Qual é a cor do amor? escrita por hollandttinson


Capítulo 17
Romeu e Julieta.


Notas iniciais do capítulo

Voltei com um capítulo cheio de fofurinhas, espero que gostem!



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Descobrir que Hans Júnior era o chefe de Marieta e Evan me chocou. Eu nunca estou realmente preparada para o que os humanos são capazes, e as surpresas são cada dia piores. Nunca imaginei que alguém que é filho do incrível homem Hans Hubermann poderia ser capaz de esquematizar a morte de duas crianças inocentes, e por quê? O que ele ganharia com isso? Era um lunático o garoto.

Observei com atenção os detalhes após a descoberta. Tinha me enganado miseravelmente com Marieta, no fundo ela era uma boa pessoa que tinha feito as escolhas erradas, talvez ela merece perdão e misericórdia. Mas veja bem o mundo, preste atenção no lugar terrível em que todas as pessoas são colocadas á prova, e tente pensar se alguém recebe mesmo a misericórdia. Não acho que seja o caso.

Max levou Marieta até em casa, e a mulher suspirou aliviada quando fechou a porta. A casa era silenciosa, como sempre. Eu conseguia quase sentir a saudade que ela sentia pela pequena Rosa, e do quanto ela adoraria ouvir o risinho infantil da garota. Deus, o que ela tinha feito para merecer esse presente?

Marieta subiu as escadas lentamente, sabia que encontraria Evan dormindo no último quarto, e foi até lá zelar pelo sono do garoto. Já fazia um bom tempo que os dois não mantinham nenhuma relação carnal, e os dois estavam felizes por darem-se conta que a relação dos dois era puro carinho, tinha se transformado nisso.

Ver Evan dormindo me fez pensar sobre como a vida foi cruel com ele, e no quanto ele está sendo ainda mais cruel por estar querendo acabar com a vida de mais pessoas, e por todas as vidas que ele arruinou antes, todas aquelas garotas. No fundo eu sei que nada justifica o que ele fazia, o que Marieta fazia, e o que vão fazer. Mas sinto pena, sinto dó, tenho uma imensa vontade de pegá-los no colo... Mas ser pego no colo pela morte não é um bom sinal para aqueles que estão vivos.

No quarto, Marieta pegou o único telefone da casa e ligou para o número da casa onde Hans Júnior morava com a nova esposa, uma garota fria e cruel, que definitivamente não estava feliz por cuidar da filha de outra.

Passe para Hans.- Marieta não deu á ela o tempo de responder, e quando ouviu a mulher suspirar pesadamente, sabia que ela estava revirando os olhos. Marieta começou á sentir vontade de chorar, a sensação era familiar e quase amiga.

– Tem muita gente querendo falar com ele no momento, então eu sinto muito, mas não vai ser você quem vai conseguir.– Disse a mulher com voz firme. Marieta suspirou.

– Apenas me diga que estão cuidando de Rosa bem.- Marieta pediu. A mulher riu com escárnio, fazendo o estômago de Marieta revirar com ódio.

– Me diga você se está cuidando bem do trabalho que lhe foi mandado. Hans não está gostando nada, nada da demora.- A mulher disse, fazendo Marieta fechar os olhos com forças. Maldito trabalho.

– Estamos tentando, não podemos simplesmente matar alguém numa cidade pequena e sair impunes. Hans não nos deu garantia nenhuma, nada que seja concreto.- Marieta disse, apesar de todos sabermos que não é esse o motivo da demora. A mulher riu de novo.

– Garantia? É o seguinte, sua biscate: ou você os mata, ou o Hans vai dar um jeito de acabar com a vida de outra pessoa, um tanto menor que eles, e com uma voz irritante de criança. A sua filha está por um fio de morrer, e eu sei que você não quer que isso aconteça, então faça logo o que tem de fazer, volte e busque essa melequenta. Passar bem.– O telefone foi desligado na cara de Marieta, que sabia que de nada adiantaria telefonar de volta.

Deitou na cama e ficou respirando com força e pausadamente, pensando sobre as decisões que tomaria. Deus, ela não podia matar Rudy Steiner. O garoto já tinha sofrido tanto! E quanto ao seu pai? Ele tinha enterrado toda a família, e agora enterrar mais um filho? Rudy nem precisava estar lista, porque Liesel tinha voltado para a Rua Himmel? Nada disso estaria acontecendo se ela tivesse ficado em Berlim.

E quanto á Liesel, como ela assassinaria aquela garota de olhar grande. Como ela seria capaz de matar alguém como Liesel Meminger? Só porque o seu irmão adotivo é um maluco psicopata? Não é justificativa o suficiente.

Marieta nunca precisou de motivos para matar alguém. Nunca se importou com as pessoas que seriam afetadas pelos seus atos. Nunca quis saber. Mas de repente ela pensou que se acontecesse, e ela pudesse reaver a filha... Quais histórias ela contaria para a garota no futuro? Marieta suspirou, o que ela faria agora?

(…)

Liesel acordou cedo na manhã de véspera de natal. Vestiu uma roupa mais pesada, o frio era castigante. Desceu as escadas aos pulos e não ficou surpresa quando encontrou a mãe na cozinha começando á preparar a comida da ceia á noite. A garota se sentou á mesa e respirou fundo antes de começar á falar.

– Mamãe? A senhora acha que seria possível eu conseguir comprar algo de presente de natal para Rudy?- Perguntou Liesel mordendo o lábio inferior. Rosa girou os calcanhares e ergueu as sobrancelhas para a garota. Depois deu de ombros.

– Não gaste dinheiro com aquele Saukerl, já é o suficiente que você o ature o tempo todo.- Ela disse, mas no fundo a mãe de Liesel queria muito poder dar um presente ao garoto. Liesel suspirou, baixando a cabeça e depois balançando-a.

– Certo, darei um jeito.- Ela disse, comendo algumas torradas que estavam super frias, mas a garota não reclamou, estava acostumada á comer mal, a surpresa era quando a comida era boa e farta.

– Onde você vai?- Rosa perguntou quando a garota abriu a porta da entrada. Liesel sorriu, eu conhecia aquele sorriso.

– Vou falar com a mulher do prefeito.- Ela disse, fechando a porta atrás de si.

Liesel andou animada em direção á casa do prefeito. A cidade ainda estava acordando, e quando passou perto da padaria, Liesel quase foi guiada pelo cheiro maravilhoso de pão fresco. Em alguma das casas, o cheiro do chocolate quente derretido também chamou a atenção de Liesel. Era uma manhã cheia de cheiros, mas apenas um cheiro me chamou realmente a atenção: o cheiro do roubo. Liesel exalava á furto, e eu ri sorrateira observando a garota tomar o caminho da janela baixa da cara do prefeito.

Liesel olhou para dentro da biblioteca, estava tudo como ela se lembrava, e a adrenalina no seu peito fez o sangue correr mais rápido. Ela riu quando percebeu que a janela estava aberta, será que Ilsa Hermann não tinha mesmo medo dos assaltos? Talvez ela gostasse deles. Aliás, como disse Rudy, quem roubaria livros? Essa é a nossa menina, ela rouba livros, e isso é incrível.

Liesel tinha sentido falta da sensação de pousar surdamente no chão de madeira da biblioteca, de apurar os ouvidos para quaisquer movimentos vindos da casa, de andar nas pontas dos pés até as prateleiras e escolher um livro. A garota não conteve o sorriso quando os seus dedinhos trêmulos e pálidos tocaram nos livros, era tão reconfortante estar perto deles, como ela pudera ficar tanto tempo sem ler? É claro que ela podia ter pedido á Ilsa para entrar na casa e lhe dar um livro, mas porque não tentar volta á ativa? Rudy merecia que ela fosse a criança que foi quando se apaixonou por ele, e esse era o intuito.

A garota enfiou o livro dentro da roupa e virou-se para a porta, estava aberta e ela conseguia sentir o cheiro do café vindo lá de dentro. Sentiu vontade de caminhar pela casa, de procurar a mulher e lhe desejar feliz natal, mas se conteve. Andou calmamente até a janela, e quando ia se esgueirar para finalmente voltar para casa, ouviu um pigarro.

Ilsa Hermann mantinha um sorriso feliz e esplandido no rosto, estava tão feliz que mal percebíamos as suas rugas de expressão. A mulher ergueu os braços na direção de Liesel e foi andando até ela, abraçou-a com força.

– Ah, Liesel como senti falta de você, garota! Conte-me como está, e o garoto Steiner? Deus se você soubesse como fiquei assustada quando vi sua ruazinha massacrada, e quando aquele garoto veio ficar aqui conosco...- Ilsa percebeu que Liesel estava paralisada e parou de falar, analisando-a.- Como você cresceu, garota!

– Eu... Eu... Perdão Frau Hermann, eu não queria entrar na sua casa dessa forma, é que... Bem, eu... Digamos que...

– Veio roubar um livro?- Ilsa perguntou divertida. Liesel respondeu que sim com a cabeça.

– Tudo bem, é bem vinda para furtar dos meus livros quando quiser. É claro que preferia que você batesse na porta e me pedisse um por vontade própria, mas se assim é melhor para você, que assim seja.- Disse Ilsa, dando de ombros e sentando-se em uma poltrona, esquentando-se perto da lareira. Liesel concordou com a cabeça.

– Então, porque demorou tanto para vir me visitar?- Ilsa perguntou com a sobrancelha erguida, havia um pouco de reclamação no tom de voz de Ilsa, mas Liesel ignorou.

– Bem, eu estou estudando e ajudando meus pais á reconstruir nossa casa.- Disse Liesel dando de ombros. Ilsa concordou com a cabeça.

– O garoto Steiner não deixou ninguém tocar na casa, como ele foi o único sobrevivente, era o único que podia “brigar” pela rua, então deixamos que ele fizesse o que quisesse. Ainda bem que deixamos, senão estaria sem ter onde morar agora, imagine que absurdo!- Ilsa pareceu indignada com a ideia. Liesel concordou com a cabeça, olhou para a janela e mordeu o lábio inferior.

– Eu tenho que...

– Que ir, eu sei. Foi um prazer revê-la, querida. Espero vê-la mais vezes, não se acanhe. Pode voltar á ler comigo, se quiser.- Ilsa sugeriu, levantando-se e colocando a mão nas costas de Liesel, guiando-a até a janela. Liesel sorriu para a mulher.

– Vou ver se consigo arranjar um tempo para vir, Frau Hermann. É sempre bom vê-la também. Feliz natal!- Disse Liesel, pulando a janela. Olhou para trás e a mulher acenou sorrindo.

– Feliz natal!- Desejou.

(…)

– Onde você estava e porque demorou tanto?- Max perguntou quando Liesel deu o ar da graça. O judeu estava voltando da planta física da casa dos Hubermann, estava todo sujo.

– O que você estava fazendo?- Perguntou Liesel, espiando na ponta dos pés para dentro da casa, não avistou nada. Max deu de ombros.

– Ouvi um barulho estranho e quis ver o que era. E quanto ás perguntas que eu fiz?- Max perguntou. Liesel olhou para todos os lados, então se aproximou de Max e lhe mostrou o que tinha pegado na casa dos Hermann.

– É o meu presente de natal pra o Rudy.- Ela explicou, sorrindo. Max sorriu abertamente.

– Vai dar Romeu e Julieta pra Rudy ler?- Ele perguntou erguendo uma sobrancelha. Liesel revirou os olhos.

– Abra.- Ela disse, e o rapaz obedeceu, observando com carinho um coração feito de papel onde tinha escrito “Eu aceito namorar você, Saukerl”.

– Bem, aposto que ele vai gostar muito desse livro.- Max disse, balançando-o no alto da cabeça. Liesel sorriu.

– Eu ia fazer algo para você também, mas sabe... Não temos tanto dinheiro, tudo que temos estamos gastando com a reconstrução da casa...- Liesel mordeu o lábio inferior. Max deu de ombros, entregando o livro á garota.

– Não se importe com isso, sabe que não comemoro o natal.- Ele disse, dando de ombros. Rosa enfiou a cabeça para fora da janela.

– Ah finalmente você decidiu dar o ar da graça! Entre e me ajude á terminar o almoço, sua Saumensch imunda!- Rosa gritou irritada, brandindo uma colher de pau e fazendo Liesel e Max rirem.

– Onde estão os Steiner?- Liesel perguntou enquanto Max, ela e Hans colocavam a mesa.

– Foram comprar o peru para a ceia.- Hans disse, sentando-se na mesa e arrumando o acordeão.

– Vai tocar para nós hoje, Hans?- Max perguntou animado. Hans sorriu e concordou com a cabeça.

– Hoje nós vamos comemorar o nosso primeiro feriado juntos, e a sorte que temos por estarmos todos aqui. Amanhã, que é o natal mesmo, você não precisa se reunir á nós se não quiser.- Hans disse, compreensível á religião de Max que deu de ombros, sorrindo depois.

– Eu não me importo de ficar com vocês. Foi com vocês que eu passei o primeiro natal da minha vida, e é com vocês que eu quero passar todos os outros.- Max sorriu abertamente. Liesel esticou o braço e tocou o ombro de Max, piscando para ele.

– Você é sempre bem vindo.- Ela disse e ele sorriu, concordando com a cabeça.

A porta da sala foi aberta e Alex entrou segurando um pacote enorme, com um sorriso enorme, parecia orgulhoso por ter trazido aquilo para casa. Logo atrás veio Rudy segurando sacolas cheias de comidas, ele também parecia feliz, apesar de tremer de frio. Liesel foi até ele e o ajudou a segurar as sacolas, o rapaz sorriu para ela e se inclinou para lhe dar um beijo na bochecha. Todos na casa viram o beijo, mas nenhum deles pareceu querer se pronunciar sobre o assunto.

– Espero que não tenhamos demorado muito, foi realmente difícil comprar tudo o que Rosa pediu na lista, sinto muito.- Disse Alex, colocando o pacote em cima da pia. Rosa foi até ele e analisou, sorrindo com aprovação.

– Estávamos esperando vocês para começarmos á almoçar.- Ela disse, virando-se e sentando-se á mesa. Rudy e Liesel colocaram as sacolas na pia e lavaram as mãos, sentando-se em seguida.

– Não precisa se juntar á nós se não quiser.- Disse Hans para Max mais uma vez, quando todos deram as mãos para rezar. Max sorriu.

– Não se importem comigo, é sempre bom desejar as melhores coisas do mundo á todos nós, mesmo sendo de outra religião.- Disse Max, segurando a mão de Liesel e de Hans, que sorriu e fechou os olhos. Quem rezou foi Rudy.

O garoto agradeceu por poder, depois de tudo o que passaram, estarem juntos de novo. Agradeceu por terem Rosa para fazer essa refeição maravilhosa, por terem Hans para tocar acordeão e animá-los. Agradeceu por terem Max, e por todas as coisas maravilhosas que ele fala, e por ser um ótimo amigo. Agradeceu por ter seu pai, e por ele ter lhe ensinado á rezar, e disse que amava o pai, e que á cada ano se sentia mais feliz por ter um pai tão incrível, fez Alex chorar, aliás. E por último, agradeceu por ter Liesel, e por ela ser a melhor amiga do mundo e por lhe aturar. Quando terminou, piscou para a loira, que revirou os olhos e sorriu. Todos disseram “amém” ao mesmo tempo e começaram á comer.

(…)

Evan não passou o dia da véspera em casa, tinha avisado á Marieta que iria sair com uma garota da escola, nenhum dos dois lembrava o nome, mas ela morava depois da escola. Marieta ficou sozinha em casa, tomando chocolate quente e comendo frango assado, pois estava economizando o máximo para que tivesse dinheiro para fugir para um lugar digno com a filha, se consumasse o desejo de Hans Júnior.

Perto das sete da noite bateram em sua porta, com desgosto, ela abriu a porta para Max. A mulher sorriu quando o viu, e ficou surpresa pois achava que não sorriria mais naquele dia. Que motivos teria?

– Me diga que você está muito solitária essa noite e que não tem nada melhor pra fazer além de chorar na frente da lareira. Porque assim eu poderei dizer que os Hubermann estão dando um jantar de véspera de natal que promete ser incrível! Alex trouxe um peru, e Rudy conseguiu arranjar macarrão e queijo no mercado negro, está tudo uma delícia!- Max falou tão animado que mesmo que Marieta quisesse, não ia recusar.

Ele esperou ela trocar de roupa e se arrumar, quando chegaram na casa, ela se sentia outra pessoa. Ela estava com um humor maravilhoso, e até fez piada acompanhada dos outros. Comeram animadamente, e ela até arriscou cantar enquanto Hans tocava. Todos estavam felizes com a noite, e ninguém se importou com mais nada.

– Ela pode dormir comigo, a minha cama é muito grande pra mim.- Sugeriu Liesel quando perceberam que estava tarde demais para levar a mulher para casa. Marieta negou com a cabeça.

– Eu posso ficar no sofá.- Ela disse, achando a ideia muito ruim. Rudy fez uma careta.

– Nesse sofá duro e desconfortável? Claro que não!- Ele disse, arregalando os olhos para a professora que sorriu, se sentindo triste. Como ela iria matar essas pessoas?

– Aceite, amanhã cedo eu levo você de volta, prometo.- Disse Max, sorrindo para ela, que concordou com a cabeça, pensando que talvez fosse melhor assim. Subiu com Liesel para o quarto, e achou que, realmente, a cama da garota era muito grande para ela.

– Deve ser uma maravilha dormir numa cama tão grande.- Disse Marieta, vestindo o pijama que Rosa emprestou para ela, tinha ficado um pouco grande, mas ela não se importou.

– Era de Max, mas quando ele foi para o porão, a cama não coube, e Rudy disse que devia ficar comigo.- Liesel explicou, sentando-se na cama.

– Ele gosta muito de você não é? Dá pra perceber pela forma como ele olha para você. Eu já vi vocês dois juntos na escola...- Disse Marieta, sorrindo para Liesel que corou.

– É, bem... Somos amigos á muito tempo.- Ela desconversou. Marieta riu e balançou a cabeça.

– Se você diz.- Ela disse, dando de ombros. Sentou-se ao lado de Liesel.- Boa noite, Liesel. Feliz natal.- Ela disse, deitando-se e fechando os olhos. Liesel também deitou. Ouviu os pais entrarem no quarto, se vestirem e dormirem. Esperou alguns minutos e levantou, fazendo o mínimo de barulho possível.

Andou lentamente até o quarto dos Steiner, abriu a porta e foi até a cama do garoto. Estava dormindo como um anjinho, e Liesel quase ficou com pena de acordá-lo, mas precisava. Balançou-o lentamente e ele abriu os olhos, espantado por vê-la. Ela pediu para ficar quieto e o chamou para fora.

Desceram a escada nas pontas dos pés, e quando estavam na cozinha, Liesel o abraçou com força. O menino deu uma risadinha, retribuindo o abraço.

– Teve algum pesadelo?- Foi o primeiro pensamento dela. Ela negou com a cabeça, respirando fundo o aroma dos cabelos loiros demais dele. Apertou-o com mais força e ele respirou fundo, feliz por estar nos braços dela.

– Eu tenho um presente de natal para lhe dar.- Ela revelou, separando-os e segurando a sua mão. O garoto ergueu uma sobrancelha, brincalhão.

– É mesmo?- Perguntou, entrelaçando suas mãos e analisando como era bonito o encaixe perfeito dos dedos de ambos. Ela sorriu também para a imagem, e depois o puxou para a sala.

Liesel se abaixou até ficar no alcance do pé do sofá, tirando de lá o livro. Entregou á ele com um sorriso aberto. Ele estreitou os olhos para o livro.

– Um livro?

– Romeu e Julieta. É um romance, fala sobre dois adolescentes que se apaixonaram e não podiam ficar juntos porque suas famílias eram rivais. Eles literalmente morrem de amor.- Ela explicou, apontando para o livro e revirando os olhos. Ele concordou com a cabeça, entendendo e fazendo uma careta.

– Literalmente?

– É, eles se matam no final.- Ela disse, dando de ombros. Ele arregalou os olhos.

– E porque diabos você está me dando isso?- Ele perguntou balançando o livro no alto da cabeça, incrédulo. Ela riu.

– Quando você ler, vai descobrir.- Ela disse, corando. Ele respirou aliviado e sorriu.

– Também tenho um presente para você.- Ele disse, se aproximando dela. Ela revirou os olhos.

– Beijo não é presente, Rudy. Você me dá isso todos os dias.- Ela disse. Ele riu.

– Eu não dei um hoje ainda.

– Está perdendo seu tempo.- Ela disse, dando de ombros. Ele riu de novo e se inclinou sobre a boca dela. Os lábios dos dois se conectavam tão bem, que eles sabiam que nunca mais encontrariam alguém que os completassem tanto.

Quando se afastaram, Rudy a puxou para a porta, saindo de casa.

– Onde estamos indo?

– Até seu presente.- Ele disse como se fosse óbvio. Ela revirou os olhos. Caminharam pela noite escura e fria, a neve fazia um barulho estranho e ensopava as pantufas deles, que não estavam preocupados com o frio que os podia congelar.

Quando entraram na casa por construir dos Hubermann, Liesel arregalou os olhos.

– O que é isso?!- Ela se espantou, olhando para o que era seu presente. Rudy mordeu o lábio inferior.

– Seu presente. Gostou? Feliz natal.- Ele disse, apontando.

Ele tinha construído uma prateleira, dentro dela estavam todos os livros que Liesel já lera, e alguns que ele tinha comprado com um dinheiro que conseguira com o pai. O livro preto de Ilsa e Liesel estava lá em cima, como se fosse uma biblia para os católicos. Era bonito, puro e ingênuo. Liesel adorou.

– Você é o melhor do mundo!- Ela disse, se jogando nos braços de Rudy e despejando beijinhos pelo seu rosto. No susto, o garoto deixou o livro cair, e quando abaixou para pegá-lo, o papelzinho de Liesel caiu. Rudy leu o papel e olhou para ela.

– O que...

– Entendeu agora qual é o seu real presente?

– Não era o livro, né?- Ele perguntou, abrindo um sorriso tão grande e resplandescente que eu quis chorar, se eu pudesse chorar, choraria. Liesel acenou com a cabeça. Os olhos de Rudy brilharam e ele segurou Liesel pela cintura, puxando-a para perto.- Somos namorados?

– Eu posso ser qualquer coisa que você quiser.- Ela disse. Ele sorriu.

– Você já é o que eu quero.- Ele disse, beijando-a com intensidade. Eu saí dali para lhes dar privacidade, afinal, eles não eram Romeu e Julieta que a morte os esperava para consumar o amor. Eles podiam fazer isso estando vivos.

(...)


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Notas finais do capítulo

Gente, a fanfic está acabando! Curtam os últimos capítulos.