A Pele do Espírito (versão antiga) escrita por uzubebel


Capítulo 1
Prólogo


Notas iniciais do capítulo

Bom, essa não é minha primeira experiência com Fanfics. Sou coautora, junto a mais duas amigas, de outra Fanfic original, mas é a primeira vez que publico uma em que sou a única autora. Alguns personagens dessa história aparecem nessa outra original que escrevo, ou tem relação com outros personagens dentro do enredo, como um grande crossover. Ou, bem, esse era o nosso plano *risos*. Espero que gostem.



Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/497984/chapter/1

  “Todo esse tempo, eu estava aprendendo a viver.”

 

 

 

 

 

Eu me lembro da luz.

Uma luz quente e ofuscante, acuando-me; o fogo devorando as paredes e os móveis; o cheiro acre da fumaça escura que se acumulava sob o teto. Tão bem quanto qualquer criança de cinco anos poderia se lembrar de seu maior pesadelo.

E se lembrar da morte.

Ela estava lá, diante de mim. Eu vi. Não passava de uma criança, igual a mim. Um menino com olhos e cabelos sem cor, como papel em branco, que refletiam o matiz bruxuleante do inferno ao nosso redor.

Não sei porquê se disfarçava com uma máscara tão pueril, nem me lembro de algum dia ter-lhe perguntado. Talvez para me acolher como a uma igual, e para isso encolhera-se em um corpo pequenino, com os olhos, na mesma altura dos meus, examinando-me; ou para me acalmar, e por isso usava uma face tão gentil e familiar que poderia pertencer a qualquer dos meus amigos.

Ele piscou, e só então percebi o quão fixamente eu o fitava nos olhos. Ah, um pequeno gesto tão humano... Além disso, havia algo lá, no fundo de seus olhos... seria dissabor, tristeza, culpa? Qualquer que fosse, o sentimento era para mim. Por mim. E era intenso.

Meus lábios se abriram e palavras lhes escaparam. E elas o fizeram se encolher e virar o rosto, mas não os olhos, que continuavam fixos nos meus.

Uma viga fumegante caiu ao lado do menino, que sequer se assustou, enquanto eu me encolhi e abracei mais apertado o boneco em meu colo: um grande gato branco de pelúcia, agora coberto de fuligem. Ele vai proteger você, meus pais diziam...

Só então o espírito pareceu vê-lo, e o brinquedo o fez sorrir.

Espelhando seu gesto, eu sorri também; e ver-me imitando-o deixou o menino desconcertado, a ponto de suas bochechas pálidas corarem.

E também, percebi, apesar de sua pele clara, as íris prateadas enormes e os cabelos branco-osso, a proximidade entre nós me acalmava, como se meu medo houvesse sido abafado por um espesso cobertor.

De repente, ele me estendeu sua mão pequena de criança e segurou a minha. Seus dedos eram frios, agradáveis contra minha pele, como uma brisa fora de contexto no meio daquele inferno.

No último instante antes do teto inteiro ruir, com sua estrutura completamente corroída pelo fogo, ele sorriu pra mim.

Então, o espírito me guiou.

Ele me tirou de lá.


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!