Damon empurrou o prato para o centro da mesa e observou Isabella brincando de desmontar sua lasanha inteira. Jacob pigarreou.

– Ela está em transe. – Ele disse enquanto observava sua amiga, Damon desviou a atenção da garota para encarar o tal lobisomem. – Isso está acontecendo cada vez mais rápido, provavelmente lembrando-se de algo que viveu ou coisa do gênero.

– A neve. – Bella disse baixo e largou o garfo. – Estou me lembrando da neve, de Katherine.

Jacob engoliu em seco e olhou para Damon, preocupado se deveria chutá-lo dali e acolher sua irmã, mas o vampiro parecia confortável e curioso demais para ser mandado embora.

– Neve? – Damon perguntou, mas Isabella balançou a cabeça e lhe lançou um sorriso amarelo.

– Bom, onde parei? Ah, sim, Jacob cresceu comigo. Klaus acolheu ele e o pai dele, Billy Black, crescemos juntos. – Bella deu de ombros, mas Damon apenas ficou confuso. – Ok, ok. – Ela suspirou cansada e ficou de pé. – Você quer que eu responda outras perguntas, não fale apenas do meu passado idiota.

– Estava interessante – Damon fez uma careta e a ajudou colocar as coisas na pia, Jacob avisou que tomaria um banho para ir dormir e Isabella o deu um beijo no rosto, então se concentrou na louça que tinha para lavar. – EU lavo, você seca e guarda.

Isabella assentiu e os dois começaram a trabalhar juntos.

– A matilha que Klaus criava era grande, mas a maior parte hipnotizados também. Klaus construiu aquele castelo pouco depois que Katherine fugiu, era apenas uma aldeia para lobos rebeldes que estraçalhavam humanos nas luas cheias e não sabiam se controlar. A... raiva de um lobo é mortal, eles matam e quebram sem pensar, ainda mais em lua cheia.

– Eu sei, Tyler é um lobisomem. – Ele disse baixo, mas deixou que Isabella continuasse.

– Lobisomens podem assumir o controle de si mesmo após o primeiro ano, transformando-se quando quer, só precisam de ajuda. Klaus ajudou cerca de 40 lobisomens, invejava-os pelo que eram, odiava Katherine por privá-lo disso. – Isabella desistiu de secar os pratos e apenas ficou observando Damon lavar a louça. – Até parece um humano normal lavando a louça.

Ele riu e revirou os olhos, então terminou de enxaguar os copos que transbordavam de espuma.

– Enfim – Ela continuou – Billy Black era um lobisomem velho e com um filho, ele tinha problema na perna e mal podia andar. Klaus o abrigou como seu servo, já que Billy comandava a matilha, seria mais fácil adquirir confiança e lealdade. Então eu e Jacob crescemos juntos.

– Estão juntos desde então?

Bella riu e balançou a cabeça.

– Ele é meu irmão, praticamente. – Damon fez uma expressão de entendimento e pegou a panela suja de molho para lavar. - Quando eu estava com meus... 17 anos, mais ou menos, decidi que libertaria os lobisomens de Klaus. Para mim, Klaus só queria servos. Tinha tantos empregados e ás vezes era tão cruel.. Eu cresci com ele, mas não acreditava que havia uma parte boa naquele homem. Então fiz uma rebelião para libertá-los.

– Deu certo?

– Não, é de Klaus que estamos falando. – Eles riram juntos, então Isabella olhou para o chão, sorrindo. – Klaus sempre tem tudo, mimado. Enfim, lobisomens se revoltaram contra Klaus, queriam “Liberdade” por causa de minha ideia, Billy Black foi o principal. Era ingrato e um bêbado, achava que se fosse livre, estaria feliz. Essa grande manifestação planejada por anos gerou a morte de 12 lobisomens e de Billy Black.

– E como ele virou lobisomens? Precisa matar, certo? – Damon perguntou enquanto enxaguava a última panela. Enquanto Isabella se perdia em lembranças, ele enxaguou suas mãos e a secou com o pano de prato.

– Eu fui sequestrada por alguns moradores da vila, humanos. Eles queriam derrubar Klaus do trono apenas para ter algo que fazer, Klaus ficou tão revoltado comigo naquela época... – Isabella voltou a encarar Damon, ajeitando a postura. – Jacob matou um homem para que eu fosse livre, teve que matá-lo porque eu morreria, então ativou a maldição.

– Hum...

Após alguns minutos em silêncio, Damon entendeu que Isabella não continuaria conversando sobre o passado, já havia esgotado a cota de histórias por hoje. Damon se perguntou porque a analisava; os cabelos cacheados, os olhos idênticos ao de Katherine, a pele clara e altamente atraente. Ela se parecia com Katherine se a observasse bem, até a forma de mexer a boca e a postura, as caretas que fazia para o vento e tão determinada quanto a mãe.

Era estranho observá-la, sentia algo queimando em seu peito. Pensou em como seria interessante experimentar os lábios dela, a levar novamente para uma boate para dançar, beber e beijar a noite inteira. Ansiava por tocá-la de outra forma, algo que nunca havia pensado em fazer.

– Quero te mostrar uma coisa. – Isabella exclamou, assustando Damon que saia do choque. Sorrindo, ela o puxou pela mão até a beira do lago.

– O que vai fazer? – Damon perguntou ao observar Isabella estendendo as mangas da blusa.

– Mostrar uma coisa.

Devagar e respirando fundo, ela ergueu as mãos em direção a água, fez uma careta de concentração e então a magia realmente aconteceu.

– Wow! – Damon exclamou enquanto se afastava alguns passos.

O lago se agitou e então fez uma enorme fileira para o céu, a água transparente refletia contra a lua e praticamente dançava no céu estralo, cada vez ia crescendo e se transformando em um redemoinho, até que, vindo das mãos de Isabella, o fogo se misturou com a água de uma forma surpreendente, Damon exclamou diversas vezes ao ver a beleza daquilo.

O fogo adquiriu um tom azul ao se misturar com a água, lentamente foi ficando roxo, até então atingir uma cor rosa forte.

– Mas isso é... incrível. – Ele exclamou abismado, então observou o rosto de Isabella.

Ela estava concentrada, parecia estar incomodada com algo, mas havia satisfação em seu rosto. Estava feliz por ter chego a esse ponto, a essa força. Estava feliz por mostrar o quão forte era, por fazer aquilo tudo. Estava satisfeita em ter suas mãos controlando tudo aquilo. Seus olhos brilhavam e seus lábios brincavam com um sorriso. Damon se perguntou como ela poderia ser tão forte e tão atraente assim.

Foi interrompido de observá-la com o barulho da água mais intenso. Se assustou ao ver o jorro rosa de água vir para cima dele, mas antes que pudesse atingi-lo, a água recuou lentamente para o lago e foi perdendo seu brilho, até tudo se acalmar novamente, deixando a sensação de descanso e paz.

– Isso... É incrível! – Damon exclamou abismado. – Como consegue fazer isso?

– Bem, muito treinamento. – Bella deu de ombros e sorriu animada. Damon parecia querer mais, mas a cabeça da garota doía demais para pensar na possibilidade. – Eu vou dormir, realmente estou cansada.

– Eu tenho que ir.

Se encararam por mais alguns segundos, quase sem piscar. Damon percebeu o quanto ela parecia cansada, mas tentava sorrir e demonstrar confiança. Estava tão bem na presença dela, estava tão relaxado e tão ele mesmo que pensar em sair dali era terrível.

– O caminho é longo e... – tentou dizer, mas não sabia como pedir para ficar naquela casa enorme, porém Isabella entendeu o que Damon queria dizer.

– O quarto de hóspedes está limpo, se quiser.

Mandou uma piscada e se virou para entrar na casa, Damon a seguiu. Porém, antes que chegasse na porta, uma tontura a atingiu. Com a dor de cabeça amplificada e sentindo o chão aos seus pés tremerem, Isabella colocou a mão na testa e resmungou. Antes que caísse desmaiada no chão, Damon a pegou no colo e suspirou.

– Acho que você estava realmente cansada. – Sussurrou para o vento e entrou na casa.

Não sabia qual era o quarto de Isabella, então subiu as escadas de madeira e entrou no primeiro que viu.

A decoração era luxuosa e formal, uma enorme cama de casal em frente á uma TV pendurada no teto, uma mesa branca e enorme que cobria a parte da janela até perto da porta e organizada com alguns livros, computador, enfeites e até quadro de uma enorme família feliz que Damon não prestou atenção. O guarda-roupa era branco e enorme, já de parede. Não se lembrava de nada disso quando veio na casa com Elena. Pelo ao contrário, os móveis eram clássicos, de madeira e antigos. Isabella havia mudado tudo e rápido demais.

Sem se importar realmente com tudo, Ele colocou Bella na cama e retirou seus sapatos, pulseiras e até o cinto que ela usava, fechou as cortinas e suspirou.

Não queria procurar outro quarto, a garota parecia chamá-lo na cama. Estava deitada tão frágil e serena que Damon não queria largá-la ali. Mal a conhecia, corria risco de morrer lentamente nas mãos dela, mas decidiu arriscar se deitar ao lado dela para dormir.

Seus últimos pensamentos foram sobre o que Elena acharia de vê-lo assim, encantado pela filha de Katherine, uma completa desconhecida. O que sua namorada acharia de vê-lo deitado ao lado da outra. De forma estranha, esse pensamento não o deixou perturbado. Concentrou-se apenas no cheiro que Isabella tinha e logo adormeceu de forma tranquila, como se todos os problemas de sua vida pudessem ser resolvidos com essa noite de sono, sonhando com o que Isabella havia feito no lago e a mágica que foi tudo aquilo.