Worse Than Nicotine escrita por Dama do Poente


Capítulo 15
Side By Side With Me


Notas iniciais do capítulo

Citações de Shakespeare para todos, porque elas são ótimas para surtar kkkkkkkk
Mrs Irônica, Ping Pong Blue, FerTempH, Victoire, Carolina Rondelli, Sra Maddox e Lare: obrigada pelos reviews no último capítulo.
Fiquem agora com a Semana Literária



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P. O. V Thalia:

Ano novo, vida nova: mesma frase de todo ano, mas em 2015 eu estava determinada a levá-la ao pé da letra! Começando por me dedicar mais à minha família.

– É sua filha quem vai subir no palco, e você quem fica nervoso? Sabe que isso não faz sentido, certo? – segurei Apolo pelos braços, e o fiz sair do backstage.

– Meu bebê vai se apresentar! Meu bebê vai cantar sozinha! Meu bebê...

– Seu bebê não é mais um bebê! Allie já tem 12 anos, uma voz ótima e uma segurança incrível! – o virei de frente para mim – O que ela não precisa agora é um pai emocionado demais, a ponto de não conseguir segurar as emoções.

– Portanto se acalme, pegue essa câmera e não trema enquanto estiver gravando-a! – Ártemis surge, literalmente jogando a câmera nos braços de Apolo – Vamos, temos que achar um bom ângulo!

Revirei os olhos enquanto via os dois discutirem como crianças, concordando com Allegra: eles bem que poderiam ser bonecos, onde basta segurar as cabeças e eles se beijariam. Ou podiam estar sob o efeito do soro da verdade: assim eu descobriria por onde Ártemis esteve, por que esteve e por que Apolo não esteve. E principalmente: por que estavam tão estranhos!!! Aquilo irritava todo mundo.

– Lembro de um tempo em que só grandes e mortos autores eram aceitos nesse palco. Mais perigos há em teus olhos que em vinte espadas!

Por coisa alguma desejo que te vejam aqui Romeu.

– Basta me olhar com tua doçura que estarei protegido de tanto ódio.

– És louco. – viro-me para encarar Nico, e sorrio ao perceber que ele também o fazia.

Tínhamos 13 anos, quando nos obrigaram a encenar o Ato II, Cena II de Romeu e Julieta. Foi o mais longe de romance que atingimos, e me surpreendia que ele se lembrasse de tais falas. Quer dizer, não muito: nossos pais sempre tiveram uma rixa... Algo relacionado a uma garota que ambos tentaram conquistar no período de escola, que evoluiu para “quem é o mais rico?” e que eles rezavam para que atingisse os filhos e eles também se odiassem, mas isso nunca aconteceu e não lhes restou opção que não aceitar nossa amizade.

– Muita gente diz que sou... E estou tentado a concordar com elas! – percebo olheiras em seu rosto, antes que se incline para beijar minha testa.

– O que faz aqui? – pergunto surpresa – Você parece pronto para entrar em coma, não para honrar o colégio...

– O colégio não; minha segunda Grace favorita sim! – ele sorri – Recebi isso da minha aluna e “sobrinha – postiça”, e não tinha como recusar! – me mostra então seu convite, que era idêntico ao meu – Além do que, soube que minha irmã e minha melhor amiga trabalharam no figurino: precisava checar isso.

– Sua irmã tem todo o crédito! – sigo-o pelo auditório lotado – Eu só servi para elogiá-la!

O lugar estava lotado; só não me perdi do casal vinte porque é impossível não ver as chamas que são os cabelos de Ártemis. Sentia Nico cambaleando ao meu lado, como se estivesse prestes a desmaiar: embora devesse, não resisti ao impulso de agarrar-lhe pela mão e puxá-lo aos nossos assentos.

– Você tem dez minutos para tirar um cochilo! – e mal Jason, que estava sentado ao meu lado, mencionou isso, Nico dormiu.

– Qual o segredo dele? – Apolo pergunta, olhando-o como se fosse uma espécie de monstro ou algo do tipo.

– Se ele soubesse, eu certamente o faria embarcar na Tardis e daria meu antigo endereço para ele: quem sabe assim ele me ensinasse como por meu filho para dormir? – a mãe de Apolo, mais conhecida como Sra. Le, comenta.

– Mamãe, por favor: não vamos fangirlizar Doctor Who agora! – meu irmão pede, o rosto ficando subitamente vermelho.

– Vamos sim! Principalmente as primeiras versões, por que essas novas... – e então, os dois começam a discutir sobre a série mais antiga que eu já ouvi falar, gritando a plenos pulmões, ganhando adeptos: DW original VS DW atual.

– Gente, até o Leo tá ali no meio, apoiando a Sra. Le! – Jason comenta, e eu me viro a tempo de ver o latino ali, ao lado de Hazel e de um garoto asiático.

– Espera um minutinho aí: aquela ali é Hazel, ganhando um selinho do asiático fofo e sarado? – um incômodo, típico de quando eu falava algo que não prestava, surgiu em minha mente.

– Frank podia fazer melhor que isso! – Jason voltou-se para frente, como se os gritos ao nosso lado não o incomodassem.

Era como estar de volta aos velhos e bons tempos, quando eu ainda estudava na Loyola. Não havia uma apresentação em que alguém de minha família não se metesse em discussão... Até mesmo Allie, que era uma criança, já arrumou confusão por causa de um doce – o melhor foi Apolo ter fotografado e filmado tudo, enquanto Ártemis tentava dissuadir Allie a devolver o doce à coleguinha. E como ela adora agradar a ruiva, devolveu... O único decepcionado foi Apolo, que “perdeu sua futura campeã de MMA”

Eu costumava sentir vergonha desse ponto de minha família, até perceber que sem essa característica, eu nunca teria chances de me divertir com eles. E também não teria conhecido meu melhor amigo: afinal, foi em uma briga entre Zeus e Hades, que eu e Nico realmente viramos melhores amigos.

Estava imersa em pensamentos, lembrando sobre como discutíamos o quão estúpidos nossos pais eram por ainda discutirem sobre uma garota, que mal percebi quando Jason me cutucou para anunciar o início do show.

Fiz o mesmo com Nico, que embora tenha dormido muito pouco, parecia muito melhor que antes. Minha garganta arranhava, desejosa por saber o que acontecia de tão grave para lhe roubar o sono, mas eu não poderia saber no momento. O show estava por começar.

P. O. V Autora:

Da platéia, era possível ver que um lado do palco estava imerso na mais pura escuridão. Nem mesmo as luzes que simbolizariam as estrelas estavam acesas. Já no lado iluminado, via-se um jovem casal em pé, em uma pequena e aconchegante sala de estar; era visível que a menina estava aflita, enquanto o rapaz tentava tranqüilizá-la com doces e firmes palavras.

– Vai dar tudo certo! Daqui a dois dias, nesse mesmo horário, estaremos casados e bem longe daqui, meu amor! – ele acaricia o rosto claro.

– Tem certeza sobre o local do encontro? – a voz dela treme proporcionalmente o quanto temia o local do encontro.

– A árvore-forca: quase ninguém vai lá; sentem medo dos fantasmas degolados! – descrente como era, ele lhe oferece um sorriso de escárnio, que só faz a ruga de preocupação de sua amada aumentar! – Ei, me escute: vamos ficar bem! Ninguém vai sentir nossa falta.

– Rezo tanto para que esteja certo! – ela suspira, segurando as mãos dele sobre seu rosto, como quem tenta manter a pessoa no lugar.

– E estou! – ele beijou-lhe a testa – Preciso ir: tenho que acertar algumas coisas antes de ir.

Ele sai, e ela volta aos seus afazeres. Atravessa a sala e, de dentro de um cesto, tira um colar de corda inacabado, escondido as pressas quando seu amado chegou. Se ele soubesse que era ela a verdadeira culpada por todos os fantasmas, jamais teria proposto a árvore como ponto de encontro.

Mal se sentou para finalizá-lo, sua porta foi esmurrada com força. Pelo horário, tratava-se de apenas uma coisa.

– Precisamos de um colar de corda, Tecelã: uma emergência surgiu. – um pacificador anuncia.

Sem dizer uma só palavra – pois temia àqueles homens –, voltou até o cesto e pegou o colar. Entregou, ainda em silêncio, apenas erguendo os olhos quando o visitante falou de novo.

– É seu dever, como cidadã, comparecer à árvore hoje, a meia-noite. A menos que, pela manhã, queira se juntar ao condenado, por práticas ilegais. – o homem se vai, e ela bate a porta.

Senta-se no sofá e põe-se a soluçar.

Apagam-se as luzes deste lado do cenário, ao ponto que gradualmente as luzes das estrelas começam a se acender. Por último, uma lua cheia ilumina uma multidão de espectadores, espalhados ao redor da árvore. O colar pego recentemente estava lá.

– Quem é o condenado? – a tecelã questiona.

– Não se sabe. Mas rolam boatos de que ele foi visto roubando um barco do ancora... Lá estão eles. – o homem ao seu lado aponta, e ela se vira a tempo de ver.

Seu amado. Era ele o culpado. Era para ele o colar de corda que ela teceu há tanto tempo. Era ele quem agora subia no banco e passava a cabeça pelo laço da corda.

– Tem mais uma chance de se defender: escolha bem suas palavras! – o pacificador anuncia

– Meu amor, eu sei que está aqui! Eu amo você, sempre vou amar, e se o que fiz foi crime, foi crime de amor: eu queria uma vida melhor para você. Ainda quero! Fuja, minha vida! Fuja desta vida injusta!

Os olhares se encontraram, e a tecelã não poderia estar mais desolada. Mas o que poderia fazer? Qualquer reação a entregaria: para as autoridades, para ele. De fato, ela estava em tal estado de choque, que sequer conseguiria reagir, embora quisesse, por tudo o que havia de sagrado, gritar para que parassem.

Mas foi em silêncio que viu a vida sumir dos olhos do amado. E foi assim que permaneceu, até que todos voltaram para suas casas, e ela pode chorar por seu amado.

P. O. V Nico:

Abençoados sejam os Grace, por todos os membros terem talentos: não havia um que não se sensibilizasse com a forma como Apolo cantava e tocava, ou um que não se surpreendesse com o modo como Thalia dançava, ou ainda um que não se espantasse com a rapidez com que Jason podia resolver problemas, apenas dando um sorriso. E agora, não havia que não estivesse perplexo com a atuação de Allie.

Sua personagem ergueu-se, como se tivesse tomado uma decisão, e correu pelo cenário, de volta para casa, onde entra num rompante. Deixa a porta aberta e se atira de joelhos ao lado da cesta de vime, de onde tirara os laços: não fiquei exatamente surpreso ao vê-la tirar mais um de lá.

O que de fato me surpreendeu foi ver a parte de trás de o cenário cair, dando lugar à um coral de alunos – os mesmos que faziam parte da multidão que assistiu a execução –, que começaram a entoar de forma fúnebre, a música que inspirara a esquete.

Are you, are you (Você está, você está)
Coming to the tree?
(Vindo para a árvore?)
Wear a necklace of rope, side by side with me (Usar um colar de corda, lado a lado comigo?)

Strange things did happen here (Coisas estranhas aconteceram aqui)
No stranger would it be (Não mais seria estranho)
If we met at midnight in the hanging tree (Se nos encontrássemos a meia-noite na árvore forca)

E então a ficha caiu – e se não caísse, eu me estapearia até a morte: a personagem se dirigia até a árvore, onde amarrou o colar de corda. Voltou-se para o lado em que seu amante estava e, antes de se ajoelhar e pegar o banco, o encarou e pronunciou:

– Você estava certo: vamos ficar bem! E juntos! E ninguém jamais sentirá nossa falta. – ela então toma o banco em suas mãos e volta para o outro lado da árvore.

Com o coro ainda cantando, eu vi, com horror, Allegra Grace se enforcar.

E o melhor que pude fazer foi aplaudir!

P. O. V Thalia:

Eu tinha sangue sob minhas unhas, um coração acelerado, e dois irmãos perplexos ao meu lado. Apolo parecia prestes a pular de seu assento e correr em direção ao palco, e a única coisa que o impedia, era a mão de Ártemis, que ele apertava fortemente.

As luzes no palco se apagaram, as cortinas se fecharam. Eu sabia que se tratava de uma peça, mas não fiquei menos preocupada.

– Está tudo bem! – sinto a mão de Nico sobre a minha, e só então percebo que o sangue que eu sentia era dele: estava tão nervosa, que furei seu braço com minhas unhas – Ela está bem, Lia: é apenas uma peça, e Allie tem talento!

Queria acreditar nele, como sempre acreditei cegamente, mas era da minha sobrinha que falávamos: a pessoa que eu mais amava no mundo.

– Pai, estou te vendo tendo um ataque cardíaco daqui! Pode relaxar, pois não será hoje que se verão livre de mim! – Allie arranca gargalhadas de todos, ao aparecer na frente das cortinas ainda cerradas, sob o foco de um holofote.

O mundo deve ter ouvido o suspiro coletivo que nossa fileira deu.

– Bom, eu sei que esse evento deveria ter ocorrido no início de janeiro, mas alguns problemas surgiram, e fizeram o conselho adiar a Semana Literária para o fim do mês... O que foi bom para nós, os alunos! – ela sorri, em meio a seu devaneio – Em nome do grupo que apresentou essa esquete, quero agradecer a presença de todos, além de agradecer a equipe que não apareceu, mas que trabalhou arduamente para tanto... – e, entre muitos nomes, Allie citou o de Hazel, e todos foram aplaudidos de pé.

Demorou um pouco até que, enfim, todos nós nos acalmássemos. Na verdade, Apolo só se acalmou quando pode abraçar a filha e pegá-la no colo como se ainda fosse um bebê.

– Quando for participar de coisas assim, me avise que vai morrer, para que eu não fique tão ridiculamente preocupado. – ele declara, para abraçá-la mais uma vez.

– Esse homem é louco! – Ártemis suspira, indo socorrer minha pobre sobrinha, antes que ela fosse sufocada pelo amor paterno.

– Que história é essa de que você não vai ficar na casa do papai? – Jason surge do nada, me segurando pelos braços e me chacoalhado.

– Eu tenho vinte e dois anos, Jason! E não me dou muito bem com Hera ou com Zeus: não tem cabimento forçar uma convivência! Fiquei lá esse tempo, tudo está bem e já liberaram meu apartamento: eu não o comprei a toa; comprei porque pretendo e vou viver nele. – declarei, um tanto farta com tanto mimo.

Há mais de um mês que eu estava ficando na casa de Zeus, e isso não era muito bom para os negócios... Não que um assassinato tenha sido, mas isso deixa as pessoas curiosas, repórteres surgem, campanhas publicitárias pipocam, mas morando na Mansão Grace, um comboio de seguranças me impedia de me aproximar daqueles que me fariam voltar à tona. Eu estava farta.

– Mas, Thalia, lá é perigoso! – Jason tenta usar o mais velho de todos os argumentos, e eu estava prestes a revidar, quando sinto um braço pesar sobre meus ombros.

– Não se preocupe, cara: eu deixo essa ex-punk em casa! É caminho para a casa de Hades, de qualquer forma! – Nico se pronuncia, puxando-me para mais perto.

Jason poderia revidar, e eu senti que iria. Mas um sorriso se abriu em seus lábios, evidenciando a cicatriz que tinha, e ele murmurou um “tudo bem”, antes de me beijar no rosto e ir parabenizar Allegra.

Por um momento fico perdida, e me lembro que não era apenas Apolo quem tinha uma amizade complicada.

– Não vai se despedir de sua sobrinha? – Nico pergunta, olhando sobre o ombro.

Faço o mesmo, a tempo de ver Allegra piscar para mim antes de se virar para sua avó.

– Falo com ela depois: eu realmente preciso de um banho agora!

– Isso é um convite? – ele me fornece um de seus muitos e adoráveis sorrisos.

Havíamos saído pela coxia, o que nos fez chegar muito mais rápido as ruas agitadas de Nova York. Estávamos, então, parados esperando que trouxessem seu carro, e eu aproveitei a oportunidade para arrumar a lapela de seu sobretudo, e sussurrar em seu ouvido.

Mostre-me um homem que não seja escravo das suas paixões.


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Notas finais do capítulo

Espero que tenham gostado do capítulo! Por favor, comentem e me digam o que acharam - lido bem com ameaças de morte e idas para o submundo; tenho amiguinhas autoras lá.
O próximo capítulo já está escrito, mas deve demorar um pouco para sair.
Beijos, vejo vocês nos reviews!!