Gotta Be Brave escrita por Batsu


Capítulo 1
Opostos se atraem.


Notas iniciais do capítulo

Esta história encontra-se em processo de reescrita e em hiatus, leia por sua conta e risco.
Att. 11/11/2016.



Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/499163/chapter/1

Seus olhos abriram em um estalo, notando o quarto ainda escuro e a porta semiaberta, concluiu ter dormido o suficiente para acordar durante a madrugada. Encontrou a cama vazia, provavelmente Robin estaria na biblioteca para não incomodá-la ali. Sentiu o corpo pesado devido ao cansaço, entretanto não sentia sono, não mesmo. Visitou Chopper por volta das seis da noite de ontem sentindo-se mal, ele lhe receitou um medicamento que causaria sono, e a navegadora não sequer aguentou jantar com a tripulação.

Sentou-se ao extremo da cama que dividia com a arqueóloga, e tateou o chão com os pés procurando algum calçado às cegas, achando enfim sua pantufa fofa. Saindo do quarto, uma brisa gélida atravessou o convés do Sunny percorrendo a espinha de Nami em um arrepio. Estalou a língua ao perceber a densidade do ar cair, pressentia uma tempestade em breve. Teceu os dedos pelos seus fios alaranjados, prendendo-os em um coque mal preso com as próprias madeixas, sem importar-se com a aparência terrível que teria sem um espelho para auxiliá-la.

A porta do dormitório masculino encontrava-se fechada, embora ainda fosse possível escutar o som dos roncos vindos de lá. A única luz acesa visível vinha do Ninho da Gávea.

Percorreu até a cozinha em cambaleantes passos, ainda dormente sua boca clamava por um refresco, imaginou o como um suco lhe cairia bem.

Nami quase caiu de costas com o susto que levou ao acender as luzes. Seu capitão encontrava-se dormindo com a cabeça na mesa. Respirou fundo, tentando inutilmente tranquilizar-se caminhando até ele. Um sorriso terno se desenhou em seus lábios, fazendo-a levar a mão delicadamente até os fios negros dele, acariciando-os até agarrar um amontoado e puxar com furor e sua afável violência.

— Luffy!

— Hm... — uma bolha de baba estourou vindo de sua boca. — N-Nami?!

— O que você faz essa hora aqui? O Sanji não te proibiu de sequer pisar na cozinha de noite?! — puxou com mais força o cabelo dele, deixando sua cabeça bamba.

— Ai, ai, ai! — choramingou. — Foi ele que me deixou de castigo! — tentou segurar a mão da navegadora para impedi-la, o que o levou a tomar um tapa nos dedos. — Foi ele, foi ele eu juro! — implorava para ser solto.

A ruiva observou algumas lágrimas se acumularem nos cantos dos olhos do capitão, e só assim soube com certeza que ele não mentia. Suspirou nervosa, finalmente soltando seu cabelo.

— Por que ele te deixou de castigo? — falou puxando uma cadeira para sentar.

— Você não jantou com a gente, — massageou a cabeça ainda dolorida, ela não sabia ter piedade. — ele tirou minha comida porque tentei comer sua parte... — fez beicinho.

— Você é um idiota! Mereceu mesmo. — deu de ombros. — E por que você ainda está aqui? — foi até geladeira, abrindo-a para procurar uma jarra de suco qualquer.

— Por que o castigo foi ficar onde mais gosto, sem o que o mais gosto. — bateu a testa na mesa. — Quero carne!

Nami serviu um copo de suco o mais rápido possível para Luffy não notar a geladeira aberta, somente ela e Robin tinham a senha do cadeado além de Sanji. Envolveu o vidro agora gelado com as duas mãos, bebericando-o ao voltar para o assento.

— Volta pro quarto, eu falo com o Sanji amanhã. — gostaria de ficar sozinha, a ruiva mais do que ninguém sabia o quanto o moreninho podia ser irritante.

— Yosh! — espalmou a mesa, feliz por ter se livrado do castigo, no entanto ao ficar de pé, sua barriga roncou alto. — Namiii! — encarou a companheira com olhos pidões. 

— Não. — cortou-o imaginando o que tinha em mente. — Não mesmo!

Largou o copo com o suco inacabado na pia, dando as costas para Luffy, preferia ficar sem fazer nada em seu quarto ao invés de aguentá-lo mendigar comida ali. O momento importuno trouxe a tempestade que previra minutos atrás, parou diante a janela da porta encharcada de gotículas de água da chuva do lado exterior.

— Tá chovendo. — Luffy comentou com um dedo no nariz.

— Não teria percebido se você não falasse! — virou-se para ele com um sorriso cínico, sua vontade era de esgoelá-lo.

Levou severos minutos de briga para a navegadora acalmar-se, decidindo ficar ali mesmo, não tinha a intenção de ficar gripada ou algo do gênero.

— Luffy, vou repetir. — massageou as têmporas de olhos cerrados, recitando mentalmente um mantra que a mantivesse em paz. — Chuva não te deixa mais fraco, só a água do mar! — socou a mesa com uma mão.

— Ah, tudo bem! — ele cruzou as pernas sobre a cadeira, parecia não entender o risco de permanecer ali. — Vou ficar aqui mesmo assim, não quero deixar minha navegadora sozinha! shishishi

— Talvez eu queira ficar sozinha. — murmurou segurando o rosto entediada.

O capitão observou Nami levantar-se e pegar seu copo de suco para torná-lo a beber. Ela vestia o pijama consistente em um short confortável e uma regata. Ele riu sozinho ao reparar que ela usava pantufas.

A ruiva certamente era a mais estressada da tripulação, talvez seguida de Sanji em uma colocação, embora, não fosse isso que o deixasse inquieto. Ele entendia que a irritação demasiada fizesse parte da personalidade dela, Luffy gostava dela como ela era. O que realmente o incomodava era os dois anos que deixaram de estar juntos, e o como isso os afetava. O capitão gostaria de tirar o atraso em suas interações.

— Oi Nami, como foi seu treinamento? — ele tinha as mãos postas nos joelhos e o arquejava impaciente para ouvir a resposta da ruiva.

— Por que quer saber? — sequer manteve contato visual ao respondê-lo, soando mais áspera do que pretendia.

A ruiva viu Luffy assentir cabisbaixo, era impossível não notar o quão descontente ele ficou ao ouvi-la. Bufou ao dar a última golada de suco antes de pôr o copo vazio na pia. Dirigiu-se até a mesa e sentou em frente ao menino, o que o fez alargar um sorriso.

— Fui para Weatheria, uma ilha que estuda o clima. — disse dando-se por vencida.

— Que legal! — demonstrou estar mesmo interessado no que ela dizia. — Fica na Grand Line?! — continuou com seu questionário.

— Não, é uma ilha no céu.

— Você foi para o céu de novo?! — berrou animado levantando-se da cadeira, o que a fez voar longe e causar um estrondo.

— Luffy, calma! — riu desconcertada, seu capitão era mesmo um desastre.

Ele não percebeu o espaço vazio sem a cadeira, sentando-se no vácuo e caindo de bunda. Para tentar se segurar puxou a mesa junto derrubando algumas vasilhas e fazendo mais bagunça. Estranhou ter ouvido um grito agudo no meio de toda confusão, mas ignorou erguendo-se como se nada houvesse acontecido.

— Foi mal, Nami! — coçou a cabeça ainda rindo, ajeitando seu chapéu em seguida. — Nami? — notou a companheira de cabeça baixa, apertando o ombro com alento. — Nami! O que foi?!

Houve somente um grunhido como resposta. Ela então removeu lentamente as mãos mostrando um corte superficial. O sangue escorreu manchando a regata clara. Aquilo desesperou Luffy por um instante. Como ele pode ter sido tão descuidado? Ele deveria protegê-la, em caso algum o contrário.

Nami viu a expressão infantil de seu capitão se alterar numa velocidade incrível, suas sobrancelhas caíram sobre os olhos dando-lhe um ar sério, aquilo a assustou um pouco.

— Vou acordar o Chopper. — avisou, correndo para fora.

Ainda que tumultuada, a madrugada passou rápido. Enquanto Chopper socorria a ruiva, Luffy apanhou em meio a chuva. Seus ouvidos arderam no modo literal depois da bronca que ouviu do cozinheiro, nunca havia o visto tão bravo antes. Robin e Usopp não souberam quem defender.

Nami irritou-se também com Sanji, seu surto era tão estúpido quanto ele próprio, ela não precisava que ele tomasse suas dores. Afinal, lidavam com Luffy, o único capitão de uma tripulação pirata que realmente não tomava consequência de seus atos.

Dado o fim da confusão, cada tripulante se dirigiu para seu devido quarto e dormiram.

— Mas que SUPER dia! — Franky disse animado ao se espreguiçar.

— Yohohoho — o esqueleto surgiu atrás dele querendo passagem. — Você ouviu uma barulheira ontem, Franky-san? — perguntou ajeitando sua cartola no afro.

— Eu não ouvi nada. — coçou o queixo pensativo.

— Saiam da frente, suas bizarrices de show de horror! — Usopp gritou nervoso. — Conversem em outro lugar que não seja na saída do quarto!

Chopper passou num vão entre as pernas dos homens, seus passos de som engraçado atravessaram o curto espaço do convés entre o dormitório feminino e eles. Ia ver Nami, mudou de forma rapidamente para poder alcançar a maçaneta da porta e entrar. Não precisava avisar que estava entrando, tinha o livre acesso ao quarto delas.

— Nami? — cochichou voltando a sua forma fofa.

— O quê? — a ruiva resmungou escondendo seu rosto debaixo do cobertor, a claridade vinda da porta aberta lhe irritou os olhos.

Ele ajudou a ruiva a levantar e dirigiram-se ao consultório da rena, ela ainda encontrava-se com o tórax e ombro enrolado em faixas. Sanji tinha uma hemorragia nasal somente ao pensar em Nami usando apenas ataduras, por isso fora deixado do lado de fora. Robin era a única os acompanhando na sala.

— Chopper, você a costurou bem? — a morena questionou sem alterar seu semblante. — Seria uma pena se a navegadora fizesse algum esforço e o corte abrisse.

— Robin! — encarou-a assustado. — Não diga isso! — seus olhos se umedeceram com aquela ideia. — Não p-posso deixar uma coisa dessas acontecer... — aproximou-se da navegadora e passou a desenrolar as ataduras com afobação a fim de conferir seu trabalho.

Nami ainda sonolenta piscou algumas vezes tentando entendê-lo, nem mesmo seu cabelo havia tido tempo para pentear e agora era maltratada.

— Chopper! — chamou a atenção do companheiro com o tom nervoso usado. — Me trate que nem gente! — chacoalhou-o no ar, parecia tê-lo despertado.

Ele assentiu com medo, voltando a agir normalmente. Tentou ignorar os comentários assustadores de Robin, tendo certeza que a arqueóloga tinha uma mente insana.

Passados alguns minutos, ouviram Sanji avisando que o café havia sido preparado, terminaram os procedimentos indo em seguida à cozinha. Zoro brotou na cozinha exigindo tomar saquê sem importar-se com o horário, iniciando uma briga com o cozinheiro pervertido. Usopp contava algumas de suas aventuras para Chopper, iludindo como todos os dias. Franky soltava puns com Brook e Robin preferiu tomar seu copo de leite na balança. Nami atentou-se curiosa a cada membro de sua tripulação pouco normal. Cada um tendo sua personalidade característica. Eram seu ponto de consciência, sabia que poderia contar com qualquer um, não importando a situação, todos ali estariam para ela como ela estaria para eles. Embora houvesse um em especial que fizera tanto por ela e continuava a fazer, mas ele era o mais discreto no momento.

A ruiva encarou atentamente Luffy, até ele a notar. O capitão interpretou mal seus olhos castanhos sobre si, levantou-se cabisbaixo da mesa, saindo sorrateiramente enquanto todos se ocupavam com outra coisa para repará-lo.

Nami estranhou aquela atitude, mas ignorou. Luffy era alguém difícil de lidar.

— Oi Nami, — Zoro berrou outra vez em seu ouvido estalando os dedos. — para onde estamos indo?

— Ah, o quê? — olhou-o confusa, esforçando-se em disfarçar que fora acordada de um devaneio. — Eu não sei, preciso rever os mapas e acertar a direção do Log Pose. — concluiu mordendo seu pão doce.

— Uma ilha de inverno não seria nada mal agora... — Chopper comentou imaginando a ilha de seus sonhos. — Ela poderia ter árvores de algodão-doce! — ele corou com a ideia.

— Árvores que florescessem calcinhas, yohohoho — Brook detalhou com um toque pervertido.

— Lindas donzelas, lindas mellorines de vestidos e — o cozinheiro pareceu ter uma memória ruim por uma fração de segundo, sua face tomou uma expressão de pura aversão.

— Calem a boca. — Nami deixou a mesa irritada, escutou o espadachim reclamar e fingiu não tê-lo ouvido.

Luffy deixara a cozinha mais cedo por cautela. Notou estar sendo fuzilado pelos olhos da navegadora, e temia por sua vida o suficiente para evitá-la. Sentia algo ruim em relação à noite anterior, mas não sabia como classificar essa emoção, era como algo desconfortável dentro de si. Esticou-se até seu assento especial, ficaria ali no Sunny até aquele incômodo sair, não sabia como agir. Baixou seu chapéu escorando suas costas ali, tiraria uma soneca então.

Não precisou mais que poucos minutos para dormir, seus roncos não eram muitos silenciosos, ajudando a ruiva a encontrá-lo facilmente. Ela vestia uma simples regata e saia, algo que não pesasse muito sobre as faixas. Nami procurava distinguir alguma cabeleira escura e conhecida atrás da juba do Sunny, e mesmo sem vê-lo, seus sons eram inconfundíveis.

Os degraus diminuíam juntamente com o ritmo de suas passadas. Chegar à proa do navio não era dificuldade para o capitão que tinha suas próprias habilidades, mas isso não era assim para os não usuários. Nami debruçou-se silenciosa entre o Sunny, observando seu capitão dormir tranquilo. Não se preocupou com o leme atrás de si, ouvira Franky avisar-lhe que estaria travado por hoje.

O clima ameno tinha uma leve brisa aquela manhã, fazia o cabelo dela esvoaçar. A navegadora pensou em um jeito de acordá-lo. Levou seus dedos até o nariz de Luffy, apertando-os e segurando por um breve momento de forma que impedisse a respiração do garoto. Aquilo o acordou assustado.

— Nami! — gritou respirando com dificuldade. — P-Por que você fez isso?! — procurou fôlego.

— Deu vontade. — mostrou a língua. — O que aconteceu agora pouco?

— Você estava me olhando brava e eu fiquei com medo. — ajeitou o chapéu em sua cabeça. — Depois da madrugada de ontem, pensei que você fosse me entregar para a Marinha. — olhou de soslaio para as ataduras da companheira.

— Hunf — bufou orgulhosa. — Eu devia mesmo, e entregá-lo morto. — seus lábios se contraíram em um sorriso sádico. —Afinal, são quatrocentos mil berries, não é?!

— É... — o menino encolheu-se.

Nami viu a reação engraçada de seu capitão, não resistindo rir. Havia conversado com ele, e era isso que ela desejava. Um diálogo normal e amigável como pedido de desculpas por tê-lo tratado como qualquer um na madrugada passada. A ruiva não daria o braço a torcer para ninguém, não a ouviriam pedir desculpas em uma reverência se o caso não envolvesse berries. Para ela, isso bastou. Fez menção de sair, mas sentiu Luffy dar a volta por cima de seus ombros.

— Oi Nami, — apareceu em sua frente. — eu ainda não pedi desculpas pelo o que fiz. — Luffy tirou seu chapéu colocando-o no peito, inclinou-se alguns graus para baixo e fez uma reverência arrependida. — Me desculpe por não ter tomado cuidado e ter te cortado. Eu juro que foi sem querer. — sorriu ternamente.

Aquilo atingiu Nami diretamente. Ela era uma mulher mesquinha, todos a conheciam por aquela característica, tornava-se involuntariamente egoísta nos instantes mais importunos. Luffy era o seu oposto. Alguém sempre disposta a roubar e causar caos por si mesma e alguém disposto sempre a ajudar e lutar pelo bem de quem precisasse. Isso os tornava tão opostos de uma maneira que não pudessem evitar um ao outro pelo seu relacionamento conturbado. Como se fosse uma atração.

— Não precisa se desculpar. — sorriu sem graça. — Se não fosse por mim, nada disso teria acontecido. — voltou a caminhar, ao passar pelo capitão depositou leves tapinhas seu ombro.

Ao final de tudo, o que Luffy sentia de desconfortável, era somente sua consciência pesando.


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!


Notas finais do capítulo

Críticas e sugestões são muito bem-vindas, caso encontrem erros peço gentilmente que me avisem para que possam ser consertados o quanto antes!