Let it be escrita por Algodão doce


Capítulo 15
Fabuloso!


Notas iniciais do capítulo

Oi! Consegui um tempinho para postar. Espero que gostem do capítulo, e boa leitura.



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Resolvi não ir à escola na quinta, já que o jornal da escola seria distribuído só sexta mesmo e odeio quintas-feiras. Estava chovendo, eu estava resfriada e “naqueles dias”. Mas é claro que esse tipo de coisa não se resolve, já que tem sempre uma mãe para dizer “Haha. Boa tentativa. Vá colocar o uniforme.”. Então eu fui mesmo assim. Antes da aula começar eu mandei uma mensagem para o meu admirador secreto, perguntando seu passatempo favorito. Estava tentando conhece-ló melhor, como a mamãe sugeriu. Mas, mesmo no horário do intervalo, ele ainda não havia respondido.

– Resolveu dar o ar da graça? – perguntei para o Jake, quando ele se sentou ao meu lado em um dos banquinhos que ficam no patio da escola. Ao menos havia parado de chover.

– Humm.

– Dois.

– Três.

– Dezessete.

– Acho que você pulou alguns números. – ele disse – Oi.

– Oi.

– Certo. Valentina.

– Certo. Lição um: Nada de ficar contando carneirinhos com ela. Tipo um, dois, três. Mas, para as primeiras aulas, vou começar com a parte estética. Deixa eu ver suas mãos.

– Ver o que?

– Suas mãos, idiota. Aquilo que você usa para escrever, desenhar e etc.

– Para que? – ele perguntou, mas colocou suas mãos sobre as minhas mesmo assim. Ele tinha unhas compridas e sujas. Alguns calos, e, meus duendes, suas mãos eram grossas e estavam gritando por socorro. Senti dó.

– Ai meu Deus, Jake! Você nunca foi em um Spa para mãos?

– Ah, é claro. Eu vou em um desses toda semana.

– Haha. Sabe, as garotas reparam nisso também. Bem, depois eu cuido disso.

– Não cuida não. – ele disse puxando as mãos. Lançei um olhar mortal para ele. Quem mesmo que pediu minha ajuda? – Ta. Ta, foi mal. Lição dois.

– Se quer que ela se interesse por você, terá que ser fofo, educado e, bem, interessante. Primeiro, é claro, ela tem que estar ciente de sua existência. Não estou dizendo para você chegar nela e dizer “oi, eu sou o Jake, como vai?”, mas tipo, ah, eu acho que é meio isso, mas eu estava dizendo tipo, hã... Ta. Tipo, aproveite momentos em que ela estiver sozinha pela escola e se ofereça para fazer companhia. Converse com ela inicialmente sobre banalidades, tipo o tempo e essas coisas. E se você conhecer algum dos interesses dela, com certeza é bom se aprofundar nesse tópico. Pode gerar uma discussão bem interessante. Mas quando digo discussão interessante é tipo, ok, vocês tem opinião de diferentes, nada de luta. Seja delicado e a escute. E aí você pode começar a frequentar lugares que ela gosta, de modo que pareça que foi “sem querer”...

– Devagar.

– Eu estou falando devagar, você que é tonto.

– Prossiga.

– Agora eu me perdi, idiota.

– Estava falando sobre eu esbarrar nela em algum lugar.

– É, mas não no sentido literal. Eu disse “frequente lugares que ela gosta”. Esbarrar não é legal. Comece com um “ah, que bom te ver aqui!”. Certo, coisas que ela gosta. Liste.

– Não faço ideia.

– O que? Ai meu Deus, Jake! Eu estou me demitindo. Seriamente.

– Ei, espera. Você não pode se demitir.

– Eu me demiti. Agora resolva o resto com meu advogado.

– Por favor. – ele pediu, e então, eu, com toda minha expertise, disse:

– Ta bom.

– Podemos continuar?

– Amanhã.

– Obrigado. – ele agradeceu, e em seguida deu um beijo na minha bochecha, como se fosse a coisa mais normal do mundo. Certo, é normal (e completamente adorável) quando caras fofos fazem isso. Não dragões ocidentais. Senti meu rosto ficar vermelho, e não, eu não estava com vergonha. Só revoltada. Porque eu teria vergonha? Ah, que seja.

– Nunca mais faça isso. – eu disse.

– Foi mal.

* * *

Eu estava esperando o Vinicius voltar com as criancinhas para poder entrar na besta escolar, quando percebi que um ser humano – adulto, provavelmente beirando os quarenta anos, careca e moreno – estava olhando fixamente para mim. Resolvi não encarar, eu hein.

– Ai minha Coco Chanel! – ele exclamou, se aproximando – Que criatura esplêndida! C'est magnifique! Fabulous!

– Finalmente alguém que concorda com comigo! – eu disse, entrando na onda. Ele me elogiou em vários idiomas, não da para simplesmente dizer “ah, foi mal, mas minha mãe não me deixa conversar com estranhos”. Ele me elogiou em vários idiomas!

– Seus olhos são tão irresistíveis quanto um salmão fresco, e tem a cor dos mais límpidos oceanos. A simetria em seu rosto é perfeita, você tem a estatura adequada, seus cabelos são tão...

– Fabulosos. – completei.

– Exactly!

– Eu sei, eu sei. – comentei, jogando os cabelos para trás.

– Sou o Pierre – ele falou, com um sotaque bastante afetado – E você deve ser a Maria.

– Porque sou cheia de graça, é, já conheço essa. Mas meu nome é Alice.

– Alice! Fabuloso! Eu sou olheiro, de uma agência de modelos. Você é perfeita garota, simplesmente perfeita! Qual a sua idade?

– Hã, eu tenho quinze. Quero dizer, quinze anos.

– Ah. Bem, então ainda depende dos seus responsáveis, certamente.

– Err, sim, eu acho. Quer dizer, sim, tenho certeza. Pode repetir a pergunta, por favor?

– Oh, meu bem, você é uma fofa. – ele comentou, apertando minhas bochechas. Se não fosse pelo elogio alguém estaria muito machucado agora. - Aqui está meu cartão. Quero você na minha agência. Então, por favor, docinho, trate de conversar com seus pais sobre isso, e diga que seu potencial não é pequeno! Você pode ficar famosa! Não quer ser a próxima Gisele Bündchen?

– Eu adoraria.

– Pois bem. É a sua chance.

O Pierre então acenou e entrou em um carro verde bem chamativo. Entrei na besta assim que o Vinicius apareceu. No cartão que ele, o Pierre, havia me entregado podia-se ler “Pierre, agência de modelos très chic”, o endereço, e o número de telefone do local. Eu, modelo. Ia ser realmente fabuloso! Claro que tem há a possibilidade de ele ser um traficante de órgãos e tudo mais, porém vou conversar mesmo com o papai e a mamãe sobre isso. Modelo. Gisele Bundchen! Tão, tão, fabuloso. Ah, obrigada Pierre, agora não vou conseguir mais tirar essa palavra da minha cabeça.

Cheguei à minha casa. Nenhuma mensagem do admirador secreto. Almocei. Nem sinal de vida. Terminei a segunda temporada de The Vampire Diares. Nada. Conversei com a Victoria. Nada. Nada, nada, nada! O papai chegou em casa, depois um “longo e cansativo” dia de trabalho. Mas eu ia esperar a mamãe para contar sobre o meu provável futuro bem sucedido em catálogos e revista de moda. Ou quem sabe desfiles. Quando ela chegou, o papai estava meio que jogando videogame e meio que conversando ao telefone. Ela jantou, eu jantei, e nos reunimos no sofá da sala. Então contei tudo o que eu Pierre havia dito e finalizei com uma exclamação animada:

– Modelo, mamãe. É tão estupendo!

– Não sei não. – o papai disse.

– Parece incrível querida. Amanhã eu telefonarei para esse... Pierre. – a mamãe falou. Entendi que o assunto estava encerrado, então, subi até meu quarto e fui ver se o Augusto tinha respondido minha mensagem. Ainda nada. Não deveria ser assim. Ele deveria me admirar a cada dois segundos, é a função dele! Decidi dormir. Ele que se exploda. Não dou à mínima. To nem aí. Ai meus duendes, mensagem nova!

“Oi, Alice. Eu ainda tenho seu número por causa daquele trabalho de português, lembra? Bem, desculpe estar te mandando uma mensagem a essa hora, mas eu só queria perguntar outra coisa. Você está aí?” Era do Jake. Não que eu tivesse com esperança que fosse uma mensagem do meu admirador secreto, afinal, eu não ligo, mas... Ah, o Jake?

“EU ODEIO ESSA PERGUNTA IDIOTA! VOCÊ ESTÁ AÍ? PORCARIA, NÃO. AQUI É A MADONNA! ARGH!” sim, escrevi com letras maiúsculas.

“Nossa. Foi mal. Bem, eu não vou poder ir à escola amanhã, então ia pedir que você depois me passasse as atividades, as anotações no caderno. Pode ser?”

“Não sou sua escrava. Pede para os seus amigos nerds.”

“O que? Eu fiz isso por você uma vez!”

“E daí? Em momento algum eu disse ‘ai, que meigo, vou retribuir logo, beijos’”.

“Incrível.”

“Quem?”

“Deixa para lá vai.”

Mas, dã, eu estava entediada. E eu não tinha mesmo ninguém para conversar, então escrevi:

“Então, você vai matar aula?”

“É claro. Vou matar aula para ficar dando voltas de moto pela cidade. Você quer vir comigo?”

“Eu adoraria. E depois nós poderíamos fugir juntos.”

“Ah, sim. Poderíamos morar na praia.”

“Com alguns hippies.”

“Exatamente.” Ele respondeu, e ok, isso estava ficando estranho.

Parece ótimo.”

“É.”

“Acho que eu vou dormir agora. E vou sim passar as anotações para você, porque, sabe, vou ter que copiar aquelas macumbas de qualquer jeito. Boa noite, dragão ocidental.”

“Valeu, Alice. Boa noite.”

Espero que você sonhe com um porco gigante te engolindo.”

Dito isso, desliguei o celular e fui me preparar para dormir. Acordei assustada de madrugada. Adivinha? Sonhei com um porco gigante me engolindo. É a vida.


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