto. Acho que o bombardeio deixou-o sem forças, não adianta forçar a barra. Anda, galera, vamos embora.

Quando chegou a porta, notou a minha ausência.

– Peeta? PEETA!

Cressida corre até a mim; estou mais nervoso do que durante o bombardeio no D8. Não preciso dizer nada. O mar de rosas nas ruínas mais afastadas basta por si mesmo. Quando ele colocou-as lá? Já estavam aqui ou foi durante nossas filmagens? Juro que não as havia notado antes.

– Katniss - digo, simplesmente - É um aviso sobre Katniss.

E então eu corro. Corro como se disso dependesse minha vida; e talvez dependa mesmo. Preciso manter Katniss viva. Esse pensamento me leva de volta à Arena, quando os tributos nos representavam ameaça. Mas a verdade é que nunca representaram. Pelo menos não tanto quanto o Presidente Snow. Ele sim é o verdadeiro predador. Ele é sutil. Sínico. Irônico. Age com cautela. E precisão.

Estava mais do que óbvio que aquelas rosas significavam alguma coisa, claro, como não perceber? Sinceramente, esse tipo de estratégia me irrita. Ao invés de acabar logo com a guerra, de uma vez, ele continua a tortura. Não só a tortura físico-mental, mas a tortura psicológica. Tudo o que eu quero é acabar esse tormento. Algo me diz que precisamos usar da mesma tática que ele.

– TRAIDOR!

Escoro-me na parede ao ver um vulto correndo na direção oposta a minha. Logo após, mais outro vulto o persegue. Percebo que se trata de Finnick e Katniss. Que diabos está acontecendo com ela, afinal? Será que o Snow também usou o Finnick, mas não é possível! Vejo-me socar a parede com raiva e então tomo a decisão, enfim. Se for pra jogar sujo, que joguemos, então.

Da próxima vez, devolveremos os espinhos das rosas.


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Notas finais do capítulo

Galera, galerinha. Eu sei que o resgate dos tributos acontece depois do ataque ao hospital no livro, mas como nós estamos escrevendo trocando os papéis de Katniss e Peeta, eu, pessoalmente, acredito que ele iria querer resgatá-la o quanto antes, por isso na fanfic acontece logo no começo, okay?



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