Brasília, 22 de abril de 2014

Querido povo brasileiro, no caso, meu povo,

Hoje se comemora 514 anos da minha descoberta. Há exatos 514 anos Portugal havia me descoberto. Lembro-me que era um guri, um pirralho, um moleque, quando vi aquele homem vestido com panos e pele tão clara...

E quanto mais gente vinha da casa de Portugal, eu via minha mãe cada vez mais triste. Não que ela não gostava das visitas do meu “pai”, mas é porque ela sabia que o chefe do senhor Afonso iria abusar das minhas riquezas.

Depois de um tempo abandonado, Portugal se lembrou que tinha um filho, um irmãozinho. Para evitar que outros países (como o Inglaterra e o Espanha) me roubassem, ele mandou pessoas para ocuparem partes da minha casa.

O resto vocês já devem saber, ou pelo menos, deveriam. Mandaram boa parte do nosso ouro lá pra fora, o nosso pau-brasil, nosso melhor café, nosso melhor açúcar. Nossas coisas, tão boas, tão lindas, de tanta qualidade, são vendidas. Não que isso seja ruim, mas quase ninguém sabe...

Meu povo, fico triste quando vocês preferem o que vem de fora. Eu sei que não sou o melhor país para se viver, mas não sou o pior. Meus amigos lá da África lamentam muito sobre a fome e doenças que os assolam, os caras do Oriente Médio queriam que não houvesse tanto sangue derramado de inocentes... Nestes casos, a culpa é deles?

E porque a culpa seria minha?

Vejo minhas crianças, adolescentes e jovens que abandonam o estudo para trabalharem, para ajudarem os pais; por outro lado, há boa parte da juventude que reclama do colégio, das obrigações. Eu sei do jeitinho brasileiro. Mas foi um costume adquirido bem antes de vocês. A culpa não é nossa.

Desde o começo fui deixado de lado. Meu povo sempre copiou o que vem de fora, desprezando o que é nosso, de nossa cultura. Nas minhas veias corre sangue de vários países, e me orgulho muito deles. Mas e minha parcela? E o samba, o brigadeiro, os quatro dias de folia, que vocês tanto apontam e julgam como obsceno, desnecessário, mas adoram dormir até tarde.

“Desse jeito o Brasil não vai para frente”, ouço dizer. Não estamos (muito) na pindaíba. O meu futuro, e o futuro de cada um está nas mãos de vocês. Não quero que imitem os japoneses ou alemães, e nem deixar de admirar os demais países... Mas poderiam dar um pouquinho de amor ao país que os ama, e tem orgulho de seus filhos.

Vamos dar valor o que é NOSSO! Vamos deixar de preguiça e escolherem bons chefes para mim e meus estados (ninguém merece chefe mala, né?).

Com muito orgulho e muito amor

República Federativa do Brasil

(ou Lulu)