Qual é a cor do amor? escrita por hollandttinson


Capítulo 6
Lawrence.




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Fiquei observando aqueles dois, com aquela sensação de dever cumprido no peito, apesar de aquilo ser exatamente o oposto do meu dever. A morte também comete erros, mas de alguns eu me orgulho mais do que outros.

O cheiro de Liesel era maravilhoso, foi o que Rudy pensou. Com certeza o fim da guerra tinha trazido coisas boas para todo mundo, apesar de o país estar cheio de dividas e tudo mais, ainda era ótimo viver ali, com tanto que Liesel estivesse por perto e olhe só! Lá estava ela!

Como ele parece forte, Liesel pensou. Suas mãos estavam nas costas de Rudy e ela podia sentir o corpo dele, como se pudesse sentir cada centímetro dos músculos das costas dele, e nunca esteve tão feliz na vida.

– Você está aqui, está aqui de verdade.- Ele dizia mais para si mesmo do que para ela, e Liesel sabia disso, então apenas deu uma risadinha que parecia tímida, mas era muito feliz. Ela não tinha forças para começar á chorar agora, apesar de a sua vontade ser imensa. Ela não perderia seu tempo com Rudy chorando.

– E você está vivo!- Ela disse, respirando fundo, aliviada.

Então ela tinha chorado tudo aquilo, vivido todos aqueles anos sofrendo e achando que Rudy estava morto, para finalmente abraçá-lo assim. Aquilo não podia ser medido em palavras, era uma emoção sem tamanho.

Talvez você já tenha passado por mim uma ou duas vezes, talvez eu até já tenha tocado a sua face, mas por ironia do destino ou qualquer outra coisa que conspire á favor de alguns humanos, eu não o tenha carregado.

Mas eu tenho certeza de que alguma vez você já perdeu alguém que amava, alguém com quem não se imaginava vivendo sem. Mas você tem que viver porque esse é o mundo e ele não é legal. De qualquer forma, Liesel nunca se acostumou com a idéia de viver sem a esperança de um dia encontrar Rudy –apesar de ela ter começado á achar que se morresse naquele dia, encontraria Rudy e Max no céu, ou em qualquer lugar que uma pessoa que tenha sofrido tudo o que ela, Rudy e Max sofreram, mereça ficar. Todos nós preferimos acreditar que é o paraíso- porque ela tinha prometido aquilo á ele. No final, ela acabou aceitando que não tinha se acostumado porque não era a hora, porque ela ainda tinha muito o que viver e ainda tinha muito o que ver de Rudy Steiner.

Quando se afastaram, Liesel percebeu que Rudy segurava um livrinho preto nas mãos, ele não ficou tímido ao perceber o olhar fixo da garota em sua autobiografia, na verdade, ficou orgulhoso de si mesmo. Sabia que algum dia, ter ficado com aquele livro para cima e para baixo ia adiantar de alguma coisa.

– Você leu?- Foi a única coisa que ela conseguiu perguntar quando finalmente encontrou a voz. Várias lembranças se passaram pela cabeça de Liesel quando viu aquele livro, e olha que ela nem o tinha folheado ainda.

– Cara palavra, sou capaz de jurar que poderia falar ele para você sem consulta, de trás para frente. Como você fez naquele dia, na escola, falando sobre aquela coisa louca de enterrar mortos. Eu entendi melhor quando li isso.- Rudy levou o livro á perto da orelha esquerda e o balançou levemente, abrindo um sorriso que meu Deus, Liesel poderia olhar para ele todos os dias da sua vida e tinha certeza que nunca se cansaria.

– Não faça isso, por favor.- Ela disse, colocando a mão no rosto. Rudy pensou que ela estivesse falando sobre ler o livro em voz alta sem consulta, mas na verdade ela se referia á aquele sorriso que a estava deixando de pernas bambas. Se sentou naquela cama surrada e Rudy se sentou ao lado dela.

– Sentiu falta?

– Do livro?

– De mim.- Ele revirou os olhos e foi a vez dela de sorrir.

– É claro que eu senti falta de você, Saukerl.- Ela disse, dando um soco leve no ombro dele. O quanto eles tinham sentido falta disso?- E o que achou do livro?- Ele deu de ombros.

– Nunca entendi porque você nunca me contou sobre o Max, apesar de tê-lo feito depois...

– E você sabe até onde isso nos levou.- Ela disse, fazendo Rudy se encolher um pouco, foi pouco mesmo, acho que apenas eu percebi, ela não parecia incomodada mas eu sim.

– De qualquer forma, fico feliz que tenha feito e que tenha ido para Berlim aquela noite. Se não fosse por aquilo, nenhum de nós estaríamos vivos agora e de que adiantaria todo o esforço?- Perguntou Rudy, olhando para a cara preta com cuidado.

– Nunca pensei nas coisas dessa forma.- Ela não estava mesmo interessada em falar sobre isso, mas não queria deixar que o assunto morresse. Queria que Rudy continuasse falando, que falasse a noite inteira se quisesse, ela não se importava!

– Penso nisso todas as noites.- Ele meio que sussurrou isso, mas dessa vez eu tive certeza de que Liesel era tão capaz de compreender quanto eu. Ela colocou um dos seus braços magros sobre os ombros de Rudy, o que é bem estranho. Ele tremeu e se arrepiou por debaixo das roupas.

– Eu sinto muito por sua família, eu juro.- Ela disse. Ele deu de ombros.

– Eu tenho o papai ainda, e tenho essa casa, e tenho esse livro, e tenho você e tenho o...- Então ele se lembrou de que tinha uma hospede para mostrar á Liesel. Ele sorriu abertamente e eu o acompanhei no embalo. Finalmente o meu momento esperado.

Posso dizer que fiquei um pouco decepcionada com a forma que Liesel agiu, ou a forma como Max agiu ou a forma que Rudy escolheu para dar aquela noticia á Liesel. De qualquer forma, tentarei relatar esse momento histórico e levemente emocionante de forma que deixe você pensar que eu sou uma ótima narradora. E eu realmente sou, apesar de todo o espectro.

– Tem o?- Liesel o incentivou, erguendo a sobrancelha. Rudy simplesmente a puxou pelo braço, sabia que Max devia estar pela cidade em algum lugar, provavelmente voltando para casa, a julgar pela hora.

– Meu Deus, onde vão com tanta pressa? Parece que já mataram a saudade e decidiram nos matar de susto. Liesel, arrume esse cabelo!- Liesel parou e passou as mãos no cabelo. Rudy olhou para ela, mas não achou defeito nenhum no cabelo da garota.

– Nós vamos procurar aquele cara, papai.- Disse Rudy, piscando para Alex que sorriu abertamente e acenou com a cabeça, se virando para a vassoura, estava varrendo a cozinha enquanto Rosa tentava cozinha a sopa de carne. Parecia ótima pelo cheiro, tanto que Hans a elogiou entre uma pausa e outra do acordeão.

Sim, ele ainda tocava.

Quando finalmente chegaram ao lugar que Rudy queria, que era um banco de pracinha, apesar de não existir praça em lugar nenhum nas redondezas, eles se sentaram e Rudy parecia ansioso e imensamente feliz ao mesmo tempo.

– Rudy, quem você quer que eu conheça?

– Não é realmente conhecer, você já o conhece.- Ele disse, sorrindo para ela.

Na mente dele, ela já devia ter sacado tudo, na minha também, inclusive. Mas ela não entendeu nada e só conseguia olhar para ele com a maior cara de idiota do mundo. Seria engraçado se não fosse tão irritante esperar por um Max que parecia nunca vir. Será que seria sempre assim? Esperar, esperar, esperar, esperar e no final acabar levando um soco de Max Vandenburg? Disso eu tirei apenas uma lição: Nunca duvide de um lutador judeu.

Apesar de estar mais forte do que Liesel se lembrava e de estar com a barba mal feita, mas incrivelmente impecável, por incrível que pareça, e ter os cabelos penteados e sedosos como se fosse feitos em um salão de beleza de madame, Liesel reconheceu Max assim que o viu. Ele estava do outro lado da rua, segurava uma maleta e parecia procurar algum em um jornal surrado, ele o tinha levado para todos os lados o dia todo e o mesmo já tinha levado muita umidade e tudo mais. Ele não olhou para cima, então não dava para ver Rudy e Liesel no banco onde ele passaria alguns minutos mais tarde.

– É...?- Ela não conseguiu terminar, a frase morreu. Rudy deu um sorriso animado e ao mesmo tempo nervoso, felizmente nervoso.

– Sim, é o Max. Ele chegou aqui ontem, lhe demos hospedagem e ele também está lá em casa. Apesar de não ter gostado nada de ficar em um quarto, ele é tão orgulhoso quanto você detalhou no livro. Não o deixei tocar no livro, me desculpe por isso.- Rudy falava, mas sabia que ela não estava prestando atenção e não se importou nem um pouco. Ele estava muito feliz pela garota.

Então Max levantou os olhos do jornal e parou. Ele estava á poucos metros de Liesel e Rudy, mas ele parecia tão distante quanto qualquer um. Seus olhos divagavam, apesar de estarem focados apenas em um ponto: Liesel. Talvez ele estivesse pensando no quanto ela tinha crescido e no quanto ela estava bonita e no quanto estava feliz, e pensar várias coisas ao mesmo tempo nunca é muito bom, principalmente quando são coisas boas, alegria demais também mata. Tudo demais também mata. Tive medo de estar perto o suficiente.

Foi Rudy quem se mexeu primeiro, ele se levantou do banco e colocou as mãos dentro dos bolsos das calças e pigarreou.

– Max, eu acho que você já conhece a minha amiga Liesel Meminger.- Rudy apontou para a loira que levantou-se na mesma hora. Apesar de parecer ridículo para quem olha de fora, eu acho que aquela foi a melhor atitude que Rudy podia ter tido nas atuais situações, eu não teria feito melhor.

– Eu acho que não, conheci uma Liesel á um tempo, mas ela era apenas uma criancinha magrela brincando de roubar livros com o melhor amigo.- Max brincou, talvez ele estivesse tentando aliviar a tensão do momento, funcionou um pouco. Liesel abriu um sorriso e ergueu a mão para o amigo.

– Max? Disse que seu nome é Max? Isso é muito estranho, já que eu também conheci um Max á um tempo, mas ele era magrelo, usava cabelos que pareciam gravetos e brincava de se esconder em porões.- Ela brincou. Foi Rudy quem riu.

Não sei em que instante aconteceu, como aconteceu, mas de repente eu estava distante daquele lugar. Eu estava andando contra a minha vontade por uma rua fria. Eu sabia que ainda estava na Alemanha porque as ruas pareciam iguais á rua Himmel, ou pelo menos ao que ela é agora.

Quis gritar, berrar e reclamar, dizer que queria ver Liesel e Max se abraçando e saber o que ia acontecer, mas eu não posso fazer isso. Como eu sempre digo: Não é um trabalho fácil o que eu faço.

De qualquer forma, aqui estou eu e não estou só.

Eu vi um garoto, na verdade, ele devia ter a mesma idade de Rudy, alguns meses á mais talvez. Ele segurava uma faca e ela estava ensangüentada, não o garoto não estava morto, pelo contrario, parecia bem vivo com aqueles olhos ardendo em fúria. Então eu olhei para o chão de pedra e vi a garota. Ela devia ter sido linda em algum momento da sua vida, mas não agora. Não com o sangue jorrando por vários pontos do seu corpo, não com as suas roupas jogadas num canto sem dó nem piedade, não com o rosto molhado com o sal das lagrimas humanas. Quem eram eles? Vou dar o quadro exato para você, não imagino que ache essa história interessante no começo, mas com certeza você vai precisar saber quem eles são no fim, é sempre assim.

A garota se chamava Miranda Leminski. Tinha apenas 15 anos e era garota de programa. Uma coisa que a estava dando muito dinheiro desde o momento em que saiu da casa dos pais. Para falar a verdade, ela gostava do que fazia a maior parte do tempo. Não se sentia nojenta ou podre, pelo contrario, se sentia amada. Devia ser louca, só pode.

De qualquer forma, ela era jovem e estava sendo encarada pelo homem mais lindo que ela já tinha visto na vida. Alto, forte, jovem, olhos verdes, cabelos loiros não-platinados. Ele era perfeito! E ele a estava olhando de uma forma que a fazia pensar besteiras. Ele também pensava besteiras naquela noite, mas eram de formas diferentes. Ele queria matar o vicio. Você já deve saber qual o seu vicio.

Não, ele não é nenhum maníaco sexual ou coisa do tipo, apesar de gostar de estar com mulheres que o acham o máximo. O seu vício era a faca, era ver o sangue correr pelo corpo inerte, é vê-las gritando de dor e ver a alma saindo de seu corpo. Eu nunca o tinha observado antes até aquele momento, porque eu estava irritada por ele estar cometendo crimes exatamente na hora em que eu devia estar assistindo ao reencontro de Liesel e Max, eu sou estranhamente egoísta. Mas o observei agora.

Enfim, ele esperou até que não tivesse ninguém por perto e se aproximou da garota, ela já estava esperando pela abordagem e não achou nada estranho quando ele a chamou até um beco que tinha próximo dali. Ela achou aquilo muito bom, alucinante, foi essa a palavra que ela usou. Era nova demais para ver o perigo em seus belos olhos verdes, tola demais para se preocupar com aquele tipo de coisa. Ou talvez ela só pensasse que não tinha nada a perder, sua vida já não estava acabada? Não era isso que diziam todos?

Ela também não ficou assustada quando ele quis tomar o pode da situação, isso também era normal, principalmente quando os homens eram assim, cheios de atitude como aquele garoto. E ela gostava daquilo! Como eu disse, era tudo alucinante para ela.

As coisas começaram a ficar estranhas quando a coisa acabou e ele tirou a faca de dentro da mochila. Afinal, de onde aquela mochila tinha saído? Ela não se perguntou aquilo porque estava urrando de dor. Será que ninguém ouvia? Ninguém ouviu os gritos da garota? Não, ninguém. E ela estava morta agora e apenas eu e o assassino tínhamos presenciados as suas ultimas palavras, que foram “filho da puta”. Ele riu, é claro.

A alma dela não era memorável ou coisa do tipo, mas precisei contar a historia dela para que você conhecesse o perfil daquele assassino. Não sei qual era o problema dele, mas ele tinha fetiche por garotas de programa, era sempre assim: Ele as via, as achava bonita, levava-as á um beco onde sabia que ninguém escutaria seus gritos e por fim, as matava. Sempre a mesma faca, sempre da mesma forma.

Aquele era Evan Lawrence. Não vou pedir para que lembre-se desse nome, já que tenho certeza de que nunca mais o esquecerá no decorrer dessa história, na verdade, única coisa que você vai querer fervorosamente é esquecê-lo. Sinto muito acabar com a sua esperança, mas não será o caso.

Perdão.

(...)


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Notas finais do capítulo

Capítulo grande guardando um monte de coisas para a fic, vai ter um monte de reviravoltas, váááárias coisas legais pra vocês, espero que vocês curtam as novidades!