Qual é a cor do amor? escrita por hollandttinson


Capítulo 10
Quebra-cabeça.




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Depois de algumas horas afastados um do outro, quando chegaram em casa perto da noite, Liesel suspirou para Rudy, como um convite para que ele falasse com ela, mas ele não se mexeu, apesar de estar se roendo para isso. No jantar não se falaram e ninguém se preocupou em perguntar o porquê, nem perceberam. Mas mesmo assim, cada um sabia a falta que a voz do outro fazia.

Não dormiram bem naquela noite, mas Rudy parecia pior. Virou na cama até decidir que não ia adiantar de nada ficar ali, desceu as escadas fazendo o mínimo de barulho possível. Estava sentado numa cadeira de madeira perto da janela aberta e a lua era cheia, o que ajudava Rudy á ler as palavras gravadas no caderninho preto que fora de Liesel.

Ele sabia que ela era apaixonada por ele, ou fora. Não entendia como as coisas podiam mudar tão rápido, ela ainda devia estar apaixonada por ele, era o que ele esperava. Doía pensar que eles tinham crescido e o sentimento ido embora, porque para ele nada mudou, mas e para ela? Quem garantia que ela ainda era apaixonada por ele? Eu quis levantar a mão e gritar que eu garantia, eu sabia o que se passava de verdade, mas sabia que ele não me ouviria e seria melhor que não ouvisse, não é muito bom quando as pessoas me vêem ou me ouvem, não é um bom sinal para eles.

Rudy não queria chorar ou se lamuriar, ele só queria ficar sentado com aquele livro nas mãos e olhando para o nada, com a cabeça totalmente vazia e fazendo o maior esforço do mundo para ser silencioso e invisível. Essa não era a imagem que eu queria dele, essa não era a imagem que eu gostava de ver dele, me lembrava dele assim em apenas uma época, apesar de ela ter durado o que pareceu ter sido a eternidade, quando ele estava na casa do Prefeito, e Deus sabe o quanto eu me senti um lixo naquela época, não que eu não seja mesmo um lixo.

– Você devia estar dormindo, tem aula amanhã cedo.- Era Max quem estava falando. Ele tinha acordado com o barulho dos passos acima de sua cabeça. Não é que Rudy não tenha sido silencioso o suficiente, mas Max tinha se acostumado á ouvir o menor dos ruídos quando andava se escondendo por aí, e velhos hábitos nunca morrem, é o que dizem.

Rudy balançou a cabeça mas não virou o rosto para olhar o judeu, apenas continuou olhando a janela e amaldiçoando a sua falta de competência até para se manter sozinho. Apertou o livro com mais força, apenas querendo que Max fosse embora, mas não querendo dizer isso e magoá-lo, ficou calado. Max sabia que ele queria que se fosse, mas não faria aquilo agora.

– Anime-se, amanhã é sexta.- Ele disse, pegando uma cadeira e sentando-se ao lado do corpo de Rudy, que parecia morto á luz do luar, pálido, parado, sem vida.

– Isso não é bem um consolo.- Talvez se ele falasse, Max saberia que ele queria a distancia de todos. Ficar em casa não ajudaria porque teria de olhar para Liesel e saber que tudo morreu, ou quase tudo, o que já era grande coisa. Naquele instante, por um brevíssimo momento, ele quis que ela nunca tivesse voltado. O momento passou rápido quando ele se deu conta do que tinha pensado, e ficou ainda mais triste por pensar assim. Max suspirou.

– Eu sei que vocês brigarem, não é da minha conta o motivo, apesar de eu ter certeza que é esse garoto novo da escola, mas não acho que devam continuar assim. Estão agindo como crianças e vocês não são mais crianças.

– Eu gostaria de ser criança.- Disse Rudy, apertando o livro um pouco mais, fazendo os nós dos seus dedos arderem.

– Sei que gostaria, eu mesmo gostaria, mas não é possível. A vida acontece aqui e agora, não há nada que você possa fazer para mudar isso, Rudy.- Disse Max, tentando ser o mais sensível possível. Rudy balançou a cabeça, esse tinha sido o único movimento seu da noite e Max achou que já era um começo.

– Eu não ando podendo fazer nada mesmo.

– Eu duvido disso, talvez não esteja olhando bem ao seu redor, mas há sempre alguma coisa que você possa fazer.- Max se levantou, finalmente percebendo que não tinha mais serventia ali.- Espero que você não fique cego como tantos adolescentes costumam ficar quando as coisa dão errado.

– Eu não estou cego.

– E não está morto, então levante-se e vá viver, não se sabe quando vai ser a sua última oportunidade.- Disse Max, virando-se. Rudy suspirou, virando o rosto para o melhor amigo de Liesel, ele estava de costas, próximo á portinhola do porão.

– Max?- Ele virou-se para Rudy.- Obrigado por ser o melhor amigo de Liesel e por estar hospedado na minha casa.- Max sorriu.

– Disponha, Rudy. Disponha.- Disse Max, entrando no porão.

Demorou alguns minutos até Rudy levantar-se e voltar para o quarto, deitou-se na cama abraçado ao livro, que foi o que lhe deu esperanças por muito tempo, e adormeceu pensando no que Max disse e agradecendo pela existencia do judeu. Eu também tinha muito o que agradecer pela existência de Max, mas não havia nada que me ajudasse, então apenas observei meus sobreviventes adoráveis.

Na manhã seguinte, quando estavam todos na escola, uma mulher entrou na classe de Liesel, Rudy e Evan. Ela tinha longos cabelos loiros, grandes olhos verdes, boca e corpo fartos. Ela tinha um sorriso gentil nos lábios, o que só me dava mais ódio de sua presença. Porque diabos todos os que eu amo estão sempre em perigo constante? Suspirei, não tinha nada que eu pudesse fazer e talvez Max estivesse errado sobre olhar ao redor. Quando eu olhava ao redor via 2 assassinos que tinham sorrisos gentis, rosto maravilhoso e corpo farto demais, e eu quem estava farta dessa situação imbecil. Via dois sobreviventes maravilhosos, com sorrisos falsos, um nem sorria mais, e mente triste. E olhava para mim e sabia que eu era o contraste perfeito para essa imagem tenebrosa.

A professora nova que se chamava Melanie Iverovich, não me deu trabalho naquele dia, assim como Evan também estava comportado demais para o meu gosto. Então eu tive tempo suficiente para analisar a garota que costumava roubar livros e o meu antigo Jesse Owens se encararem até decidirem que isso estava começando á ficar ridículo.

– Eu sei que não devia ter tratado você daquela forma, mas eu estava morrendo de ciúmes e eu... Eu não quero que você me troque por ele.- Rudy se aproximou da cadeira de Liesel e jogou as palavras na sua cara, não eram como os tapas que Liesel costumava levar, era mais como uma carícia. Ele tinha voltado á falar com ela e admitira que tinha medo de perdê-la, que sentia ciúmes. Liesel se sentiu calma naquele instante.

– Você não pode achar que eu vou te trocar sempre que aparecer alguém que seja bonito ou legal. Você é o meu melhor amigo e isso não vai mudar, Rudy.- Ela disse, sorrindo de leve para ele. Não costumavam compartilhar palavras de afeto em público, nem mesmo quando eram crianças, palavras nunca foram muito necessárias entre eles. Os olhos ás vezes falam muito mais que a boca.

– Então eu estou perdoado?- Ele perguntou e ela sorriu mais abertamente.

– É claro que você está perdoado, Saukerl imundo.- Ela disse, dando um soco no ombro dele, só por brincadeira. Ele riu.

– Adoro quando você é uma pessoa extremamente amável comigo, é mesmo muito encantador!- Ele brincou e ela revirou os olhos antes de mostrar a língua para ele.

Em algum lugar no mundo alguém disse que as melhores amizades são aquelas em que você briga e depois parece que nada aconteceu, porque quando você ama muito alguém você tem a necessidade de estar perto, de ouvir a voz, sentir o cheiro, o abraço. Todos nós sabíamos que os dois não iam conseguir ficar afastados por muito tempo, eles nasceram para ficar juntos, não importa em que sentido seja. Eles estão fadados á proximidade, mesmo que em algum momento de suas vidas eles tenham sido afastados, são como imãs que sempre voltam á se atrair. E eu sou o metal entre os dois, estou sempre atraída á esse casal de sobreviventes.

– Você disse que estava com a garota nas suas mãos.- Disse Melanie após levar a mão ao rosto de Evan e depositar ali um tapa barulhento. Ele bufou e passou a mão no machucado.

– Você acha que eu conseguiria atraí-la tão fácil? Ela tem um amigo que parece estar sempre por perto, e não é tão influenciável quanto as garotas que eu estou acostumado.- Disse Evan, se aproximando do espelho e analisando a marca vermelha no seu rosto. Melanie estava irritada com ele e eu estava querendo saber o porque de estar sendo chamada para esse momento, o porque de eu não estar com Liesel e Rudy agora.

– Então trate de se acostumar com essa garota o mais rápido possível, o Chefe não vai ficar satisfeito se nós não conseguirmos o que ele quer, você sabe muito bem.- Melanie estava com medo, ela estava quase tremendo. Eu tinha adivinhado que estava apenas com raiva, até descobrir que algum Chefe lhe dava muito medo. Evan balançou a cabeça.

– Não há nada que eu possa fazer, ele disse que não pode ser um sequestro ou um assassinato, é com isso que eu lido, meu anjo.- Ele disse para a professora que mais uma vez lhe transferiu um tapa na cara. Ele cerrou os punhos sabendo que se revidasse teria de se revolver com o Chefe.

– Eu não vou ficar em maus lençóis por sua culpa, Lawrence. Você pediu para vir, você pediu para tentar, você tinha a sua vida miserável á base de mortes imbecis e prostitutas, trocou porque quis.- Disse Melanie. Evan ergueu uma sobrancelha para ela enquanto lhe dava um sorriso cínico.

– E quanto á você Melanie Iverovich? Qual era a sua vida antes de aceitar ser submissa á uma pessoa que nós nunca vimos pessoalmente?- Perguntou Evan, que já parecia estar exausto de ficar seguindo ordens, se não fosse pelo dinheiro e pela promessa de uma vida arriscada e cheia de adrenalina, ele já teria desistido. Mas isso era no mínimo divertido para ele.

– A minha vida não é da sua conta. Cuide de conseguir arrastar a garota Meminger para debaixo dos seus braços, faça o seu trabalho.- Disse ela, arrumando a roupa e os cabelos.- Eu tenho uma turma para dar aula.

– Eu tenho uma garota para conquistar.- Ele disse saindo antes dela.

A cena anterior se passava pela minha cabeça sombria enquanto eu tentava encaixar todas as peças do quebra-cabeças que cercava Liesel. Eu não tinha imaginado que havia um plano além do assassinato da minha garota até agora. Havia alguém acima dos 2 assassinos repulsivos com quem eu estava lidando, e eu infelizmente não fui atraída para ele ainda, já que aparentemente ele não lida com a morte. Quem seria o tal Chefe de quem Melanie e Evan falavam?

Lembrei-me de um passeio á cidade onde meus sobreviventes pensaram ter visto 3 silhuetas escondidas no escuro da escola que seria inaugurada em algumas semanas. Quem era a terceira pessoa? Seria ela o Chefe? E o que eles querem com a minha garota?

Estava faltando alguma coisa aqui, qual peça era a essencial para terminar com esse impasse?

Enquanto eu tentava achar as respostas para o que estava acontecendo, pessoas me chamavam para levá-las embora finalmente, outras me diziam que eu devia levar seus inimigos e Liesel me chamava sem nem mesmo saber disso.

Enquanto eu estava parada imersa em pensamentos, alguém agia para fazer mal á Liesel e eu não tinha como avisá-la disso, eu só podia observar Evan se aproximar da garota com um sorriso bonito demais, angelical demais, ninguém imaginaria que ele era a própria imagem do demônio.


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Notas finais do capítulo

Antes que vocês tentem me matar, eu quero pedir desculpa pelo que está acontecendo, dizer que eu nunca vou desistir dessa fanfic e espero que vocês também não. Um grande abraço e espero vocês nas reviews.