Qual é a cor do amor? escrita por hollandttinson


Capítulo 5
She's back.


Notas iniciais do capítulo

Sinto que serei assassinada...



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Uma história. Uma história depois da história. Uma história dentro da história.

(...)

Aqui está ela. Uma dentre um punhado. É uma dentre a pequena legião que carrego em meu peito, extraordinária por si só. Uma tentativa, talvez seja essa uma ótima classificação para Liesel Meminger. Uma tentativa de me provar que você e a sua existência humana valem a pena.

Talvez eu soubesse, na primeira vez em que a vi, que Liesel Meminger me faria perguntar sobre o meu real trabalho na terra. Talvez eu não devesse cuidar dos mortos, como todos imaginam. Meu trabalho era cuidar dos vivos, eles me davam bem mais trabalho do que os mortos e me faziam questionar a existência de tudo o que eu sempre acreditei. Não me arrependo de ter ficado ao lado de Liesel quando seu irmão morreu e não me arrependo de ter levado Trudy, tudo isso me levou á Liesel.

Uma oportunidade conduz diretamente a outra, assim como o risco leva a mais risco, a vida, a mais vida, e a morte, a mais morte.

Mas como eu já disse, nem sempre eu estou por perto para levar alguém embora, ás vezes estou apenas á espreita, observando.

Alex abraçou a garota, com um sorriso nos lábios e lágrimas alegres brincando na ponta dos olhos. Ele estava emocionado, estava feliz por finalmente tê-la ali. Afinal, agora Rudy voltaria á viver, não voltaria?

Após fazer varias perguntas que incluíam Hans e Rosa, Alex viu a garota chorar. Ela limpava os olhos e tentava não olhar para ele. O problema é que ela não entendia como ele pôde seguir em frente tão rápido, com tanta facilidade. Toda a sua família tinha morrido e mesmo assim ele estava ali, sorrindo e sendo gentil com ela. Não era isso que ela esperava. Mas ninguém contou á Liesel que ainda tinha alguém que mantinha o coração de Alex batendo, a mesma pessoa que fazia Liesel chorar. Eu não era a única que tinha meu coração partido por Rudy, afinal.

– Algum problema, minha jovem?- Alex colocou a mão no ombro de Liesel, que balançou a cabeça.

– Como você consegue? Depois de tudo o que aconteceu, como consegue se manter firme, de pé, continuar vivendo, sorrindo e sendo gentil?- Ela ainda não olhava para ele e não viu o seu sorriso triste. Ele mesmo não sabia como conseguia.

– Alguém precisava fazer ele acordar todos os dias, lhe dar forças para levantar da cama, viver.- Ela levantou os olhos inchados para ele. Estava com um sorriso um pouco mais composto.

– O quê?- Ela limpou o rosto, esperando a resposta.

Pensei que ela fosse desmaiar ou algo do tipo. Ela ficou mais pálida do que o normal, até seus lábios que antes estavam vermelhos, agora eram brancos. A única coisa vermelha em seu corpo eram os olhos, algo que me fizesse acreditar que na verdade ela estava viva.

Lenta e gradativamente, um sorriso foi crescendo e aumentando no rosto de Liesel enquanto Alex explicava como Rudy tinha se salvado. Ela o tinha salvado com aquele livro. Disse que Rudy nunca largava dele, que chegava á ser engraçada a forma possessiva com que ele lidava com o objeto, como se fosse algo precioso. E na verdade era, mas Alex nunca o tinha lido e não tinha a menor idéia do que tinha escrito nele.

A questão é que o assunto do livro não tinha importância. O mais importante era o que ele significava.

– Onde ele está?- Depois de recuperar a voz e a animação. Na verdade, ela estava apenas fingindo. Por dentro, algo estava explodindo de alegria.

Alex limpou a garganta. Será que ela gostaria de saber de Max? É claro que ela gostaria, mas não seria melhor que fosse surpresa? Ele balançou a cabeça. Liesel teria a sua surpresa.

– Nós recebemos a visita de um amigo essa semana e ele deve estar passeando com ele.- Disse Alex. Liesel concordou com a cabeça, olhando para trás. Ela esperava ouvir o sininho que anunciaria Rudy. Imaginou como ele estaria, se ainda seria aquele Saukerl de sempre, quis que sim. Mas Rudy não entrou na loja.

– Eu preciso voltar para casa agora.- Ela olhou para Alex, o olhar era muito significativo o que fez Alex sorrir.

– É claro que eu vou contar que você esteve aqui. Não é por isso que ele espera á anos?- Alex levou Liesel até a porta, com a mão pousando em suas costas.

Ela se sentia tão em casa agora, totalmente diferente de como ela se sentia em Berlim. Lá, não importava o que ela fizesse, nada mudava o fato de ela ser uma garota magrela em um lugar estranho, rodeada de varias outras pessoas estranhas. Aqui ela era a Liesel.

Alex ficou observando Liesel se afastar, com aquela sensação maravilhosa de que tudo ia ficar bem agora. Era o que todos pensavam, não é? Tudo ia ficar bem agora. Esse sofrimento, como todos os outros, começou com uma aparente felicidade.

É claro que os Hubermann não tinham onde viver, afinal Rudy nunca deixou que alguém se aproximasse do que deveria ser a casa. Mas Liesel achou que talvez a mulher do prefeito não fosse ficar tão incomodada em tê-la como visitante, Rosa detestou a idéia.

– Não vou pedir nada á aquela doente.- Disse Rosa, arrumando suas coisas naquele quarto miúdo. Eles não tinham tanto dinheiro quanto todos imaginavam, tinham que economizar ao máximo e com base nisso, Liesel acreditava que era desnecessário ficar hospedada naquela pousada caindo aos pedaços e fedida.

– Rosa, não seja tão orgulhosa. Não vale á pena.- Hans estava abraçado ao acordeão, pensava em Max.

Ele estava morto? Depois de tudo o que aconteceu, muitos judeus foram libertados dos campos de concentração com vida, seria esse o caso de Max? E se foi, onde ele estava agora? Já fazia um bom tempo desde que os judeus foram libertados de Dachau, talvez ele tivesse ido até a rua Himmel e visto que eles tinham ido embora. E o que aconteceu depois?

Hans não era o único á se perguntar, no fundo do coração duro de Rosa, ela gostaria de saber onde estava Max, se ele estava se alimentando bem depois que saiu do campo de concentração. Diferente de Hans, Rosa tinha esperança, ela sabia que ele estava vivo em algum lugar do mundo e esperava que ele estivesse saudável. Já Liesel, não pensava em Max. Ela se recusava á lembrar-se do judeu que abrigava em seu porão, não queria pensar que ele estava bem, não queria ter esperanças. Isso coçou o comichão em meu próprio peito.

– Certo, eu tentarei. Fique aqui com o papai e eu vou.- Disse Liesel, pegando o casaco. Estava sempre fazendo frio na Alemanha, combinava perfeitamente com a imagem que os humanos faziam de mim, era quase bom, bonito.

Estava atravessando a rua quando Alex Steiner a chamou. Ele demorou um tempo para se recuperar do choque de vê-la em Molching de novo, então se deu conta de que os Hubermann não tinham nenhum lugar onde ficar e seria uma ótima idéia para reaproximar Rudy e Liesel, e Max também.

Liesel voltou para o quarto de pousada radiante.

– Temos um lugar para ficar!

– Não a casa do prefeito, eu espero.- Rosa disse com as mãos na cintura. Hans revirou os olhos.

– Onde?

– Na casa de Rudy! Herr Steiner acabou de nos convidar. Não é tão ruim ficar com ele, é? Quero dizer, vocês se conhecem e não detesta ele.- Liesel estava temerosa que talvez Rosa dissesse “não”. Rosa olhou para Hans, era notável a alegria no rosto de Liesel, nenhum dos dois seria capaz de acabar com isso.

– Certo, mas não por tanto tempo. Precisamos arranjar um lugar para ficar e rápido. Diga á Herr Steiner que nós ficaremos em sua casa, depois venha para cá e me ajude á colocar tudo isso de volta.- Disse Rosa, apontando para a porta cheia de mofo. Liesel negou com a cabeça.

– Eu já disse que iríamos, ele está só nos esperando.- Liesel dava pulinhos de alegria enquanto colocava as coisas de volta. Hans ajudou também e mais rápido do que eles imaginavam, estavam batendo na porta dos Steiner.

– Hans! Rosa!- Alex abraçou os velhos amigos, seu coração estava quente. Finalmente alguém conhecido! Hans e Rosa sentiam o mesmo, era tão bom estar de volta, até para mim.

Eles ficaram hospedados em um quarto extra, já que Max estava hospedado no quarto de Rudy. Mais uma vez, Alex não disse uma só palavra sobre o amigo de Liesel.

– Vocês podem ficar á vontade, eu vou voltar para a loja.- Disse Alex, já com a mão na maçaneta da porta.

– Eu preciso ir também, arranjar um emprego, sabe como é.- Disse Hans, fazendo uma careta enquanto colocava o casaco. Alex concordou com a cabeça e os dois saíram. Logo, Rosa estava na cozinha preparando o jantar, os Steiner tinham comida demais para apenas 2 pessoas, isso era bom.

Liesel foi para o quarto e tentou ler um livro, mas não conseguiu. Só pensava em Rudy e em como ele estava tão próximo agora, em como ela estava feliz por tudo isso estar acontecendo. Abraçou os próprios joelhos enquanto fazia uma oração. Á quanto tempo ela não fazia isso, orar? Mas hoje era diferente, hoje ela estava agradecendo.

– Saumensch?- Uma voz rouca e abalada chamou. Liesel levantou a cabeça rápido o suficiente para ver Rudy ter um choque. A boca estava aberta e ele a olhava fixadamente.- Jesus, Maria e José!- De repente, ela sorriu, apesar das lagrimas nos olhos.

Nenhum dos dois tinha forças físicas para levantar ou se mexer, nenhum dos dois pareciam conseguir encontrar a voz. Deus, como ele estava lindo! Com aqueles cabelos bagunçados, aqueles olhos azuis escuros, estava crescido e parecia forte. Os olhos brilhavam. Ele estava pálido pelo choque, mas nunca o viu tão lindo. Ele não era mais um monte de ossos montados ás pressas, agora ele era Rudy Steiner, o garoto sobrevivente da Rua Himmel.

E ali estava ela, crescida e por Deus, ela estava tão bonita! Seus olhos castanhos eram quentes, diferente do frio que fazia lá fora. Seus olhos eram da cor de mel e no fundo ele sabia que aquela era a coisa mais doce que ele podia encontrar nela agora, além da alegria que estava sentindo. Liesel exalava alegria e ele podia sentir que seus próprios poros diziam o mesmo, e era tão bom se sentir assim depois de anos. Os cabelos dela estavam meio cacheados, caindo em cascatas sobre os seus ombros, bagunçados. Ao contrario dele, todo o sangue dela devia estar no seu rosto. E meu Deus, ela estava tão bonita!

– Saukerl.- Liesel disse depois de um bom tempo calada. Sua voz saiu falha e baixinha, mas ele ouviu e seu coração ficou quente. O sangue pareceu ter voltado á bombear, ele respirou fundo.

– Você está aqui.- Estava falando mais com si mesmo do que com ela. Ele repetia “ela está aqui, ela está aqui” o tempo todo. E eu sorria dizendo, “ela está aqui, ela está aqui”.

– Eu disse que voltaria.- Ela disse, sorrindo.

– Você prometeu.- Ele concordou com a cabeça, passando a mão no cabelo e arrumando um pouco.

Ele estava nervoso, sua mão tremia e isso fez Liesel sorrir. Seu estomago dava voltar e ela sentia as borboletas no estomago. Mesmo assim, ela se levantou e andou devagar até Rudy, antes que ela erguesse os braços e tentasse pedir um abraço, ele a agarrou pela cintura e afundou o rosto nos seus cabelos.

Rudy tinha voltado á morar com o pai e na sua “casa” á muito tempo, mas só agora ele se sentiu em casa.

(...)


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