Como Ser Criado Por Um Maroto [SENDO REPOSTADA] escrita por MFR


Capítulo 2
Hogwarts?




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A manhã estava bem agradável até agora, de verdade, e olha que eu já tinha ido e voltado do treino de futsal e ajudado Sirius a arrumar um defeito na sua moto. Então, até aquele momento, tudo que eu queria era tomar um banho e ir para minha escola – e que as aulas passassem rápido, é claro.

No entanto, parecia que não era para ser assim.

Enquanto eu esperava dar a hora de ir tomar banho, - sentado no chão para não sujar o sofá caro do meu padrinho – uma coruja entra pelas portas abertas da varanda.

Com dez anos logo eu poderia ir para a Escola Balbina de Magia e eu tenho que admitir que estava animado com isso. Educação sobre magia ancestral, poções, feitiçaria e defesa contra as artes das trevas? O que podia ser mais interessante?

Não é exagero dizer que sonho às vezes com a Balbina.

Porem minha carta só chegaria em dezembro, então essa não era uma carta da Balbina. E na minha ignorância eu estava certo. Então já que eu não recebia nada do correio coruja, chamei meu padrinho para receber “sua” correspondência.

Continuando a ver TV percebo Sirius entrando na sala. Seu cabelo, muito liso e comprido, estava molhado e quando pega a carta joga uma bolinha de papel pardo na minha nuca se soltando sentado no sofá, ignoro encarando Tintin fazer uma reportagem sobre gângsteres - o desenho não era tão estranho quanto parecia.

─ Harry. ─ Sirius chama pondo sua mão em minha cabeça.

─ Quê? ─ Pergunto desviando a atenção da TV.

─ Tome. ─ Ele fala soltando uma carta em meu colo.

Estranhando, encaro o envelope amarelado. Com um belo lacre de cera roxa e endereçado a mim com tinta verde, ali tinha um brasão conhecido.

E por mais que isso não faça muito sentido, mesmo eu sendo um bruxo, tive a impressão que os animais do brasão sorriram para mim depois que identifiquei o remetente.

─ Isso é sério? ─ Pergunto surpreso me voltando para Sirius.

─ É sim. ─ Ele sorriu de um jeito orgulhoso.

─ Mas... Mas eu não sou de lá. Quero dizer, era para eu ir para a Balbina, Brasil, não era?

Tive a impressão que Sirius queria revirar os olhos ou bater com a almofada xadrez na minha cara.

─ Harry você é inglês, seus pais e eu fomos para Hogwarts, além do mais você é um dos símbolos mais importantes da magia branca da Grã Bretanha, não tinha a menor chance de você não ser, no mínimo, convidado a estudar em Hogwarts.

O tom usado por meu padrinho me surpreende, parecia que ele tinha certeza absoluta que Hogwarts era minha única opção.

Pensando bem, não havia motivo para tanta surpresa assim, Sirius sempre falou com muito carinho da escola. Bandeiras e até um suéter antigo do time de quadribol grifinório decoravam e eram muito bem guardados em seu quarto, e um álbum de fotos parecia quase completamente repleto de momentos num castelo milenar.

─ Eu vou para Hogwarts? ─ Pergunto baixo olhando para o envelope ainda fechado.

─ Ou para a Balbina, tenho certeza que ela também vai mandar uma carta para você. ─ Meu padrinho diz.

─ Então eu que decido?

─ Sim.

─ Então eu posso ir para a Balbina.

─ Pode, claro... Se prefere trocar a melhor escola do mundo, pela melhor do continente americano.

Por estar de costas para ele, Sirius não vê meu sorriso ao dizer:

─ Se eu escolho, acho que vou para a Balbina...

─ Então eu escolho. Você vai para Hogwarts. ─ Ele rebate, e uma risada tenta sair do meu peito, mas ela entala na garganta.

─ Achei que diria isso. ─ Riu me virando e mostrando que estava brincando.

Agora sim ele revira os olhos, e então escorrega do sofá para ficar sentado na minha frente de pernas cruzadas.

─ Olha filhote, eu sei o quanto queria estudar na escola daqui. E a Balbina é mesmo uma ótima escola, mas Hogwarts é a melhor do mundo.

─ E é importante para você. ─ Completo.

Sinto a mão dele empurrando minha cabeça devagar e tenho que arrumar meus óculos para que eles não caiam.

─ É sim, é mesmo muito importante para mim. ─ Sirius confirma. ─ Harry, eu nunca... nunca esquecerei o dia que entrei naquele lugar, de quando conheci meus amigos ou da minha primeira pegadinha. ─ Um brilho de nostalgia aparecia nos olhos cinzentos do meu padrinho e sem que eu percebesse também sorriu. ─ Filhote, você só entenderá o que é estudar naquele castelo quando o fazer. Muito do que eu sou, foi graças ao que eu passei na escola, e quero que você tenha a oportunidade de ter o que eu e seus pais tivemos.

Desvio o olhar. Não era como se eu não soubesse que uma hora eu teria que escolher entre o que era confortável e fácil para mim, pelo o que era mesmo certo e o que Sirius esperava. Só que nesses anos eu criei um carinho tão grande pela Balbina! Todos os bruxos que eu conhecia estudaram lá e falaram da escola com tanto carinho quanto Sirius por Hogwarts.

Só que... Hogwarts também estava na minha infância marcando minha vida. Nas minhas lembranças mais antigas Sirius contava sobre o período que viveu lá. Foi lá que meus pais se conheceram, onde conheceram o homem que sempre cuidou tão bem de mim. Hogwarts era conhecida mundialmente como a melhor escola, meu futuro seria todo mudado caso eu fosse para lá.

Mas com meu nome e o dinheiro que eu e Sirius herdamos, e ele investiu e o multiplicou tão bem, não seria tão difícil ter uma vida inteira confortável.

─ Eu tenho mesmo que ir para lá? ─ Choramingo.

─ Tem. ─ Sirius responde risonho.

─ Mas... mas lá todo mundo vai ficar falando de Voldemort!

─ Harry, não interessa o que eles pensam, nós sabemos a verdade.

─ Eu não quero ficar num país que acredita que eu derrotei aquele cara.

─ Hogwarts não é isso, Harry. ─ Sirius corrige com um tom quase ofendido.

─ Tá. ─ Murmuro.

Não dá para discutir com cachorro velho. E eu também não podia ter o preconceito de acreditar que uma escola inteira me trataria bem apenas por Voldemort.

Falar sobre o que aconteceu, explicar e ficar pensando e pensando no que meus pais tinham feito por mim e pelo mundo não era exatamente confortável. Eles me amavam a ponto de morrerem e se não fosse por isso o grande Lord Voldemort ainda estaria espalhando terror e ódio. Acabei só tendo meu padrinho, mas com ele eu não precisava de muito mais.

─ Vamos filhote, o que é isso? Você só começou a gostar da Balbina agora.

─ Isso não é verdade! ─ Nego.

─ É sim, tudo por causa daquela velha da Belarmina, ela não devia ficar falando dessa escola tanto assim.

Dona Bina (o apelido da velha maga) era uma das únicas bruxas que eu conhecia. Naquela pequena cidade, no interior do Brasil, tudo de magico se resumia no sitio de Belarmina próximo da cidade e da nossa cobertura no único prédio do município. A senhora foi tirada da Balbina logo no terceiro ano para ajudar o pai a criar os irmãos, mas por ter saído criou tanto muito carinho pela escola brasileira quanto perdeu a oportunidade de aprender magia corretamente, praticamente só sabia fazer poções. E implicar com Sirius e Monstro - ela não entendia a necessidade de um elfo domestico se vivíamos num apartamento com só dois quartos.

Meu padrinho parecia não gostar da senhora, mas era só fachada. Afinal, não iriamos tantas vezes para o sitio dela se ele desgostasse tanto assim.

─ Dona Bina só quer que eu estude lá porque porque ela não pôde. ─ Defendo.

─ Então está tudo certo, ela não pôde ir para Hogwarts também.

Bufo. Não importa o quanto ele cuidou bem de mim, Sirius tinha um talento nato de me implicar e ser infantil.

E meu padrinho, quase emburrado, procurou logo se acalmar, e depois de um longo momento de silencio perguntou mais calmo:

─ Harry, você realmente ─ ele deu demasiada ênfase a essa palavra ─ não quer ir para Hogwarts? Não quer conhecer seu país e o nosso mundo mágico?

─ Ah, Sirius, eu só não entendo porque eu não posso conhecer o mundo mágico aqui no Brasil.

─ Porque você não é brasileiro! ─ Sirius responde enérgico. ─ Você cresceu no Brasil, mas é inglês, cresceu como trouxa, mas é um dos bruxos mais famosos do mundo. Sempre foi diferente e eu quero que pare com isso, que seja quem é.

─ Eu vivi aqui o tempo todo, tudo o que eu conheço esta aqui!

─ Mas não também tem qualquer raiz aqui, são só colegas e mais colegas. Harry você acha que se eu não soubesse o que é bom para você eu estaria aqui falando?

Abaixo a cabeça estufando as bochechas, detestava quando Sirius mostrava que era adulto, preferia quando me tratava de igual para igual. E odiava tanto quanto quando ele tinha razão em suas broncas.

Mas se eu pensasse bem, deixando de lado anos de amor e adoração pela escola brasileira que por séculos e séculos esta escondida no meio da Amazônia, procuro ver se tinha algo bom em ir para Hogwarts e me lembro de todo o carinho que transparecia quando Sirius falava dela. De como eu fantasiava uma mistura de luz e trevas em um castelo gigantesco, de como eu esperava ver os jogos que Sirius sempre comentou, ou as aulas que por mais difíceis meus pais (todos eles, eu comumente incluía Sirius nessa categoria) tinham facilidade. Será que eu teria o mesmo talento deles?

Eles ficariam muito decepcionados se eu escolhesse permanecer nessa terra? Afinal, eu gostava tanto das coisas daqui!

... Com exceções, obvio, esse calor não é assim tão fácil de gostar.

E nessa pequena pausa pensando, tenho a certeza de que Hogwarts era minha escola, era onde eu aprenderia a ser um bruxo de verdade. Lá eu cresceria e passaria a maior parte da minha adolescência, talvez achasse a mulher para me casar. Eu estudaria em Hogwarts, seria bom para mim...

Mentira. Como se alguém fosse mudar de opinião em tão pouco tempo.

A questão é que Sirius não havia me dado escolha, a decisão já tinha sido tomada. Ele tinha suas razões, eu as respeitava, porém discordava. Só que ele era meu pai, meu tutor, e ele é quem manda.

Só me restava respeitar. E torcer para gostar da Europa.

De qualquer forma eu ainda teria meu padrinho, não era como se eu precisasse de mais do que isso.


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