Qual é a cor do amor? escrita por hollandttinson


Capítulo 15
Reflexão.


Notas iniciais do capítulo

Quero começar dando uma PÉSSIMA notícia: o carregador do meu computador parou de funcionar, então eu não tenho a menor ideia de quando vou atualizar aqui de novo, mas espero que vocês não desistam da fanfic porque ela está chegando numa fase MUITO importante.
O capítulo á seguir é de uma importância imensurável, então prestem atenção em cada detalhe, obrigada e vamos ler?



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Existem momentos do meu trabalho, e eles são mais frequentes do que eu gostaria, em que eu queria ser uma mosca. Uma mosquinha capaz de voar até além do céu, das nuvens que parecem algodão, e desvendar o futuro. Quem serão os humanos daqui á, sei lá, 2 anos? Valerá á pena tudo o que sofreram? No futuro, o mundo aprenderá que a paz nada tem á ver com vitória? Vencer não é ter paz, vencer é ter uma culpa.

Eu pensei que tinha vencido os dilemas da vida quando deixei de Rudy e Liesel vivessem, quando os trouxe de volta para os braços um do outro, mas mais uma vez fui equivocada. Eu nunca os salvei de verdade, eu estava o tempo todo os trazendo para os braços da morte, eles estavam o tempo todo sobre os meus ombros, e eu nem mesmo percebi.

Talvez eu desconfiasse que ficar tanto tempo concentrada em sobreviventes em particular, no formigueiro de pessoas que guerreiam e sobrevivem todos os dias, iria me deixar distraída. Eu costumava me distrair com as cores, elas me salvavam do resto. Não sei em qual momento eu passei á gostar mais de observar humanos de quem teria de dizer adeus mais tarde, do que ás cores, que permaneceriam comigo para sempre.

Sei que não importa quanto tempo passe, aquelas pessoas que tocaram o meu coração, elas sempre permaneceriam comigo. Mas não é a mesma coisa, óbvio. Não importa quanto tempo passe, nós nunca estamos preparados para perder alguém. Nem mesmo eu.

Não tinha percebido o quanto eu e vocês, humanos tolos, somos parecidos. Eu também sou tola, meus caros. Tola demais. Fui tola em achar que, na primeira vez em que vi a menina que roubava livros, conseguiria me livrar dela, e não ficar para observar mais um pouco, e não ficar para observar para sempre. Fui tola em achar que haveria um dia em que o meu pequeno Jesse Owens poderia correr sem pesar, que ele poderia ser o Jesse Owens que quisesse, não esperava que no final ele não quisesse mais ser Jesse Owens nenhum, não estava preparada para encarar o fato de que o Rudy é o Rudy, e não o personagem de alguma história heroica que alguém escreve, ele não é um herói, ele é ele. E por si só, já é muito.

Fui tola -ah como fui tola!- em achar que Max estaria seguro no porão do homem do acordeão, santo Cristo eu nunca pensei que um dia ele desfilaria entre aqueles judeus, eu nunca pensei meu Deus, nunca!

Mas todas essas coisas aconteceram, tudo me fugiu ao controle. As coisas escapam pelos meus dedos, é informação demais para que eles possam segurar. Quem eu quero enganar? Além de mim, é claro... Nem eu mesma engano mais, chegou a hora de admitir: minhas distrações estão com os dias contados. Não sou muito boa de matemáticas, mas algo me diz que é uma quantia pequena de dias.

Tento analisar a situação como um todo agora: Max manteve o trabalho, os filhos de seu falecido chefe acharam que não conseguiriam encontrar ninguém que fosse tão dedicado quanto Max, e tão feliz em estar trabalhando quanto, então o deixaram lá. E Max achou que não seria tão ruim se ele mantivesse o hábito do antigo chefe de entregar a comida de Marieta em casa. E assim ele fez.

Todos os dias Max acordava mais cedo, levava a comida até Marieta, e voltava para a loja feliz. Quando estava saindo de lá, ele via Marieta voltando da escola, os dois trocavam uma palavra aqui, outra ali, e então ele ia embora, sorrindo. Pobre Max, meu querido Max.

Quanto á Rudy e Liesel, nenhum dos dois queria admitir que Max tinha razão, porém nenhum dos dois deu o braço á torcer, então continuaram se encontrando ás escondidas na escola. Fiquei chocada comigo mesma quando constatei que vê-los dando sorrisos marotos aos ventos, e de mãos dadas pela escola, e até mesmo dando beijinhos no rio Amper, não me satisfazia mais. O que havia de errado comigo além do óbvio?

As coisas pareciam ruir ao meu redor, não conseguia encontrar nada para me dar paz alguma. Nem as cores e nem meus sobreviventes, nada! Não imaginava que o meu trabalho pudesse ficar mais exaustivo do que já era, mas estou surpresa. Negativamente surpresa.

Olhei para o céu naquela tarde. Estava um pouco nublado demais, era começo de dezembro, e tinha gelo espalhado por todo canto. Vi Rudy e Liesel rirem de algo, de mãos dadas. Alguém escorregou no gelo perto deles, e eles ajudaram a pessoa á levantar, prestando atenção em sorrir docemente para a pessoa, depois seguiram seu rumo.

Andei um pouco e entrei na escola, procurei por Evan e Marieta porque sabia que ali eles estariam, tinha ouvido algo sobre.

Andei pelos corredores, não acreditava que eles estavam sendo tão descuidados de se encontrarem tão cedo, e ainda mais na escola, onde qualquer um podia ver ou ouvir. Pensei que talvez eles estivessem desesperados, mas por quê?

Evan estava sentado em cima de uma das carteiras, sua mochila estava jogada abaixo de seus pés. Marieta estava encostada na sua mesa, olhando para ele com uma expressão assustada.

– E então ele lhe enviou uma carta dizendo para nos apressar-nos?- Perguntou Evan, olhando para ela como se ela fosse maluca. Não era do feitio dela ouvir um desaforo, mas dessa vez ela apenas concordou com a cabeça, engolindo em seco.- E como sugere que façamos isso?

– Eu... Não tenho a menor ideia. Tentei telefonar, mas quando passaram a ligação para ele, ficou nervoso e me disse para não telefonar nunca mais. Eu estou começando á ficar... preocupada Evan.- Ela disse, cruzando os braços e olhando para a janela, uma chuva fina começara á cair.

– Ele te ameaçou?- Perguntou Evan, esticando o pescoço como o macho alfa de algum tipo de mamífero. Ela suspirou, eu pensei que ela estivesse chorando, mas não estava.

– Talvez seja a hora de pensarmos em fugir.- Ela disse, olhando para ele quando terminou. Ele ergueu uma sobrancelha para ela.

– E fugir para onde? Ele nos encontraria.- Disse Evan negando com a cabeça. Ela levou uma mão á testa e fechou os olhos com força.

– Se nós mudássemos de nome... Não é tão difícil assim... Eu posso conseguir identidades falsas á você, podemos ir embora em um navio para a América... Começar uma vida nova lá.- Ela disse, apontando para a janela. Evan riu, fazendo-a crispar os lábios.

– Não, espera... Você está mesmo dizendo isso? Pensei que estivesse totalmente engajada no assassinato dos dois idiotas, o que aconteceu para você mudar de ideia?- Ele perguntou. Ela se encolheu e eu fiquei mais surpresa ainda com as reações dela. Ela estava vulnerável demais, melancólica demais... O que tinha acontecido?

– Ele é alguém realmente perigoso, Evan. Vi ele fazer coisas das quais nem mesmo eu teria coragem, e olha que eu tenho coragem para muita coisa!- Ela disse, arregalando os olhos. Eu tremi, quem seria esse monstro?

– Mari, você trabalhou num campo de concentração, é claro que você viu homens fazerem coisas terríveis. Mas aquele tempo passou!- Disse Evan, se aproximando dela e colocando as mãos nos seus ombros ternamente. Eles pareciam irmãos agora, eu quase acharia fofo se não estivesse tão preocupada. Ela concordou com a cabeça, encostando a testa no peito dele.

– Evan, por favor, confie em mim: ser uma assassina de aluguel não é o melhor emprego do mundo.- Ela disse, de olhos fechados.

– Então porque você o aceitou?- Perguntou Evan, unindo as sobrancelhas, agora ele parecia preocupado.

– Eu precisava.- Ela disse, se afastando.

– Acho que tem mais sobre o seu passado do que eu realmente sei.- Ele disse, analisando-a. Eu me aproximei para estudar o rosto dela, e fiquei um pouco assustada quando meu coração sentiu pena da imagem. Talvez existisse algo nela que justificasse algo, mas o que?

– Você nunca saberá.- Ela disse, e então alguém abriu a porta. Era uma aluna, ela arregalou os olhos para a cena e Evan riu.

– Boa tarde, Diana.- Disse ele, piscando para ela. A garota quase desmaiou diante á aquele sorriso.- Porque você não me espera lá fora?- Ele perguntou e Marieta revirou os olhos.

Eu sabia o que viria depois e não estava mesmo com vontade de assistir, então saí dali. Tentei encontrar qualquer coisa que justificasse as coisas que estavam acontecendo. Vamos por tópicos:

Marieta trabalhou em um Campo de Concentração, ela precisava ser uma assassina então virou uma, mas ela era uma de aluguel, então alguém a pagava para que matasse. O homem que a pagara para assassinar Rudy e Liesel era mais perigoso do que qualquer outro homem que ela já tivesse conhecido. Ela estava com medo.

O quadro não se encaixava, e eu senti que podia estar deixando passar algo.

(…)

Quando Max levou a comida de Marieta no sábado, antes de voltar para casa e ajudar os Hubermann á terminar sua casa, a mulher estava com a pior expressão do mundo. Seus olhos estavam tão inchados que parecia ter levado vários socos, ela tinha chorado a noite toda.

– Você precisa de ajuda?- Perguntou Max, olhando para ela com preocupação. Marieta olhou para a rua, assustada. Arregalou os olhos e puxou Max pela camisa para dentro da casa. Andou em círculos por alguns segundos até começar á falar.

– Eu não quero mais que você venha trazer comida para mim. Eu não quero mais que você faça nada por mim. Não quero ser vista com você.- Ela disse, fungando e cruzando os braços, tentando assumir a postura de mulher firme. Falhou miseravelmente. Max ergueu uma sobrancelha, era claro a mentira em seus olhos. Ela nunca tinha deixado transparecer tanto, o que tinha de errado com ela?

– Algum motivo por trás dessa decisão tão repentina?- Perguntou Max. Ela concordou com a cabeça.

– Eu não tenho de te dar satisfações da minha vida, apenas não apareça mais. Fui clara?- Perguntou, aproximando-se da porta para abri-la. As mãos dela tremiam tanto que mal conseguiu, e quando virou-se para Max, ele percebeu que tinha alguma coisa de errado.

– Eu não sei o que está acontecendo, mas o que quer que seja, você pode reverter qualquer situação se quiser. Foi muito bom conhecer você, adeus.- Ele disse, passando pela porta e indo embora sem olhar para trás. Ela fechou a porta e encostou a testa na mesma, sussurrando em meio á uma fungada: “Você está enganado, Max.”

Quando Max chegou em casa, todos puderam perceber o clima ruim.

– Aconteceu alguma coisa, Max?- Hans perguntou depois de um bom tempo de silêncio. Ele olhou para Rudy e Liesel.

– Vocês perceberam alguma coisa estranha com a Marieta esses dias?- Ele perguntou, erguendo uma sobrancelha para demonstrar a seriedade da pergunta. Rudy e Liesel se encararam, depois negaram com a cabeça.

– Bom... Ela não anda tão animada quanto costumava, mas acho que é um resfriado ou coisa do tipo porque ela vive fungando.- Disse Liesel dando de ombros, Max concordou com a cabeça.

– Tudo bem.

(…)

Um carro bateu na esquina perto da rua Himmel, eu tive de ir lá para levar comigo os 5 corpos. Enquanto eu os levava, pensei sobre Rudy e Liesel e em como eu não saberia o que fazer quando chegassem o seu momento.

Não fiquei surpresa quando vi Evan parado ali, junto com a multidão de pessoas que viam o carro. Ele tinha derrapado no gelo, só isso. Eles não precisavam ter morrido agora, talvez eles vivessem mais um milhão de anos, mas por pura birra, eu que sou sempre cruel, levei-os hoje. Quando nem eu, e nem eles, esperavam. Simplesmente cheguei e os levei. Eu sou assim, eu sou assim.

Evan estava olhando para mim, eu encarava ele, vi ele colocar as mãos nos bolsos. As pessoas estavam esperando algum carro de ambulância chegar, mesmo que ninguém tivesse acionado nenhum. Evan continuava me encarando e então eu vi uma coisa que eu não tinha percebido antes: por mais inofensivamente que eu tenha feito, fui eu quem roubei tudo de Evan. Como? Eu vou dizer.

Existiu um momento em que a Alemanha sofria por tanta escassez que era quase impossível viver, mesmo assim alguns conseguiam. Evan era um garoto magricela e com olhar assustado, estava andando lentamente, fazia frio demais e ele não tinha nada que pudesse proteger o seu corpo de tanto frio. Uma mulher caminhava ao seu lado, era ainda mais magra que ele, por mais impossível que isso pudesse parecer.

Estava escuro e a rua estava deserta. Eles não tinham onde morar, o dono do imóvel os despejara á algumas semanas, quando não tinham mais como pagar o aluguel. Não comiam á dias, e a sopa que distribuíam na praça acabara antes de chegar na metade da fila, e eles estavam quase no fim dela. Tinham andado quilômetros para chegar até ali, e quando chegaram, a sopa tinha acabado.

Tentaram “acampar” no lugar, para que na manhã seguinte garantissem a sopa, mas então a polícia apareceu e disse que eles não podiam ocupar um patrimônio público, e que vagabundos deviam ser presos. Então eles fugiram. Procuraram uma praça para que pudessem se abrigar do frio, mas já estava tudo ocupado. Nunca tinha visto tantas pessoas pobres, miseráveis e triste quanto estava vendo agora.

E aqui estavam eles: andando por uma rua escura, tremendo de frio e fome. Totalmente entregues á mim... E então eu vim. Não para os dois, mas não pude evitar de me agachar e carregar a alma daquela mulher que provavelmente fora bonita um dia, não mais hoje. Evan ficou tão chocado em me ver ao lado de sua mãe, que não chorou. Quando a polícia estava chegando, ele simplesmente se afastou do corpo e foi andando para o lado oposto. Sabia que se ficasse o levariam embora, para onde? Não sabia, mas não queria arriscar.

Evan tinha apenas 12 anos quando isso aconteceu, ele tinha só 12 anos quando teve que aprender que não importa para qual lado ele ande, a morte vai estar sempre caminhando ao seu lado. Não sei quando ele começou á matar prostitutas jovens, mas algo me fazia crer que elas o lembravam a mãe dele, que já fora uma. Ele tinha estragado a vida dela quando nascera, não tinha?

Imagino se enquanto matava aquelas garotas, ele pensava em crianças que tinham sido impedidas de nascer. Se ele pensava que matando-as, nenhuma outra criança ouviria da mãe o que ele ouvia. Será que ele matava elas por puro prazer pelo assassinato, como eu acreditava, ou ele estava poupando o mundo de mais crianças como ele? Seria hipócrita, ou seria aceitável?

Enquanto eu refletia sobre os motivos que levaram Evan á o que ele é hoje, eu o vi se afastando dos corpos no carro. Ele foi para o lado oposto, exatamente do jeito que fez com a mãe. Pensei então que não importava, o garoto quem ele foi antes... Ele era o que era agora, e agora ele estava prestes á matar Rudy e Liesel.

Porém, se até mesmo eu tenho um coração, porque ele e Marieta não podiam ter? E se tinham, o que tinha acontecido com o coração deles e porque eles queriam fazer com que os corações de outras pessoas parassem de bater, só por pura vontade? Como eu disse: se tem uma coisa de que eu nunca vou entender, é a capacidade dos humanos.


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Notas finais do capítulo

Sim, eu sei que super mudei o foco da fanfic, sei que não teve muito romance nesse capítulo, e sei que vocês estavam loucos para ter um pouco de romance, BUT a gente precisa contar um pouco de história né? PROMETO que no próximo capítulo vai ter MUITO romance, vocês não perdem por esperar!
E só pra checar: algum palpite de quem seja o assassino ou vocês ainda estão no escuro? Posso deixar claro que vocês vão ficar MUITO chocados com quem é... Porém, sem spoiler!
Beijos e até mais.