Como Ser Criado Por Um Maroto [SENDO REPOSTADA] escrita por MFR


Capítulo 1
O Começo




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Para qualquer lado que se olhasse só se veria nuvens escuras. Ia chover, não era uma hora para viajar de moto, principalmente quando ela voava. Mas eu não me preocupava exatamente com a chuva.

Hoje à tarde quando acordei - eu não devia ter bebido até de madrugada - uma das primeiras coisas que ouvi foi sobre a queda de Voldemort, minha alegria durou até me explicarem como.

Todos acreditavam que foi o Harry. E O Menino que Sobreviveu agora estava órfão.

Meus olhos queimavam enquanto eu acelerava cada vez mais a moto em direção a Godric Hollow. Queria acreditar que era apenas um tipo de boato sem fundamento, que meu melhor amigo estava vivo e que nós não fomos traídos por Pedro. Que Voldemort não teria sido derrotado por um bebê que ainda não conseguia dizer "padrinho" quando eu pedia, e que James e Lily estavam vivos e bem, provavelmente se agarrando no sofá enquanto Harry dormia confortável em seu berço.

A ideia de eu preferir que outros milhares de pessoas sem rostos fossem mortas por Voldemort antes de meus amigos poderia me assustar, porém estava pouco me fodendo no momento.

Quando enfim avisto as luzes do vilarejo acelero até quase o limite do motor e entro na cidade não me importando se algum trouxa me visse. Ao passar pela porta da casa desacelero com tudo e a moto simplesmente cai no chão com uma pancada que me faz bater os dentes. Desço da moto, que só não cai pelo meu instinto de abaixar o tripé, e olho a casa.

A porta da frente estava derrubada e parecia que algo tinha explodido a entrada da casa, o quarto de Harry tinha as janelas penduradas e marcas de queimado envoltas, as flores perto estavam murchas e enegrecidas.

Não eram boatos tão á toa assim.

Entro passando por cima da porta caída. Um vulto enorme me chama a atenção, mas então se vira e uma luzinha saída de um guarda-sol ilumina o rosto peludo de Hagrid. Seus olhos me observam e então faíscam em outra direção por um momento rápido, como se não quisesse que eu visse. Mas eu vejo e sinto um frio percorrer meus ossos.

A imagem parecia cada vez mais próxima, mais tarde perceberia que era eu que me aproximava. Minha boca se abre e sinto uma leve dor nos joelhos quando caio ao seu lado. Aperto as mãos em punhos quando vejo seus olhos vidrados.

Meu coração pesava. Como se algo me sufocasse por dentro e, aos poucos, me secasse, sinto a perda ali, a poucos centímetros de distância. O pesar de meu amigo morto, sem qualquer chance de voltar era insuportável. Os sorrisos, os momentos felizes, as confusões, os duelos em equipe que por mais perigosos sempre nos divertiam; não os veria mais.

Ele se fora.

Um grito estrangulado sai por minha boca enquanto meu corpo recai sobre o dele, minhas mãos se agarram ao seu suéter e imploro para qualquer força maior que faça minhas lágrimas saírem para que, talvez, parte da minha dor se vá junto.

Minha garganta parece estourar quando meus gritos aumentam e se tornam dolorosos, e minhas lágrimas finalmente escapam grossas lágrimas que molham um pouco a roupa de meu melhor amigo morto.

Enquanto meus gritos ficam cada vez mais altos sinto as mãos enormes de Hagrid tentando me afastar de James, todavia eu não me importava com mais nada. Só queria gritar até que minha garganta se rasgasse e eu morresse!

Coloco ainda mais força nos gritos e me seguro para não começar a socar com toda minha força o corpo inerte de meu melhor amigo.

JAMES! — clamo com todas as minhas forças para então parar de gritar.

Minha garganta doía como se eu tivesse engolido uma esponja de aço, meu soluços fortes não ajudavam na dor, mas disso eu não morreria. E calado finalmente o ouço, um choro quase tão desesperado quanto o meu, mas infinitamente mais importante.

"Harry" penso levantando a cabeça em direção ao som.

Esfrego o braço no rosto limpando as lágrimas de meu rosto para clarear minha visão. Endireito-me ainda de joelhos, meus braços soltos ao meu lado, olho para meu amigo outra vez.

Hesitando, guio lentamente minha mão em direção ao seu rosto e depois de respirar fundo fecho seus olhos. Minha mão desce até seu peito devagar e outra vez eu tenho vontade de soca-lo, quase como se meus músculos acreditassem que ele era o culpado pela dor que agora eu sentia.

Minha mente se esforça para achar algo para dizer, tentando me despedir. Só que eu não estava pronto, talvez nunca estivesse. Levanto-me com dificuldade, pela dor em meus joelhos eu devia ter ficado mais tempo naquela posição do que percebera.

Sinto os olhos preocupados de Hagrid em mim quando começo a subir as escadas à procura de meu afilhado. Começo a correr ao lembrar que Harry podia estar machucado e ao entrar em seu quarto quase piso no corpo. Aperto os punhos para me controlar e dou a volta no corpo da ruiva que tanto ajudou na minha nem tão curta vida.

Chego ao berço limpando meu rosto outra vez, Harry tinha o rosto meio escondido no travesseirinho. Sua mãozinha apertava um ponto em sua testa e tanto ela quanto o travesseiro estavam sujos de sangue.

Afago suas costas pedindo silêncio baixinho, consigo fazê-lo parar de chorar e olhar para mim, sorrio da melhor forma possível e tento pega-lo no colo, Harry se remexe um pouco, mas consigo segura-lo.

— Ei, ei, sou eu, Harry. — murmuro tentando ser reconhecido. Deixo-o um pouco afastado para que pudesse ver da onde vinha o sangue e vejo o corte em sua testa, me acalmo ao ver que não era fundo. Sorriu um pouco vendo que ele estava mesmo bem, apesar de tudo e de que esse corte formaria uma cicatriz. — Vai ficar tudo bem, não precisa se preocupar. — digo o abraçando. Ele continuava um pouco agitado então continuo balançando o corpo e afagando sua cabecinha. Com o passar do tempo viro em direção ao corpo de Lily, achando que estaria pronto para agora enfrentar a imagem, eu não estava. — Shiu, Harry, eu vou cuidar de você, vou cuidar sim. — prometo dando as costas a ela.

Harry finalmente fica calminho, o balanço mais um pouco até que ele dorme. Tento segura-lo da forma mais confortável possível quando vou em direção ao que antes era uma porta. Dou um adeus silencioso a Lily e desço as escadas.

Hagrid ainda estava na sala, batendo seu enorme pé de forma ritmada.

— Lily?... — ele pergunta e eu aceno, sabia que se abrisse a boca voltaria a chorar. Hagrid se aproxima com lágrimas nos olhos, me preocupo um segundo quando ele ergue sua gigantesca mão em direção ao meu afilhado, mas me acalmo ao lembrar que ele ainda era a pessoa mais gentil que eu já conhecera. — Ah, Sirius, eu sinto muito. — Ele diz, apenas nego com a cabeça, ainda não confiando em mim para falar. Hagrid se afasta um pouco e limpa a garganta antes de dizer. — E-eu tenho que levá-lo a Dumbledore... O diretor me mandou aqui para buscá-lo. E-ele vai deixar Harry com os seus tios.

Dou um passo para trás em choque. Fazia sentido Dumbledore querer ver Harry e ele ter escolhido Hagrid, uma das pessoas mais confiáveis desse mundo podre, para buscá-lo. Mas levá-lo até aqueles trouxas...

— Nem pensar. — falo tendo minha presença de espírito de volta. — Harry não sairá de perto de mim.

— Sirius... — Hagrid tenta.

— Não. — nego — Eu sou seu tutor, James e Lily me escolheram e eu vou cuidar do meu afilhado.

Por sua expressão ele sabia que não adiantaria discutir comigo, e de qualquer forma, mesmo que eu tivesse que passar por cima de Hagrid eu não desistiria.

— Pelo menos... Pelo menos o leve até Dumbledore, não sabe que tipo de arte das trevas pode ter o marcado.

Bufo concordando, ainda com Harry nos braços procuro uma vassoura e um tipo de bolsa que James usava para prender Harry ao seu corpo quando voava.

Com Hagrid em minha moto com Harry e eu na antiga vassoura de James partimos para Little Whinging.

Tomara que viagem não seja longa. — penso ao me aproximar mais dos dois.

Infelizmente ela era, o que me deu tempo de sofrer pelas perdas.

Meu melhor amigo estava morto, e ele sempre representou muito mais que um companheiro; Lily se foi também, a ruiva que tantas vezes me impedira de fazer coisas sem juízo faria falta; Fazia algumas semanas que não via Lupin, e até ontem eu desconfiava dele; Já havia perdido contato com meus pais a muito tempo, e a ultima vez que vi meu irmãozinho tolo ele estava que só faltava beijar os pés de Voldemort; E o idiota do Pedro... Meu peito ardia em ódio dele e de mim, como eu pude confiar naquele rato? Fizemos tanto por ele...

Talvez se pensássemos bem, eu tinha tanta culpa pela morte de dois dos últimos seres que eu amava quanto Pedro.

Quando enfim Hagrid começa a descer percebo que estávamos entrando num subúrbio trouxa, logo reconheço o lugar, eu já tinha vindo aqui com James para buscar Lily na casa da irmã.

Ao pousamos vejo que Dumbledore já estava lá, e a Professora McGonagall me observava surpresa.

— Vocês não esperavam mesmo que eu fosse abrir mão de Harry tão facilmente assim, não é? — pergunto. Olho em volta, encarando o ridículo lugar. Trouxas? Serio?

Professor Dumbledore suspira devagar antes de admitir gentilmente:

— Eu imaginava que o senhor daria algum tipo de trabalho.

Começo a encarar seus olhos, não era possível que ele achasse que eu daria só um pouco de trabalho.

— Como o menino está? — a professora pergunta.

— Harry está bem, com um corte na cabeça, mas bem. — respondo ainda olhando para o diretor — Porém gostaria fossem feitos alguns testes contra magia negra nele, por precaução.

Dumbledore acena, mas eu não sabia se por ele entender ou por concordar com os testes - professor confuso.

— Quer que eu cuide do corte, enquanto vocês... vocês conversam? — McGonagoll se favorece hesitante e eu aceno concordando. Olho ela indo de encontro ao Hagrid, mas logo me viro para Dumbledore.

— O senhor tem que me deixar ficar com ele.

Os olhos do diretor nem piscam com meu pedido.

— Meu jovem, — ele começa gentilmente. — você deve entender que o melhor agora ele é ficar com os tios.

— O senhor nem sabe como esses trouxas são. Eles desprezam magia, vão maltratar Harry. — rebato.

— Mas eles são sua família. — Dumbledore pontua.

— Eu sou mais família para Harry do que eles! E foi a mim que James e Lily escolheram como tutor, é comigo que ele tem que ficar.

A calma que o diretor mostrava perante o meu desespero começava a me fazer questionar se não era uma batalha perdida. Não que eu fosse desistir é claro, sair daqui sem Harry não era uma opção.

— Será muito melhor para Harry crescer longe do nosso mundo... — Começa o diretor.

— Então eu o mantenho longe, me mudo de país se for preciso! — Rebato erguendo a voz.

— Não é justo o senhor sacrificar sua juventude...

— NÃO IMPORTA! — grito, Harry atrás de mim acorda e começa a chorar. Sinto por acorda-lo e isso me vem com um tapa de realidade, realmente não importava, que fossem para o inferno todas as festas, bebidas e mulheres, nada seria bom se eu não cuidasse do bem mais precioso de James, e não apenas isso, mas eu não ia sobreviver sem o ultimo traço de família que eu tinha. — E-eu não vou conseguir viver mesmo se não souber que Harry está bem.

Meus olhos ardiam de novo, mas me recuso a chorar. Uma tempestade de sentimentos de dor somados a necessidade de cuidar de Harry traz mais força para dentro de mim. Os olhos tão sábios e calmos do diretor me encaram e eu retribuo.

Próxima a Hagrid, num tom tão serio quanto sempre, porem com um sentimento que eu nunca tinha visto antes, professora McGonagoll pergunta:

— Sirius, você tem certeza disso? Não é como ter James de volta, de qualquer forma...

— Eu sei, Merlin, eu sei. — garanto — Mas é Harry, de alguma forma ele sempre foi meu bebê também. Não meu filho, mas meu bebê. E agora ele é tudo o que eu possuo.

Após alguns momentos Harry ainda chorava nos enormes braços de Hagrid e eu continuaria a lutar por ele. Sem nenhuma mudança de expressão no rosto, Dumbledore começa a falar:

— Cuide dele. O mantenha longe desse mundo, não deixe sua fama subir a cabeça, o eduque para que ele seja forte e ainda assim gentil. O proteja dos perigos que sempre vão segui-lo, e de forma alguma deixe que ele se sinta sozinho.

Foi como se uma algo em mim fosse colocado de volta ao seu devido lugar, como se a realidade que eu não estava sozinho e ainda protegeria o que mais amava concertasse um pouco de mim. Ainda doía, mas um dia talvez passasse.

Não me importando em dar as costas para o bruxo mais poderoso do mundo, ou mesmo agradecer, vou até Hagrid pegando meu afilhado no colo e o abraçando.

.

Harry apertava meu dedo enquanto dormia, eu velava seu sono, pois não conseguia passar mais de alguns minutos dormindo.

Já fazia quase dois dias que James morrera, meus olhos ardem sempre que penso nele. Mas Harry estava ajudando a me manter e até agora eu não estava indo tão mal assim como tutor. Assim que Dumbledore concordou que a guarda de Harry seria mesmo minha professora McGonagoll se voluntariou para que ficássemos em sua casa até que eu soubesse o que fazer.

Mesmo permanecendo aqui, eu já tinha me decidido na primeira noite.

Iríamos nos mudar para um lugar, um distante e sem essa confusão que Voldemort deixou para trás.

Me afasto de Harry quando alguém bate na porta de nosso quarto, ponho um travesseiro para impedir que ele caísse e atendo a porta.

— Professor. — cumprimento.

— Olá, Sirius. — ele me cumprimenta com um sorriso gentil.

Dou uma olhada dentro do quarto para ver como Harry estava e então fecho a porta com o cuidado de não fazer barulhos.

— O que posso fazer pelo senhor?

— Ah, na verdade o senhor Mundugos arranjou as coisas que você pediu. — Ele esclarece me passando um envelope grosso.

O abro e vejo dentro alguns documentos e muitas notas de dinheiro trouxa. Sabia que eram coisas falsificadas que garantiriam uma vida confortável até que eu tivesse acesso à conta de Harry em Gringotes.

Sorriu e agradeço:

— Obrigado, professor.

— Não agradeça a mim... Embora creio que minha figura contribuiu muito para a qualidade dessas falsificações. — o diretor diz terminando com uma pequena risada gentil.

— Bom, imagino que não vá me dá mais concelhos. — suponho fazendo Dumbledore sorrir.

— Você cuidará bem dele, eu sei disso. — ele diz, assinto grato pela confiança. — Aliás, onde pensa em ir?

Paro um momento, encarando-o pela ultima vez. Dou um sorriso e um aceno, para então responder com calma.

— Sempre quis conhecer o Brasil. — respondo com a mão na maçaneta.


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