A Natureza das Ondas escrita por Enki


Capítulo 2
Capítulo 02 - Eu conheco Luna


Notas iniciais do capítulo

Queria ter postado esse capítulo antes, mas tretas da vida me fizeram postergar sua produção. Então desculpem o atraso e Fiquem com mais um cap de A Natureza das Ondas.



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Cora me levou para o alto, então me vi afastando do mar. Estava em um outro oceano agora, o Oceano Astral. No início, tudo parecia muito escuro e medonho. Fiquei com pouco assustado, imaginando até onde a minha nova amiga iria me levar. Então as coisas clarearam, e eu consegui ver Cora melhor. Eram as estrelas que brilhavam, pequenas e distantes iluminando o grande Oceano negro dos astros. Fiquei, por fim, mais confortável, podendo ver o que havia a minha volta. Uma bobagem, porque não havia nada ali. Nem fez muita diferença também, porque o medo do inesperado logo voltou, quando percebi para onde Cora se guiava. Seguíamos para seu baleal.

Não pensei em contar, nem teria tentado se pensasse, mas acho que deveria haver por volta e umas cem baleias jubartes-de-prata ao nosso caminho, todas voando de um lado para outro em seu grupo. Quando nos aproximamos mais, me dei conta de quão grande poderia ser uma verdadeira jubarte e ouso dizer que Cora era uma das menores. Estimo que as outras teriam por volta de 50 ou 60 metros, enquanto a minha Cora só tinha algo em torno de 16 metros, um bebê eu supus. Duas outras baleias se aproximaram de nós e soltaram um suspiro grosso. Cora respondeu com uma vocalização melodiosa e imaginei de que se comunicavam. Devia ser os pais dela perguntando por onde tinha andado e que criatura feia e estranha ela trazia nas costas. Perguntei-me o quanto Cora me via como amigo e o quanto me via como bicho de estimação que encontrou explorando o universo... Preferi não saber a resposta. Outra mas a frente no grupo bufou um som grave e ecoante como um trombone e o grupo todo então se organizou para nadar.

Era muito estranho vê-las andando por ai no vazio. O próprio universo parecia se mover enquanto elas batiam as barbatanas e a calda, deixando um rastro de estranhas ondas astrais por onde passavam, como dobras em um fino e frágil manto que seria o universo. Dei isso à natureza mística das criaturas, mas, refletindo hoje, não estou tão certo. Seguimos, por alguns minutos sem nada muito novo para elas, mas ver os céus era simplesmente fabuloso para mim. Deparei-me com as estrelas frias e distantes outra vez e imaginei-me chegando mais perto delas para admirar melhor a sua beleza e talvez até mesmo tocar-lhe a superfície. Não chegaria a fazer isso naquele dia, nem depois. Naquela hora, não iriamos nos aproximar delas, pois estávamos a caminho da Lua.

Não sei bem como eu pensava ser a lua, acho que nunca pensei muito no assunto, mas certamente ela não era como eu esperava. Uma grande bola de rocha esbranquiçada, tal qual o calcário brilhante e limpo de um recife do mar. Era frio e havia cheiro de hortelã no ar. Cora me levou direto para o satélite enquanto sua baleal parou pouco antes. Ela pousou na areia branca, tão fina e leve que levantou-se em pequenas nuvens quando chegamos. Desci me perguntando porque estaríamos ali, mas não percebi que havia uma pessoa atrás de mim quando toquei o chão.

Boa noite.” Uma mulher de voz suave falou atrás de mim.

Deparei-me com uma bela dama em branco observando-me da cabeça ao pé. Tinha olhos acinzentados que, ao me fitar, parecia ver meu futuro ou a minha alma.

“Quem é você?” Perguntei.

“Eu sou a paciência, o afeto, o amor, a Donzela de Branco, Senhora do Sol, o Brilho da Noite. Sou Luna, a Lua.

“Perdoe-me por não reconhece-la, deusa.” Ajoelhei-me.

“Jamais poderia fazê-lo, meu jovem.” Estendeu a mão para me ajudar a levantar. “Venha. Caminhe comigo e me faça companhia em meu lar de solidão.”

Andamos na paisagem arenosa da lua que mais me lembrava uma praia, embora no horizonte houvessem pequenas montanhas, como em dunas. Um longo chale de chiffon prata pendia de seus ombros até se arrastar no chão, mas estranhamente nem sujava. Seus cabelos, pretos na raiz, misturando-se em mechas de cinza e branco platinado, esvoaçavam mesmo que não houvesse vento por ali.

“Perdoe-me a minha curiosidade, senhora, mas porque está aqui, falando com um simples marinheiro?” Perguntei.

“Não era um marinheiro pescador o meu preferido dos homens?”

“Você diz o Homem da Lua?”

“Eu não o chamo assim.” Ela olhou para o céu. “Você tem algum sonho, meu jovem?”

“Sim, tenho. Eu sonho em ter virar um militar de alta patente. Crescer na marinha para proteger meu reino e meu povo.”

“Só isso? Não pretende ter uma família, mulher e filhos?”

“Isso também, mas sou novo para me encantar com o amor eu acho.” Respondi. “Sorte na profissão e na vida. Acredito que todos no mundo sonham com esse tipo de coisa. Por que a pergunta?”

“E depois disso? Depois que fizer sua carreira e sua família?” Ela me ignorou.

“Viveria para os meus filhos imagino. Cuidaria deles e os ajudaria a fazer sua própria vida. É o certo a fazer.”

“Como são belos os sonhos dos homens.” A deusa sussurrou distante. “Não lembro de ter sonhado assim uma única vez.” Não tinha certeza se falava comigo, então não soube o que dizer. Em meu silêncio, ela continuou. “Você me lembra Pontos... o Homem da Lua como o chama. Ele também tinha sonhos simples assim. Rezava para mim toda noite que passava em seu barco em alto mar, para protegê-lo dos perigos do Oceano”

“Então ele nem sempre foi... meio divino?”

“Não, ele era um homem comum. Como você ele tinha seus sonhos e desejos e rezava para mim para que pudesse realiza-los quando voltasse a terra firme. Era um fiel e essa era toda a sua relação conosco, os deuses. Nada mais.”

“Mas como ele virou o que é hoje?”

“Ele alcançou as estrelas.”

“É possível? Eu gostaria de conhecer as estrelas. Elas parecem frias e tristes, tão distantes umas das outras que a solidão diminui seu brilho.”

A Lua me observou. Não sei o que poderia ter falado de errado, mas ela parecia angustiada. Seus olhos marejados seguravam um choro e a mulher elegante que eu vi a primeira vista deu lugar a uma moça emotiva, com sentimentos profundos que eu não entendia. A sabedoria dos anos me faz hoje perceber melhor o que se passava pela sua cabeça naquele momento. Ou pelo menos assim acredito.

“Você está bem?”

“Se visitar as estrelas, só encontrará a morte. Homem algum jamais deverá alcança-las, para o seu próprio bem. O destino que sela o encontro entre os dois é de um terror incompreensivo. Nunca mais deseje isso novamente.”

“Perdão...”

“Com o que acha que podemos sonhar se não um momento de vida novamente? Para que continuarmos se nossa vida é destinada a dor eterna?”

“Senhora?”

Ela me olhou como se não me reconhecesse mais. Então baixou a cabeça e sorriu. Ao volta-me os olhos, transparecia as emoções novamente. Mas dessa vez era terna e afetuosa.

“Obrigado por vir aqui fazer-me companhia, meu jovem. Em troca, vou lhe presentear com um vislumbre de seu destino. Você, sim, será um grande defensor de seu povo e o seu sucesso o levará muito mais longe do que espera. Seu amor, vocês se encontrarão nesse caminho e juntos, enfrentarão grandes desafios. Mas não a abandone jamais, pois no seu momento mais difícil, apenas com ela você poderá superar. Agora volte ao seu pequeno barco, meu marinheiro. Volte e ganhe o seu futuro, pois o seu destino a partir de agora está traçado.”


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Notas finais do capítulo

Sem previsão para próxima postagem. Obrigado a todos que leram e quem puder, por favor, comentem. Nada é mais incentivador do que um retorno de nossos leitores. Obrigado mais uma vez e fiquem bem.