Let it be escrita por Algodão doce


Capítulo 5
Minha vida é um abacaxi


Notas iniciais do capítulo

Lendo o título é impossível (pelo menos para mim) não lembrar do bob esponja. Estou muito sem criatividade para escrever uma nota inicial hoje, então é só isso mesmo. Ah, detalhe, estou quase de férias o/



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– Você não ta falando sério.

– Foi por isso que te chamei aqui, Alice.Queria lhe dizer que sou gay. E pedir sua ajuda, para contar para os meus pais. Você é tão espontânea, e eu gosto muito do jeito como você tem coragem de dizer o que pensa. Eu queria ter metade dessa sua coragem.

– Ai, seu lindo! Obrigada! Ei, espera, não. Quer dizer, você não parece gay. Disse que gostava de mim, me chamou para o cinema. Agora estou bem confusa. Pensei que fossemos nos casar e ter filhinhos lindos, loiros e de olhos claros. E aí você vem e me diz que não está morrendo, só é gay. Isso é tão trágico. Não que tenha problema em você gostar de homens, mas, por favor, eu sou fabulosa.

Ele riu. Respirei fundo. Aquele sorriso ainda me deixava tonta, só que agora eu teria que resistir. Tudo bem ele ser gay. Certo, podemos ser amigos, podemos falar sobre garotos! Mas aí voltei a pensar. Acabaram minhas chances. Não vai ter casamento. Nada de filhos lindos. Nada de nada. O Bruno então estalou os dedos em frente ao meu rosto. Arregalei os olhos, assustada. Provavelmente eu estava encarando ele com um olhar vago. Eu sempre faço isso quando estou pensando.

– Entra no carro, vamos dar uma volta.

– Tudo bem. Mas antes vou ligar para minha mãe, ela deve estar preocupada. Ah, não, espera. Minha mãe está na África! E ele nunca está nem aí para mim mesmo. Vamos lá.

– O que sua mãe está fazendo na África?

– Reportagens. Ela é jornalista, do tipo que está sempre viajando.

– E o seu pai?

Estávamos no carro. Liguei o som e aumentei o volume. Radioactive, do imagine dragons, agora estava tocando no volume máximo. O Jake baixou o volume e repetiu a pergunta.

– Ele é um cara legal.

– Trabalha com o que?

– Meu pai é arqueólogo. Está sempre por aí, procurando ossos e coisas do tipo. E os seus pais?

– São médicos. Sei lá, eu não sei como eles vão digerir essa informação. Sobre eu ser gay. Eu tenho um namorado. Nossa, é tão estranho dizer isso. Namoramos escondido há dois meses, mas ele não aguenta mais. O Marcos já “se assumiu” e vive dizendo que eu tenho que criar coragem, ou vai terminar comigo. É difícil, e eu já disse isso para ele. Porém sei que a coisa certa a se fazer. E quanto mais rápido melhor. Como arrancar um band-aid. Depois sei que as coisas entre nós vão ficar melhores. É. Tudo vai ficar melhor. Vou tirar esse peso das minhas costas, vamos poder ficar juntos na frente dos outros. Tudo vai ficar melhor.

– Isso é tipo... Um filme. Eu confesso que ainda tenho um pouco de ciúmes desse seu Marcos aí, mas a história de vocês dois é tão linda! E sofrida, ta, certo.

– Eles também quase nunca param em casa, meus pais, no entanto acho que... Podemos marcar um jantar e eu conto tudo a eles. Não quero falar sobre isso agora. Quero falar de você. Não há ninguém que ocupa esse coraçãozinho? Hã, hein?

– Bem, até uns dez minutos atrás tinha você.

– Então eu acho que sinto muito?

– Deveria sentir! Pensei que fossemos dar uma volta. Essa é minha casa.

– Sei que a sua casa. Vou passar o resto do dia dormindo, estou muito cansado. Podemos deixar a volta para outra hora?

– Tudo bem, bons sonhos.

Pulei do carro, na entrada do condomínio, e fui andando, sentindo o vento gelado balançar meus cabelos, até minha casa. Quando cheguei lá, joguei-me na cama, e liguei para Melissa. Hoje é um dos dias em que a chamo de “amiga”, porque sei que posso confiar nela, então vou desabafar sobre o Bruno. Liguei umas duas vezes e deu ocupado. Fui tomar um banho e coloquei um pijama, aí liguei novamente. Ela atendeu. Fiz uma voz super irônica, a obrigação da Mel é no mínimo estar sempre do lado do telefone esperando uma ligação minha, por favor.

– Você estava ocupada, queridinha?

– Adivinha com que eu estava falando?

– A sua avó? Como eu vou saber, Melissa? A única coisa que eu sei é que você passou no mínimo uns dez minutos conversando com essa pessoa.

– O Pe-dro. Do seu condomínio.

– Como ele sabe seu número?

– Humm, não faço ideia. Mas ele me convidou para sa-ir.

– Quando? Para onde vocês vão? Ai, Deus.

– Sexta-feira depois da aula. Para o cinema, como você e o Bruno. Por falar nisso, como foi o encontro?

– Tenho que desligar, a gente se fala mais tarde.

Já estava de noitinha, a lua já dava as caras e os postes do condomínio haviam sido acesos. Antes de sair de casa falei para a Victoria, a única pessoa que estava na residência - nossa ajudante doméstica – que estava indo na casa do Pedro. Desliguei meu celular e o joguei no sofá da sala. Na ruazinha seguinte ficava a casa dele, quando cheguei lá bati na porta levemente. A mãe dele atendeu. Ela é muito simpática. Esperava que eles não estivessem jantando. E não estavam eu acho. Bem, não havia ninguém na mesa.

– Oi, meu amorzinho. Que bom te ver Alice!

– Boa noite, senhora. É um prazer te ver também. O Pedro está?

– Sim, eu vou chama-ló. Quer entrar, querida?

– Ah, não, obrigada. Eu espero aqui na porta.

Ela pediu “licença” e subiu as escadas. Uns dois minutos depois o Pedro apareceu com os cabelos bagunçados e cara de sono. Ele bocejou e falou com a voz também sonolenta.

– Não terminei o trabalho ainda.

– Você chamou a Melissa para sair!

– É. Eu achei o número dela anotado em um papelzinho dentro do seu livro. Chamei-a para o cinema. A Melissa comentou com você? – ele deu um sorriso besta.

– Se você a fizer sofrer, eu te desfiguro. E se contar a alguém que eu te disse isso, te desfiguro também. E o trabalho é para quarta, então seja rápido.

– Tudo bem. – ele falou, com a voz um pouco trêmula. – Só tenho uma pergunta. Porque você está de pijama, e descalça?

– Você acha que eu ia trocar de roupa para te ameaçar?

Fui andando de costas até estar um pouco mais distante da casa do Pedro e lhe dei um “tchauzinho”. Virei-me e fui até o parquinho, que fica perto da piscina, que fica na quarta ruazinha, sendo que a minha é a segunda e a do Pedro a terceira. Meu pijama pode facilmente se passar por uma roupa normal, o conjunto xadrez rosa e preto é super-fofinho, a blusa é regata com uma rendinha no decote e o short é típico de pijama, com aquele cordãozinho. Fiquei no balanço por um tempinho, meus pés descalços tocando a areia. Quando cheguei em casa peguei meu celular do sofá e o liguei. Havia - é claro - muitas chamadas da Melissa. Retornei, e tive que afastar o telefone do ouvido em quanto ela dava seus chiliques.

– Tudo bem, agora você já pode falar do seu encontro com o Bru-no. – ela fez novamente aquele troço de dar ênfase nas silabas - Alice ta apaixonadaaaa. Foi maravilhoso? Ai, nossa, você se beijaram?

– Hã, ele é gay. Quer minha ajuda para contar para os pais, não rolou nada. O filme era bom, você devia assistir ele com o Pedro, não que eu aprove esse encontro. Chama-se divergente, o filme que vimos.

– Você ta brincando! Aquele cara parece ser tão gay quanto você parece feia.

– Ou seja, nada. Eu sei. Foi trágico. Ele disse “preciso te contar uma coisa” e aí eu pensei “droga, ele está com câncer”, e eu fiz o maior escarcéu no shopping e acabou que era só isso.

– Tem certeza de que o Bruno tava falando sério?

– Por que ele brincaria com isso, Mel?

– Talvez seja mentira. Talvez ele tenha dito isso só para ver seus peitos.

– Oi? Meu Deus, garota, você é maluca. Achei até fofinha a história. Tipo Romeu e Julieta, só que Romeu e Romeu. O Bruno namora um cara escondido, Marcos eu acho, e disse que se não contar logo para sua família Marcos vai terminar com ele. Minha barriga está roncando, vou jantar. Até amanhã, ou segunda!

– “Romeu e Julieta” não é fofinho, os dois morreram! E eu não sou maluca, você já assistiu personal taste? Essas coisas acontecem.

– Tchau!

* * *

Meu domingo foi entediante. De manhã conversei por whats app com a Melissa e a Athena (não sou muito próxima da Athena, mas próxima o suficiente para dizer que aquela garota é maluca. Simplesmente ela pintou o cabelo de azul! A Athena não mandou foto porque disse que quer deixar a gente curiosa, porém imagino que deve estar pior do que caca de passarinho). À tarde fiz dever de casa e estudei para as provas – só faltam 15 dias! – e lá pelas 19hrs liguei para o meu pai, que está dando “voltinhas” no Nordeste do nosso país. Ele está passeando por Mossoró, Ceará, essas cidades do RN, e depois vai para Paraíba. Acho que vai demorar um pouco, mas eu prefiro assim. Conversamos muito melhor por telefone do que pessoalmente.

Agora, nesse exato momento, estou tentando dormir. Já passou de meia noite, então já considero uma segunda feira. E já posso gritar “I hate Mondays”, em inglês mesmo que é para meus vizinhos gringos entenderem. Espero ter um bom dia.


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Notas finais do capítulo

O final ficou tão tosco. E esse capítulo ta meio morto. Mas eu achei legalzinho, e era necessário, para "inserir" melhor a Melissa e o Pedro na história. Boa noite e até próximo sábado (eu sou muito esperançosa, sim).