Um Último Adeus escrita por cellisia


Capítulo 1
Capítulo Único – Hey, Meiko.




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Era sábado, mais um sábado. Monótono, sim. Doloroso, com certeza.

O dia amanhecera frio. Na verdade, desde que... desde que ela se fora todos os dias vinham sendo frios. Ou era impressão dele?

Kaito estava deitado em sua cama, olhando para o teto, enquanto o irritante despertador apitava sem parar.

-Maldição! - murmurou ele, socando violentamente o botão, desativando o alarme.

Tornou a deitar a cabeça no travesseiro, virando-se para o lado esquerdo, fitando o espaço vazio. Passou, suavemente, a mão pelo lençol branco. Hoje fariam exatos três meses, três meses desde que ela se fora.

No entanto, desde o ocorrido, ele nunca fora visitá-la, não tinha forças tampouco coragem. Nos últimos dois meses estivera apenas protelando, adiando aquela visita ao máximo. Mas dessa vez estava decidido, precisava ao menos despedir-se apropriadamente.

Levantou-se e se aprontou para uma visita, uma vista fúnebre. Uma blusa preta de mangas, uma calça e um par de sapatos de igual cor, e por fim um cachecol azul.

Deixou a casa, andando por aquela rua vazia e silenciosa, exceto pelo som dos pássaros. Era ainda muito cedo, não havia quase ninguém por ali.

Andou mais um pouco até chegar a uma floricultura. Seus pés pareciam chumbo, não conseguia se mover. Ficou então parado à porta apenas olhando, ainda não estava pronto.

Deve ter ficado ali, apenas divagando, por uns quinze minutos, até que respirou fundo e empurrou a porta.

-Bem vindo. - Ofereceu o balconista alegremente.

Kaito, no entanto, não respondeu. Pegou um enorme e vistoso buquê de rosas vermelhas que se encontrava à mostra num vaso e se dirigiu ao balcão.

-Bom dia, Kaito-san. - Disse o balconista - Faz tanto tempo que não te vejo por aqui...

-É... - murmurou ele com voz baixa.

-Você... você vai visitá-la, não vai?

Kaito ficou em silêncio apenas olhando o buquê que o balconista, um senhor já de idade, enrolava a um vistoso embrulho.

Suspirando terminou o embrulho, entregando-o ao jovem rapaz logo em seguida.

-Hoje é por minha conta. Apenas... dê um olá a ela por mim. - Dizendo isso juntou as mãos e fechou os olhos, fazendo uma especie de reverência.

-O-Obrigado. - Murmurou Kaito e deixou a pacata loja.

Ei, Meiko, me lembro do seu nome

Deixei uma dúzia de rosas no seu túmulo hoje

Estou no gramado de joelhos limpando as folhas

Eu só vim aqui para conversar um pouco

Eu tenho algumas coisas que preciso dizer

Kaito estava parado em frente a um simples túmulo de granito. Ele observava fixamente os katakanas ali entalhados. "メイコ". Sua mente, no entanto, se encontrava em outro lugar.

Ele se lembrava do acidente, o dia em que ela saiu de se sua vida para sempre.

Meiko vinha agindo de modo estranho há um tempo. Vivia indisposta, trocava de humor muito depressa, fazia escândalo por coisas fúteis, teatrinho pra conseguir as coisas, chorava por nada, as vezes por tudo, o agredia com objetos que encontrava pela casa e, enfim, um comportamento que não era seu normal.

Kaito nunca se importou, apesar de achar estranho, sempre fora calmo e gentil, relevando e aturando os chiliques dela.

Mas naquele dia, por algum motivo que não se lembrava agora, fútil, provavelmente, ele estava irritado e sem paciência para aturar as inconstâncias de Meiko. Então gritou com ela, acusou-a de várias coisas, descontou sua raiva dizendo palavras duras e cruéis, coisas que nem em sonho pensaria em dizer.

Viu aqueles olhos castanhos se encherem de lágrimas. Pela primeira vez a havia feito chorar, mas não se comoveu, continuou gritando com ela.

Meiko, em prantos, saiu correndo porta a fora. Ele correu atrás dela, mas era tarde demais. Um motorista que vinha em alta velocidade se assustou ao vê-la correndo em sua frente e não teve tempo de frear.

Kaito, desesperado, esqueceu o porque de estar tão bravo com ela. Pensando agora parecia ridículo. Tudo o que queria era que ela fosse socorrida depressa.

Minutos depois, minutos que pareceram eternos, a ambulância chegou e a levou. O médico que a atendeu o explicou que o comportamento estranho dela se devia a sua gravidez, fato que Kaito não sabia.

Após uma cirurgia, Meiko foi levada para o quarto, no qual ele lhe fez companhia a noite toda, chorando e suplicando desculpas. No entanto, devido ao choque, ao impacto e as lesões, ela acabou sofrendo um aborto seguido de uma parada cardíaca, vindo a falecer minutos depois.

O vento frio batia em seu rosto, bagunçando seu curto cabelo e pinicando sua pele, fazendo-o retornar ao presente.

Ele então se ajoelhou e passou as mãos sobre a lapide, tirando as folhas secas que o vento não varreu.

-E-Ei... Mei-chan... - Sussurrou com um sorriso triste que vacilava em seus lábios - Eu finalmente vim. Trouxe umas rosas pra você... Sei que adorava lírios, mas sempre achei que as rosas, especialmente as vermelhas, combinassem mais com você... - Depositou as flores sobre a lápide, próximo ao nome dela.

Kaito mantinha a cabeça baixa como se olhar para lápide lhe pesasse os ombros.

-Me desculpe. - Sussurrou, após alguns minutos, com os lábios trêmulos - Eu sei que a culpa é minha... por você estar aqui. Não sei se você pode me perdoar, fui um marido horrível, eu não me perdoo, mas... - ele então começou a chorar - ... mas eu sinto tanto a sua falta... Sinto falta da sua risada, de ouvir sua voz, de sentir seu perfume e... me desculpe... por favor. Eu gritei tanto com você naquele dia, disse palavras horríveis... Eu... Eu não sei o porque de ter feito aquilo. Estou tão arrependido, Meiko... Mei-chan... Não eram verdadeiras, nenhuma daquelas palavras, nada do que eu disse era verdade.

Agora que tudo acabou

Eu só quero abraçá-la

Trocaria todo o mundo para ver aquele pedacinho do céu olhando

De volta para mim

Agora que tudo acabou

Só quero abraçá-la

Tenho que viver com as escolhas que eu fiz

E eu não posso viver comigo hoje

-E-Eu precisava que você soubesse disso, mas... mas você partiu achando que eu te odiava. Não tive tempo de me desculpar com você... - Ele continuava a chorar - Eu apenas queria te abraçar. Poder te sentir mais uma última vez... Eu sei que é impossível, que eu não posso ter você de volta, mas eu me arrependo tanto... Eu faria qualquer coisa pra reverter isso, qualquer coisa pra tê-la comigo outra vez.

Na medida em que falava, as lágrimas, impiedosamente, escorriam. Eram tão frias, tão dolorosas, apenas o faziam sentir um peso enorme em seus ombros, o peso da culpa.

Ei, Meiko, me lembrei do seu aniversário

Eles disseram que iriam parar um pouco de falar seu nome

Sei que faria tudo diferente se eu tivesse a chance

Mas tudo que tenho são essas rosas para dar

E elas não podem me ajudar a fazer as pazes

Kaito passou as mãos nos olhos limpando, inutilmente, as lágrimas. Levantou a cabeça encarando a lápide.

-Eu me lembrei, Mei-chan... do seu aniversário... Me lembrei da promessa que havíamos feito de viajar para as montanhas quando chegasse o dia... - Ele riu, uma risada irônica - Mas... mas você se foi um mês antes. Por minha culpa... Me desculpe... não fui capaz de cumprir a promessa. Na verdade não fui capaz de ficar em casa no dia do seu aniversário. A dor de ficar naquela casa vazia era demais pra suportar. Ver as malas em cima do guarda-roupa, prontas pra serem usadas, era doloroso demais.

As lágrimas haviam tornado a escorrer por meu rosto.

-Sabe, essas rosas foram um presente do senhor da floricultura. Ele pediu... pediu pra mandar um "olá". - Kaito sorriu tristemente, passando a mão na lápide, como se aquele gesto o fizesse senti-la mais próxima - Eu sei que você se lembra dele, ele organizou a ornamentação... do nosso casamento... Eu queria ser capaz de reverter algumas escolhas que eu fiz... algumas palavras que eu disse... Mas eu não posso, eu não consigo. Só tenho... essas rosas.

Aqui estamos nós

Agora você está em meus braços

Nunca quis nada tanto antes

Aqui estamos nós

Para um novo começo

Viver a vida que poderíamos ter tido

-Meiko, eu sinto tanto. - Ele continuou a falar - Eu preferia estar aí no seu lugar. Preferia que tivesse sido eu e não você. Preferia suportar qualquer outra dor só pra não sentir sua perda... E ela dói. Dói demais. Eu queria ter o seu perdão, mas não sei como fazer isso, na verdade eu sei que é impossível, mas eu... eu não aguento.

Enquanto chorava, ele abraçou o próprio corpo.

-Eu queria que vocês estivesse aqui, Mei-chan, em meus braços. Sinto tanta falta de poder te abraçar. Queria tanto poder reverter aquele dia, queria não ter gritado com você. Eu faria diferente, acredite. Seríamos uma família feliz... Eu, você... e o nosso bebê... Mas agora...

Eu e Meiko andando de mãos dadas

Eu e Meiko nunca queríamos terminar

Apenas outro momento nos seus olhos

Vejo você em outra vida

No céu, onde nunca vamos dizer adeus

-Mei-chan... lembrei do dia em que a pedi em casamento. Estávamos andando de mãos dadas próximos a praia... Eu suei tanto naquele dia, pensei que fosse me rejeitar, mas... mas você sorriu e falou "Só se me prometer que nunca vamos nos separar". - Kaito tornou a rir, aquela risada debochada - Foi uma promessa tão boba, mas agora eu vejo o quanto dói não poder cumpri-la... Meu peito dói, Meiko, por saber que nunca mais vou te ver, por saber que nunca mais vou te ouvir ou te sentir... Não acredito em reencarnação, mas...se isso realmente existe, eu espero que nos conheçamos na próxima vida.

Aqui estamos nós, agora você está em meus braços

Aqui estamos nós para um novo começo

Tenho que viver com as escolhas que fiz

E eu não posso viver comigo hoje

-Eu não espero que você me perdoe. Na verdade eu bem que mereço mesmo sofrer com a dor da culpa. Eu deveria ter dado mais valor a você, mas só agora percebo como dói a perda de algo que se ama.

Kaito se levantou do chão e andou até a pequena cruz pregada no topo da lapide.

-Você sabe o quanto eu adoro esse cachecol, então eu quero que fique pra você. - Dizendo isso, puxou o pano azul que envolvia seu pescoço, amarrando-o a pequena cruz - E eu te amo, Meiko. Eu... eu sempre amei.

Repentinamente um vento passou por ele, mas não fora aquele vento frio que vinha sentindo todo os dias. Era um vento... acolhedor.

"Eu perdoo você..."

Kaito assustou-se, arregalando os olhos. Ele jurava que havia escutado alguém sussurrar aquelas palavras. Olhou em todos os lados, mas não havia ninguém ali, bem como a leve ventania havia se dispersado.

Ele então passou a mão sobre os olhos, limpando as lágrimas, enquanto um ligeiro sorriso brincava no canto de seus lábios.

Talvez estivesse delirando. A falta que Meiko lhe fazia, provavelmente, estava afetando seu psicológico mais do que pensava. Não sabia se realmente havia escutado alguém sussurrar aquilo, talvez fosse sua mente lhe pregando peças.

Isso era algo que ele nunca iria saber com certeza, mas depois daquilo ele sentiu como se um peso tivesse sido retirado de seus ombros. A dor da perda ainda estava lá, mas era como se a culpa já não mais existisse.

-Obrigado, Mei-chan. - Murmurou com um leve sorriso.

Fez mais uma reverência e deixou aquele lugar.

Ei, Meiko , me lembro do seu nome


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Notas finais do capítulo

Enfim, é isso. Espero que tenham gostado da minha one. Primeira vez que escrevo uma death fic e, bem, foi sofrido sos D: Obrigada por ler, de qualquer forma xD
Fico feliz por estar contribuindo pra um mundo com mais fics KAITOxMEIKO *u*
Até~