A Pele do Espírito (versão antiga) escrita por uzubebel


Capítulo 30
Cegueira [Fim do Hiatus]


Notas iniciais do capítulo

Acabou, gente! Acabou o hiatus!
Depois de seis meses sem escrever, trabalhando no meu TCC, e sob um leve bloqueio, finalmente eu trago um capítulo novo. Infelizmente, ele não ficou muito longo. Ainda não estou de volta ao mesmo ritmo de antes, mas espero me recuperar logo. Minha meta é postar capítulo à cada quinze dias, vamos ver o que acontece. Minha outra meta é concluir a história esse ano, e começar uma nova, uma continuação no mesmo universo. O quê acham? Espero que gostem. Recebi mensagens durante o hiatus, leitores pediram pra eu não abandonarem a história, e cá estou eu. Nunca pretendi abandonar vocês. Se puderem, comentem, só pra eu saber que não foi todo mundo embora enquanto eu estava fora. Vai ser muito importante pra mim. E muito obrigada por continuarem acompanhando.



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Meus sonhos ainda eram um mistério. Ás vezes, em meus curtos e esporádicos cochilos – se comparados às longas e diárias horas de sono de Lóris – eu agora era capaz de sonhar. E, mesmo assim, parecia não estar sonhando da maneira certa. Humanos sempre descreviam seus sonhos como se, dentro de suas mentes adormecidas, estivessem acordados e cercados de imagens tão vívidas quanto a própria realidade. Quando eu sonhava, no entanto, era incapaz de ver alguma coisa. Meus sonhos mais pareciam um lugar escuro onde eu vagava infinitamente e apenas eu existia. Minha consciência ainda parecia incapaz de alcançar o vale dos sonhos, e em seu caminho devia ter despencado em um precipício intocado pela luz.

Como sempre, eu caminhei. E, apesar de eu não enxergar, uma experiência que eu nunca tivera, não havia paredes ou árvores ao redor, nem pedras nas quais tropeçar. Tudo era completamente vazio.

Era quase angustiante dormir.

 

Minhas lembranças sempre começavam no mesmo ponto, quando sonhava com elas. Quando eu sonhava com o incêndio, todas as vezes, já estava cercada pelo fogo, com as paredes de madeira praticamente caindo sobre mim. Então, Byakko aparecia. Eu lhe dizia algo, palavras que sempre me escapavam quando eu despertava, e o sonho terminava. Sempre da mesma forma.

Mas não foi o que aconteceu quando eu adormeci. Pela primeira vez eu me vi, aos cinco anos, entrando pela porta da frente, arrastando Damien atrás de mim, sujando a ponta de sua cauda branca. E, pela primeira vez, havia alguém lá dentro. A figura encapuzada, alta, vestindo apenas negro, passava suas mãos pelas cortinas, pela madeira das paredes, e incendiava tudo o que tocava. A porta bateu atrás de mim, e o vulto virou-se na a direção do baque seco. Seuas pupilas douradas cintilaram a luz quente das chamas, e suas pupilas se estreitaram. E, no entanto, os cabelos negros por baixo do capuz eram curtos.

Não era Isméria. Nem era uma lembrança.

Quem quer que fosse, endireitou seus ombros largos, masculinos, e avançou um passo. Eu abracei Damien apertado, estava assustada, e repetia em suas orelhas surdas o nome de Byakko, como uma prece. A figura continuava caminhando, logo transpondo a sala minúscula e se avultando sobre mim. Cambaleei para trás, assustada, e tropecei em algo esparramado pelo chão. Cai sobre o corpo de Byakko, adulto e inconsciente, caído ao lado do batente.

— Byakko? – Chamei, sacudindo seus ombros.

Seu peito se inflava no ritmo lento, porém constante, de sua respiração. Mas eu não conseguia acordá-lo.

— Byakko!

O homem de capuz estendeu sua mão em nossa direção, e eu me encolhi. No entanto, era Byakko que ele almejava. Ele pôs seus dedos em volta da garganta de Byakko e levantou seu corpo inerte, jogando-o contra a parede. Eu fui jogada para trás. Corri de volta e tentei puxar Byakko para longe, segurando seus dedos gelados. Soltei sua mão e tentei empurrar o sujeito para longe. Mas só consegui amassar suas roupas, e puxar o capuz que cobria suas feições. O que recebi em troca foi um olhar de desprezo.

Pelo menos agora ele me via.

— Pare! Você vai machucar ele!

Ele reagiu estreitando os olhos, acesos como lanternas, e apertando ainda mais seus dedos. Byakko engasgou, ainda inconsciente. Seus dedos se contorciam, arranhando a parede. E o fogo se alastrava.

— Pare, por favor! – Voltei a implorar.

Soltei-o e cambaleei até Byakko.

— Byakko, acorda! Por favor, acorda!

 

— Byakko?

Ouvi meu nome em meio à cegueira de meu sonho. De que direção viera, eu não sabia.

— Byakko! – Lóris me chamou, e me surpreendi por, pela primeira vez, não estar completamente sozinho em meio à escuridão. Em seguida, preocupei-me com a urgência em sua voz. Comecei a correr, incapaz de ver aonde ia, procurando-a, chamando por ela. Eu tateava no escuro, louco de preocupação, sem receber qualquer resposta. Só ouvia seu choro baixo, que parecia vir de todas as direções.

— Lorena! – Gritei mais uma vez.

— Byakko, acorda! – Ela respondeu. – Por favor, acorda!

 

Acordei ofegante, como sempre ficava ao imagina Lorena em perigo. Meu coração martelava em meu peito. Um levantou sua cabeça das patas de pedra para me observar.

— O quê aconteceu?

— Um sonho – respondi. – Um sonho ruim...

— Um pesadelo, você diz – ele corrigiu.

Mas eu só queria saber de Lorena. Não demorou para meus olhos encontrarem-na, e ela ainda dormia. Mas a expressão em seu rosto era muito familiar para mim: a mesma que ela tinha quando via coisas muito ruins em seus sonhos. Pesadelos, disseram Um. Seus dedos se contraiam, como se tentassem se agarrar a algo, rugas vincavam seu rosto e gotas de suor escorriam por suas têmporas. Eu não pretendia acordá-la, mas assim que toquei em seu rosto, enxugando sua pele, seus olhos se abriram e ela gritou.

Ela ofegava ainda mais que eu quando acordara. E, agora que seus olhos estavam abertos, eu via quão cheios de lágrimas estavam. Ela demorou a perceber minha presença ao seu lado, quase como se seus olhos não conseguissem focar em mim. Quando me viu, tocou meu rosto, e desceu sua mão até meu pescoço, como se procurasse algo.

— Byakko? – Chamou-me, como se só fosse acreditar no que via se ouvisse minha voz.

— Eu estou aqui.

Ela enxugou seus olhos, respirando fundo.

— Com o que você sonhou?

— Sonhei com alguém... Não sei que é.

Ela engoliu em seco e sua boca se entreabriu por um instante, como se tivesse algo mais a acrescentar, mas logo a fechou, sacudindo a cabeça, incrédula com seus próprios pensamentos.

— Foi só um sonho – eu disse.

— Foi só um sonho – concordou, sem olhar nos meus olhos.


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