Lily estava correndo pelas ruas escuras da vila. Ao longe ela conseguia ouvir o barulho da batalha que acontecia na praça central, onde James e seus outros amigos deviam estar lutando com afinco contra os comensais, mas ela não podia se dar ao luxo de se preocupar com eles, tinha que cuidar de si mesma. A ruela que corria acabou em um beco sem saída e a ruiva bufou irritada. Normalmente ela não fugiria de uma luta, sempre foi muito corajosa, mas a voz daquela mulher da vila latejava na sua cabeça.

Todos eles haviam chegado ali pouco antes dos comensais, através de um aviso. Toda a Ordem tentou evacuar a população a mais rápido possível e Lily ajudou, mas assim que pegou o braço de uma velha senhora ela se agarrou na ruiva e lhe olhou no fundo dos olhos.

_ “Pobre menina...” – ela disse com a voz rouca. – “Coração puro... Muito amor... Esse menininho vai nascer trazendo tanta alegria no meio da guerra!”

_ “ o-O QUE?” –Lily perguntou confusa. – “ Que menininho..?Do que está falando senhora?”

_ “ Então não sabe?” – ela perguntou de volta sorrindo tristemente. – “ Estou falando desse menininho aqui, na sua barriga.” – a velha tocou a barriga lisa de Lily e a moça sentiu um arrepio caloroso.

_ “Eu... eu estou grávida?” – Lily disse mostrando toda sua estupefação. A alguns dias vinha sentindo certos... sintomas, mas não imagina que aquilo era mesmo verdade. A ruiva desceu as mãos a barriga sorrindo surpresa e encarou a senhora a sua frente, que parecia estar muito triste. – “ Como a senhor sabe? Como sabe que eu estou grávida?”

A senhora entretanto apenas balançou a cabeça negativamente e olhou caridosa para Lily, como se a moça tivesse descoberto que estava doente. Segundos depois os comensais chegaram, causando o caos, e Lily perdeu a senhora de vista.

Ela lutou bravamente ao lado do marido, abatendo o tanto de comensais que conseguiu, mas então um jaó de luz verde passou zunindo no seu ouvido, a acertando por pouco. Lily percebeu que dois comensais vinham em direção, e derepente um temor veio até ela. Não por sua vida, mas pela vida de seu filho.

Era estupidez acreditar nas palavras de uma velha desconhecida, mas Lily sabia que era verdade. E então fez algo que nunca tinha feito. Fugiu.

E agora ela estava ali, em um beco sem saída, sendo encurralada por dois comensais. Eles sorriram para ela, como se fosse divertido toda a situação. Lily então se endireitou, mostrando não ter medo e começou a duelar. Era difícil duelar com duas pessoas, mas os comensal não eram os melhores, Lily conseguiu atingir o da direita e se concentrou no outro. Lily desviava, bloqueava e atacava, mas não conseguia parar com aquela luta, e então, no calor da batalha fez algo que impressionou a si própria.

_ “Crucio!” – a maldição saiu de sua boca e logo o comensal se contorcia no chão gritando de dor. Lily não queria causar aquilo, mas pensar que aquele homem poderia torturar ela e seu filho sem pestanejar a fez continuar com aquilo.

_ “ Lily!” – ela ouviu alguém gritar a abriu os olhos encontrando com James e Sirius que vinham correndo ate ela. Eles pararam ao ver o que estava acontecendo e a encararam surpresos.

_ “Wow!” – Sirius exclamou boquiaberto, mas Lily apenas olhou pro marido que estava com os olhos arregalados.”

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A ruiva se sentou assustada na cama, ofegante. Ela já tinha se acostumado com os sonhos estranhos desde que... estranhamente voltou a vida, mas aquele tinha sido particularmente perturbador. Lily nunca se esqueceu daquela noite, onde uma estranha senhora previu sobre seu filho e ela perdeu o controle, usando pela primeira vez uma maldição. Ela se perguntava se aquela senhora era uma vidente, ou algo mais sinistro do que isso, e sentia um frio toda vez que lembrava dos gritos do comensal.

Os pensamentos dela foram bloqueados assim que a porta do quarto foi aberta e James entrou com uma escova de dente na boca. Ele encarou a mulher sentada na cama com a respiração alterada e a testa suada.

_ O que houve? Com o que sonhou? – ele diz indo até a cama a passos rápidos.

_ Nada... Foi só... um sonho ruim. – Lily responde hesitante, suspirando e encarando o marido que claramente não havia acreditado na sua resposta. – É sério James!

_ Eu sei, mas é que... Você não parece bem! – James murmura aflito olhando para a ruiva ao seu lado. Seus cabelos estavam mais escuros que o normal, os olhos verdes fundos com olheiras e as mãos tremulas.

_ Eu estou bem... – Lily afirma dando um sorriso e abraçando o marido para tentar acalmá-lo. James retribuiu o abraço ainda desconfiado, sua esposa era a coisa mais importante de sua vida juntamente com Harry, e agora ele estava preocupado com os dois e se sentindo impotente. – Estou faminta! Que horas são?

_ Hãm... Duas da tarde. – James responde se divertindo com o olhar surpreso de Lily. – A senhora dormiu muito.

_ Deus... Eu estava tão cansada... – Lily murmura se levantando e sentindo uma tontura repentina, tudo ao seu redor começou a girar e escurecer junto com seu estomago que se embrulhou. James segurou a cintura da esposa com um movimento rápido e a olhou com a testa franzida.

_ Lily..!?

_ Eu estou bem. É a fome. –Lily responde se firmando no chão, o quarto parou de girar e sua vista voltou a ficar clara.

_ Molly deixou o almoço para você. – James comenta soltando a esposa e Lily começa a trocar de roupa.

_ Ela saiu? – Lily pergunta penteando o cabelo.

_ Fo no Beco comprar os materiais para Hogwarts. – James responde se aproximando de Lily e lhe dando um beijo. – As cartas chegaram hoje de manhã.

_ Eu fico pensando como seria entregar a primeira carta do Harry. – Lily diz abrindo um sorriso triste.

_ Ora Lily! Nós nunca iríamos superar o que realmente houve! Harry recebeu milhares de cartas e uma visita de Hagrid! – James diz em um brincalhão e Lily ri brevemente. – Rony e Hermione foram nomeados monitores.

_ Sério? Que ótimo! – Lily exclama enquanto caminham para a cozinha.

_ Eu achava que Harry seria monitor. –James diz coçando a nuca. – Ele é qualificado certo? Já fez muito mais coisas do que Rony...

_ James... – Lily suspira. – Nosso filho já tem muitas coisas para se preocupar. Ficar com a responsabilidade de um monitor seria terrível! Monitorias, relatórios, rondas... Harry está melhor que isso.

_ Eu concordo com você. Mas não sei se Harry vai pensar da mesma maneira... Ele tá estranho hoje. – James informa olhando para o andar de cima da escada enquanto eles desciam.

*

*

A faixa reluzente estava decorando a cozinha naquela noite. E foi só naquela hora que Lily conseguiu ver o filho. Harry desceu as escadas depois de todos os outros adolescentes e olhou para a faixa de uma maneira estranha. Lily não gostou do fato de talvez ele não gostar de nomeação de Hermione e Rony, talvez ele estivesse se sentindo excluído.

Harry se sentou ao lado de Sirius e James, e Lily apurou os ouvidos sem deixar de ouvir a conversa de Molly e Tonks.

_ Sabe Harry, eu estou muito orgulhoso de você. – James disse dando uma apertadinha no ombro do menino que lhe olhou confuso. – Seria uma desonra se um filho meu se tornasse monitor... Sua alma é de maroto Harry! Seu sangue!

_ Pensei que você tivesse sido monitor. – Harry comenta franzindo a testa e James não consegue segurar uma risada se juntando com a gargalhada rouca de Sirius. Remo apenas deu um sorriso com o comentário.

_ James? Monitor? Não... Dumbledore não é louco a esse ponto Harry. – Sirius responde balançando a cabeça. – Nem eu, nem James poderíamos ser monitores...

_ Mas o Aluado foi nomeado. – James diz apontando para Remo com uma falsa expressão de desgosto. – Nunca vou esquecer o dia que o pegamos polindo o distintivo... Foi um trauma!

_ Eu não estava polindo o distintivo! Eu estava limpando a gosma de uma planta da aula de Herbologia, eu expliquei! – Remo exclamou revirando os olhos. – E isso já faz anos, Merlin!

_ Não precisa mentir para nós Aluado. – James diz com um tom solidário e Remo o encara nervoso. – Está tudo bem meu amigo... Já passou!

_ Nós estendemos que aquele momento foi um deslize de sua pobre alma! – Sirius acrescenta dando batidinhas nas costas de Remo e o lobisomem revira os olhos mais uma vez, enquanto Harry segurava um riso.

_ Eu não sei como consigo aguentar... E eu só fui monitor por causa de vocês! – Remo rebate apontando acusadoramente para os amigos. – Dumbledore tinha a esperança que eu pudesse segurar eles.

_ Pobre iludido. – James diz rindo e abraça os ombros do filho ao seu lado. – Mas é sério Harry, não precisa ficar incomodado por seus amigos serem monitores. Sei que é vergonhoso ter amigos assim, mas você tem que mostrar que é um bom amigo e segurar essa vergonha junto com eles.

_ E é bom de vez em quando, quando precisar de um favor. Fugir de detenções, dar uma escapadinha a noite...

_ Eu não estou incomodado. – Harry diz olhando para o seu melhor amigo que falava animado sobre a nova vassoura. O menino ficou tão imerso nos pensamentos que só acordou quando notou Olho-Tonto na mesa junto com eles.

_ O que é isso? – Sirius indaga pegando uma foto das mãos do auror. – É a..

_ A Ordem da Fenix original. – Olho-Tonto diz e Lily se aproxima mais olhando para a foto por cima dos ombros de Sirius. Ela se lembrava muito bem daquele dia. Eles haviam ganho uma grande batalha no vilarejo de Hogsmeade e estavam comemorando. Lily e James estavam fazendo um ano de casados.

Os rostos de muitos ali, sorridentes, traziam um aperto no coração deles. Lily olhou com os olhos marejados para as moças no canto da foto, uma loira e uma morena, que eram suas melhores amigas. Marlene e Dorcas estavam com problemas, mas mesmo assim estavam felizes naquele dia.

_ São os pais do Neville? – a pergunta de Harry faz os olhos de Lily e James se direcionarem para o casal que estava ao lado deles na foto. James ainda sorria em lembrar de Frank nos tempos de escola, aquele garoto que sempre acobertava os marotos por ser do mesmo dormitório.

_ Sim, Frank e Alice Longbottom. – Olho-Tonto diz. – Tiveram um destino pior que a morte se quer saber...

Lily sentiu um arrepio na coluna. De todos, os Longbottoms eram os que mais tinham sofrido na guerra. Ela se sentia mal pelos antigos amigos. E não era só eles.. Lily observou cada um ali na foto... Os gêmeos Fabian e Gideon, irmãos de Molly. Marlene, Dorcas, Frank, Alice... Quem ali na foto iria imaginar que Marlene morreria dois dias depois? E que logo outros iriam pelo mesmo caminho? Que Pedro se tornaria traidor?

_ Isso é uma droga. – Sirius exclama quebrando o clima pesaroso que estava entre eles. – Pontas e Lily continuam com a mesma aparência.

_ Olha a inveja Sirius, faz mal! – James brinca dando um sorriso torto, porém não muito sincero. Aquela foto não lhe trazia muitas lembranças boas.

Um barulho na porta da frente chamou a atenção das pessoas na cozinha. Gina, que estava brigando com os gêmeos foi até a porta e voltou com uma cara não muito boa.

_ Quem é? – Rony indaga baixinho.

_ Professor Snape. – ela responde com uma careta.

_ Snape? – Harry repete com desgosto.

_ Professor, Harry, Professor Snape. – Molly repreende e Harry dá de ombros nervoso. James nunca mostraria que gostava da atitude do filho perto de Lily, a esposa havia o convencido de conversar com o Ranhoso e ele faria isso. Era mais do que hora de deixar as briguinhas do passado de lado. É claro que isso não o obrigava a gostar de Snape.

O professor chegou com sua inseparável capa preta e cabelos oleosos. Olhou com o nariz torto arrebitado para todos.

_ Boa noite Severo, gostaria de jantar? – Molly pergunta com educação.

_ Não será preciso. – Snape diz com desdém se aproximando e colocando uma pasta na mesa. – Só vim entregar isso para a Ordem.

_ Oh, que pena! Queríamos tanto a sua presença! – Sirius resmunga com sarcasmo. – Esses dias que você não veio foram os piores Ranhoso!

_ Creio que o ponto alto de seu dia deve ser me dar respostas infames não é Black? – Snape rebate ácido. – Enquanto muitos fazem coisas úteis para a Ordem você fica todas as tardes planejando frases de impacto!

_ Me chamar de inútil já estava ficando repetitivo Ranhoso. –Sirius diz quase em um rosnado.

_ Ok, porque não paramos com a troca de elogios? – James diz dando três batidas na mesa com a mão.

_ James Potter, sempre querendo parecer um justiceiro. – Snape sibila.

_ Eu só não quero brigas Snape!

_ Isso é novidade... – Snape diz estreitando os olhos. – Mas não se preocupem. – acrescentou dando meia volta e saindo da cozinha. Lily então segurou as mãos do marido e saiu atrás de Snape.

_ Espera, Severo... Eu quero conversar com você.