Worse Than Nicotine escrita por Dama do Poente


Capítulo 3
Hangover


Notas iniciais do capítulo

Obrigada à todos que estão lendo e deixando recadinhos: eles são muito importantes para a estima dessa autora aqui ^^
Aliás, tenho que avisar: o próximo cap pode demorar mais um pouquinho, pois preciso fazer uma pesquisa para aprimorar a história.
Espero que gostem do cap!!



Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/497772/chapter/3

P. O. V Thalia:

— O que aconteceu aqui? — perguntei, assim que acordei ou voltei da morte, não sei...

— Ressaca resume perfeitamente a sua vida hoje! — Jason mexia num tablet, sentado do outro lado do quarto.

— O que eu to fazendo em Nova York? — aquele não era meu quarto, e eu não tinha idéia de como havia parado naquele quarto.

— Não sei! Você chegou ontem e não me deixou fazer pergunta alguma. — ele respondeu — Apenas me seguiu até a festa do Connor!

E então, a noite anterior voltou à minha cabeça: eu chegando à Nova York, depois de ter tido minha vida destruída em Londres; Jason se surpreendendo ao me ver em seu apartamento; eu o seguindo até a festa. A festa, as bebidas, eu fazendo cosplay de Lana Del Rey na piscina, o Groupie, o desafio de Annie, o beijo de Nico. A chegada em casa, eu caindo no banheiro, o hospital, Nico e as irmãs, Apolo me internando... E eu não me lembro de mais nada.

— Acho que preciso de um café! — levanto da cama, e ele da cadeira. Seguimos juntos para a cozinha.

Onde, por ser uma das propriedades Grace, tinha confusão rolando.

— To morto! — Apolo, nosso irmão mais velho reclama, deitado no sofá.

— Claro que está. Eu fui bem clara: não invada minha cama! — Artie, sua melhor amiga, dizia, enquanto fazia um café.

— Oi, gente! — Allegra, filha de Apolo, acena para nós.

— Por que eu tenho que ter irmãos malucos? — Jason resmunga, indo pra cozinha também.

— O que aconteceu? — pergunto, me jogando no outro sofá.

— Ontem papai tinha um plantão, e como tio Jay ia para as orgias dele, eu fui ficar com a Tia Artie!

— Allie, como você sabe o que é uma orgia? — Apolo levanta o rosto da almofada, olhando seriamente para a filha de apenas 12 anos.

— Ela é sua filha, Apolo, o que você espera? — Ártemis o provoca, ao mesmo tempo em que serve Allie e bate um high-five com a mesma.

— Que você pare de implicar comigo e aceite meu pedido de desculpas. — ele responde a retórica.

— Ah, claro! Porque quando você confia no seu melhor amigo e dá uma chave do seu apartamento para ele, você realmente espera que ele entre de manhã e vá deitar na sua cama. — e com essa, eu levanto a cabeça da almofada, encarando os dois de olhos arregalados — E como se não bastasse isso, seu namorado chega e vê essa cena, antes mesmo que você tenha tempo de se livrar do seu amigo, que está com um braço em cima de você e com a mão no seu seio.

— Cara! — eu murmurei não acreditando no que ouvia — Eu que fico bêbada e você que faz besteira? — pergunto.

— Foi um acidente! Eu apenas entrei na primeira porta não cor - de- rosa que achei! — ele responde sonolento.  

— E, como se não bastasse o fato de Órion ter saído furioso de lá, eu não consigo deixar de me preocupar com você, e venho até aqui, te preparar um café! — ela bate com as xícaras no balcão, fazendo com que Allie e Jason saiam de perto.

— Eu vou explicar pro Órion o que aconteceu! Não que ele a mereça, mas já que a faz feliz, eu faço esse sacrifício! — Apolo levanta e pega uma das xícaras — E mesmo que você brigue comigo, você me ama! Tchauzinho! — e some no corredor.

— Minha casa virou a casa da Mãe Joana? — Jason pergunta. — Primeiro a Thalia volta da Europa, deixa todas as malas aqui, vai pra uma festa, fica bêbada, e usa meu travesseiro como babador. Agora, meu irmão mais velho briga com a melhor amiga da faculdade, e os dois resolvem usar minha casa como octódromo?

— E eu? — Allegra pergunta meio decepcionada.       

— Você é sempre bem-vinda aqui, meu amor! — Jason sorri para ela.

— Aquele momento em que seu irmão é mais atencioso com sua sobrinha do que com você! — reclamo — Cadê meu café?

— Vem buscar! — Jason diz — A Artie já teve o trabalho de fazer, você ainda quer que o levemos até aí?

Resmungando, levanto-me e vou até a cozinha, onde qualquer um que visse diria que éramos uma família feliz mais uma amiga tomando café. E éramos, mas não hoje.

— Tia? — Allegra se virou para mim.

— Sim? — resmunguei, apesar de não gostar de fazer isso com ela.

— Por que voltou da Europa? — parecia até uma prova; mas ela podia ter começado com uma pergunta simples...

— É uma boa pergunta! — Apolo enfatiza, sentando ao lado de Ártemis, que se afasta, mas é puxada de volta.

— Bom, vou resumir a situação para vocês! — suspirei — Allie, gatinha, seu pai tem razão: você não deve viajar por aí, querendo ser modelo...

— Tia, a senhora começou a falar sobre isso ontem... O que quis dizer com “é um caminho traiçoeiro, muitos tentam te enganar, muitos ganham seu coração e o jogam fora como se fossem migalhas de pão”? — ela era o quê: uma adolescente, ou um rádio gravador?

— Que não existe nada pior do que ser traída por sua melhor amiga!

— O que a Annabeth te fez? — Jason pergunta confuso.

— Não foi ela! — revirei os olhos — Luke me traiu com a Silena!

— O QUÊ? — todos os Grace e a Mesiac perguntam.

— E o pior é que não sei se sinto raiva ou pena dela: Silena é uma garota tão boa, que é fácil de ser enganada; principalmente se for por um idiota como Luke. — ignorei a pergunta deles e continuei minha narrativa sofrida. — E pelo visto, eu sou tão boba quanto ela! Como eu pude acreditar que o cara mais... galinha de Londres, queria algo sério comigo?

— Thalia Grace usando a palavra galinha... ta aí uma coisa que não vemos todos os dias!

— Eu to aqui te contando a sofrida história do fim do meu relacionamento, e você vai reparar no meu vocabulário? — finalmente desperto de meu relato, e encaro Apolo.

— Uma vez poeta, sempre poeta! — ele dá de ombros. — Mas, como eu tenho que fingir ser o irmão atencioso, Thalia, irmãzinha, eu sinto muito! Talvez um dos dois tenha alguma explicação... — ele murmura incerto.

— Antes de eu viajar, Silena veio falar comigo, chorando! Ela afirmou estar bêbada; disse que nunca faria algo assim comigo... E eu meio que acredito nela!

— Por quê? — Allie estava confusa.

— Não sei! — dou de ombros — Ela só parecia sincera demais!

Um silêncio incômodo reina no ambiente; ninguém mais sabe o que falar. Eu queria desaparecer naquele exato instante, meus irmãos pareciam perdidos, Artie parecia mais perdida ainda, e Allie estava tentando entender o que estava acontecendo.

O reinado do silêncio só foi interrompido pelo celular de Artie, e pelo resmungo dela.

— Mas que droga! Eu nem terminei de tomar meu café! — ela resmunga e atira o guardanapo sobre a mesa.

Artie era legista do Departamento de Policia de Nova York. Ela e Apolo se conheceram na faculdade de medicina, mas seguiram caminhos diferentes.

— Eu te disse para escolher a Neurocirurgia, eu disse! — Apolo bancou o convencido

— Cérebros são nojentos, vivos ou mortos! — ela dá de ombro — Mas eu prefiro os dos mortos: posso trazer justiça para eles!

— Onde foi o crime? — Allie pergunta, como se isso fosse uma conversa normal de café da manhã.

— Brooklyn! — ela responde, pegando o casaco e as chaves. — Desejem-me sorte!

— Tomara que seja um daqueles sem cabeça! E que quando a cabeça chegar esteja cheia de vermes! — Apolo comenta, lendo o jornal.

— Por que eu virei sua amiga, mesmo? Eu devia estar com algum problema!

— Você tinha um copo de vodka na mão! — ele a lembra.  

— Viu? Não estava em meu estado normal! — ela dá um beijo na testa de Allegra — Já sabe: se seu pai te encher a paciência, sabe onde ele guarda a chave do meu apartamento!

— Minha filha me ama, ok?! — se meu irmão é convencido? Só bastante.

— Bom, tem alguns momentos em que... — e Allie ficou mais pálida do que já é, quando Apolo abaixou o jornal gradativamente, mostrando seu olhar de “pense bem no que vai falar” — E-eu vou ali! — ela sai correndo, levando todos ali a rirem.

Depois que Artie saiu, Apolo perdeu totalmente a vontade de brincar e resolveu que precisava dormir. Ele sussurrou algo para Allegra, lhe deu um beijo na testa e se foi para o quarto de hóspedes. Jason murmurou algo sobre Leo e saiu, levando Allegra junto.

E eu fiquei sozinha, em um apartamento que não era meu, lembrando de tudo o que acontecera nos últimos dois dias e pensando em como o mundo dava voltas.

Aos 15 anos, quando saí de Nova York, e embarquei nessa vida de modelo, nunca achei que daria certo: afinal, eu era a pessoa que mais odiava modelos; mas no fim, acabou se tornando algo bom, e eu vi na profissão um jeito de crescer e fazer coisas boas. Eu me mudara por achar que tinha o coração partido, mas agora, eu finalmente entendia o significado de corações partidos.

— Alô? — atendi ao telefone, chorando

— Thalia? — Annabeth responde — Você ta chorando? Por que você ta chorando? Não, não me conte agora, me encontre no lugar de sempre! Beijos!

Eu estava oficialmente de volta!

P. O. V Nico:

Eu estava com uma ressaca terrível e uma horrível dor de cabeça. Passara a maior parte da noite acordado: ora fumando, ora cuidando de Hazel. Eu estava determinado a mostrar a Bianca que eu era responsável.

Mas eu falhara miseravelmente, e agora estava deitado em seu colo, com um saco de gelo na cabeça. Hazel estava no outro sofá, assistindo Good Morning America.

— Como sobreviveram tanto tempo sem mim? — Bia pergunta, enrolando os cabelos em um coque.

— Assistindo séries policiais e comendo em restaurantes — Hazel respondeu.

— Em minha defesa, alego que estou tendo muito trabalho! — me encolho, sentindo mais uma pontada de dor.

— To vendo! — ela suspira e ajeita minha compressa.

Parecia que tínhamos voltado no tempo: os três no sofá, conversando e vendo TV. Mas a ilusão se quebrou, assim que o telefone de Bianca tocou.

— É a Zöe! — ela suspirou e atendeu — Onde é o incêndio?

— Brooklyn! — Hazel e eu respondemos, apontando para a TV, onde, de fato, um incêndio era transmitido.

— Estou indo! — Bia desliga, e eu a deixo levantar — Vocês têm certeza de que ficarão bem?

— Não! Eu tenho aula! — respondi e Hazel apenas concordou.

— Vocês não tomam jeito! — ela certamente revirou os olhos antes de sair.

A repórter na TV continuava a falar sobre o incêndio, mas eu não prestava mais atenção; minha mente se dividia entre a noite anterior e o que eu teria pela frente. E na tentativa de me livrar dos flashes, resolvi parar de procrastinar e ir logo para a aula.

— Ligue-me se precisar de algo! — gritei para Hazel, que me ignorava.

Dirigi até a faculdade e subi até o segundo andar, onde teria minha primeira aula do dia. Estávamos estudando adaptações, e hoje o professor apresentava a versão de 2005 de O Fantasma da Ópera.

Como parte da matéria, tínhamos que ler o livro que dera origem ao filme, e após ler a obra, fiquei com pena de Gaston Leroux. O velho escrevera o livro brilhantemente, e o musical o reduzia miseravelmente. Onde estava o Persa? Onde estava a Sala dos Suplícios? E a Christine loira? O Érik ventríloquo, então? A única coisa de bom naquele filme era a música! Todas eram fantásticas, e os atores realmente cantavam bem, mas eu era exigente e chato demais para prestar atenção nisso.

E era exatamente por isso que meus professores e colegas achavam que eu seria um péssimo diretor ou roteirista: se eu fosse fazer uma adaptação, ela teria mais tempo de duração do que Senhor dos Anéis, de tão detalhada que seria.

E eu ainda pensava nisso, quando cheguei à aula de Italiano daquela tarde.

— O senhor está bem? — fui arrancado de meu devaneio cinéfilo pela menina mais fofa que toda Nova York já conhecera.

Ela tinha uma pele de porcelana, manchada por sardas, olhos azuis escuros, e cabelos negros como a noite. Tinha uma inteligência surreal, e uma personalidade difícil, mas que eu aprendera a lidar depois de tanto tempo de convívio.

— Estou sim, Allegra! — sorri e a abracei.  

— Acho que a festa de ontem não lhe fez bem! — ela ergue as sobrancelhas, e sou obrigado a rir. — Se não estiver se sentindo bem, podemos remarcar para outro dia. Eu não importo: meu pai ta mesmo desmaiado depois do plantão de ontem..

— E a senhorita aproveitaria para procrastinar o dia todo, né?

— Eu ainda tenho um livro de Poe para ler! — ela aponta para o mesmo.

E não, não sei por que uma menina daquela idade estaria lendo Edgar Allan Poe. Com 12 anos eu só queria saber de ler as HQs do Batman mesmo.

— E eu tenho que cuidar da Levesque! — chequei o horário em meu celular.

A crise de ontem realmente me assustara, e eu não podia contar com Bianca naquele momento: ela estava tentando levar justiça para mais uma família. Ou umas, caso o incêndio tivesse atingido várias pessoas.

E foi por esse motivo, em nome das minhas irmãs — uma que eu precisava cuidar e outra que eu precisava reconquistar a confiança —, que eu propus a coisa mais antiética em toda a minha vida.

— Vamos, ragazza! A aula acabou de mudar de lugar!

 


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!


Notas finais do capítulo

Espero que tenham gostado e que deixem recadinhos!!
Beijos!!