A Natureza das Ondas escrita por Enki


Capítulo 1
Capítulo 01 - Quando alcancei as estrelas


Notas iniciais do capítulo

Água é vida e princípio de vida, todas as coisas dela provém e a ela voltam, de sorte que tudo é vivo, tudo é animado e, nesse sentido, dotado de alma. Tales de Mileto



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Acho que tudo terminou quando o céu se deu a sangrar. Mas isso foi o fim, não o início. O início foi muito antes, quando o tempo ainda era tempo e desse modo sobrava para todos, então ninguém ligava para ele. Lembro-me de como era naquela época, eu via as Jubartes de Prata brincarem durante a noite no oceano. Eram muito amigáveis e curiosas, gostávamos de observa-las, cantavam bem e adoravam se exibir para nós. Eu consegui me aproximar delas uma noite. As vezes não tenho certeza se aquilo foi um sonho, mas se foi ou não, não importa, o que eu sei é que eu nadei com as grandes baleias numa noite estrelada e elas me levaram aos Grandes Oceanos dos céus.

Os astros brilhavam mais naquele tempo deixando as sombras noturnas um tanto claras e eu estava em um dos ancoradouros da marinha. Olhava o mar, de guarda no convés, sentindo o vento beijar-me o rosto. O mar estava parado, tão completamente calmo, que espelhava os céus e eu não tinha mais certeza se ainda estávamos na água. Foi então que vi uma das baleias. Ela pulou perto do barco e sua queda não fez ondas ou remexeu o navio. Fiquei assustado e maravilhado ao mesmo tempo, acredito que nenhum marinheiro já tivesse visto uma das baleias negras tão de perto. Ela nadou em volta do barco, sua pele negra e polida surgindo como uma sombra entre as estrelas brilhantes da superfície do mar. Ela girou e contornou o nosso navio várias vezes, acredito que estava curiosa para saber que estranho objeto flutuante era aquele, pois era pequena e jovem e não devia conhecer muito da vida ainda. Avistou-me com um salto e então pulou várias vezes, exibindo-se para mim. Ninguém acordou naquela noite e não tenho certeza se houve algum barulho de sua agitação. Agora me lembro que a água mesmo não fazia nenhum movimento, mas Cora cantava e eu gargalhava com ela.

Depois de alguns minutos, a baleia se cansou e se afastou. Só reparei que ela iria embora quando já começava a ficar longe demais e logo a perderia de vista. Gritei para que voltasse e sem pensar, pulei na água. Forcei-me a nadar e por mais que eu soubesse nadar bem e rápido, jamais a alcançaria. Quando não a vi mais, parei e fiquei olhando o último lugar que a tinha visto. Esperava que ela voltasse eu acho, mesmo que para dizer adeus. Fora embora tão de repente e sem avisar que eu não esperava que tivesse terminado.

Subitamente, as estrelas ao meu redor desapareceram enquanto uma sombra negra crescia ao meu redor. Quando vi, Cora estava abaixo de mim e ao subir, me levantou em cima de sua cabeça. A baleia deixou os mares rumo aos Oceano Astral e me levou junto. Esse foi o dia em que alcancei as estrelas e vi o mundo.


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