Os Encantos De Anúbis escrita por Sarah Colins


Capítulo 13
Capítulo 12 – Como aprender a ser humano em 3 passos


Notas iniciais do capítulo

Oi amigos! Tudo bem? ^^
Capítulo novo pra vocês. Espero que gostem!! ;)



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Não pudemos deixar o Duat imediatamente, é claro, porque o solstício de inverno ainda não havia acabado. Então, enquanto Carter ia falar com Osíris e matar as saudades do nosso pai, fiquei sentada no salão do julgamento conversando com Anúbis. No começo ele estava meio sério e frio. Parecia que não queria que eu visse o seu lado vulnerável. Tentei imaginar como devia ser difícil para um deus se sentir assim. Confuso e impotente. Não deve ser muito comum para eles sentir esse tipo de coisa. Agora que eu o entendia melhor, era muito mais fácil ser paciente e tentar ajudá-lo. E pode-se dizer que eu tinha experiência no assunto. Me senti completamente perdida e incapaz quando soube que seria eu que teria que fazer o feitiço para aprisionar Apófis e salvar o mundo só apocalipse.

Depois de alguns minutos e boas frases de incentivo da minha parte, o deus da morte começou a se abrir. Ele contou que tudo havia começado naquele dia em que ficamos juntos no meu quarto e quase acabamos indo para os “finalmentes”. Só não fomos, aliás, porque eu não me senti pronta. Aproveitei que ele havia tocado no assunto para pedir desculpas pela minha atitude. Eu realmente tinha sido infantil e imatura. Em vez de conversar com ele, dizer que não estava pronta para fazer aquilo, eu simplesmente me afastei e fiquei me esquivando das investidas dele. Isso deve ter deixado o pobre deus ainda mais confuso. Ele admitiu que não entendeu muito bem minha atitude naquele momento e interpretou tudo errado. Achou que eu havia me assustado e que eu não queria mais que ele chegasse perto de mim. Me senti péssima ao ouvir aquilo. Agi como uma tonta e ainda tornei tudo mais difícil para ele que já estava tendo problemas em lidar com suas próprias vontades e emoções.

Anúbis, muito amável como sempre, disse que a culpa não tinha sido minha. Que ele achou que devia seguir em frente e satisfazer aquele desejo que sentiu quando estávamos juntos na cama. Não pensou em parar e ver se eu queria o mesmo. Não pensou que estava indo rápido demais. E nem tinha como pensar, afinal aquilo tudo era mais novo para ele, do que era pra mim. Dai então, depois que eu surtei e não deixei mais ele se aproximar, a cabeça do deus ficou uma bagunça. Não é de se estranhar que ele tenha achado que eu tinha ficado com medo dele ou algo do tipo. Foi muito bom poder falar sobre isso e esclarecer as coisas enfim. Disse a ele que por mais que eu também sentisse vontade de ter relações com ele, eu não pude continuar. Era difícil tentar explicar algo a ele que nem mesmo eu entendia direito. Mas fiz o possível para deixar claro que ele não havia feito nada de errado e que esse era um passo importante que eu não poderia dar sem estar completamente certa de que estava pronta. Ele pareceu entender e ficar tão aliviado quanto eu.

Depois ele falou que tinha decidido não tentar mais nada comigo. Por que não queria correr o risco de me “assustar” de novo e fazer eu me afastar ainda mais. Então ele passou a adotar aquele comportamento tão frio e distante que eu achei tão estranho. Falei para ele que eu tinha reparado sua mudança de atitude e que estava prestes a falar com ele a respeito, quando Carter chegou e deixou Gus aos meus cuidados. Isso acabou atrapalhando tudo. Tive que ficar de babá do novato enquanto Anúbis resolvia uns problemas no Reino dos mortos. Ele confessou que desde aquele momento não havia ido muito com a cara de Augustus e que relutara um pouco em me deixar sozinha com ele. Mas achou melhor sair, já que ficar perto de mim não estava nos seus planos mesmo. Na verdade ele disse que não tinha nada demais para resolver por ali, só achou melhor se afastar um pouco. Mas, mesmo que tentasse relaxar, Anúbis não conseguiu. Ficou pensando em mim todo o momento, imaginando o que eu estaria fazendo. Ele ainda não sabia mas estava começando a ser contaminado pelo bichinho do ciúmes.

Foi nesse dia que ele conversou com Osíris e meio que desabafou com ele. Anúbis disse que meu pai tentou ajudá-lo, mas que ele ainda estava muito perdido com tudo o que estava sentindo. Havia aquela necessidade de se manter afastado de mim, de continuar com seu plano e não me causar nenhum dano. Ao mesmo tempo ele estava angustiado por saber que eu estava na companhia de outro garoto, um garoto bonito que ele não sabia ainda quais eram as intenções, mas que já não confiava nenhum pouco. Ele acabou não resistindo a pressão e voltou para a Casa do Brooklyn. E foi ai que tudo desandou de vez. Assim que chegou ele pegou Gus e eu naquela situação comprometedora. Eu tinha tentado me explicar, mas o deus da morte foi tomado pela raiva e logo começamos a discutir. Ele me contou que na hora não conseguiu pensar no que estava fazendo. Não cogitou esperar e perguntar o que estava havendo, também não imaginou que sua atitude estava colocando em dúvida a confiança que ele tinha em mim. Aquele também era um sentimento novo para Anúbis e então ele deixou que o dominasse. No final tanto eu como ele saímos prejudicados.

O deus dos funerais continuou falando sobre como havia tentado parar um momento e refletir sobre tudo aquilo. Mas só o que ele conseguiu foi aumentar sua raiva e seu desejo de vingança. Ele queria acabar com seu oponente, no caso Augustus. Queria eliminar o que o estava impedindo de ficar comigo. Eu tive que interromper o desabafo dele para dizer o quanto aquilo era absurdo. Que Gus jamais havia sido uma barreira entre nós. Que se havia algo que estava nos impedindo de ficar juntos era ele mesmo. Anúbis concordou, mas disse que naquele momento, toda sua lógica fazia sentido para ele. E como estava disposto a fazer qualquer coisa para ficar comigo, ele achou que lutar com o mago seria o mais sensato a se fazer. Aquilo resolveria todos os problemas para ele. Não esperava que eu fosse me opor, muito menos que fosse impedir que ele levasse aquela ideia adiante. Foi então que ele explodiu e falou todas aquelas coisas. Como se eu não fosse digna de seu amor. Como se estivesse fazendo pouco de sua determinação em “ganhar” o meu amor em uma batalha.

Depois daquilo tudo Anúbis disse que voltou para o salão do julgamento e Osíris o colocou contra a parede para que contasse o que estava havendo. Na verdade o deus do mundo inferior já sabia o que estava havendo, mas queria ajudar o “genro”. Naquela hora ele disse que ainda estava achando que tinha razão, não sabia que só estava vivenciando mais uma das muitas emoções humanas. A negação. Sabia que tinha estragado tudo mas não queria admitir para si mesmo. Quando a fase de aceitação começou, Anúbis disse que caiu em uma depressão profunda. Nada em sua cabeça fazia mais sentido. Só o que ele sabia era que nunca mais ficaríamos juntos e que era tudo culpa sua. E além de se culpar, ele se convenceu de que não ia demorar para que eu ficasse com Gus, e que por mais que isso lhe doesse, seria melhor assim. Ele não se achava um namorado confiável para mim, achava que poderia me machucar, me assustar como havia feito antes, e até me ferir caso deixasse aqueles sentimentos tomarem conta dele. Concluindo, ele estava destroçado com tudo o que havia acontecido e convencido de que nunca mais íamos nos ver.

De fato o deus da morte era uma caixinha de surpresas quando se tratava de tentar viver como um humano. Mas mesmo depois de ouvir toda a história dele eu não pensei em deixá-lo para trás. Nem cogitei a hipótese de não tentar ajudá-lo. Primeiro, porque eu sentia muito responsável por aquilo. Todas aquelas coisas giravam em torno do que ele sentia por mim. Segundo, porque eu tenho mesmo esse espírito solidário de heroína, que faz com que eu queira socorrer e auxiliar toda e qualquer pessoa que esteja em perigo e/ou em uma situação complicada. Terceiro, porque eu o amava, mais do que eu poderia imaginar que conseguia. Mas ele não precisava ficar sabendo daquilo. Pelo menos não por enquanto. Só iria atrapalhar em sua recuperação. E minha missão naquele momento era juntar os pedaços de Anúbis. Fazer ele se recompor e ensiná-lo a lidar com todas e cada uma de suas emoções humanas.

***

Chegamos na Casa do Brooklyn já no dia seguinte. Os nossos aprendizes estavam preocupados conosco e pareceram aliviados com nosso retorno. Me sentia uma espécie de celebridade quando isso acontecia. Eles tinham tanta admiração por Carter e eu que chegava a ser incômodo as vezes. Era responsabilidade demais ser o ponto de referência daqueles jovens, alguns deles da minha idade e uns até mais velhos do que eu. Sentia que os decepcionaria se cometesse qualquer falha. Mas ao mesmo tempo a preocupação deles era verdadeira, pois éramos como uma grande família, cuidando sempre uns dos outros. Sorri, acenei e despenteei os cabelos de alguns deles antes de me retirar do salão e levar Anúbis comigo até o seu quarto. Chegando lá, ele abriu a porta e parou na soleira antes de entrar. Ficamos parados, em silêncio, sem saber se devíamos fazer ou dizer alguma coisa.

– Obrigado – disse ele parecendo um pouco envergonhado. Fiquei satisfeita por ele estar em sua forma humana agora para eu poder ver o quanto ficava encantador com o rosto corado – Qualquer outra pessoa teria desistido de mim há muito tempo...

– Que isso, não tem que agradecer por nada – disse sem conseguir evitar um sorriso bobo – Tenho certeza que muita garotas fariam o mesmo que eu. Quer dizer, olha só pra você...

– Um rosto bonito pode conseguir muita coisa, sim, acho que já estou aprendendo isso – confessou ele – Mas tenho um palpite de que o que fez por mim tem a ver com algo além da minha aparência... Estou errado?

– É... não. Quer dizer, sim claro que sim! - respondi me enrolando toda.

– Me desculpe, Sadie, sei que estou forçando a barra – interrompeu ele vendo que eu não sabia o que dizer – Não precisa me responder nada. Sei que o fato de eu ter voltado pra cá não quer dizer que vamos voltar a ficar juntos. Pelo menos não assim logo de cara. Provavelmente levarei um tempo para compensar tudo o que eu fiz. Mas me permita dizer que quando aceitei vir para cá, quando aceitei a sua ajuda, foi pensando em te ter de volta. É por isso, principalmente, que estou aqui. E acho que é bom você já saber que não vou medir esforços pra ganhar você de volta. E dessa vez sem nenhum duelo, prometo! - completou ele dando um meio sorriso. Eu fiquei sem palavras. Na verdade fiquei totalmente sem ar – Então, boa noite – ele se inclinou para mim e me deu um beijo na bochecha – até amanhã.

E após dizer aquilo ele entrou no quarto e fechou a porta. Só então pude voltar a respirar normalmente. Céus, como ele conseguia fazer aquilo. Eu estava totalmente perdida. Não conseguiria resistir aos encantos de Anúbis nem por um dia. Ainda assim eu sabia que precisava fazer isso. Pelo bem dele. Com certeza não pelo meu. Jamais pelo meu. Se eu fosse pensar no meu próprio bem apenas, teria aberto aquela porta e me jogado em seus braços imediatamente. Mas não, eu não podia ceder à tentação. Não podia simplesmente pensar só em satisfazer minhas vontades e correr o risco dele ficar complexado para sempre e nunca aprender a ter uma vida mortal normal. O melhor para ele era ficar tranquilo, sereno, desimpedido. Sem problemas, sem namoro e sem complicações. Livre para refletir e se recuperar. Eu ainda não sabia como faria. Tomaria um antídoto para conter minha atração por ele se precisasse. Mas ficaria longe de Anúbis de qualquer jeito.

***

No dia seguinte, a primeira coisa que fiz depois que levantei foi reunir um grupo de 6 magos muito estudiosos e levá-los a biblioteca junto com Anúbis. Essa foi, em parte uma ideia genial que eu tinha tudo para conseguir ajudar Anúbis, em outra parte uma forma de me manter focada e não me aproximar muito dele. Certo, talvez essa última parte não fosse a solução mais brilhante do mundo, mas era o que eu tinha no momento. Com tantas pessoas trabalhando conosco, não daria para acontecer nada que não devia acontecer entre nós dois. Orientei a todos eles que deviam procurar nos livros histórias de deuses que tiveram problemas em viver no mundo mortal. Não contei o porquê daquela pesquisa tão sem sentido, é claro. Disse a eles apenas que era parte do seu processo de aprendizagem para se tornar um bom mago. O que não era exatamente uma mentira, já que pesquisas na biblioteca estavam mesmo no nosso cronograma de ensino. Saber encontrar uma informação importante de forma rápida e eficiente pode salvar a vida de um mago.

Todos eles acharam histórias muito boas, e eu tive que dar os parabéns pelo empenho no trabalho. Mas foi um dos veteranos mais aplicados nas aulas teóricas que nos trouxe a resposta perfeita para o que procurávamos. Em um livro bem antigo de capa dura vermelha, com cerca de cinco centímetros de espessura, estava a história de Jarimes. Deus da comunicação e da fala, Jarimes teve uma trajetória muito difícil durante o domínio da cultura egípcia. Ele era responsável por fazer o intercâmbio de informações entre os deuses e os mortais. O trabalho dele não era nada fácil, pois por muitas vezes não conseguia entender as razões e justificativas humanas para seus pedidos. Ao mesmo tempo não conseguia transmitir isso de forma satisfatória aos deuses. Por anos isso causou grandes problemas e até mesmo tragédias no Egito antigo. Mas, segundo constava no livro, Jamires assumiu a forma humana e foi viver uma temporada entre os humanos para tentar compreender sua natureza. Compreender como pensavam.

A conclusão da história era um pouco incerta, pois dizia que depois disso Jamires jamais voltou ao mundo dos deuses. E segundo dizem, ele passou a viver entre os mortais definitivamente e nunca mais quis voltar a ser um deus de novo. Alguns acreditam que ele tenha absorvido tanto a humanidade, que teria morrido como um ser mortal, há muitos anos atrás. A maioria, no entanto, apoia a teoria de que Jarimes continua vivo, vivendo entre os humanos, em alguma parte da Europa.

Era isso, nós tínhamos que ir atrás de Jamires. Se ele encontrou uma forma de entender os humanos e inclusive de viver entre eles sem nenhum problema, então podia ensinar tudo isso a Anúbis. Marquei a página do livro, dispensei os magos que nos ajudaram e fui procurar Carter. Meu irmão era cúmplice daquela minha missão, afinal ele tinha ido até o Reino dos mortos resgatar o deus da morte comigo. Expliquei para ele que precisava ir atrás daquele tal de Jarimes, e que iria pedir a ajuda do nosso Tio Amós para descobrir o paradeiro dele. Carter quis ir junto, mas dessa vez eu o convenci de que seria melhor ficar. A Casa não podia ficar sozinha de novo e eu estaria mais do que bem protegida tendo Anúbis comigo.

Tio Amós estava em seu escritório quando fui procurá-lo. Ele passava a maior parte do tempo lá ou então ele saia para visitar outros nomos em Nova York e em outro estados do país. Ele era meio que o responsável pela atividade dos magos em toda a América, principalmente América do norte. Ele nos recebeu e ouviu atentamente o meu pedido de ajuda. Ele pensou por um momento e depois me contou o que sabia sobre a “lenda” do deus Jamires. Segundo o mago, os últimos boatos que havia escutado era de que ele estava em Madrid. Mas a informação não era 100% segura. Ainda assim, meu tio entendeu a urgência da situação e não nos desencorajou de ir procurá-lo. Ele até nos aconselhou a começar procurando nos símbolos da cultura egípcia na cidade. Obeliscos, pirâmides e etc. Agradeci muito a ajuda dele, com direito até a abraço. E olha que não abraço as pessoas assim por qualquer coisa. Mas eu estava mesmo muito agradecida.

Da Casa do Brooklyn eu criei um portal por onde passamos e chegamos até o Obelisco de Madrid. Nos separamos para procurar nas redondezas algum sinal do deus. Fiquei um pouco receosa de me separar de Anúbis, afinal ele ainda estava um pouco abalado. Mas parecia bem o suficiente para fazer aquilo, por isso eu o deixei ir. Meia hora depois voltamos a nos encontrar no mesmo ponto. Os dois sem nenhuma boa novidade. Não tínhamos visto nem sinal de Jamires. Já estava achando que tínhamos vindo atrás de uma pista falsa quando ouvi um som diferente. Reconheci na mesma hora o idioma egípcio naquelas palavras. Estava baixo e não conseguia entender o que dizia. Mas definitivamente era o dialeto egípcio.

Puxei Anúbis e comecei a andar na direção do som. Ele vinha de uma pequena capela, em uma travessa da avenida principal do centro. Entramos no prédio que era tão velho que as paredes pareciam que iam cair a qualquer momento sobre nossas cabeças. O local estava vazio. Mas eu continuava ouvindo o cantarolar agora bem mais alto e nítido. No entanto, ainda não conseguia entender o que dizia. Ao lado do altar havia uma passagem secreta, quase oculta. Ela passaria despercebida por qualquer pessoa comum. Mas ser uma Kane afinal tinha suas vantagens. Eu havia virado expert em encontrar passagens secretas. Sinalizei para o deus da morte fazer silêncio enquanto ia em direção a ela. Ao entrar me vi em um corredor escuro, parecido com aquele do Duat. Mas logo a frente eu já podia ver um cômodo mais iluminado. Em menos de um minuto eu estava pondo meus olhos numa figura um tanto quanto peculiar.

Aparentemente era um homem comum de meia idade. Sujo e descuidado como um mendigo. Enquanto entoava aquela estranha canção ele segurava e acariciava uma boneca de pano. Ao nos ver ele parou de cantar e enrugou a testa. Fiquei parada esperando que dissesse alguma coisa. Que nos atacasse, ou nos expulsasse, ou que desse qualquer sinal de que sabia o que estava acontecendo. No entanto o senhor nada fez, então eu tive que começar aquela agradável conversa.

– Bom dia, senhor. Você é Jamires? - perguntei.

– Quem quer saber?

– Sou Sadie Kane, e esse é Anúbis, deus da morte e dos funerais – apontei para o deus em forma de garoto ao meu lado que deu um breve aceno com a mão.

– Kane, hã? - murmurou ele, parecendo não gostar muito de como aquele nome soava – Fala-se muito sobre você ultimamente. E Anúbis, o que faz por aqui? Desde quando adotou essa aparência? Achei que seria um dos poucos afortunados que jamais teriam que por os pés no mundo humano...

– Afortunados? - perguntei sem entender - O que quer dizer com isso?

– Nada – desdenhou ele como se não quisesse dirigir a palavra a mim – Bem, sim, sou Jamires. Agora posso saber o que vieram fazer aqui?

– Viemos procurá-lo porque achamos que poderia nos ajudar – disse Anúbis tomando a frente, percebendo que Jamires não estava à vontade com a minha presença, muito menos em falar comigo – Eu estou tendo alguns problemas em me adaptar a vida humana. Estou tendo dificuldades em lidar com as emoções humanas e isso está acabando comigo. E ficamos sabendo da sua história. Da sua grande experiência em conviver com os mortais e entendê-los. Então achamos que você poderia me ajudar. Me mostrar como...

Anúbis parou de falar porque Jarimes começou a gargalhar incessantemente. Seu riso era no mínimo apavorante. Agudo e estridente. Troquei olhares com Anúbis, que parecia estar entendendo menos da situação do que eu.

– Qual é a graça?

– Ai, espere um pouco – pediu o deus segurando a barriga e tentando controlar o ataque de risos – Me perdoem meus jovens, é que faz muito tempo que não ouço algo tão engraçado – ele voltava a respirar normalmente, mas o sorriso irônico não saia de seus lábios – Sinto lhe dizer, caro deus da morte, que estás fadado ao fracasso.

– O que?! - perguntamos Anúbis e eu ao mesmo tempo.

– Sim – confirmou Jarimes – Não estão vendo o que está diante de seus olhos? Acham que estou nessa situação porque quero? Sou o exemplo perfeito do que acontece com um deus que tenta viver como humano. Desastre, miséria, loucura – ele voltou a dar uma risadinha insana – Não é possível entender os mortais. Tentei me tornar um deles, viver como eles, mas olha onde vim parar. As ações humanas e seus sentimentos não fazem sentido algum. As intenções não combinam com os fatos. As pessoas se enganam, mentem, destroem uma à outra enquanto juram amor eterno. Não dá para entender a natureza humana. Nem mesmo por uma jovem tão bela... - ele olhava para mim com uma expressar perturbada, me causando calafrios.

– Já chega – exclamei, segurando a mão de Anúbis e puxando-o comigo – Não vou ficar aqui ouvindo as barbaridades desse maluco!

Sai da capela levando Anúbis comigo. Ele não ofereceu resistência. Parecia estar em estado de choque ou algo do tipo, porque não tinha dito nada desde que o tal Jarimes começara falar aquele monte de abobrinhas. Levei o deus da morte para longe dali. Eu ainda estava no estado de negação. Mas logo aceitaria que em vez de ajudar Anúbis eu havia colocado tudo a perder...


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Notas finais do capítulo

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