A Pele do Espírito (versão antiga) escrita por uzubebel


Capítulo 12
Até Amanhã


Notas iniciais do capítulo

Antes de qualquer outra coisa, obrigada à todos que estão acompanhando a história e/ou favoritaram, e um beijão pra quem comentou.
Esse capítulo ficou bastante curto (apesar da esmagadora maioria dos meus capítulos serem bastante curtos), mas porque no capítulo que vem a história dará um salto de quatro aninhos, então preferi separar as duas partes para não gerar uma eventual confusão. Por causa disso, vou também tentar postar a próxima parte o mais cedo possível, mas, sem me delongar demais, espero que gostem.
Beijos!



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Minha mão estava prestes a cair diante da insistência com que eu batia na porta, vezes sem conta. E como se não bastasse, meu ombro latejava depois de eu ter me jogado, num momento de insanidade, contra a madeira maciça. Depois de praguejar, chutei as dobradiças.

– Eu sei que você tá aí! – gritei, mas ele não respondeu. – Byakko!

Até mesmo as aldrabas me ignoravam. Um e Dois estavam imóveis, encarando o horizonte com olhos vítreos e inanimados, como se nunca tivessem realmente saído dessa posição. O templo parecia mais soturno e deserto do que quando, em minha cabeça, apenas histórias assustadoras viviam ali.

– Vocês estão tentando me fazer acreditar que foi tudo mentira? É isso? – gritei. – Porque isso não vai acontecer! Byakko!

Joguei meu caderno contra a porta, furiosa, mas nenhuma resposta veio. Ele apenas foi rebatido para trás, me acertou no rosto e caiu no chão com um baque seco e as páginas abertas. Sentei-me com as costas apoiadas na parede e suspirei.

– Fala sério... – resmunguei. Mais uma vez o nome dele no alto da página zombava de mim.

Chutei o caderno para fechá-lo, mas fiz apenas com que o ar deslocado pelas páginas cuspisse a papoula na minha direção. Peguei a flor entre os dedos e a encarei.

– Você deixou essa flor no meu quarto durante a noite, não foi? – perguntei. – Por quê? Eu não te conhecia... Foi antes mesmo de nos encontrarmos no bosque. E Dorothea pareceu muito incomodada com sua visita, eu só não entendi ainda o porquê...

Apenas o murmúrio do vento me respondeu.

– Queria entender quem é você. Desculpe pelas perguntas daquele dia, é só que... histórias são valiosas para mim. Acho que porque eu perdi a minha, não é mesmo? Devia ter pensado nisso antes, mas acho que, para alguém eterno, as perdas devem ser difíceis de lidar... Você perdeu alguém, foi isso? Porque eu acho que foi. Foi o que pareceu. Mas pelo menos você se lembra... É mais difícil ter cicatrizes quando você não se lembra como se machucou.

Ajeitei as pétalas da papoula branca que, apesar de amassadas, pareciam tão frescas quanto na manhã em que a encontrara, e ainda exalavam seu perfume.

– Eu vou deixar isso aqui – passei a flor pela fresta entre o chão e a porta, como uma carta secreta de amor. – Não é que eu não tenha gostado, é só... Bem, eu não sei – ri, meio boba.

Recolhi meu caderno do chão e o guardei na bolsa à tira colo. Aquelas páginas haviam se impregnado com o cheiro da flor, o cheiro dele.

– Eu volto amanhã – anunciei. – Você já me disse que está sempre aqui, não é? Mesmo que você continue sem me ver, ou abrir a porta, ou falar comigo...

Desci as escadas olhando ao redor e, quando mirei a cúpula acima, vi um vulto pequeno correr para se esconder, apesar da luz do ocaso machucar meus olhos. Sorri e acenei.

– Até mais!


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