Let it be escrita por Algodão doce


Capítulo 6
E só piora.


Notas iniciais do capítulo

Booom sábado amoras! Adivinha quem é a pessoa diva que está completamente ocupada hoje, mas arranjou um tempinho para postar? Não sou eu, porém boa tentativa. Boa leitura (menos para eventuais leitores fantasminhas. Vcs só terão meu coração quando comentarem essa linda história. Humpft.) e espero mesmo que gostem ♡



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Cheguei à escola cedo o suficiente para ver uma garota de cabelo azul de mãos dadas com um garoto ruivo. Como estavam de costas só fui perceber depois de um tempo que eram a Athena e o garoto sardento que estava me seguindo outro dia. Andei rapidamente, tentando alcançar os dois. “Não ficou tão ruim assim”, pensei, sobre o cabelo azul da Athena. Mas achei melhor não dizer isso para ela, pois poderia parecer arrogante. Ah não, pera, eu devo dizer isso a ela. Eu me recuso a correr – em todas as situações possíveis e imagináveis – então desisti de ir atrás dos dois e desviei o caminho.

Eu não estava usando o fardamento da escola, pois a maquina de lavar tinha dado pane e praticamente todas as minhas roupas estavam sujas, inclusive a farda. Coloquei uma calça jeans, (é meio que obvio, mas é proibido usar short no colégio, para assistir as aulas. A não ser que você esteja com a perna toda engessada.) e uma camiseta que eu só devo ter usado uma vez, e que minha mãe trouxe para mim de alguma viagem. Tinha um trecho de uma música daqueles caras que tiraram uma foto atravessando uma rua ,“all you need is Love”. É confortável e rosa. Estava usando meus tênis normais da escola, um all star preto, minha mochila cinza e um anel que tem um coelho (estilo Alice no país das maravilhas). Só passei gloss e rimel, porque usar maquiagem de manhã é tão trágico e muito Priscila. Sim, Priscila é um adjetivo para coisas ruins. “Matemática é tão Priscila”.

Fui subir as escadas para minha sala e então tropecei nos meus cadarços. “Espero que ninguém tenha visto isso”, falei baixinho, enquanto me sentava nos degraus. É claro que eu ia amarrar meus sapatos antes de me levantar, imagina se eu caio novamente e uma das garotas da gangue da Priscila vê isso. Aposto que elas iam fazer piadinhas pelo resto do ano. Na chamada quando a professora dissesse “Alice” elas responderiam “caindo na escada”. Tudo bem, isso não teve graça. Minhas mãos estavam ardendo um pouco, já que as usei como apoio, mas o resto do meu corpo parecia intacto.

– Você está bem? – O dragão ocidental falou, dando risada.

– Melhor impossível. Agora se esqueça dessa cena, ou eu acabo com você.

– Ta falando sério? Você tem metade do meu tamanho, Alice. – Tentei me levantar, desajeitada. Meus joelhos doíam. A posição em que eu havia caído, praticamente de quatro, além de não ser muito bonita de ser ver tinha minha deixado toda dolorida. A última coisa que eu que eu queria era cair novamente, dessa vez em cima do Jake, então fiquei sentada mesmo. Que bom que ainda faltavam alguns minutos para tocar e não havia crianças correndo pela escadaria. – Quer ajuda?

– Não precisa. Acho que só vou ficar sentada por mais um tempo. E só para te lembrar, não sou sua amiga.

– Eu te disse que você era? Bem, já que você não precisa de ajuda, eu vou indo. Não se esqueça de que já, já vai tocar. E todo mundo vai ter que ir pra sala. Todo mundo.

– Tudo bem, eu preciso de ajuda. – fiz uma careta do tipo “chupei limão azedo” (nossa, eu sou ótima classificando caretas) e lhe estendi a mão. “Só se você pedir por favor”, o Jake disse dando um sorriso cínico. – Por... Favor. Por favor, você pode me ajudar, queridinho?

– Não precisava disso tudo, mas passou no teste.

Quando eu finalmente fiquei de pé, percebi que minha mochila estava uns degraus acima, e fui atrás dela. Coloquei-a nas minhas costas e fui andando rumo à sala. Podia sentir uma presença me seguindo. Não ia dar ré do nada porque ainda me recordo do dia em que derrubei salada de frutas naquele garoto, até que a presença disse “acho que você me deve um obrigada”. Desviei um pouco para a esquerda, até que estávamos lado a lado, e retruquei “não tente me educar, nem meus pais conseguiram.”.

– É. Eu percebi. Ei, como anda nosso trabalho de português?

– Jake, me deixa. Em. Paz. Eu estou fazendo o trabalho e vou colocar seu nome, não se preocupe.

– Foi mal. – ele levantou as mãos, num gesto de rendimento e foi andando na minha frente. A nossa sala de aula fica lá no cafundó dos Judas. De repente o Jake se virou e ficou me olhando. Seu olhar simplesmente desceu do meu rosto à minha camiseta, sem decência nenhuma. – Você não gosta dos Beatles.

– Dã, você não sabe do que eu gosto. Eles têm várias músicas legais, eu gosto daquela, sabe, aquela da July.

– É Jude. Hey Jude.

– E o que eu disse?

Passei por ele e entrei na sala. Meu lugar é o terceiro da fileira que fica encostada na parede, perto da porta. Desde o primeiro dia de aula até o final do ano temos que sentar na mesma carteira, a não ser que os professores mudem a gente de lugar por algum motivo, tipo conversa, mas eu sou suuper comportada. No primeiro trimestre eu me dei bem, e nos testes do segundo também, agora vêm às provas e eu espero estar preparada.

Durante a aula de história, a terceira do dia e a última antes do intervalo, um bilhetinho aterrissou na minha mesa. Estava escrito com uma letra fofinha “Oi Alice! Sábado a noite é meu aniversário e vou dar uma festa do pijama, convidei a Mel e a Athena também. Espero que você possa vir. Na hora do recreio fala comigo que eu te passo meu endereço. Beijos, Fernanda.”.

Fernanda é uma garota vesga, quer dizer, uma garota com estrabismo, que senta na primeira cadeira e só tira notas boas. Acho que é o que podemos chamar de “nerd”. Mas sem considerar os olhos confusos ela é bonitinha. Tem os cabelos pretos e cacheados, é magra, mas não esquelética, e tem um sorriso fofinho. Gente, eu acabei de elogiar uma pessoa. Uma pessoa que não é um garoto gato. Por falar em garotos bonitos, a Fernanda tem um irmão mais velho que é maravilindo. Acho que vou considerar esse convite. Tocou, e gargalhadas me tiraram do meu devaneio. A Melissa e a Fernanda riam como se alguém tivesse contado a piada mais engraçada do mundo sobre um cachorro astronauta.

– Odeio felicidade alheia, parem com isso.

– Oi, All. Você leu meu bilhetinho? Espero mesmo que possa ir à minha festa, só convidei mesmo a Athena e a Mel. Ah, e a Brubs, mas ela não vai poder ir porque vai viajar com os avós. - Fernanda falou, ainda sorrindo.

– Não me chama de All, eu detesto. Por favor, de onde vocês tiram esses apelidos? Acho que eu posso ir sim, anota aí seu endereço.

– Legal! Posso escrever na sua agenda?

* * *

Na hora da saída, encontrei o ruivinho e a Athena novamente. Meu Deus, esses dois não desgrudam! Fui até lá tirar satisfações. De um jeito meigo, é claro, afinal ainda estou na escola. O Vinicius, motorista da besta escolar, havia ligado uns dois minutos atrás e avisado que havia muito engarrafamento e ele iria demorar um pouco. Passei as mãos pelos meus cabelos que estavam muito embaraçados, e os prendi num rabo de cavalo desajeitado.

– Oi Athena, oi garoto estranho. Eu só tenho uma pergunta ruivinho, por que você estava me seguindo aquele dia e agora está ficando com minha amiga? É que, sei lá, isso é tão... Blerg.

O rosto dele ficou vermelho. Às vezes isso acontece comigo também, quando estou com vergonha fico rosinha. A Athena me olhou assustada, seus olhos verdes arregalados. Minha intenção não era acabar com o love dos dois, eu só queria entender. Tipo, de uma hora para outra eles chegam à escola e demonstram todo seu amor para todo mundo, mesmo que ninguém se importe. Não se trata de ciúmes, quer dizer, nada a ver o fato da Athena ter –possivelmente– namorado e eu não. Pouco me importa, só porque o cara que eu gostava na verdade é gay e neste colégio não tem nenhum garoto bonito e porque talvez eu tenha pensado que o ruivinho gostava de mim, e de repente ele está com a Athena... Bem, eu não ligo. Nada a ver.

– Do que você ta falando Alice? Conhece o Luis? Ahn, nós não estamos... Ficando. Somos apenas amigos. – A Athena falou e deu um sorrisinho tímido. Sorri irônica, ah, é claro, eu acredito.

– Amizade colorida essa, né?

– Me desculpa? O que você tem mesmo a ver com a minha vida?

– Eu só queria te alertar, queridinha.

– Obrigada, mas não preciso dos seus alertas.

– Aposto que vai se arrepender disso depois, Athena.

– Pode crer que não, Lilice.

Todo mundo sabe que odeio quando me chamam por apelidos. Principalmente Lilice. Respirei fundo e virei às costas para a Athena. Fui andando até sair dos “limites” da escola. Sei que comprei briga por nada, mas a culpa não foi toda minha. A Athena também é muito explosiva! Eu não falei nada por mal. Não totalmente. Minha besta chegou e eu entrei rapidamente dentro dela. Cheguei em casa e a Vic disse que tinha uma surpresa para mim. A Victoria cuida de mim desde que sou pequenininha, é como se fosse minha segunda mãe. Na verdade, ela passa mais tempo comigo do que minha mãe de verdade.

– A dona Serenna e o Fernando me ligaram hoje. Sabe o que disseram? Esse final de semana os dois estão voltando de viagem. Não está com saudade dos seus pais, Alice?

– Acho que sim. A mamãe te ligou lá do outro lado do mundo?

– Não, ela já voltou da África. Está no Rio de Janeiro, vê se acredita! Eu sei que eles quase nunca têm tempo para você, mas é o trabalho deles... É complicado.

– É. Deve ser difícil para você também, né, Vic? Está sempre trabalhando, o dia todo aqui em casa, como ficam seus filhos?

– Eles se viram! Os dois já são velhos, de maior. Agora vem aqui, que eu vou botar seu almoço.

* * *

Acordei dez minutos mais cedo, cinco e cinquenta da manhã, sem nem o despertador tocar. Estava com uma enxaqueca infernal, e meu corpo todo doía, como quando cai na escada ontem, só que pior. É obvio que qualquer pessoa normal não iria para a escola, mas eu precisava. Não posso me dar ao luxo de perder duas aulas de matemática e uma de física, justo as matérias que coisam minha cabeça toda e que preciso tirar, tipo, um nove na prova. Tomei banho, vesti qualquer blusa e uma calça jeans – meu uniforme ainda está na lavanderia - e fui tomar café da manhã, meio tonta. Apoiei-me com força no corrimão da escada, temendo cair e sair rolando até o último degrau.

Geralmente eu devoro só uma torrada, rapidamente, mas hoje eu tinha algum tempinho extra. A Victoria chega aqui em casa só de oito horas, quando eu já tenho saído e estou na escola. Coloquei um pacote de cookies bauduco inteiro dentro da minha mochila, que já estava arrumada e a joguei sobre as costas. Terça-feira ela vai levinha. Tranquei a porta e coloquei as chaves debaixo do tapete, olhei no relógio e vi que ainda faltavam uns cinco minutos para a besta vir me pegar. Corri até a casa do Pedro e liguei para ele antes de tocar a campainha, não sou maluca de chegar à casa dos outros de seis e pouco da manhã e ficar tocando aquela sirenizinha irritante. Um Pedro sonolento atendeu o celular, e me perguntou se tenho algum problema.

– Eu não te acordei você também estuda de manhã! E, por favor, você dorme demais.

– Espera aí na frente, já vou descer.

– Não tenho tempo, corre. E traz o relatório, viu? Espero que tenha ficado bom, senão vou contar para a Melissa todos os seus segredos. Primeiro, sabe aquela verruga que você tem? Pois é, acho que seria vergonhoso se alguém ficasse sabendo. – Ser meiga não era necessário agora, já que eu podia fazer chantagem com o Pedro, o que é bem melhor.

– Como você sabe da minha verruga?

– Eu não sabia. Ai, droga, agora eu vou ficar imaginando onde você tem uma verruga. Sério, me traz um balde, eu vou vomitar.

Dei uns passinhos para trás, na mesma hora que a porta da casa do Pedro se abriu e o mesmo saiu de lá usando uma farda, cá entre nós, ridícula. Eu acho que ele pensou que eu não havia falado a verdade. Eu estava mesmo com ânsia de vômito, e praticamente no mesmo instante todo meu café da manhã jorrou da minha boca. Isso foi bem nojento. Afastei meus pés, para não sujar meu all star, e quando acabou fiquei com aquele gosto terrível na boca. O jardim da casa dele é cheio de flores bonitinhas e tem uma grama verdinha, mas agora tudo estava coberto de vômito. A mãe dele não ia ficar muito contente.

– Ai. Meu. Deus.

– Está tudo bem comigo, só preciso de... Água. Pode trazer um copo para mim, por favor? E desculpa por... Ter vomitado na entrada da sua casa. Nossa, eu realmente devo estar doente, porque pedi “por favor”e “desculpa” numa mesma frase. Quer dizer, não, eu estou ótima. Me dá logo esse trabalho vai.

Arranquei o relatório e meu livro das mãos do Pedro e sai correndo. Quando cheguei à frente da minha casa a besta escolar já estava lá. Meu hálito deveria estar horrível, e, poxa vida Alice, você acabou de vomitar e só consegue pensar no seu hálito. Quando entrei no automóvel ainda tive que aguentar uma bronca do motorista sobre “não se atrasar, porque tem mais gente esperando”. Nem prestei atenção, na verdade eu queria muito ter um motorista próprio, como a Melissa, mas meus pais não deixaram. "Não, será muito melhor para você ir numa besta, amorzinho, vai conhecer pessoas novas, fará outras amizades". O problema, mamãe, é que aqui só vai gente de sete a dez anos. Todos gritando e fazendo bagunça, ê.

– Hã, galera, alguém aí tem uma pastilha de menta?

Tudo que ganhei como resposta fui um “ecaaa, você está fedendo!” da Marília, uma pirralha banguela do primeiro ano. Isso motivou um coro de eca’s. Imagina só, um carro cheio de crianças gritando “eca, eca, eca”. Bem legal. Abri o pacote de biscoitos e enfiei um na boca. Quando cheguei à escola, percebi que todo me encarava, como se eu fosse uma abominação. “A abominável Alice das neves!”. Corri (não literalmente) para o banheiro pensando que era algo com meu cabelo, ou minha aparência. Mas eu estava perfeitamente normal. Não maravilhosa, como nos dias em que não estou doente, mas perfeitamente normal. Só pálida e com os lábios ressecados. E olheiras, porque nem paciência para passar maquiagem eu tive. Tudo bem, eu estava horrível.

Peguei minha mochila, que havia colocado no chão, e a apoiei na pia. Passei um pouco de gloss e pó, basicamente a maquiagem que guardo na minha bolsa todo santo dia. Graças aos duendes, agora eu parecia um tanto mais apresentável. Será que assim todo mundo ia parar de me olhar torto? A Fernanda entrou no banheiro com uma bolsinha, olhou para mim e fez uma careta. Parece que não. Ela já ia entrar em uma das cabines, sem nem falar um mínimo oi para mim, quando eu resolvi dar uma de scooby doo e resolver aquele mistério.

– O que ta acontecendo com todo mundo?

– Vai se fazer de santinha agora, Alice? E a propósito, você está desconvidada da minha festa.


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Notas finais do capítulo

Agora que eu percebi que esse capítulo... Ficou gigante? Bem, que seja, acho que ficou bom. Até próximo sábado (eu espero) *-*
Sugestões de música da tia Algodão Doce: Problem-Ariana Grande. Estou completamente viciada! Alguém sabe de uma música legal aí? COMENTEM *olhinhos do Mort*