Frozen 2 - Faces de um Espelho escrita por Bardo Maldito


Capítulo 8
Capítulo VII - Rainha do Mal


Notas iniciais do capítulo

Olha, eu queria pedir desculpas pela demora... o Nyah entrou em manutenção, e eu tive um pouco de dificuldades com essa música, que apesar de eu achar que tem rimas legais, acho que é a mais pobre de todas. Esse capítulo foi bem difícil de sair, e não ficou como eu esperava. Mas trará revelações notáveis, e espero que deixem vocês na expectativa pro próximo.
Boa leitura!



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A mais bela, imponente e notável catedral de todo o reino das Ilhas do Sul fora enfeitada como nunca para o acontecimento. Impecável e ornamentada, parece transpirar beleza e grandiosidade para o grande evento prestes a acontecer. Afinal, não é todo dia que um futuro rei se casa.

Kristoff novamente está com uma roupa de gala extremamente desconfortável. Mas, por alguma razão, parece completamente distante, enquanto entra na catedral junto de Elsa e Anna, que estão deslumbrantes para a ocasião, ainda que preferissem estar em outro lugar. Olaf, por outro lado, está alegre e feliz como sempre, andando e meio saltitando enquanto vai para um dos bancos, ansioso para a cerimônia começar.

Na primeira fileira, estão os outros príncipes das Ilhas do Sul, incluindo Hans, que observa toda a cena com uma expressão dura no rosto, como que uma revolta reprimida. O rei Kai está sentado no lugar de honra, no meio de todos os seus filhos, acompanhado por um grande séquito de servos. E, no altar, vestido de maneira galante e pomposa, lembrando um pavão inchado, está o príncipe Adrian, que encara a tudo com um sorriso quase obsceno.

Algo grandioso, mas que inspira desconforto.

– Deveríamos ter ido embora. - diz Elsa para Anna, em voz baixa

– Calma, são só umas duas horinhas no máximo. - diz Anna - E... tem a festa, depois. Deve ter chocolate!

– Não ficaremos para a festa. Assim que essa cerimônia acabar, iremos para Arendelle.

– Não será um ato de descortesia?

– Estou com um mau pressentimento, Anna. É melhor irmos embora o mais rápido que pudermos.

– Bom... você que sabe. - Anna suspira e olha para Kristoff, sentado ao seu lado - Agora que paro pra pensar, falaram toda hora do casamento do príncipe Adrian, mas não falaram nada sobre quem seria a noiva. Quem será?

– Não sei... - Kristoff responde automaticamente

– Talvez alguma princesa de um reino vizinho... mas tenho pena dela, por ter que se casar com ele. - Anna observa o feio príncipe

– Talvez... - o tom de voz de Kristoff é monótono, apático, como antes

Anna pressente algo na voz de seu companheiro, e coloca sua mão sobre a dele, sorrindo. Porém, nem esse gesto de carinho discreto parece fazer ele mudar seu jeito. Embora estranhando, Anna olha para a frente, decidida a conversar com Kristoff quando a cerimônia acabar.

Então, subitamente, a marcha nupcial começa a tocar. Todos olham para a porta da catedral. Era a hora esperada!

A noiva surge, em um vestido que, embora branco, lembrava uma mortalha, e coberta por um véu que não permitia que vissem seu rosto, enquanto segura um buquê de cravos. Caminha imponente e tranquila, com todos os olhares nela, olhares de curiosidade e de estranhamento.

Até chegar no altar, ao lado do príncipe Adrian. E tirar o véu.

Lady Hela.

A surpresa atinge a todos os convidados sem limites. Como assim? Como um acontecimento tão grande fora abafado dessa maneira? O príncipe das Ilhas do Sul, se casando com a conselheira-mor das Ilhas do Sul? Não que fosse algo incomum ou de outro mundo, mas era certamente uma surpresa...

Elsa ergue as sobrancelhas. Esse devia ser o mau pressentimento que ela tinha. Se Lady Hela se tornasse rainha das Ilhas do Sul... seria um pesadelo lidar oficialmente com ela, em relações diplomáticas. Porque qualquer um via que ela seria a verdadeira liderança, enquanto o príncipe Adrian seria pouco mais que um fantoche.

Porém, não estava em suas mãos protestar.

O padre começa seu longo discurso, que poucas pessoas realmente ouvem. É realmente algo chato, de dar sono... e, realmente, Anna estava quase dormindo sentada no banco. Até que nota algo que lhe chamou a atenção... a expressão de Hans está estranha. Mais do que a revolta que inspirava antes, agora parece transpirar pura raiva, como se estivesse prestes a fazer alguma coisa. Isso poderia ser simples revolta de ver seu irmão assumir o trono? Ou... há algo diferente disso?

– Você parece preocupada.

Kristoff sussurra para Anna, que “desperta”.

– Preocupada? Com o quê? - pergunta Anna, também sussurrando

– Hans.

Anna encara Kristoff, a expressão aturdida.

– Isso não é verdade. - ela responde - Apenas... ele parece estranho.

– E isso te deixa preocupada.

– Já disse que não é isso. - Anna bufa, irritada - Kristoff, qual é o seu problema?

– O meu problema, Anna, é que eu acho que você decidiu se casar comigo pelos motivos errados.

As palavras de Kristoff atingem Anna como flechas. Ela o olha nos olhos, a confusão estampada em seu rosto.

– Por que está dizendo isso? - ela pergunta

– Você tomou essa decisão muito repentinamente, e por si só. - diz Kristoff - E, pior, fez isso pra atingir o Hans.

– Não... eu não fiz isso pra atingir o Hans. - diz Anna - Eu...

– Quem sabe? Talvez a “porta que você viu abrir” nunca tenha se fechado.

– Kristoff... por favor, pare.

– Talvez eu tenha sido só uma saída conveniente. Um consolo. Ou ainda, um degrau que permitiu que você fugisse do sofrimento que ele fez você passar.

– Não diga isso, Kristoff. Eu... eu te amo, você sabe disso! - Anna parece à beira das lágrimas. Elsa, do outro lado de Anna, observa a cena com expressão pesada, mas decidida a não fazer nada: era assunto de Anna, e não seu.

– Como é possível que você me ame? Como você poderia esquecer um príncipe como Hans por mim, um simples vendedor de gelo?

– Você me salvou, Kristoff... quando eu mais precisei.

– Então, um ato assim causou um amor repentino que simplifica tudo? Se você estivesse doente e um médico a curasse, você se apaixonaria pelo médico?

– Pare, por favor... eu lamento, eu devia saber que não era uma boa hora pra decidir que nos casaríamos, mas... eu te amo, Kristoff! Eu juro!

– Não sei, Anna... não podemos continuar com isso.

– Pare...

– Anna... está tudo acab...

– EU PROTESTO!!!

O grito atordoa a todos na igreja, incluindo Kristoff e Anna, que se sobressaltam. Hans havia se levantado de seu banco, e apontava o dedo, inquisidor, para Lady Hela.

A noiva ri.

– Ora, ora... sua Alteza é muito audaciosa. Interromper o casamento de seu irmão dessa forma...

Porém, Hans a ignora. O rosto contorcido de fúria e revolta, ele olha para todos na igreja e brada:

– Moradores das Ilhas do Sul! Permitir que Lady Hela chegue a ser nossa rainha é um erro terrível, do qual nunca nos recuperaremos! Seremos propriedade dela, e ela jogará o nome de nosso reino nas trevas!

O choque e a surpresa atingem todos que estavam assistindo a cerimônia, incluindo Elsa, Anna e Kristoff.

– Vem cá... todo casamento é emocionante assim? - diz Olaf, meio confuso

– Meu pai. - diz Hans, caminhando para a frente do rei Kai - Lady Hela é uma mulher vil, uma serpente venenosa. Ela o tem iludido por todos esses anos, ansiosa para tomar o trono. - então, volta a dizer em voz alta - Lady Hela foi a responsável pelo plano de assassinar a rainha Elsa e a princesa Anna, de Arendelle! Ela me usou como seu peão, fez isso durante anos! Não tenho vergonha de admitir minha culpa, como já fiz antes, mas ela não pode escapar impune!

Todos os convidados parecem chocados. Porém, Lady Hela apenas gargalha, como que escarnecendo dos múltiplos olhares pousados nela.

– Ora, ora... sua Alteza, príncipe Hans... é muito ingênuo.

Ela olha para todos, seu sorriso irônico estampado em seu rosto.

– É realmente ingênuo de acreditar que fazer isso torna algo diferente. Ingênuo demais de acreditar que eu deixaria em suas mãos alguma informação ou segredo que pudesse me trazer mal. Mesmo confiando a você meus planos, é óbvio que não sou tola de lhe entregar algo que possa me destruir.

Todos se horrorizam. Então, era mesmo verdade? Lady Hela havia mesmo arquitetado o plano de assassinato que o príncipe Hans tentara levar a cabo?

E... não parecia nem um pouco preocupada em admitir isso em voz alta?

– Meu pai! - grita Hans - Dê a ordem! Ordene que prendam Lady Hela!

Porém, o rei Kai não reage a nada. O olhar estoico, acompanhando toda a cena como se não fosse nada, como que vítima de uma grande apatia.

– Seu pai não fará nada, príncipe Hans. - diz Lady Hela - Afinal de contas... um coração nublado pela apatia e sufocado pelas trevas não pode se opor a mim.

Então, com um gesto, Lady Hela faz surgir um cajado em suas mãos, com uma pedra verde encrustada na ponta. E, com outro gesto, uma luz negra cobre o peito do rei Kai, mostrando a figura interna de seu coração... e, sobre ele, um pedaço de cristal.

Um estilhaço do Espelho Sombrio.

– Um estilhaço é muito pouco para refletir a imagem do mal. - diz Lady Hela - Mas é suficiente para esfriar um coração. E tudo aquilo que se entrega à frieza e à apatia... inevitavelmente se torna meu servo.

Então, Anna se levanta. Lady Hela ergue a sobrancelha.

– Princesa Anna... tem algo a falar? - pergunta ela

– Então, é você... você que foi responsável por tudo que aconteceu de mal comigo e com minha irmã... - Anna diz, trêmula de raiva

– Ora... eu suponho que você possa dizer isso.

– Como se atreve... RETIRE AGORA O FRAGMENTO DO ESPELHO QUE VOCÊ COLOCOU EM HANS!!

Lady Hela ouve isso e gargalha sonoramente, em um escárnio maior que qualquer outro até então.

– O que é tão engraçado?! - pergunta Anna, indignada

– Princesa Anna, sua tola... eu nunca coloquei um fragmento de espelho no coração de Hans.

Isso atinge Anna com um baque. Como assim? Então...

– Sim. Ele fez tudo porque queria. Não o escravizei por meios mágicos.

Todos olham para Hans, que apenas desvia o olhar. Lady Hela não parecia estar mentindo.

Anna, então, surpresa e aturdida, retorna o olhar para Lady Hela.

– Quem é você?

Lady Hela sorri.

– Quem sou eu, criança?

Sou a mágoa e o terror que afetam seu descanso

Sou poder cheio de dor que jamais ficará manso

Minha tela é sua vida, e minha tinta é o sofrer

Sou artista, sou cruel, que mais precisa saber?

Sou o medo e o horror que assombram seus pesadelos

Sou a sombra sem cor que espalha medos sem tê-los

Rainha caída, soberana do mal

Arquiteta da tirania que reina sem igual

Caída e derrotada, porém nunca morri

Inconstante como o vento, o destino me sorri

Pois o mal sempre retorna, mesmo que o bem lute sempre

Sou uma força fundamental que a Terra abriga no ventre

Fui a mestra do conflito, fui mãe de suas guerras

Meu Espelho os libertou, abandonaram suas terras

Foram dias gloriosos, de medo e confusão

Mas minha obra se quebrou, meu Espelho foi ao chão

Lady Hela olha para todos, que agora a encaram horrorizados.

– Mas acho que estou reconhecendo alguns rostos aqui... sim, é isso mesmo... - ela aponta para um dos convidados - Você. Seu antepassado tremeu diante da minha presença. - então, olha para um dos guardas que ainda parece receoso, sem saber se deve agir ou não, diante da apatia de seu rei - Heh, que irônico... seu antepassado também era guarda, sabia? Acho que ele fez nas calças quando me viu. Quando o tolo rei Estevão ordenou que me prendessem, ele estava trêmulo, coitado...

Os olhares de todos os convidados se arregalam de horror. Todos conhecem a referência ao rei Estevão. Portanto... Lady Hela só podia ser...

– Ah... eu não fui esquecida. - diz Lady Hela, com um sorrisinho - É claro que não. Como alguém poderia esquecer da Rainha do Mal que já assombrou toda essa região, muito antes de ter todas as suas ilhas unificadas em torno de um único reino? Sim... é isso mesmo, pobres plebeus...

Então, ela ergue o cajado e é coberta por luzes negras, que a envolvem e trocam seu vestido por uma túnica pesada e rasgada, negra e roxa... seu cabelo negro desaparece embaixo de um toucado, de onde dois chifres brotam. Da porta da igreja, um corvo negro surge voando, indo pousar na pedra verde do cajado.

– Sim. - ela diz - Sou Malévola. Fonte de seus medos e horrores. E o pesadelo apenas começou.


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Notas finais do capítulo

E aí? Acho que a identidade de Lady Hela estava óbvia desde o começo. Mas prefiro pensar que a revelação dos fragmentos do Espelho Sombrio tenha tido um bom impacto.
Até o próximo! =D