“Caos não é um abismo. Caos é uma escada. Muitos que a tentam escalar, falham e nunca mais tentam de novo. A queda quebra eles. E a alguns é dada a chance de subir, eles se agarram ao reino ou aos deuses ou ao amor. Apenas a escada é real. A escalada é tudo o que existe.”

—Petyr Baelish

Samantha acordara antes do nascer do sol, a cidade estava às escuras enquanto observava de sua janela. Porto Real a assustava, poucos no castelo eram gentis de fato, a maior parte apenas fingia e ela podia ver isto. Desde que chegara tentara manter-se o mais distante possível da rainha e do príncipe, Sansa prendera Lady nos estábulos e a visitava todos os dias, mas Sam preferia manter a loba perto de sí. Snow White crescera desde que

saíram de Winterfell, era maior que Lady agora, a boa alimentação que recebera fizera com que se tornasse uma loba grande e forte. Algum tempo depois o sol começara a nascer no leste, da janela Sam podia ver o espetáculo de cores ganhando forma no céu, podia também ouvir a Fortaleza Vermelha acordando, os criados e guardas começando a realizar seus trabalhos. Era lindo o nascer do sol, Sam costumara assistir-los com seu irmão, Theon

e Jon. Uma vez até convencera Sansa a ir, na época ela tinha apenas 6 anos e os outros 9 ou 10.

Estava acariciando o pelo de Snow White quando alguém bateu à porta. “Entre” Sam pedira, aumentando o som da voz apenas o suficiente para que a pessoa a escutasse. Quando entraram, ela viu que não tratava-se de umas mas de duas. Duas lindas garotas, a mais alta possuía cabelos escuros e olhos cor de amêndoa, seu corpo era dotado de curvas e possuía seios fartos, a mais baixa por sua vez, era loira de olhos verdes e adoráveis, era mais magra que a morena e também parecia ser muito mais simpática.

— Me chamo Bea, minha senhora - começou a loira e em seguida apontou para a outra

— e esta é Chellina, fomos escolhidas para sermos suas aias

Sam estava agradecida a quem quer que fosse, podia vestir-se e arrumar-se muito bem sozinhas mas desde chegara a Porto Real não havia visto Alyssia ou tivera tempo com suas irmãs. Arya estivera mais rebelde desde a morte de Mycah e Sansa a culpava pelo desprezo de Joffrey. A garota lobo precisava de alguém para ajudá-la. Além disso, seria uma grande falta de respeito de sua parte negar as garotas. Sam sorriu para as garotas a sua frente e podia apostar que a loira Bea ficara contente com sua reação.

— perdão, mas escolhidas por quem? - perguntou Samantha

— A Chellina foi uma escolha da princesa Alyssia e eu de lorde Renly Baratheon. A rainha disse que seria necessário enviar aias para as senhoras de Winterfell - respondeu Bea.

Samantha assentiu, sim, fazia sentido.

— entendo - disse por fim

— Bem... Vamos ajudá-la a se preparar para o passeio com lorde Renly - explicou Bea

— Chel, me ajude com a banheira

Samantha assistiu enquanto as duas garotas completarem seu serviço. Depois de tomar um longo e refrescante banho frio, elas a colocaram em uma cadeira em frente ao espelho. Bea tagarelava enquanto escovava a cabeleira negra de sua senhora, já Chellina não dissera uma palavra desde que chegara, apenas passava um óleo em suas pernas e braços em silêncio. A puseram em um vestido de sedas lysenas azuis, era lindo, com rendas de Myr trabalhadas no busto e pequenas pedras brilhantes dando harmonia a tudo. As costas ficavam nuas, de modo que o tornava ideal para um passeio em Porto Real. No final da saia do vestido havia um degradê que corria do tom mais claro até o mais escuro. Suas longas madeixas estavam completamente soltas, como uma cascata de cachos caindo as suas costas, Bea pegou uma delicada tiara e colocou em sua cabeça enquanto Chellina terminava de passar uma camada de pó de arroz por cima de suas olheiras. "Olhando assim, até pareço uma princesa" pensou Samantha. Depois de perfumá-la , as aias decidiram que a sua senhora estava perfeita para a ocasião, Bea sorria exibindo seus dentes brancos e até mesmo Chellina parecia satisfeita com o resultado. Samantha estava absurdamente bela nesse dia de sol, radiante como uma flor ao receber o calor da manhã.

⁃ Minha senhora, se me permite dizer, esta estupenda! Lorde Renly não saberá o que o

atingiu - Brincou Bea

Samantha viu graça naquilo. Enfim, pronta, deixou o quarto e as aias para trás, a loira a havia avisado que o cavaleiro verde a encontraria logo que terminasse a reunião do Pequeno Conselho, do qual fazia parte como conselheiro do rei e o senhor seu pai como Mão. Aproveitara aqueles poucos momentos que teria sozinha para ir até os jardins da Fortaleza Vermelha, tinha que admitir que não eram tão bonitos ou tão floridos quanto esperava, mas ainda assim eram agradáveis. Sentou-se em um banco de mármore que fora construído entre duas árvores que formavam um arco. Ela adorou aquele lugar logo que o vira, e agora que estava ali, sentia que seria seu refúgio durante todo o tempo que estivesse na capital. A brisa era mais leve e perfumada, nem ao menos se parecia com aquela cidade suja que conhecera a alguns dias. Samantha nem vira quando o jovem se aproximou e não pode evitar o susto quando ele apareceu em sua frente. Nunca o tinha visto antes, possuía olhos verdes, cabelos enrolados e castanhos, lábios finos que formavam um sorriso branco e um rosto mais afilado que o de muitas damas. Trajava um gibão de couro fervido com o estandarte de sua casa costurado a fio de ouro, uma rosa dourada, Samantha imaginava que o cavaleiro a sua frente fosse Loras Tyrell, e suas suspeitas foram confirmadas ao ver a capa branca da guarda real pendendo em seus ombros.

⁃ Sor Loras - exclamou - não o vi chegando

⁃ Eu tenho esse dom, minha senhora - brincou o jovem

Samantha sentiu-se forçada a sorrir, por algum motivo não sentia-se confortável a presença do rapaz, ela não entendia o porque.

⁃ Soube que lorde Renly planeja levá-la até a cidade, para que conheça as belezas de Porto Real. Não que sejam muitas... - disse o rapaz

⁃ Parece que as notícias se espalham rápido por aqui

⁃ Nem imagina o quanto. Enfim, a cidade pode ser perigosa para nobres, a plebe está um pouco enfurecida com o nosso rei Robert

Sam sentiu-se assustada com a possibilidade de uma rebelião por parte da massa, ela não era culpada da negligência do rei, tampouco podia fazer algo para mudar a situação.

⁃ Para sua sorte, minha bela dama, fui designado para fazer parte da guarda que manterá vocês a salvo do perigo - Esbanjou Loras

⁃ Estou agradecida sor - a ideia de passar a tarde ao lado do Sor Incrivelmente Egocêntrico não a agradava mas era melhor que ser atacada por um bando de camponeses rebeldes.

⁃ Renly pediu que os cavalos fossem selados, contou que a senhorita prefere cavalgar a

andar na Casa Rolante, não seria impróprio para uma dama?

⁃ Talvez... - Samantha serrou os olhos enquanto refletia o que o garoto dissera. "Renly" fora como ele chamara o Lorde, algo muito íntimo para um cavaleiro e seu escudeiro, talvez Renly o tivesse pedido que abandonasse as formalidades, como fizera com ela, afinal ele era tão gentil que isto não parecia impossível. Pelo menos não de acordo com a sua linha de raciocínio.

⁃ De qualquer forma, vim levá-la até os portões, ordens de meu senhor - disse Loras com desdém - Me permite?

O cavaleiro ergueu o braço para que a moça o acompanhasse e apesar de ser contra sua vontade, ela assim o fez. Não precisaram caminhar muito até chegarem perto aos portões, várias damas que viviam no castelo cochichavam umas com as outras fazendo Sam perguntar-se se esta era a primeira vez que Renly fazia um passeio com uma donzela ou se era apenas curiosidade e gosto pela fofoca, suspeitava de que a segunda opção fosse a certa. Havia cerca de cinco homens contando com Loras, todos montados em cavalos fortes

e bem treinados. Seu belo corcel negro estava selado e a sua espera, um homem moreno alisava sua crista. Sam não o reconheceu de imediato mas depois de por a mão em forma de concha acima dos olhos para protegê-los do sol, pode ver que tratava-se de seu esperado cavaleiro.

⁃ É um cavalo de batalha, sabia?- perguntou à jovem - Um pouco grande para você

⁃ Foi um presente de meu irmão, depois de um tempo comecei a achar o seu tamanho ideal para mim - contou Sam aproximando-se

Quando estavam perto um do outro, Sam pode sentir a fragrância que o rapaz usava, era um cheiro cítrico e delicioso, não lembrava-se de Jon ou Robb terem usado tais perfumes, Robb cheirava a flores, metais ou madeira, isso variava de qual lugar ele estivera antes de estar ali, Jon cheirava a Jon e Sam simplesmente não conseguiria explicar isto, ele possuía a própria fragrância natural, seu cheiro era o melhor que Sam já sentira, melhor que muitos perfumes importados das cidades livres.

⁃ Minha senhora - Renly estendeu a mão para ajudá-la a montar em Maximus.

Sam aceitou de bom grado e subiu em seu corcel. Renly montou um cavalo cor de amêndoas, era bem cuidado e forte, provavelmente um cavalo de guerra também. Ao saírem dos portões percebeu uma agitação inicial do povo, mas não durara muito. Loras Tyrell cavalgava ao seu lado mas não olhara em sua direção nem uma única vez, estava claro que por algum motivo o Cavaleiro das flores desprezava Samantha, mas ela não conseguia imaginar o porque, porém estava mais preocupada com a cidadela se aproximando do que com qualquer outra coisa. Quanto mais chegavam perto das pessoas, mais elas paravam para olhar a Corte que se aproximava. Pareciam calmos, inofensivos, mas Sam não parava de imaginar a rebelião que o cavaleiro havia dito. Isso a assustava.