Qual é a cor do amor? escrita por hollandttinson


Capítulo 18
Together.




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No dia 25 de dezembro, os homens da casa voltaram para fora, encararam a neve e o frio, e se empenharam em terminar a casa dos Hubermann. Enquanto Liesel, Rosa e Marieta ficavam na cozinha, preparando o almoço e conversando sobre papos de garotas.

Do lado de fora, Rudy chamou Hans para ajudá-lo no quarto de Liesel – ou o que seria o quarto de Liesel quando a casa ficasse pronta – e quando Hans entrou, deu de cara com a estante de livros que o garoto fez para a namorada.

– Liesel já viu isso?- Hans perguntou, boquiaberto com o talento do garoto para construir coisas. Rudy mordeu o lábio inferior.

– Sim, eu trouxe ela na noite passada, quando todos estavam dormindo. Foi meu presente de natal.- Ele explicou, colocando as mãos no bolso. Hans ergueu uma sobrancelha para ele.

– Você e Liesel se encontraram, á noite, quando todos estavam dormindo? E trouxe ela para fora, com todo esse frio, para olhar a estante?- Hans perguntou, apontando para o móvel. Rudy concordou com a cabeça, corando.

– Herr Hubermann, eu o chamei para conversar com o senhor sobre a Liesel.- Rudy disse, ficando ainda mais vermelho. Hans respirou fundo e cruzou os braços, analisando Rudy.

– Prossiga.

– Todo mundo já está cansado de saber da minha paixão pela Liesel, e eu nunca me preocupei em escondê-la, muito pelo contrário, por mim gritaria para todo mundo ouvir que eu sou completamente apaixonada pela sua filha.- Rudy disse. Hans sorriu.

– Fico feliz por isso, rapaz.- Hans acenou. Rudy respirou fundo antes de prosseguir.

– Eu sempre fui muito seguro de mim, mas quando se trata de Liesel ninguém está 100% seguro do que ela está pensando, então nunca imaginei que ela fosse gostar de mim. Mas nós dois crescemos, e o tempo que passamos afastados, fez com que o sentimento que sentimos um pelo outro aumentar. E ambos concordamos que não é um sentimento de amigo. Eu realmente amo a sua filha, Herr Hubermann.- Rudy parecia estar em desespero para que Hans entendesse isso. E quem duvidava?

– E o que mudou com essa descoberta?- Hans perguntou, mesmo que seu coração já desconfiasse á muito tempo que Rudy e Liesel estavam tendo alguma coisa escondidos. Rudy suspirou, começando á suar frio. Passou a mão na testa antes de responder.

– Á um tempo eu venho pedindo Liesel em namoro, e ontem, para minha glória, ela aceitou.- Ele disse, engolindo em seco. Hans ergueu uma sobrancelha, crispando os lábios, divertido com o nervosismo de Rudy, que mordeu o lábio inferior.- Mas eu não quero namorá-la sem o seu consentimento e o de Frau Hubermann.

– Isso é bastante nobre, se você quer saber.- Hans deu de ombros, sorrindo em seguida. Colocou a mão no ombro do genro.- Será um prazer, para mim, ter você como genro, Rudy. Você é um garoto de ouro, Liesel não poderia encontrar alguém melhor.

– Ah, que alívio! Obrigado, Herr Hubermann.- Rudy agradeceu, respirando aliviado.

– Mas quanto á Rosa... Bem, ela é um pouco menos maleável, mas não se preocupe com isso. Ela ficará mais feliz em saber do namoro de vocês do que vocês namorando escondido.- Hans o acalmou, acenando com a cabeça. Rudy concordou.

– Pretendo falar com ela o mais rápido possível... O senhor poderia me ajudar?- Rudy perguntou fazendo uma careta. Hans suspirou.

– Sinto muito, mas não. Ela ficará brava se vir de mim, achará que eu a estou escondendo algo. Ela ficaria mais satisfeita se você falasse com ela. Você e Liesel.- Hans disse, olhando para trás, quando Max entrou no cômodo.

– Perdão atrapalhar, mas a Rosa está chamando para o almoço. O cheiro está maravilhoso e eu estou exausto.- Max disse, passando a mão na testa e olhando para o céu, sorrindo. Max sempre adorou o céu.

– Tudo bem.- Rudy disse, dando de ombros. Max olhou para ele e para Hans.

– Conversa interessante?- Ergueu uma sobrancelha, divertido. Liesel já o tinha informado sobre o namoro.

– Você já sabe?- Hans ergueu uma sobrancelha. Rudy mordeu o lábio inferior.

– Liesel me contou.- Max deu de ombros.

– Alex também sabe?- Hans perguntou, olhando para Rudy que concordou com a cabeça.

– Ele me ajudou com a surpresa.- Rudy disse, apontando para a estante. Hans concordou com a cabeça.

– Vamos almoçar, depois eu fico irritado por ser o penúltimo á saber do namoro da minha própria filha.- Disse Hans, saindo fingindo irritação. Rudy riu e balançou a cabeça, passando a mão nos cabelos. Max sorriu para ele.

– E então? Doeu?- Perguntou. Rudy deu um soco no braço do judeu, arrancando-lhe uma gargalhada.

– Não, mas aposto que isso doeu.- Rudy disse, apontando para o braço dele e revirando os olhos.- Vamos almoçar. Estou morrendo de fome.

Os dois entraram aos empurrões, brincando de brigar. Marieta achou bonita a amizade que os dois acabaram construindo por meio do acaso, ou por meio de Liesel. Ela sabia toda a história deles, daquelas famílias, e cada dia que se passava ficava mais difícil negar que estava se apegando á Max Vandenburg.

– Não ousem tocar na minha comida! Já para o banho!- Rosa resmungou, apontando para o banheiro. Rudy, Max, Alex e Hans fizeram um muxoxo, mas ela se manteve forte, apontando para a porta.- Eu juro que comeremos sozinhas se vocês não tomarem banho, e não vão comer!

– Mas é natal! Vai nos negar comida na véspera de natal? Não acredito!- Hans reclamou, parecendo criança. Eu ri, meu coração esquentou. Rosa se segurou para não rir da cara de pidão que o marido fez, mas Liesel não conteve a gargalhada, balançando a cabeça no processo.

– Pois pague para ver, então.- Rosa disse, cruzando os braços e crispando os lábios. Alex suspirou.

– Tudo bem, eu vou primeiro.- Ele disse, saindo á passos pesados. Quando Max ia se jogar no sofá, que era sempre desconfortável mas todos adoravam se jogar nele como se fosse feito de penas de gansos, Rosa pigarreou.

– Não vai se sentar no sofá sujo desse jeito, vai?- Ela perguntou erguendo uma sobrancelha. Ele mordeu o lábio inferior e negou com a cabeça.- Hm, foi o que eu pensei.

– Eu vou sentir tanta falta disso quando vocês forem embora.- Rudy admitiu, balançando a cabeça e suspirando. Max riu.

– É mesmo, neném?- Max brincou, puxando Rudy para um abraço de urso e bagunçando o cabelo do garoto, que o empurrou as socos.

– Sem brigas, crianças.- Liesel disse, rindo. Rudy olhou para a namorada, piscando. Ela balançou a cabeça, rindo e virou-se para a mesa, pondo o resto da comida sobre ela, ajudando Marieta que observava tudo com carinho.

– É sempre assim?- Marieta perguntou, apontando para os garotos, que ajudavam o Herr Hubermann á enrolar alguns cigarros, para passar o tempo. Liesel concordou com a cabeça e suspirou.

– Sim. Mas hoje eles estão excepcionalmente mais animados que o normal, acho que é porque temos visita.- Liesel deu de ombros, apontando para Marieta que revirou os olhos, sorrindo de lado.

Era uma meia verdade. Por parte de Max, a alegria era por ter Marieta em casa, já que o rapaz estava se apegando á ela na mesma medida que ela se apegava á ele. Isso só me deixava mais triste. Porém, por parte de Rudy, Hans e Alex, a alegria era apenas o namoro de Liesel e Rudy, que foi esperado por todos desde o começo.

– Pronto. Próximo?- Alex chamou, apontando para a porta do banheiro e se sentando á mesa, ao lado de Rosa, que estava tricotando alguma coisa, á espera dos banhos dos meninos, que fizeram uma fila para quem iria primeiro.

Quando todos estavam cheirosos e limpos, sentaram-se á mesa e começaram á almoçar. Haviam conversas paralelas por toda a mesa, então Rosa não notou a conversa engajada por Max e Liesel num dos cantos.

– Ele falou com o papai?- Liesel se surpreendeu. Max concordou com a cabeça.

– Sim. Ele foi bastante corajoso, se você quer saber. Não hesitou em momento algum, e falou tudo o que queria, parecia ter um texto decorado na ponta da língua, e mesmo assim o coração dele quem falou. Hans ficou feliz com a novidade, e disse que ele deveria falar com Rosa.- Max disse, dando de ombros.

– Você ficou ouvindo atrás da porta?- Liesel perguntou, erguendo uma sobrancelha para ele e crispando os lábios. Max corou, fazendo uma careta tímida.

– Tecnicamente não, porque não tinha porta alguma. Mas Rudy me viu ouvindo, e não me pediu para sair, ou reclamou, nada do tipo. Não estava violando nada. E eu já sabia de vocês.- Disse Max, dando de ombros. Liesel concordou com a cabeça.

– Provavelmente você foi quem deu a coragem de Rudy, por estar lá. Ele gosta muito de você.- Liesel disse, procurando o rapaz na mesa. Ele estava conversando com Alex sobre qualquer coisa nada importante. Sorria abertamente para o pai. O sorriso que nos faz sofrer, á mim, á Liesel e á você.

– Eu também gosto muito do garoto, quero que vocês sejam felizes, e sei que serão. Não entendo porquê demoraram tanto tempo para perceberem que não servem para ficar separados.- Max revirou os olhos. Liesel mordeu o lábio inferior.

– Por medo.- Ela admitiu. Max ergueu uma sobrancelha.

– Medo de que, pelo amor de Deus?- Ele se exasperou, olhando ao redor para saber se alguém tinha notado, mas todos ainda estavam conversando, focados em suas conversas paralelas. Liesel suspirou.

– Eu e Rudy já fomos afastados antes, eu não quero que o mundo nos afaste outra vez.- Ela disse, suspirando. Max revirou os olhos mais uma vez.

– Não vai acontecer outra vez. Foram outros tempos, outras circunstâncias.- Ele disse. E foi a minha vez de suspirar. Talvez os tempos não tivessem mudado tanto quanto ele imaginava. E talvez os desejos dele não se cumprissem, mais uma vez. E talvez Liesel estivesse mais certa do que imagina. Toda essa história atual é um talvez, e nem mesmo eu sei o que acontecerá depois desse almoço.

(…)

Max levou Marieta até em casa perto do pôr do sol, ela disse que precisava descansar, pois logo mais iria á igreja, á noite. Era mentira, é claro. Marieta não era religiosa e não se importava com comemorações para qualquer tipo de deus. Mas precisava ir para casa falar com Evan, então usou essa desculpa.

– Eu estou muito agradecida por esses dias. Sua família é linda.- Marieta disse, pois o Max considerava os Hubermann e os Steiner como sua família. Max sorriu, colocando as mãos nos bolsos. Estava tão frio que ele mal conseguia respirar, e mesmo assim, quis levá-la em casa.

– Sou muito sortudo por tê-los em minha vida. Não imaginava que no meio de tanta tragédia, algo de bom ainda podia acontecer na minha vida.- Ele respondeu sincero, lembrando-se do sufoco para chegar até o papai de Liesel. Marieta concordou com a cabeça, pensando que ele não tinha a menor ideia de que a tragédia ainda não tinha acabado. E que ela seria a culpada por mais uma em sua vida.

– Tenho certeza de que você ainda terá outras coisas boas em vida.- Ela disse, abrindo a bolsa para tirar a chave de casa. Os dois estavam parados na frente da casa dela. Max estreitou os olhos.

– Você deixou as luzes de casa acesas?- Perguntou, apontando para a janela. Apesar da cortina escura, dava para perceber que a luz da cozinha estava acesa. Marieta arregalou os olhos, assustada pela irresponsabilidade de Evan. Ele não costumava fazer esse tipo de coisa, o que teria acontecido?

– Sim... Eu não tinha percebido. Santo Deus como ando sendo descuidada!- Marieta tocou a mão na testa, sorrindo tímida. Atuando, como lhe foi aprendido. Ele deu de ombros, acenando.

– Tudo bem, acontece. Bem, até mais. Tenha uma boa noite.- Ele desejou, pegando sua mão e beijando-a. Marieta sorriu, dando tchauzinho para ele com a mão, abrindo a porta e entrando. Respirou aliviada quando conseguiu trancar a porta, e foi direto para a cozinha, onde Evan estava sentado á mesa, segurando um papel.

– Você está maluco? Como deixa a luz acesa dessa forma? As pessoas podiam notar a diferença!- Ela reclamou, dando um tapa na nuca dele com força. Ele não levantou os olhos para ela, nem mesmo depois de levar o tapa. Continuou olhando o papel, o que chamou a atenção de Marieta, que começou á olhar também, por sob o seu ombro.

– Ele virá até nós, Mari. Ele vai vir ver se nós estamos fazendo o nosso trabalho. O que faremos agora?- Evan perguntou desesperado. Era óbvio que ele estava com medo, pois nunca tinha matado ninguém por contrato, era apenas por vontade. E ele não tinha a menor vontade de matar aqueles dois. Marieta engoliu em seco.

– Ele não vai vir. Ele não pode vir.- Ela disse, crispando os lábios. Evan olhou para ela.

– Porquê não?- Perguntou. Ela suspirou, sentando em uma cadeira ao lado dele.

– Por quê ele é um grande conhecido das pessoas que quer matar. E ele não é tão bom ator quanto nós dois. Ele é cruel, apenas. Todos saberiam que ele os odeia. E por outro lado... Tem algo que o prende onde está.- Disse Marieta, lembrando-se de sua filha, que devia estar sobre os cuidados do pai. Evan balançou a cabeça.

– Acha mesmo que um homem que quer matar dois adolescentes sem nenhum motivo aparente, vai se importar com as circunstâncias?- Evan perguntou erguendo uma sobrancelha. Marieta sorriu com escárnio.

– Você vivia matando adolescentes sem nenhum motivo aparente. O que o faz diferente dele?- Ela sabia que não era a mesma coisa, apesar de ser verdade. Evan crispou os lábios.

– As pessoas que eu matei não faziam diferença no mundo. Nem deviam existir.- Disse ele. Marieta ergueu uma sobrancelha.

– Porquê? Só porque ganhavam a vida com o corpo? Ou só porque eram jovens e decidiram que o melhor caminho era largar a família e vender o corpo de uma vez? Ou será que é porque todas elas pareciam a sua mãe? Você mataria a sua mãe?- Marieta perguntou. O rosto de Evan ficou vermelho de raiva, e mesmo Marieta sabendo que tinha passado dos limites, sua postura não mudou.

– Minha mãe me matou, e eu não vou deixar que outras pessoas morram como eu.- Evan disse, batendo o punho na mesa com força. Marieta acalmou a expressão facial, e respondeu com ironia.

– Não como você, mas pelas suas mãos? Você devia ser o ministro da justiça do país.- Ela disse, balançando a cabeça. Ele bufou, irritado e levantou-se, deixando a cadeira cair com barulho. Jogou o papel da carta do seu “chefe” na cara dela, que revirou os olhos.

– Fique com essa droga de emprego de merda! Vou embora. Eu não preciso de nada disso. É com você que ele fala, é você que ele conhece. Cuide disso sozinha.- Ele disse, indo para a sala e pegando sua jaqueta estirada no sofá, vestindo-a e procurando as chaves da moto nos bolsos. Marieta foi atrás, com os braços cruzados.

– Não é muito diferente do que eu já estou fazendo, é?- Ela perguntou erguendo uma sobrancelha. Ele olhou para ela, sua expressão era tão raivosa e decepcionada que até o meu coração ficou triste, não apenas o de Marieta. A diferença é que ela finge indiferença muito bem.

– Então não será de muita falta para você. Sucesso na empreitada, Inderoviski.- Ele disse, acenando. Ela acenou com o queixo, assistindo o garoto tirar detrás do sofá, uma mochila, provavelmente com todas as suas coisas. Ele já estava preparado para partir, e partiu.

Marieta viu, da janela da sala, o garoto ir embora com a moto, sem olhar para trás. Suspirou aliviada, indo para a cozinha e levantando a cadeira, pegando a carta no chão e relendo. Sim, Hans Júnior voltaria para a rua Himmel. Provavelmente, com sua filha. Ele a usaria para provocar Marieta á cometer o assassinato. E ela mataria Liesel e Rudy pela pequena Rosa. Ela conseguia prever, e eu também. E nós duas choramos em silêncio pela maldade do universo, que se mantinha conspirando para que o mal vencesse. Sempre.

(…)

Na casa dos Steiner, Liesel ajudava Rosa a guardar as coisas do jantar. Max já tinha se recolhido no porão, estava exausto. Alex, Rudy e Hans estavam sentados no sofá, esperando as mulheres da casa terminarem o trabalho, e quando assim fizeram, Hans pigarreou.

– Está gripado?- Rosa questionou com a sobrancelha erguida, se aproximou e tocou a testa dele, pensando que estivesse com febre. Hans revirou os olhos, então ela percebeu que todos os homens estavam com uma postura ereta, nervosos e tensos. Liesel estreitou os olhos e Rudy mordeu o lábio inferior. Então a garota entendeu.

– Rudy quer conversar com você.- Alex explicou, apontando para o filho, que parecia estar suando em bicas, mesmo com todo o frio que estava fazendo. Rosa olhou para Rudy.

– Pois que fale. Não tenho a vida toda. Estou cansada e quero dormir. Desembuche, Saukerl.- Ela mandou, apontando para ele com preguiça e petulância. Rudy engoliu em seco e Liesel suspirou.

– A senhora não quer se sentar para ouvir o que Rudy quer dizer? Pode demorar.- Liesel sugeriu, apontando para uma cadeira de madeira. Rosa ergueu uma sobrancelha.

– O que houve? Porque estão todos tensos? O que diabos você tem para me dizer que é tão sério?- Rosa perguntou, levando a mão ao peito, começando á ficar nervosa. Rudy suspirou.

– Não senhora... Quer dizer, sim senhora. É algo muito sério, mas não é preciso a tensão. Eu só queria perguntar á senhora se... Se a senhora concorda com o Herr Hubermann quando ele diz... Santo Deus!- Ele limpou a testa suada. Rosa revirou os olhos e Liesel segurou o riso. O nervosismo dele era bonitinho.

– Você vai continuar gaguejando? Estou começando á ficar com sono com toda essa sua ladainha.- Rosa resmungou, e então foi a vez de Hans revirar os olhos e Alex segurar o riso.

– Bem. A senhora sabe que eu e Liesel somos muito amigos desde... Desde que nos conhecemos. Aparentemente, a senhora nunca foi a favor da nossa amizade, e eu entendo porque não era exatamente o melhor garoto do mundo com toda aquela coisa de Jesse Owens e tudo o mais. Mas nós dois crescemos, e eu acredito que hoje nossa relação de amizade avançou um grau que eu sempre esperei, mas nunca estive confiante de que aconteceria.- Rudy disse, mordendo o lábio inferior. Liesel engoliu em seco, analisando o rosto da mãe. Rosa estava ilegível.

– O que você quer dizer com isso? Poderia ser mais explícito?- Ela pediu, unindo as mãos. Hans prendeu a respiração quando viu Rudy tomando coragem para finalmente dizer o que estava entalado na sua garganta.

– Todos nós provamos do gosto que é saber que a vida pode mudar á qualquer momento. E eu e Liesel concordamos que não temos todo tempo do mundo, apesar de todos dizerem o contrário. Então decidimos gastar esse tempo curto que temos para ficarmos juntos. Não como amigos, mas como um casal. Todos já concordaram que a nossa união é... Boa para todos. Gostaria da sua benção também, Frau Hubermann.- Rudy disse, suspirando aliviado por conseguir falar. Todos olharam para Rosa, que estava de boca aberta, olhos estreitos. Balançou a cabeça.

– Está tentando me dizer, esse tempo todo, que você e a minha filha estão se encontrando? Que vocês estão... Como é a palavra?- Ela estalou a língua, procurando a palavra certa.

– Namorando.- Alex disse. Ela apontou para ele, estalando os dedos.

– Isso. Namorando?

– Sim senhora.- Rudy respondeu, começando á ficar tenso de novo. Rosa colocou as mãos na cintura, olhou para Liesel.

– Você tem certeza que quer namorar esse Saukerl imundo? Quero dizer... O que ele tem de especial? O que tem de especial em um garoto que se pinta de preto e sai correndo na rua como um louco em pleno regime nazista?- Perguntou Rosa. Rudy fez uma careta e Hans fechou a cara.

– Não é educado falar assim da pessoa que nos abrigou em sua casa, querida.- Hans resmungou. Ela revirou os olhos.

– Estou falando com Liesel. Não se meta. E então, Saumensch? Estou esperando uma resposta.- Rosa ergueu uma sobrancelha. Liesel prendeu a respiração e depois soltou lentamente.

– Sim, mamãe. Eu tenho certeza de que quero namorar Rudy. Foi por isso que eu aceitei, não foi?- Ela questionou.

– Não fale assim comigo, sua imunda!- Rosa esbravejou. Rudy mordeu o lábio inferior.

– E então? A senhora concorda?- Perguntou Rudy.

– Não vou aceitar que falem da minha filha por aí, então quero que vocês terminem a nossa casa o mais rápido possível! Onde já se viu estar dormindo sobre o mesmo teto que você? E Deus, eu deixando vocês andando sozinhos por aí como se nada estivesse acontecendo! Que ultraje!- Rosa estava mais preocupada com o que as pessoas iam falar, e Rudy e Liesel suspiraram aliviados.

– Então está tudo bem para a senhora se a gente namorar?- Perguntou Liesel.

– Melhor sobre o meu teto do que nas ruas, com as pessoas olhando e comentando. Santo Deus, os comentários!- Ela levou as mãos á cabeça, nervosa. Depois balançou a cabeça.- Agora você vai ser a primeira a dormir nessa casa, Liesel Meminger. Não quero conversa á mais ou á menos. E nada de ficar sozinha com ele... A partir de hoje você vai sair de casa com Max para a escola.

– Acha mesmo que Max vai impedir eles dois de ficarem juntos?- Hans perguntou de sobrancelha erguida.

– E porque não?- Rosa questionou.

– Nada!- Rudy sorriu divertido. Levantando-se do sofá animado.- Eu juro que a senhora não vai se arrepender de ter confiado á mim o coração da sua filha.

– Meu filho, eu já estou arrependida de ter deixado você falar com ela pela primeira vez. Quem dirá namorá-la?- Rosa disse revirando os olhos. Eu ri, acompanhada do resto das pessoas da casa.

(...)


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