Let it be escrita por Algodão doce


Capítulo 4
A culpa é do John Green


Notas iniciais do capítulo

Quero mandar um abraço de urso para a LolaAndrade. Se você estiver lendo isso, Lola, parabéns, você é uma pessoa mt maravilinda *-*
Ah, eu pulei da segunda para o sábado sem piedade nenhuma. Acho que dá para entender, né?



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Ouvi a campainha tocar e pulei de dois em dois os degraus da escada. Gritei para a Victoria “eu atendo!” e quando abri a porta lembrei-me do trabalho de português. Eu tinha marcado com o Jake! Preciso de remédios para memória. Ele me encarava. Eu o encarava de volta, com raiva. Tinha que dar um jeito de expulsar ele da minha casa, ou tudo daria errado. Dei uma tapa na sua cara. Não sei bem o motivo, mas foi divertido.

– Você é maluca?

– Sim, sou. Mas desculpe. Jake, da para voltar amanhã? Eu sei que marcamos hoje, só que surgiu um compromisso do nada e é muito importante.

– Marcamos sábado, e hoje é sábado. Não vou ficar perdendo meus fins de semana por sua causa.

– Por favor, é caso de vida ou morte! Não posso perder esse encontro, eu espero por ele desde que tenho dez aninhos. Faz isso por mim! Eu fico te devendo essa!

– Encontro? Como assim?

– Eu só tenho dez minutos. É que eu marquei com o Bruno, eu gosto dele desde que sou uma mini-Alice, e ele vai vir aqui me buscar daqui a pouco, para irmos ao cinema. E a menos que a gente consiga fazer o trabalho em cinco minutos e você vá embora logo em seguida, não vai dar certo... Por favor, Jake! É só um fim de semana. E eu aposto que você também não faz nada que preste! É só voltar aqui amanhã, custa alguma coisa?

– Tudo bem, eu vou indo. Só que você vai ter que fazer o trabalho todo sozinha. Até mais. Porque aqui eu não venho mais.

– Ta. Eu faço tudo sozinha! Pode deixar, mas fique sabendo que a nossa nota provavelmente vai ser tão redonda quanto a sua cara. Agora vaza.

E ele realmente foi embora! Que menino louco. Agora vou ter que pagar alguém para fazer o trabalho por mim. Humf, que seja. Já, já o Bruno vai estar aqui e eu vou ter um dia perfeito. Sentei no degrau da minha porta e apoiei meu queixo em minhas mãos. Daí eu me lembrei de que o porteiro não tinha interfonado quando o Jake chegou. Estranho. A segurança aqui está mesmo precária. Um tempo depois, Pedro se sentou ao meu lado, só que na grama do jardim. Olhei para ele com um olhar do tipo “some daqui”. E é obvio que ele não compreendeu.

– Alice, eu posso te pedir um favor?

– Pedir pode.

– Aquela sua amiga... Que estava aqui semana passada. A Melissa não é? Eu sempre a vejo quando ela vem na sua casa. – ele encarava o chão, nervoso. – Bom, ela é tão bonita. E parece ser bem divertida.

– Já vi que vou ter que bancar a cupida. E não, não vou fazer isso. A menos que... Já sei! Você está no primeiro ano do ensino médio também, né? E gosta de ler aqueles gibis ao contrário? Então suponho que goste de ler livros também. Pode fazer meu trabalho de português. E aí eu dou um jeito de juntar os dois pombinhos.

– Não era isso que eu ia pedir... Só queria que me apresentasse a ela.

– Vai fazer o trabalho ou não?

– Tudo bem.

Dei um gritinho, me levantei e bati palmas com alegria.

– Você é demais, Pedro! Vou pegar o livro no meu quarto e já volto.

Quando voltei, havia um carro preto parado em frente a minha casa. O Bruno! Entreguei rapidamente o paradidático, “a volta ao mundo em 80 dias”, ao Pedro. Entrei no carro, no banco da frente e murmurei algo que era para ser um “oi”, mas saiu tipo um “ahh”, como um suspiro aliviado. O Bruno deu risada. O automóvel era nada menos que um ranger rover. “Muito melhor que o carro da Melissa”, pensei. Sorri (seduzente) e me ajeitei no banco, colocando o cinto de segurança. Tentei quebrar o gelo.

– Que filme nós vamos ver?

– O massacre da serra elétrica, o que acha?

– Nem está mais em cartaz. Porém se estivesse a resposta seria, com certeza, um belo “não, obrigada”. Filmes de terror são tão... Aterrorizantes.

– Só para te ver gritando eu vou escolher um bem assustador.

– Vai por mim, ninguém merece me ver gritando. Quer dizer, tem gente que merece. Mas você não. Além disso, vão me expulsar do cinema!

Fomos falando sobre algumas bobeiras enquanto o Bruno dirigia. É claro que o Bruno dirige bem, na verdade, eu aposto dez pratas que ele faz tudo bem. Seria divertido testar. Eu fiquei pensando nisso até que ele exclamou “Alice, chegamos. Está no mundo da fantasia, princesa?”. EU AMO QUANDO SOU CHAMADA DE PRINCESA. Gente, esse cara é perfeito. Ao invés de sair correndo e agradecer a os meus duendes divosos, desci do carro e esperei meu príncipe. Fomos andando – de mãos dadas! – até o elevador. Aposto que éramos o casal mais lindo de todo o shopping.

– Que bom que você veio com uma camiseta mais fechadinha, no cinema deve fazer o maior frio. Mas eu posso te comprar um casaco se você quiser. – Alerta de fofura!

– Ficou maluco? É claro que não precisa! Eu estou ótima.

Sentamos em uma das últimas fileiras, e realmente estava frio. Escolhemos “Divergente” para assistir, mas eu esperava que ele também estivesse afim de não prestar atenção no filme. A pipoca acabou quase toda só nos trailers. Na metade do filme eu já estava meio que tremendo, e acho que o Bruno percebeu isso, ou só queria chegar um pouco mais perto, porque me abraçou de ladinho. Ou pelo menos tentou, já que o braço das cadeiras atrapalhava muito. Eu nunca cheguei a ler o livro divergente – livros não são bem minha praia – mas o filme era muito bom. A única coisa realmente ruim foi que não aconteceu tipo, nada.

Depois fomos tomar um sorvete, na sorveteria em frente ao cinema mesmo. Eu misturei três sabores diferentes, limão, uva e cajá. Preciso manter a forma, né. Mas pelo visto o Bruno não se importava em “manter a forma”, pois pediu um Milk shake gigante de chocolate. Só para me sentir tipo naqueles filmes de romance, eu pedi para experimentar um pouquinho. Ele disse “aproveita” e eu peguei um canudo para colocar no copo. Bebemos daquele jeito “TÃO FOFINHO”, sincronizados, cada um com seu canudinho.

– Alice, eu preciso te falar uma coisa. Na verdade, eu te chamei aqui justamente porque queria contar logo tudo para você. E pedir seus conselhos também.

– Não acho que eu seja muito boa aconselhando as pessoas, mas vai fundo. Fiquei curiosa agora, não é coisa ruim não né?

E então de repente me deu a louca. Eu comecei a lembrar de a culpa é das estrelas, que eu acho que é um dos únicos livros que eu já li até o final em toda minha vida, e lembrei-me do Gus, e como (spoiler) ele tentou contar a Hazel que estava... Morrendo! (Fim do spoiler, eu acho.) Não, o Bruno não pode morrer agora, ele ainda é tão jovem, tem tanto o que viver!

– Ai meus duendes! Não Bruno, diz que não é verdade! É muito grave? Já ta no finzinho mesmo?

– O que? All, calma.

– Por favor, fala logo. Adiar não vai adiantar. Eu preciso saber. Você também acendeu como uma árvore de natal? Podemos pelo menos ir para Paris Antes?

– Paris? Do que você ta falando? Eu não... Não acendi coisa nenhuma.

– Logo agora que estava dando tudo certo! Eu não posso te deixar partir, Bruno. Se você se for, parte de mim vai junto. Obvio que eu vou ficar, não sou tonta como a Julieta, mas vai doer. Vou sentir sua falta. Ei eu tive uma ideia! Podemos procurar um especialista! É, isso! Eu tenho certeza de que ele pode te salvar! Vamos hoje, agora mesmo.

Praticamente joguei uma nota de vinte reais em cima da mesa e saí correndo pelo shopping, minha saia provavelmente estava voando, no entanto nem liguei, porque sempre uso um short – daqueles de ginástica - por baixo. Para dar mais volume e levantar o bumbum, só que deixa em off. Olhei para trás e vi o Bruno, dei um sorrisinho e fiz sinal para que ele me seguisse. Entrei no elevador, quase morrendo. Olhei-me no espelho e fiz uma careta imediatamente. Meu cabelo. Eu havia feito um penteado maravilindo e agora estava... Argh. Uma mulher olhava para mim como se eu fosse uma alienígena. Tentei melhorar a situação.

– Meu namorado está com câncer.

– Oh, eu sinto muito por você.

E então paramos no primeiro andar. Sabia que ela não queria descer ali, ela queria ir para garagem, porém mesmo assim a mulher desceu. Ao sair ela ainda resmungou algo como “essa menina é assustadora”. Não sou assustadora, eu sou maravilhosa! Ela que é assustadora com os cabelos dupla cor. Quando cheguei à garagem fui até o carro do Bruno e encostei-me a ele, esperando. Um pouco depois o doentinho chegou. Ain, tadinho. Ele ficou me encarando e eu o abracei do nada. Não pude resistir. Depois de um tempinho eu fui levemente empurrada e o garoto-mais-lindo-e-fofo-da-face-da-terra-que-agora-eu-descobri-que-está-doentinho olhou no fundo dos meus olhos e me chamou de maluca. E eu tenho que admitir que minha reação não foi muito normal, já que eu comecei a rir feito uma bruxa. No meio de um estacionamento. É. Faço isso quando estou nervosa.

– Alice, explica já o que ouve. Porque essa pressa toda?

– Não quero que você morra. – choraminguei.

– Não vou morrer! Eu estou bem, estou ótimo. Não há nada de errado comigo. Já com você, bem, não posso dizer o mesmo.

– Mas você está com câncer! Vai ter que fazer aquelas quimioterapias, e vai ficar careca e... O seu cabelo é tão lindo! Vai nascer pixaim, tenho certeza. Se você não morrer antes.

Foi a vez do Bruno dá risada. As pessoas que passavam pela gente deviam estar pensando o mesmo que a mulher do elevador. Lembrei-me do que eu disse a ela, “Meu namorado está com câncer”. Meu namorado! Gente, como eu sou iludida. Queria me ver novamente no espelho agora. Imaginei como deveria estar minha aparência: Meus cabelos totalmente desgrenhados, meu rosto super vermelho e molhado, devido a algumas lágrimas que “brotaram”, minha roupa toda amassada e as minhas botas-quase-coturno desamarradas. Apoiei meu pé no carro e dei um lacinho em cada uma. O Bruno ainda ria. Sem paciência, dei um gritinho.

– Para de rir, seu coiso. Eu não contei piada nenhuma.

– Você foi longe hein? Não estou morrendo, não estou com câncer. Eu sou gay.


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Notas finais do capítulo

A Alice foi longe mesmo! Geeente será que é sério? O boy magia gosta de fanta? Isso nós veremos no próximo episodio! Até lá, pitchuquinhos. Esclarecendo o título: É quase como se a Alice estivesse explicando o motivo de ela ‘voar’ tanto, culpa do John Green que fica pondo ideia na cabeça do povo. Hehehe.