Unbroken escrita por Annia Ribeiro


Capítulo 9
Run!




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"If you wanna have fun and do something. Get crazy get wild. Let's party get loud"

Essa festa só serviu para uma coisa: para eu ter a absoluta certeza de que eu amava Luke ainda com uma intensidade anormal.

Eu havia me jogado na pista de dança, dançando e pulado até meus pés começarem a doer, sempre com um copo na mão (ás vezes uma garrafa também). As luzes coloridas me davam vontade de viver intensamente, de ser livre, de fazer tudo que eu quiser. A música eletrônica estourava nas caixas de sons, fazendo cada vez mais a galera dançar. Eu vi muita gente se agarrando, se beijando, tirando a roupa (não toda, graça aos deuses), mas não sentia nenhuma vontade de segui-los, daquele jeito para mim já estava ótimo. Claro que até aparecer um carinha com cabelos cor de areia e de olhos azuis. Lindo que chegava a doer o coração. Ele era praticamente um deus grego. Eu percebi que ele só era lindo que chegava a doer o coração porque ele era dolorosamente parecido com Luke. Por isso, eu, bêbada e descontrolada, agarrei sua nuca e taquei-lhe um beijo desajeitado que faz jus a imagem de uma bêbada. Ele ficou assustado por um momento, se afastou e olhou para mim (talvez conferindo se eu era ou não bonita) e então me beijou novamente, agora parecia um beijo quase de verdade. Ele segurou firme minha cintura e começamos a nos afastar do tumulto. Quanto tempo eu não beijava alguém assim? Nossa, desde... Luke. Ele não pareceu estar nem ai para quem eu era, apenas começou a subir sua mão por dentro de minha blusa. Percebendo oque iria decorrer, parei de beija-lo imediatamente. Bom saber que tenho um pouco de juízo, mesmo estando tomada pelo álcool.

– Eu... eu... tenho que fazer uma ligação, pro cachorro – eu digo meio arrastada, saindo aos tropeços de perto do garoto. Como já disse zilhões de vezes, eu não estava sóbria. E eu não conseguia parar de olhar para trás, ele era muito parecido com Luke. Eu não podia ficar agarrando qualquer pessoa que se parecia com meu ex-namorado. Era cruel, injusto e desrespeitoso. Sai aos tropeços de lá, começando a procurar o Percy para irmos embora dali. Já era 4 horas da manhã, a noite já deu. Pego meu celular no bolso do short jeans, mas ele estava sem sinal para ligar para o garoto.

O achei. Ele estava de costa para uma pedra grande. Ele estava curvado em cima de alguém. Andei mais alguns passos e parei, pois percebi que a menina era Thalia. Percy a beijava ferozmente, o garoto estava sem camisa e a garota apenas de lingerie preta. Eles estavam quase se comendo ali naquela pedra. Percy fazia o imaginável e o inimaginável com a garota, e vice-versa. Será que eles estavam tão bêbados assim? Era tão nojento que me deu náuseas, então sai de perto indo procurar Leo, talvez ele me desse uma carona.

A quantidade de pessoa havia diminuído 20% desde que havia chegado ali, mas ainda assim foi impossível encontrar o Leo. Ao longe começamos a ouvir sirenes e parecia que também ouvi dois disparos de armas de fogos. O pessoal veterano em festas proibidas pareciam ter entendido oque estava acontecendo, mas eu apenas fiquei ali parada, olhando em volta sem entender nada, com a visão zonza demais para entender alguma coisa. Procurava alguém no borrão de pessoas, alguém que pudesse me explicar oque estava acontecendo, até que algo me puxou com força pelo braço e fez com que minhas pernas corressem para acompanhar. Entramos no meio da mata, não seguindo a trilha, e nos desviamos de várias árvores, correndo feio loucos.

– Oque está acontecendo? – gritei, ainda correndo, estava cansada e minha cabeça começava a doer.

– Corra – a pessoa disse em resposta.

Estava escuro, então só pude ver um vultoso cabelo negro a minha frente, com sua mão segurando a minha, me conduzindo para fora daquela loucura. Quando ele olhou para trás vi que seus olhos eram verdes. Sem brilho, sem vida, sem amor, sem nada.

– Percy... – digo, quase num sussurro.

Eu estava assustada, ou talvez todo o meu comportamento seja obra do álcool em minha corrente sanguínea. Correr numa floresta a noite com um ninfomaníaco era ruim, mas correr bêbada numa floresta a noite com um ninfomaníaco era muito pior. Ouvi mais barulho de disparos, gritos e o caos instalado ao longe. Sirenes. Seria de polícia?

Paramos um pouco para respirar, encostamo-nos a uma árvore e tentamos controlar nossa respiração. Nenhum de nós disse nada, estávamos sem fôlego algum para tentar algo do tipo.

– Vamos continuar, até chegar ao meu carro – disse Percy, depois de alguns minutos. Pela a sua cara, minha aparência não deveria estar nada agradável.

– Eu não vou conseguir, minhas pernas doem muito, estou tonta por causa da bebida.

– Percebe-se. Acho que você exagerou.

– Você parece está bem.

– E estou, não bebo para parecer ridículo.

– Poderia beber, assim teria uma boa desculpa para comer a Thalia daquele jeito.

– Nem tive a oportunidade de terminar o trabalho – ele lamentou-se. Não sabia se estava brincando ou não.

Ignorei seu comentário, minha dor de cabeça e tontura estavam me castigando demais para eu me preocupar com a implicância de Percy. Pensei que ele tinha saído dessa, e que nós havíamos nos tornados “amigos”, mas não pensei muito no assunto. Ele me pegou no colo, me carregando até o seu carro. Apoiei minha cabeça em seu ombro e fechei os olhos.

Ele estava afastado dos outros, um local onde a polícia não podia nem ver. Ele soltou-me nada gentil em frente a porta do carona e eu mesma abri a porta.

– Cavalheirismo mandou lembranças – eu digo sarcástica.

– E a ressaca vai mandar amanhã – ele revidou, com azedume. Revirei os olhos e me afundei a poltrona.

– Estou doida para chegar em casa – digo, quando Percy ligou o carro. O garoto olhou para mim, seu olhar me perfurando. De maneira geral, seu olhar sempre me incomodava, mas esse olhar de agora era pior do que todos os outros. – Oque foi?

– Você não vai para casa, não tem nem condição de andar, imagina subir uma escada.

Ele tinha razão, mas não concordei em voz alta. Apenas bufei e me virei para ele, falando meio exasperada:

– Oque você acha que podemos fazer quanto a isso?

– Dormir – ele, sorrindo de lado e prestando atenção na pista a sua frente.

Dormir? Como é que é? Ele acha que eu, euzinha, Annabeth Chase, vou dormir com ele?

– Me leva para casa agora Percy. Não vou dormir com você de jeito nenhum.

– Acha que não consegue resistir a tentação, loira? – ele perguntou, virando para mim brevemente e usando seu melhor sorriso estilo cafajeste.

– Sem dúvida, acho que pecado seria uma definição pequena – digo, com azedume e sarcasmo. Ele sorriu, gostava de quando eu entrava nos seus joguinhos.

– Podíamos dormir na casa de Leo... ou no carro mesmo. Tem a minha casa também, meu pai não irá te ver nem perguntar quem era.

– Porque ele já está acostumado.

Percy sorriu de novo.

– Me leve para casa, para minha casa – digo decidida.

Eu não tinha notícia de ninguém; o celular ainda estava sem sinal, então não tinha como mandar uma mensagem para Leo, Nico e Bianca para saber como eles estavam e oque tinha acontecido depois de toda a confusão. Tentei não pensar no assunto, mas era melhor pensar sobre isso do que pensar no garoto que eu tinha ficado e nem perguntado o nome.

O caminho até minha casa foi silencioso, apenas o som do pneu no asfalto, uma fina neblina em torno das ruas, o vento frio e barulhento. Tudo normal para aquela hora da madrugada. Daqui a pouco o sol já estaria nascendo, e minha ressaca iria aparecer, denunciando a noite de farra. Percy estacionou o carro em frente a casa dele, saímos e fomos a pé para o jardim da minha, que, convenhamos, era do lado da casa dele. Paramos em frente a escada, que continuava intacta lá. Quando toquei na escada senti a mão de Percy segurar levemente o meu braço. Virei-me e olhei aquelas esferas esmeraldinas, indagadoras. Senti o incomodo de antes crescer. Lá vem bomba...

– Eu vi você ficando com aquele cara – ele disse frio.

– E dai? – perguntei num tom natural. Eu também o vi quase transando com Thalia, mas não disse nada.

– Por que você ficou com ele? Nem o conhecia.

– E oque que tem, eu estava bêbada, ele era bonito. Por que a pergunta? Você estava quase possuindo Thalia na pedra.

Ele me encarou com mais fervor, uma sombra de mistério cobriu seu rosto. Não pude deixar de ficar pensando nos seriados de assassinatos, fazendo com que eu ficasse com medo da expressão de Percy.

– Se estava bêbada, por que não ficou comigo?

Ah, sério que ele não desistiu disso ainda. Realmente, Percy era igual a uma criança. Quando o brinquedo vem fácil, enjoa. Mas quando ele se é difícil.... tenta, tenta e tenta até conseguir.

– Porque pra ficar com você eu preciso estar morta, não bêbada – minhas palavras foram duras, talvez tenha sido como um tapa na cara dele, alguém que nunca levou fora de garota alguma. Ele trincou o maxilar e me encarou como fosse me bater. Mas então ele olhou em direção a praia por alguns minutos e voltou a me encarar.

– Suba logo.

– Tchau.

Comecei a subir as escadas, mas só então percebi que estava tonta, minha visão embaçada permitia que eu visse as coisas de forma duplicada. Oh, como beber faz mal. Eu ia até o fim, não iria voltar e pedir ajuda para Percy. Sim, eu realmente sou um tanto quanto orgulhosa. Não iria dar esse gostinho a ele.

Minha cor fugiu do rosto, ele ficou frio e eu comecei a soar. Continuei subindo, tentando melhorar a visão. Não consegui, então quando fui apoiar meu pé numa diagonal de madeira ele pisou no lugar errado. Foi o suficiente para que eu perdesse o equilíbrio total do corpo e despencasse a quase dois metros de altura.


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