Let it be escrita por Algodão doce


Capítulo 33
Então é natal


Notas iniciais do capítulo

Nossa, eu demorei tanto para postar, né? Senti falta de vocês! Como foi o carnaval? O meu foi ótimo! Além disso, eu tive muitas ideias para fanfics, e para Let It Be também, claro!
Trago boas noticias! A partir da próxima semana as coisas voltarão a ser como antes, com capítulo novo todo sábado :)
Boa leitura, galerinha! Beijos ^.~
PS: Perdão, mas nesse capítulo a Alice ainda não pula as sete ondinhas no reveillon! Eu quis explorar um pouco mais a véspera de natal... Bem, leiam para saber o que acontece.



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Faltando um dia para a véspera de natal, minha mãe decidiu que era hora de fazermos compras. Não compras de comida e decoração, coisa que eu acredito que seria o mais sensato a fazer, e sim compras de roupas. Vamos passar o natal só nós três. Convidamos a Victoria e sua família, mas ela não pode vir por causa dos parentes mais distantes. E eu queria mesmo chamar o Jake e seus pais para ficarem com a gente, mas sabia que ele também não poderia aceitar.

– Mãe, por que devemos comprar roupas? O papai está acostumado a nos ver com o cabelo bagunçado e pijama. – falei.

– Sim, querida. Mas é uma data especial.

– Ta legal. – não contestei mais, porque, bem, eu adoro fazer compras.

– Vamos ao shopping. – ela anunciou.

– Oba! – exclamei.

A parte ruim de ir ao shopping com a mamãe é que ela quer experimentar tudo. Literalmente. Tipo “ei, Alice, olha que vestido lindo. Tenho que colocar ele em meu corpo branco e enrugado!”. Ta legal, eu exagerei nessa parte. Minha mãe usa creme para rugas.

Depois de mil voltas pelo shopping (agradeci mentalmente a mim mesma por ter colocado sapatilhas ao invés de saltos altos) encontrei algo perfeito para mim. Um vestido vermelho curto, acinturado. Meu coração bateu mais forte. Minhas mãos suaram. Meus olhos brilharam. Aí eu localizei o preço do lindo vestido: Duzentos reais. Tanto dinheiro por um pequeno pedaço de tecido muito bem costurado. De qualquer forma, eu precisava tocá-lo. Foi amor à primeira vista.

– Mamãe – chamei – Olhe isso.

– Hum... Bonitinho. – ela concluiu. Oi?

– Bonitinho? Mãe! Bonitinho é um hamster usando saia lilás. Esse vestido é extraordinário! Eu me casaria com ele! Hã, quer dizer, se eu não estivesse comprometida.

Minha mãe tossiu. Ela ficou cor de rosa, e, quando voltou ao seu estado normal, perguntou:

– Comprometida? O que isso significa, Alice?

Opa! Eu sabia que havia me esquecido de alguma coisa. Com toda a correria do meu dia a dia, a volta de Nova York, a festa de aniversário e tudo o mais, acabei por não contar a mamãe sobre meu novo relacionamento. Duas vezes droga.

– Ah, você sabe. Envolvida em um compromisso. – mordi o lábio, pensando em algo coerente para dizer. Então, uma luz surgiu no fim do túnel. O Bruno (lindo, maravilhoso, que eu já amei, mas que agora eu sei que é gay) estava só a alguns metros de distância, olhando a vitrine de uma loja de roupas. Acenei freneticamente para ele, até que o garoto me viu. Ele sorriu e acenou. O Marcos (sósia do Zac Efron) não estava com o Bruno. – Ei, mãe. O Bruno está ali! Ele não é fabuloso? Vamos falar com ele!

– Não tente mudar de assunto. – ela censurou.

– O que? Eu só quero ser educada, mãe.

Minha mãe soltou um suspiro audível, e eu a arrastei pelo corredor do shopping até chegar ao deus grego que estava estacionado em frente à loja. O Bruno estava muito muito bonito, com seus cabelos loiros bagunçados e uma calça jeans ual. Sorri. Tenho um namorado tão gato quanto ele, lalalala.

– Oi – ele falou, quando paramos ao seu lado.

– Oi! – exclamei – Bom te ver! Como vai? Mãe, esse é o Bruno. Bruno, essa é minha mãe. Estamos fazendo compras. Natal... Época de gastar dinheiro.

Ele riu. Se fosse há alguns meses atrás, eu teria desmaiado. Na verdade, eu meio que quase desmaiei.

– Também estou fazendo algumas compras – ele disse – Não vim com o Marcos porque quero que o presente dele seja surpresa.

– Awn, que bonitinho! – suspirei.

– Sim, muito bonitinho, mas temos que ir – minha mãe cortou – Agora. Eu sinto muito, querido. Foi um prazer conhecer você. Espero te ver outro dia!

– Foi bom te conhecer também, senhora mãe da Alice.

Abraçamos o Bruno e saímos andando. Ótimo, agora eu tenho que ficar sozinha com a minha mãe e explicar o que é estar comprometida. Por falar nisso, tenho que comprar um presente para o Jake! Como pude esquecer?

– Ele é muito atraente. – minha mãe admitiu, se referindo ao Bruno. - Mas não é o seu namorado. É areia demais para o seu caminhãozinho.

– Ah, obrigada! Estou me sentindo muito bem agora. – resmunguei.

– Me conte sobre ele. Eu o conheço?

– Quem, o meu namorado? – engasguei – Mãe, por favor!

– Prometo que não vou lhe julgar se ele for feio ou, sei lá, um nerd.

– Isso é bom. Porque ele é um nerd. – afirmei, encarando o chão. – Mas ele é bonito. É o Jake, sabe? Ele esteve comigo em Nova York, e eu acabei descobrindo que... Que eu gosto dele. E ele é tão fofo, mãe! Fui pedida em namoro. Aceitei. Mas eu me esqueci de te contar.

– Esqueceu – ela repetiu, ironizando. – De qualquer forma, não posso te culpar. Há coisas difíceis de expor.

– O que quer dizer?

– Nada! – ela exclamou, passando subitamente de melancólica para animada. – Ei, você não estava querendo comprar aquele vestido vermelho?

* * *

Acabei comprando para o Jake uma camisa preta com mangas curtas. A camisa tem a frase “tenho uma namorada linda” estampada na frente em letras BEM GRANDES e brancas. Algumas coisas têm que ficar bem claras, né. Na manhã do dia 24, liguei para ele.

– Alô. – eu disse, assim que o dragão ocidental atendeu ao telefone.

– Oi. - ele respondeu – Alice? Oi. Bom dia.

– Bom dia, amor. Feliz natal.

– Feliz natal! Saiba que estou te abraçando em minha mente.

– Eu estou retribuindo o abraço. – comentei, sorrindo. – Como vão as coisas?

– Bem. Por aqui está tudo bem. E com você?

– Hã... É. A minha mãe não sabia sobre a gente ainda, e eu acabei deixando escapar a informação do nosso namoro. Ela ficou muito feliz. Quer te ver em breve. Você já conversou com seus pais sobre nosso relacionamento?

– Sim. Eles ficaram felizes também. Eles gostam de você, apesar de te acharem um pouco esquisita... – o Jake murmurou. Esquisita? - Nossos pais deviam jantar juntos um dia, o que acha?

– Ótimo. Só espero que a mamãe e o papai se comportem nesse dia. – falei. Ouvi o Jake rir baixinho do outro lado da linha, e ri um pouco também. Ficamos em silêncio por um tempo, até que ouvi o barulho de algo pesado caindo no chão. Mas não era na minha casa, e sim na do dragão ocidental. – Ei, aconteceu alguma coisa?

– Não, é claro que não, está tudo ok. Tenho que ir. Nos falamos mais tarde.

Ele desligou, me deixando curiosa e espantada. Além disso, faminta. Curiosidade me dá fome. Calcei minhas pantufas de coelhinho e fui até a cozinha. Minha mãe estava lá, tentando fritar ovos. É obvio que ela não ia conseguir fazer um café da manhã decente, mas a Victoria, que geralmente cozinha para nós, estava de folga, então não tínhamos muitas opções.

– Mãe – chamei – Precisa de ajuda?

– Não, está tudo sobre controle. Mas você pode colocar a mesa.

– É, pode ser – concordei, pegando uns pratos limpos no escorredor. – Só uma dica: Você deveria ter colocado manteiga na frigideira antes de começar a fritar os ovos.

Ela suspirou de maneira frustrada.

– Chame seu pai, ele está no escritório. – a mamãe pediu. – E diga a ele para ir à padaria comprar alguns pães e croissants.

– Vai mesmo desistir de cozinhar, mãe? Onde está seu espírito aventureiro? Onde estão a sua determinação e força de vontade? Onde está aquela mulher de antes que não deixava nada a abalar, muito menos ovos queimados? – interroguei, tentando imitar o tom de voz do narrador da sessão da tarde.

– Você tem dois segundos.

Revirei os olhos e fui atrás do papai. O escritório fica no primeiro andar da nossa casa, mas eu só devo ter entrado lá umas três vezes em toda a minha vida. É um cômodo cheio de livros chatos, móveis velhos e papéis com muitas palavras. Nada dessas coisas me atrai. Bati na porta fechada três vezes.

– Quem é? – o papai perguntou.

– Alice, a sua filha mais bonita.

– Um momento. – ele anunciou. Colei meu ouvido na porta, esquecendo completamente do ditado “a curiosidade matou o gato”. Ele estava falando ao telefone com alguém, e eu pude distinguir algumas palavras, como: – Não, eu não posso! Esqueça. Olha, eu tenho que desligar. Eu ligo mais tarde. Não, a Alice não sabe ainda. É claro que ela vai gostar da ideia. Eu estou indo agora. Até mais.

Afastei-me da porta ao ouvir a última palavra, completamente tonta. O que está acontecendo? De que ideia eu vou gostar? Ai meus duendes, quando isso se tornou o dia das ligações misteriosas?

– Hã, pai? – chamei.

– Entre, querida.

Entrei no escritório, com as mãos tremendo. Tentei sorrir um pouco.

– Oi. – falei, a voz soando baixa. – A mamãe queimou nosso café da manhã. Ela quer que você vá à padaria comprar algo para comermos.

– Certo. – ele respondeu. Eu queria mesmo perguntar a ele sobre aquela ligação, sobre o que eu com certeza vou gostar. – Mais alguma coisa?

– Sim. – murmurei – Pães e croissants seriam uma boa.

Aparentemente, sou uma covarde. Na verdade, com certeza eu sou uma covarde. Com certeza.

* * *

Encaro meu reflexo no espelho. Estou com o vestido vermelho que vi no shopping, sapatos de salto alto e maquiagem. Me sinto estranha e nervosa. Será que o papai vai me contar sobre a ideia que ele tem planejado para mim? Hoje, agora, nesse jantar de véspera de natal? Espero que sim. Passei o dia pensando sobre isso. Também passei o dia pensado no Jake, mas não tive coragem de ligar para ele. É claro que não, eu sou uma covarde.

Desço as escadas tomando cuidado para não tropeçar. O papai e a mamãe estão sentados à mesa, em volta de um grande peru e porções de arroz. Não precisamos de tanta comida, porque somos só nós, mas eles insistem em exagerar.... Aproximo-me dos dois e do peru assado. Sento em uma das cadeiras também.

– Feliz natal, querida. – a mamãe diz, com um sorriso terno. Ela está muito bonita, mais do que o normal. Seus olhos tem um brilho diferente. Ela parece feliz, mas também preocupada.

– Alice. – meu pai me chama. Ele sorri. Estamos realmente ficando emotivos demais. – A sua mãe me contou sobre seu namorado... Não, não se preocupe com isso. Não vou surtar ainda. Antes quero ter uma séria conversa com ele, só depois irei julgá-lo.

– Obrigada. – murmuro. – Agora, já podemos comer?

Meus pais se encaram e depois soltam uma risada leve. Eu acho que perdi alguma coisa, porque até pouco tempo eles mal falavam um com o outro, e agora estão animadinhos e cheio de piadas internas. Cortamos o Peru e eu o espeto com força. Não fazemos esse lance de esperar até meia noite para podermos comer.

Me sinto má enquanto como o Peru. Ele deveria ter uma família. Uma família com uma mãe Peru que queima cafés da manhã e um pai Peru que tem um escritório e olhos azuis da cor do mar. Me lembro da Valentina que dava em cima do Jake, e do fato de que ela era vegetariana. Talvez ela pensasse na família dos animais enquanto os comia, e isso a fazia a sentir mal. Mas, bem, a culpa não é minha se eles são deliciosos. Aliás, o peru estava maravilhoso, porque compramos ele pronto. Se fosse a mamãe que tivesse cozinhado eu não poderia dizer a mesma coisa.

– Tenho uma coisa importante para revelar. – meu pai diz, quando terminamos de jantar. – Nós todos... Bem, vamos ser uma família completa. Alice, a sua mãe e eu percebemos que não podemos viver de longe de quem amamos. Infelizmente, um pouco tarde demais.

– Sim. Vamos para Miami. Vamos morar perto dos seus avós, vamos estar completos novamente. – ela finaliza.

Permaneço séria e estupefata. Miami? Na Flórida? Com os meus avós? Era sobre isso que o meu pai falava no telefone? Ah, ótima ideia, pai. Como ele pode pensar que eu ia aceitar isso facilmente? É um absurdo.

Mãe, pai. – começo – Eu me sinto completa aqui. De verdade. E... As pessoas que eu amo. Bem, elas já estão aqui.

Penso no Jake, na Melissa, na Martha, e até no Pedro meu quase vizinho idiota. Penso na minha carreira de modelo, que está só começando, na escola, no Bruno, no Marcos. Tudo que eu amo está aqui.

Não que eu tenha algo contra os meus avós paternos, mas é que eu nunca convivi com eles. Mal conheço os dois. Já meus avós por parte de mãe cuidaram de mim a minha vida quase toda. Só que agora eles estão longe, no céu. Talvez por isso, por medo que os meus outros avôs partam também, que meus pais queiram se mudar para Miami. Mas eu gosto de onde estou. Eu gosto de como a minha vida está agora. É demais querer que tudo continue assim?


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Notas finais do capítulo

Meu forninho caiu com esse final, e o de vocês?
O Jake aparece mais no próximo capítulo, eu juro! :)
Comentem o que acharam! *-*