Unbroken escrita por Annia Ribeiro


Capítulo 44
Epílogo


Notas iniciais do capítulo

Oi meus bolinhos, não me matem, mas tenho uma coisa para dizer: enganei todo mundo. Enganei mesmo, e se reclamarem engano de novo SHAUHSUA Aquele não foi o último capítulo de Unbroken, gente! Tem o epílogo ainda!!! Não sou tão má para deixar Unbroken com aquele desfecho tão solto, agora sim vocês vão poder ter uma base concreta e imaginar o futuro dos personagens. Eu quero MUITO agradecer a todos vocês, leitores lindos e maravilhosos, que acompanharam minha fic com tanto amor. Quero agradecer em especial a America por ser a coisa mais fofa que entrou na minha vida aqui no Nyah (eu amei seu comentário, ok? eu tirei print e mostrei para Deus e o mundo!). Ainda vou responder todos os comentários especiais que recebi, mas tive que me controlar até lançar o epílogo pois eu sabia que poderia falar mais do que deveria. Eu sei que o capítulo tá tipo ENORME, mas sei que vocês vão ler com carinho, já que é o desfecho definitivo de Unbroken e todo mundo morre - mentira.
Muito obrigada a todos vocês, e se puderem deixar sua recomendação eu ficaria muito feliz.
Aproveitem ;)



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Uma coisa que eu não sabia que iria sentir tanta falta: o calor da Califórnia. Céus! Eu estava prestes a congelar mesmo estando embaixo das cobertas, protegida do frio castigante de Massachusetts. E era apenas o fim de novembro e nem estava nevando ainda.

Tudo aqui era tão diferente da Califórnia, mas nem tanto de New York, apesar de tudo ser voltado ao meio acadêmico. A diferença estava entre as pessoas: em New York elas viviam estressadas e correndo contra o tempo, na Califórnia era tudo tão tranquilo, elas conseguiam ter um bom dia de trabalho e no final do dia aproveitar a praia. Em Havard, era os dois misturados de uma forma que me enlouquecia.

A minha vida aqui... bem, estava diferente. Pela primeira vez não estava na aba da minha mãe, o que era algo realmente maravilhoso. Ela estava em New York cuidando da empresa, e eu estava morando num alojamento muito bom perto da universidade. Apesar da pseudo-indepedência, não era como se eu tivesse me livrado completamente da minha mãe. Havia entrado numa parte do meu curso que necessitava fazer estágio, então eu passava minha sexta e sábado na empresa, ou numa obra a qual ela estava de frente.

A cada dia mais eu sentia falta de meus amigos; aqui em Havard, na minha turma principalmente, havia muita gente interesseira. Só foi descobrirem sobre a empresa de engenharia de minha mãe que todos misteriosamente quiseram ser meus amigos. Felizmente, não sou idiota. Preferi ficar sozinha. E então, todos começaram a me achar rude e babaca e eu me tornei a excluída. É queridos, essas babaquices te acompanham na sua vida universitária também.

Outra coisa que te acompanha: garotos. Os idiotas principalmente. E pior: os bonitos, aqueles que você olha e fica imaginando-o em câmera lenta sobre a luz de um holofote. Nessas horas dava saudades de Percy, e raiva, por ele não estar aqui, por eu não estar lá.

Percy estava bem com a empresa. Pelo menos era isso que ele me falou a uma semana atrás, a última vez que fez contato. Eu sei, faz muito tempo, mas eu entrei em semana de provas e ele tinha muitas reuniões e assuntos da empresa para tratar, ficamos sem tempo até mesmo para uma conversa de cinco minutos. Isso me deixava angustiada, pois sentia que estava o perdendo. Que ele estava escorregando pelas minhas mãos e eu não estava tentando segura-lo. Sei que não era fácil para nenhum de nós esse relacionamento a distância, podemos por enquanto segurar as pontas, mas uma hora algum lado irá soltar... Precisava parar de pensar nisso.

Minha colega de apartamento entrou no meu quarto com um sorri travesso, escondia algo em suas costas, dava para perceber pela forma que suas duas mãos estava para trás. Parei de digitar minha pesquisa no notebook e olhei para ela, erguendo uma sobrancelha e não podendo acreditar que aquele episódio ridículo iria se repetir.

― Annabeth, outro embrulho para você - disse Hazel, me entregando uma caixinha pequena embrulhada de papel metalizado vermelho. ― Sério, alguém deve estar caindo por você, tem alguma ideia?

― Não sei, nem dou confiança para os garotos daqui...

Franzi o cenho, me sentido desconfortável. Aquilo já estava ficando estranho. Agradeci a garota fugi para o banheiro para ter mais privacidade. Era como eu esperava: meu nome estava escrito no topo e em baixo a frase "do seu admirador secreto" continuava a me assombrar.

Era o quinto presente naquela semana, entre chocolates, doces, livros, canecas... eu realmente estava ficando apavorada com a possibilidade de ter iludindo tanto alguém a ponto de ela ficar me perseguindo daquela maneira. Abri a pequena caixinha, vendo lá dentro um chaveiro de coruja mais lindo que já vi, era apenas a cabeça e a mesma era feita com pequenas pedrinhas brilhantes que variavam de acordo com a parte do rosto. Era tão lindo que eu soltei um suspiro, tocando a textura levemente com os dedos. Eu precisava descobrir quem é que estava me mandando aquilo. Mesmo sabendo que provocaria uma crise desnecessária de ciúmes, eu contei para Percy quando recebi o décimo presente, ele não havia gostado da ideia, claro, e havia mandado um detetive investigar - pois é, topei com aquele cara estranho várias vezes me seguindo e vigiando com quem eu falava - isso gerou uma briga enorme. Não queria preocupa-lo com algo tão bobo, eu iria descobrir e acabar com aquela história.

.x.

Eu poderia muito bem me passar por uma garota que fugia de um terremoto ou algo do tipo, a forma que eu andava apressada - quase correndo - e minha respiração arfante afastava qualquer um de tentar uma conversa comigo. O motivo era simples e rotineiro: eu estava super atrasada para a aula de Resistência dos Materiais, o qual teria que apresentar o projeto que digitava mais cedo. Claro que meu grupo iria me matar, e talvez o docente me daria um sermão, mas não tive culpa de Hazel decidiu desabafar sobre suas indecisões amorosas justamente naquela hora!

Olhei o relógio, xingando, e não me importei em correr de verdade, voando pelos corredores de Havard, os pés acelerados mal tocando o chão. Deus abençoe quem criou esses sapatos confortáveis que eu estava usando! Enquanto eu me ocupava em correr ignorando o protesto de meus pulmões e ao mesmo tempo não deixar meu notebook e a papelada cair, acabei me chocando com alguém no meio do corredor. Pelo visto a pessoa não havia feito nenhum esforço de sair do meu caminho. Devia ter feito uma placa escrito"trem desgovernado passando, saia do caminho". A pessoa segurou os dois lados de meus braços e, desnorteada, olhei para cima, irritada por reconhecer a pessoa que atrapalhava meu caminho.

― Lucas, eu estou atrasada! - eu rosnei, me jogando rispidamente para o lado a fim de me livrar de seus aperto.

― Não está não, princesa. O professor faltou, está doente - ele explicou, dando um sorriso de lado charmoso. Respirei fundo e bufei, sem disfarçar nem um pouco o ato. ― Se não acredita em mim, entre na sala e veja o aviso no quadro, quando quebrar a cara vai ter que ir tomar um café comigo.

― E ninguém pensou em me avisar isso antes? Eu fiquei a manhã toda estudando para apresentar e vim correndo feito uma maluca para não me atrasar - segurei o notebook junto com os papéis com uma mão só enquanto a outra jogava os cabelos bagunçados para trás. Eles já estavam um pouco abaixo do ombro, poucos centímetros maior do que naquela noite que eu mesma os cortei. Uma grande mudança aquela noite. Da cintura para acima do ombro. A noite em que Afrodite me trancou no quarto com Percy e... coisas aconteceram. De repente, meu humor azedou ainda mais (se isso era possível).

― Iria se atrasar do mesmo jeito - ele comentou e jogou os cabelos para trás, acho que tentava ser charmoso.

― Verdade, agora saia do meu caminho - eu disse, empurrando-o para o lado e passando em direção a sala, queria conferir se meu grupo ainda estava por ali para resolvermos melhor o trabalho, agora poderíamos apresentar decentemente.

Ouvi passos apressados atrás de mim e tiver certeza de que era Lucas. O maior problema daquele garoto era que ele era super simpático, e ao mesmo tempo sincero e ácido. E eu não estava muito a fim de ficar perto de gente desse tipo nesse momento. Me sinto culpada por ser cruel com gente que não tem nada a ver com a história.

― Annabeth... - ele me chamou. Parei no hall da porta da sala de aula, vendo que estava totalmente vazia e que no quadro realmente havia um aviso que o professor faltaria. Soltei um suspiro cansado e me virei para o garoto. ― Está tudo bem com você?

Não... claro que não. Eu estava longe de meus melhores amigos, do homem que eu amo, tudo para realizar o sonho de cursar em Havard e ser o que eu sempre quis, sonho o qual está me custando noites de sonos, estresses, solidão, raiva, frustração, medo... e a pressão de que tenho que ser tão boa quanto minha mãe para a empresa me dava pesadelos. Então não, eu não estava bem. E nunca ficarei se ficar me lembrando disso todos os dias.

― Sim estou, apenas esse trabalho que deu um pouco de dor de cabeça e agora o professor falta, realmente fiquei irritada e descontei em você. Me desculpe - dei um sorriso, forçando-o para parecer convincente. Não poderia afastar as únicas pessoas que falam comigo nesse lugar por causa das pessoas que estão do outro lado do país. Joguei para um canto dentro de mim todo aquele sentimento depressivo e direcionei meus olhos para Lucas.

O garoto tinha uma beleza peculiar. Era extremamente bonito, aos meus olhos não mais que Percy; sua íris era de um azul escuro e profundo, seus cabelos eram negros e sua pele bronzeada, quase dourada, apesar de muitas características similares ao meu namorado, eles eram totalmente diferentes. Percy tinha descendência grega misturada com o americano, enquanto Lucas era descaradamente descendente de indianos.

― Então como você quebrou a cara, está me devendo ir tomar café comigo.

― Deixa para a próxima, Lucas, eu realmente estou com dor de cabeça e sem saco - resmunguei, dispensando-o. Arrumei minhas coisas nos braços e comecei o caminho de volta para a saída do edifício, com o garoto ao meu lado.

― Annabeth... olha - ele disse depois de um tempo caminhando em silêncio; seus passos cessaram e eu educadamente tive que parar e olhar para ele. Por dentro eu estava o estrangulando pela perda de tempo e pela sua chatice, mas por fora eu tentava parecer o mais neutra possível. Desde quando eu me tornara uma pessoa tão insensível dessa forma? ― Você é a pessoa mais legal que eu conheci aqui, a única que é sincera e divertida, ao mesmo tempo sensata. Eu sei que você tem namorado, e que é muito mal humorada e não curte festas, mas amanhã vai ter uma social na casa de meu amigo e eu gostaria que você fosse comigo.

Ergui uma sobrancelha, quase engasgando com minha própria saliva.

― Como amigos, claro - ele completou apressadamente após a minha reação.

― Eu não sei, Lucas, não gosto de sair em dias de aula - eu disse, quase roboticamente. Estava paralisada, sem reação. Muitos garotos olhavam para mim (como olhavam para a maioria das meninas ali), mas poucos chegavam para mim com aquele convite. Poucos eram como Lucas (tipo uma estátua de um deus indiano). Qualquer menina seria considerada louca se rejeitasse um convite dele, mas eu não era qualquer menina e pensar em sair com um cara não estava em meus planos. ― Eu posso pensar, qualquer coisa te ligo.

Fugi de lá o mais rápido possível e fiquei na biblioteca até a próxima aula. Ignorei todas as mensagens de minhas amigas no WhatsApp e continuei estudando, mais tarde quando li, me deparei com questionações sobre eu ter recusado o pedido de Lucas. E detalhe: eu não havia contado nada para ninguém, mas parece que os corredores de Havard tem mais ouvidos do que o normal. Depois de me encher o saco pessoalmente, Hazel e Júniper finalmente me deixaram em paz com o assunto Lucas, elas levantaram suposições de que ele era meu admirador secreto e que estava super na cara que ele gostava de mim faz tempo. Sinceramente, eu não sei. Preciso me atentar e ver se é realmente verdade, já que sabemos que eu sou péssima para saber quando alguém gosta de mim.

Já a noite, quando fui liberada da última aula, meu celular tocou enquanto eu caminhava para o meu apartamento. Era Percy. Meu coração se acelerou ao ver nossa foto brilhar na tela; atendi prontamente e arfei, sentindo a fumaça sair da minha boca por causa do frio que fazia.

― Percy? - eu chamei, já que ele não disse nada.

― Annabeth... - ele disse. Sua voz estava aflita, um pouco tensa e triste. Fiquei preocupada na hora e congelei no lugar.

― Percy... aconteceu alguma coisa? - perguntei, já pensando no pior.

― Não, quer dizer, sim, eu preciso conversar com você sobre uma coisa - o silêncio do outro lado da linha após sua frase foi o suficiente para eu imaginar diversas coisas ruins. Seu tom de voz parecia que alguém havia morrido. Senti uma onda estranha de pavor percorrer meu corpo, me lembrando das aventuras perigosas que vivemos. Tudo bem, Ares estava na cadeia e Clarisse, Scott e Thalia mortos... mas coisas ruins sempre acontecem.

― Percy, um minuto, deixa eu chegar em casa e te ligo, estou congelando - desliguei o celular e corri em direção para o prédio.

A corrida ajudou a aquecer os músculos e ao chegar no meu apartamento já não sentia tanto frio. Hazel não estava em casa. Tirei minhas roupas geladas, guardei o notebook e meu material e vesti moletons antes de ligar para Percy, com uma caneca de chocolate quente em mãos.

― Oi - comecei ― Sobre o que queria falar?

― Annie é que... - sua voz parecia um pouco mais controlada agora, ou forçada. Não saberia dizer. Por telefone nunca sabia. ― Tudo está horrível aqui, a empresa não está boa, não por minha culpa, mas os negócios aqui em São Francisco estão caindo e os investimentos por causa da morte do meu pai. Sem você tudo piora, sem ter alguém para ficar comigo após o dia de trabalho. Eu... eu juro que tento esperar você, e isso foi a coisa mais fácil de se fazer relacionada a nós dois, mas eu acho que é melhor nós darmos um tempo. Não quero que fique presa por causa de mim, quero que aproveite todas as oportunidades que está tendo aí, que fique com quem quiser. Eu sinto que preciso fazer o mesmo.

― Percy... - minha voz saiu fraca, eu sentia um gosto amargo na boca e eu senti como se tivesse cambaleando, embora estivesse sentada. Eu não podia acreditar que depois de tudo que passamos Percy estava falando aquilo para mim, desistindo de nós dois. Dar um tempo para mim era a mesma coisa que terminar, oras! Não tem essa de namora-não-namora. E ainda me fazia acreditar que o motivo era puramente altruísta!

― Annabeth... eu nunca te traí, ok? Em nenhum momento que eu estive com você desejei outra mulher sem ser você. Um dia nos encontraremos, mas por enquanto não podemos ficar presos. Eu amo você.

― Percy... - falei novamente, não obtendo resposta ― Percy!

O celular apitou e ao tira-lo da orelha vi que a ligação estava encerrada.

.x.

Naquela manhã já acordei pensando sobre a ligação de Percy. Ainda estava indecisa de que aquilo realmente fora um rompimento. Ele não havia me dado a chance de falar! E ele sabia o quanto eu adoro debater sobre algo. Isso foi o que meu deu mais raiva. Tentei apenas uma vez ligar para ele para ter minha chance de falar, mas ele não atendeu e por puro orgulho não tentei ligar novamente.

Sabia o quanto aquele dia iria ser improdutivo por causa de Percy, mas faltar aula não era uma opção, e hoje eu só teria três tempos de aula. Me arrumei de forma rápida, já estando ciente do meu atraso. Peguei minha bolsa e sai do meu quarto como um furacão, me deparando com Hazel comendo torradas de forma tranquila na sala, murmurei um bom dia e fui indo em direção a porta, quase pisando um envelope no chão ao lado de fora quando sai. Fechei a porta e me agachei rapidamente para ver o destinatário. Era meu nome, então enfiei dentro da bolsa e fui dar minha corrida rotineira para a sala de aula.

Hoje até que não cheguei tão atrasada. O caminho foi extremamente mais rápido do que o normal, mas acho que era por conta da minha mente está longe. Me joguei na cadeira mais longe possível do quadro no exato momento em que o professor chegou e começou a dar sua aula. Abri o caderno, vendo o envelope que havia jogado mais cedo e o abri. Novamente não tinha remetente, e eu já sabia que era daquele anônimo que sempre me dava cartas e presentes. Olhei para os lados e tirei uma carta lá de dentro. Era um poema.

SONETO CV - Shakespeare
"Não chame o meu amor de Idolatria
Nem de Ídolo realce a quem eu amo,
Pois todo o meu cantar a um só se alia,
E de uma só maneira eu o proclamo."
Nunca desistirei de você, minha princesa.

Engoli em seco e congelei na última palavra, me recordando de Lucas me chamando do mesmo apelido ontem. Olhei para a parte de trás de sua cabeça, a várias carteiras a minha frente. Senti meu chão desabar. Isso não era algo nada bom... quero dizer, alguém gostando de mim daquela grandeza e empenho que Lucas demonstrou. Parecia até mesmo obsessão. Fiquei por vários minutos ponderado sobre a situação e cheguei a conclusão que nada seria mais justo do que esclarecer tudo de uma vez por todas. Se eu tive uma pista de quem poderia ser aquele admirador secreto, eu iria segui-la mesmo que me levasse a lugar nenhum.

No final da aula, corri para alcançar Lucas na saída. O parei no meio da sala e esperei que todos saíssem.

― Então, espero que não tenha dado o convite para as outras pobres mortais desesperadas pela sua atenção, Sr. Maravilhoso - falei, meio brincando meio sarcástica. Talvez eu estivesse com raiva dele só a ideia de saber que ele me mandava todas aquelas coisas.

― Obvio que não, minha rainha, sei que metade de Havard se jogariam do Empire State Building por esse convite meu, mas o deixei em aberto esperando sua resposta.

― Sinto me honrada - eu comentei, agora com a voz totalmente carregada de ironia. ― Você é um grande babaca, Lucas, só tem sorte de ser bonito.

― Quero ver repetir isso após a melhor noite da sua vida - ele disse, convencido.

Cruzei os braços em frente ao corpo, erguendo uma sobrancelha em desafio. Me sentei numa mesa e o encarei.

― A não ser que me leve para São Francisco, duvido muito - dei um sorriso meio ácido, vendo-o se aproximar de mim. Engoli em seco, tendo vontade de sair dali. Não queria ficar sozinha com aquele psicótico obsessivo.

― Você gosta mesmo daquele lugar, não é? Por quê? O que Califórnia te oferece que aqui não? - suas mãos frias tocaram meu joelho e eu o tirei dali.

― Tudo, eu amo aquele lugar, tudo que é meu ficou por lá.

― Bem, espero que possa conseguir novas coisas por aqui - ele ficou me encarando por um tempo, até que eu tive coragem de me levantar e caminhar até a porta.

― Até a festa, Lucas. [...]

Ás nove em ponto Lucas bateu na porta do meu apartamento. Hazel já havia viajado para a Filadélfia, como fazia toda quinta após as aulas, então eu ficaria sozinha no apartamento até amanhã de manhã, quando embarcaria para New York. Ajeitei meu casaco, tentando me convencer que aquilo era suficiente para não passar frio. O inverno nunca lhe deixava elegante para uma festa, era mais instinto de sobrevivência do que beleza; milhares de agasalhos por baixo de um enorme casaco, calça jeans mais grossa que existir e uma bota de cano longa, se não tiver nevando pode até ser de salto. Essa era a dura realidade, onde não existiam vestidos curtos e caríssimos para festas, como em São Francisco.

― Está linda, Annabeth - ele comentou, beijando minha mão num gesto antiquado. Fiz uma careta e acho que ele percebeu. ― Alguns costumes da Índia são repassados a mim pelo meu pai, mesmo com a mãe americana, ele não deixa que a cultura de seu país se perca.

Assenti com a informação, embora ela pouco me importasse. Apenas prendi meu braço no cotovelo dele e descemos até o carro. Ele tagarelava sem parar sobre seus amigos e de como seria a festa, mas minha mente estava bem longe dali. Sabia que havia aceitado sair com ele para me esquecer de diversas coisas, mas era muito desconfortável sair com uma pessoa sabendo que ela é obcecada por você. E se Lucas, sei lá, decidir me sequestrar e me manter cativa para realização de seus desejos sexuais? Meu Deus, vou fingir uma dor de barriga agora mesmo.

Antes que eu percebesse eu estava soando frio.

Entrei no seu carro, tentando captar algo diferente. Não coloquei o cinto pois seria difícil escapar com ele.

― Espero que seu namorado não tenha ficado incomodado - ele comentou, tentando soar discreto.

― Não estou mais namorando, Lucas - respondi, amarga.

― Jura? O que aconteceu?

― Não quero falar sobre o assunto.

Durante o caminho eu deixei a música alta para que ele desistisse de conversar comigo, até que funcionou bastante, mas quando chegamos ao local da festa ele novamente começou a me bombardear de coisas que eu não estava nem um pouco interessada em ouvir. Fiquei imaginando outras meninas no meu lugar, totalmente jogadas em cima deles ouvindo cada palavra com exagerada atenção. Me lembro que facilmente Percy seria o tipo de cara que as garotas se jogariam em cima, pensar nisso não fez que eu me sentisse melhor, na verdade, fiquei com raiva. Percy era meu, nunca fui possessiva ou obcecada, mas ele era meu e eu dele, e essa era a verdade que nenhuma distância ou vadia poderia esconder.

― Ei, vou pegar alguma coisa para bebermos - e antes que eu percebesse, Lucas me deixara sozinha no meio da porta da casa onde ocorria a festa. Ele havia ficado animadinho demais após eu dizer que estava solteira. Bem, eu acho que estou solteira.

Eu estava assustada parada entre as pessoas que dançavam e riam, todas bem agasalhadas e bebendo copos gigantes de cerveja. Até que era organizado, não tinha tanta gente se pegando de forma nojenta, as pessoas dançavam sóbrias na pista de dança improvisada, com as luzes piscando a cima deles. O dono da casa havia até deixado o sofá na sala, o que nunca aconteceria numa festa em New York. Lucas voltou me entregando uma bebida e me puxou. Fiquei desconfortável quando ele me apresentou aos seus amigos e ainda ousou em dançar comigo, mas tudo passou tão rápido. Talvez fosse porque eu estava totalmente no mundo da lua.

Finalmente ele decidiu que era hora de sairmos de lá, por volta das onze da noite. No caminho de volta, percebi que a festa ficava a menos de quatro quarteirões de minha casa. Ele estacionou o carro em frente a uma vaga perto do meu prédio e mergulhamos no silêncio. Não sabia o que fazer agora. Quer dizer, nunca saí com nenhum garoto desse jeito, como amigos. Minha relação com Percy era anormal demais para eu já ter passado por essa situação. Engoli em seco e abri a porta. Me virei para olhar para Lucas para um adeus, mas parei ele me olhava de forma estranha. Era agora que eu tinha que correr?

― Obrigada pela noite, Lucas, foi um prazer conhecer seus amigos - eu disse, dando um sorriso de lado e jogando meu corpo para frente, para sair do carro. Meus planos foram detidos por Lucas, que segurou meu braço e me obrigou voltar a sentar.

― Annabeth, espere - ele se inclinou na minha direção e fechou a porta. So-co-rro. Eu sabia que devíamos ter ido no meu carro, que ele iria me usar como escrava sexual. Olhei para ele, pensando no quanto eu era uma ótima atriz e uma péssima consciência. Eu ainda conseguia brincar nunca situação daquelas em meus pensamentos, como se não estivesse nem ai. Talvez eu não estivesse mesmo. Lucas tocou meu rosto com a mão e colocou uma mexa de meu cabelo atrás da orelha, então se aproximou de mim lentamente. ― Muito obrigado por sair comigo essa noite, você não sabe o quanto eu fiquei feliz por ter aceitado o convite.

― Acho que ficou ainda por saber que não estou mais namorando - falei, totalmente fora do clima que ele tentava criar.

― Sim, claro que fiquei. Pode ser egoísta, mas foi a melhor notícia que eu recebi essa semana. Agora pelo menos eu tenho uma chance... - ele olhou nos meus olhos e se aproximou lentamente, tocando meus lábios de forma suave com os meus.

Meu rosto se esquentou e eu empurrei seu peito, dando-lhe um tapa no rosto. Senti meus olhos arderem e a raiva aumentar. Como ele realmente se atrevia daquela forma? Desde quando eu lhe dei algum sinal de que poderia me beijar?!

― Você não tem nenhuma chance comigo, Lucas, eu ainda o amo e não quero mais ninguém a não ser ele - falei, sem olhar para o garoto. Abri a porta do carro e fechei com força, dando passos furiosos até meu apartamento. Eu estava com uma angústia enorme no peito, mas sabia que não iria chorar; de alguma forma consegui lidar com isso e me tornar maior que esses sentimentos. Eles ainda estavam lá, mas não me afetavam tanto quanto antes, eles não me devoravam viva e me consumiam como chamas.

Por algum motivo eu decidira ir ver a caixa de correspondência de meu apartamento, e la estava: uma carta com um outro poema. Eu nem li direito, apenas rasguei aquele maldito papel em milhões de pedacinhos e deixei que eles voassem pela janela do meu apartamento. Eu queria gritar e xingar, mas não tinha nenhuma pessoa na minha reta para ser meu alvo. Estava farta daqueles presentes, de Lucas, de Havard!

Eu havia saído naquela noite para poder esvaziar a cabeça, mas voltei para casa com umas toneladas a mais. Me senti novamente voltando ao passado. Presa num romance impossível, estagnada no lugar enquanto via todos viverem. Mas agora era diferente certo? Luke foi meu primeiro amor, mas estava morto. Percy estava vivo... do outro lado do país com certamente um monte de vadias. Fechei a mão com força e soquei a parede por impulso.

― Puta que pariu - xinguei, sentindo a dor me consumir. Nossa, para uma engenheira eu conseguia ser bem irracional ás vezes. Respirei fundo e por fim me joguei na cama. Amanhã que realmente estaria no inferno.

.x.

A empresa da minha mãe era magnifica, realmente uma obra impecável de Engenharia Moderna que atraia os mais milionários dos clientes. O saguão da recepção era preto e branco com detalhes dourados, telões mostravam vídeos de várias criações de Atena e de sua grande e eficaz equipe. Hoje até que não havia tanta gente no saguão, o que era extremamente raro, conferi a hora em um telão e realmente era a hora do hush, nas ruas estava claro isso, mas ali dentro estava muito calmo. Ajeitei a saia social e a blusa branca com o emblema da empresa e caminhei em direção ao elevador. Sempre passava no escritório de minha chefe (quer dizer, mãe) antes de ir para o meu setor. Respirei fundo enquanto ouvia aquela música patética do elevador.Meu reflexo no espelho me mostrava uma pessoa que eu ainda estava conhecendo, uma pessoa que tem um emprego e que precisa ser responsável ao extremo, que usa saltos altos sociais assim como o restante da roupa, que usa maquiagem elegante e nada chamativo. Dava vontade de vomitar, mas era o que tinha que ser por ora.

A porta finalmente se abriu e eu me dirigi para a sala da minha mãe. Ficava, é claro, na cobertura do edifício. Sua secretária me informou que ela tinha companhia na sala, seus sócios importantes, mas que havia me permitido entrar quando chegasse. Sócios importantes? Minha mãe só tinha Héstia e Ártemis como sócias aqui, e elas nem eram tão importantes para Atena quanto...

Corri e abri a porta da sala da minha mãe, confirmando minhas suspeitas. Vários pares de olhos se viraram para mim, com belos sorrisos calorosos. Realmente eu estava certa. Senti meu peito se transbordar de alegria, e se fosse capaz de ainda fazer isso, eu choraria de emoção e alegria. Coloquei a mão na boca e mordi levemente a palma para saber se era mesmo real. Então meus olhos pousaram numa pessoa em especial e eu senti como se não pudesse mais caber em mim. Finalmente após tanto tempo nesse inferno e quase-depressão as coisas voltaram a se tornar o paraíso de São Francisco. Corri em direção aqueles olhos emocionados e abracei o corpo com uma força esmagadora. Nunca pensei que iria sentir tanta saudade de alguém.

― Eu não acredito que você está aqui - eu disse, não contendo o sorriso de canto a canto de meu rosto. ― Não acredito que todos vocês estão aqui. Mãe porque você não me contou?

Afrodite se soltou do meu abraço, dando um sorriso orgulhoso e alegre, ela passou a mão no meu rosto, inclinando um pouco rosto.

― Ah, querida, queríamos te fazer uma surpresa. Espero que tenha gostado de nossa presença, pois pelo visto iremos ficar por bastante tempo aqui.

Arfei, surpresa com a notícia, tendo mil perguntas em minha mente. Primeiro eu abracei Piper, Jason, Zeus e Hera, então olhei novamente em volta, a procura dele. Sim, eu já havia percebido sua ausência, mas ainda esperava que ele aparecesse a qualquer momento. Se todos os donos da empresa de São Francisco estavam ali, porque não Percy?

― Onde está Percy? O que aconteceu? Por que vocês vão ficar aqui? - meu sorriso havia desaparecido, olhei de Piper para Afrodite, sabendo que a melhor resposta viria delas.

― A empresa de São Francisco estava tendo muitas baixas, e só piorou após a morte de Poseidon. Os gastos estavam sendo maiores que o lucro, e decidimos fechar. Transferimos todos os funcionários para cá, e vamos ficar aqui com a sua mãe e colocar um Global depois do nome da empresa - Afrodite deu um risinho no final, mas então parou totalmente de mostrar algum tipo de divertimento ― Pery se negou a tudo isso... ele não queria deixar a cidade que nasceu, cresceu e tudo o mais. Acho que ainda está meio abalado com tudo que aconteceu e não quer deixar a cidade enquanto não estiver pronto.

Estiver pronto? Ele não estava pronto para ficar comigo? Ele sabia o tempo todo de tudo aquilo e não me dissera nada? Respirei fundo, e ergui a cabeça. Já não ostentava o sorriso de antes, e mesmo que eu tentasse fingir que não estava abalada, era totalmente visível. Só queria sair dali o mais rápido possível agora.

― Eu tenho que ir, nos vemos mais tarde... - não foi a despedida que eu esperava, mas foi o que saiu da minha boca antes de eu dar meia volta as pressas e sair correndo para o elevador. Ouvi Atena me chamar, mas eu ignorei e me enfiei na cabine metálica, apertando um botão qualquer e tentando segurar as lágrimas.

Aquilo foi a gota d'água. O mais impressionante que o sentimento que predominava em mim era raiva.

Quando cheguei ao meu setor tive a surpresa de ver que tudo estava apagado, nenhuma alma viva presente. Fui para recepcionista, que jogava cartas no computador entediada e perguntei o que estava acontecendo.

― Bem, a senhora Chase decidiu fechar a atividade da empresa hoje por causa de seus convidados, terá uma festa de boas vindas a noite.

Agradeci pela informação, me sentindo uma idiota. Era isso que ela queria me falar quando sai da sala as pressas? Não queria voltar para a festinha surpresa que Atena e Cia fizeram para mim, então tudo o que me restou foi atravessar a rua e me sentar num banquinho do Central Park. Eu me sentia horrível por dentro, como se eu tivesse engolido uma nuvem carregada e que ela estava se vingando de mim. Fiquei perdida em pensamentos até que meu celular começou a vibrar. Uma nova mensagem de um número bloqueado.

"Todas as suas respostas estão lhe esperando agora no alto, onde tudo pode ver.
Seu admirador secreto."

Não podia acreditar que aquele inferno me perseguia até mesmo em New York. Seja lá quem for esse tal admirador secreto, vou joga-lo do ponto alto que quer que eu vá. Ele era péssimo em charada também, foi a pior charada que tive o desprazer em desvendar. Não era tão difícil saber que ele se referia ao Empire State Building, o prédio tinha o último andar liberado ao público para poder observar a cidade com os binóculos do lugar. Passei a mão no rosto e decidi logo encarar aquele problema. Me certifiquei de que meu canivete estava na bolsa e deixei o número da polícia discado. O prédio não ficava muito longe, fui andando mesmo e aproveitando para pensar no que faria, mas eu não tinha ideia do que falaria se fosse Lucas. Espera, após aquele super fora ontem será que ele ainda insistia naquela história?

Na recepção do Empire, o homem da portaria me disse que o andar de visitas estava fechado para um evento naquela manhã. Franzi o cenho, confusa.

― Uma pessoa me pediu para encontrá-lo lá agora - falei.

O homem ponderou de minha frase no momento e deu um tapa de leve na sua testa.

― Me perdoe, senhorita Chase, por favor, pode subir - ignorei o fato do homem parecer me conhecer fisicamente e de saber meu sobrenome e entrei no elevador. A cada número que passava, eu me sentia mais aflita, peguei o canivete da bolsa coloquei no bolso da saia. Caso não tivesse ninguém, eu poderia simplesmente me jogar de lá, assim a viagem não seria totalmente em vão. Uau, esse pensamento foi macabro até mesmo para mim.

Quando a porta se abriu eu já sentia que meu coração ia sair do peito. Eu estava com medo, morrendo de medo, mas forcei minhas pernas a andarem. Me deparei com um corredor grande e meio escuro, e isso só serviu para aumentar meu medo. Apertei o canivete em meus dedos, pronto para tira-lo dali a qualquer momento. Pelo visto, tinha uma fonte de luz vindo de algum lugar. Andei o corredor até que ele se cruzasse com outro, a direita. Então senti algo esmagar, figurativamente, meu peito. O corredor estava totalmente iluminado pela luz do sol que entrava pela uma porta dupla no final. Pétalas de rosas cobriam todo o chão, balões coloridos enfeitavam o teto... era lindo. Continuei andando, me sentindo menos preocupada. Quem quer que tenha feito tudo aquilo, não tinha a intenção de, sei lá, me matar ou vender meus órgãos para o Mercado Negro.

Parei em frente a porta, deixando meus olhos se acostumarem com a claridade. Ali, o ambiente não era diferente. Estávamos no terraço do Empire, claro, mas havia balões, enfeites e rosas em todos os lugares, assim como uma música que tocava ao fundo. A minha frente tinha uma mesa farta com dois lugares. Olhei para os lados, a procura de alguém, mas eu estava sozinha. Meu peito subia e descia rapidamente, eu estava preste a ter um ataque do coração ou de raiva caso alguém não aparecesse logo.

― Percy? - eu chamei, por mim. Era ele, certo? Tinha que ser. Ninguém faria algo daquilo por mim (confesso que acho que nem mesmo Percy). E ele havia terminado comigo e ficado em São Francisco... realmente aquilo tudo estava dando um nó em minha cabeça.

Dei uma volta ao meu eixo e reparei num detalhe que havia passado despercebido: uma caixa branca e dourada estava repousada numa mesa menos, perto da porta. Caminhei até lá e abri a tapa da caixa. Depois de abrir que eu pensei que poderia ser uma bomba, ou sei lá.

A caixa era grande e cabia perfeitamente o pano azul e um par de saltos pretos lá dentro. Um cartão com as típicas letras de máquina estava posto delicadamente com uma rosa branca em cima do vestido.

"Aceite o último presente antes de eu me revelar,
do seu admirador secreto."

― Que jogo doentio! - falei bem alto para que o psicopata que brincava comigo pudesse ouvir.

Respire fundo, contei até dez e fui até o banheiro me trocar. Não iria descobrir quem era o filho da mãe se não fizesse o que mandasse.

O vestido azul ficou perfeito em mim, ele era justo, tomara que caia e sua barra ia até metade de minhas coxas. Os sapatos ficaram um pouco desconfortáveis, mas nada que eu não estivesse acostumada. Me olhei no pequeno espelho do banheiro e sai de lá com a bolsa semi aberta por conta das roupas que jogara lá dentro. Nada havia mudado, exceto a música, que agora estava mais lenta e alta. Coloquei minha bolsa e a caixa do presente em cima da mesinha perto da porta e caminhei para fora, sendo atingida pelo vento um pouco gélido daquela manhã. Respirei fundo, sentindo minhas pernas tremerem.

― Já fiz o que mandou, agora você bem que poderia aparecer antes que eu me jogue daqui de cima - falei, alto. Me senti patética por estar falando sozinha. Tinha que ter alguém ali, não é?

Prendi a respiração quando braços envolveram minha cintura por trás, me apertando lentamente contra seu corpo. Havia sido pega de surpresa e estava paralisada, com medo; até que seu cheiro familiar veio até a mim, um cheiro muito gostoso de oceano.

― Me concede essa dança, namorada suicida? - sua voz calma e atraente encheu em meus ouvidos, fazendo com que algo dentro de mim acontecer algo estranho. Fechei os olhos, tremendo da cabeças aos pés, me concentrei em sua voz. Era inconfundível. Quando seus braços deslizaram lentamente pela minha cintura e suas mãos pousaram em minha cintura, me virei para ele, abrindo os olhos para encontrarem os seus.

Seus verdes intensos brilhavam ansiosos para encontrar os meus . Refleti o sorriso que ele estampava no rosto e o jogueis meus braços em seus ombros, o abraçando com força. Fechei os olhos, sentindo minha respiração acelerada e os batimentos também. Seus braços me ergueram no chão e antes que eu pudesse me impedir eu comecei a ri.

― Não acredito... - falei, entre os risos ― Não acredito que você está aqui!

Percy me colocou no chão e segurou meu rosto com as duas mãos.

― Falei que nunca te deixaria, Annie - ele disse. Tentei controlar meu riso, pois já estava me sentindo meio retardada.

― Era você o admirador secreto o tempo todo? - perguntei e ele acenou com a cabeça, com um sorriso um tanto quanto convencido ― E aquela ligação foi tudo encenação?

― Queria te surpreender - ele sussurrou, de forma sexy.

― Queria me matar do coração, seu filho da puta. Isso não se faz!

Ele riu e voltou a segurar minha cintura, desta vez com mais força, e pressionou meu corpo contra o dele. Eu podia sentir sua respiração na minha, sua boca totalmente acessível. Tudo que eu queria era beija-lo. Num momento onde só se podia ouvir a doce melodia da música e nossa respiração, ficamos nos encarando, seus olhos me queimando por dentro, preenchendo cada célula e a transformando em fogo. Por que ele se tornou minha âncora? Meu ponto de força e invulnerabilidade? Por que quando eu estou com ele eu me torno invencível, e quando ele se vai eu me sinto tão vazia, incapaz. Eu odiava amar aquele sentimento.

Cravei minhas unhas em sua nuca, arranhando lentamente o local enquanto meus lábios se aproximavam dos seus. O beijo começou urgente e cheio de um sentimento que me avivou por inteira por dentro. Fechei os olhos e me entreguei totalmente para ele, assim como senti que ele estava se entregando a mim. Seus lábios desceram para meu pescoço, distribuindo diversos beijos ali antes de voltar para meus lábios, me beijando intensamente.

― Eu te amo - eu sussurrei entre o beijo, apertando suas costas,fazendo-o ficar cada vez mais colado a mim. Ele repetiu a frase diversas vezes, com aquela voz rouca e baixa. Eu me sentia longe de superar a surpresa que tivera.

Segurei sua mão e me afastei um pouco dele para que pudesse encarar seus olhos.

― Agora que cada um está no lugar que deve estar, nada vai nos impedir - ele disse.

Concordei totalmente com ele. Tudo estava estável. Ele trabalharia na empresa e moraria aqui; eu poderia vir mais vezes para New York, terminaria meus estudos e tomaria a empresa. Nossa vida era aqui agora, e nenhum imprevisto poderia nos derrubar agora, nenhum fantasma da morte ou erros deles poderiam nos assombrar. Os meus poderiam estar vagando pelas ruas de New York nesse momento, mas eles não vão me atingir mais. Eu era invencível agora. Graças a aquele garoto problema.

― Nada vai nos impedir - repeti.

Percy segurou minha cintura e começou a nos balançar no ritmo da música lenta que tocava, apenas ia de um lado para o outro sem realmente ir para algum lugar. Ele deu um sorriso galanteador e eu ri, encostando a testa no seu pescoço.

Talvez duas pessoas possam mudar totalmente quando encontram a pessoa certa, aprendemos a perdoar erros que imaginávamos ser imperdoáveis, a viver a vida intensamente e sem medo de cair. Aprendemos, principalmente, a ser forte na queda. Eu posso afirmar com todas as minhas poucas certezas de que eu era uma Annabeth totalmente diferente daquela do começo do verão. Cheia de fios de sentimentos arrancados, soltos e embolados. De alguma forma aquele homem, Percy Jackson, havia conseguido arrumar cada fio e coloca-lo no devido lugar, tudo isso em meio a uma confusão inigualável; e eu nem havia percebido. Achava que nunca que alguém como ele poderia me ajudar sendo que ele mesmo estava mergulhado em tanta confusão. Mas eu estava errada.

A pessoa perfeita ao nossos olhos não existem, a vida real é aquela pessoa que, mesmo com tantos erros e falhas, é sincero quanto a questão de se arrepender e de querer mudar. Cada cicatriz ganha, é um troféu da batalha. Naquela guerra, sabemos que não iremos vencer, mas não sabemos quando que vamos ser totalmente derrotados. Não existe tempo para estagnar a vida se lamentando por erros, perdas, por quês. Meus amigos bateram no meu rosto para me acordar sobre isso. Eles me levantaram em meio a depressão, e eu escolhi viver realmente. Sem lembranças do passado, sem medo, eu me perdoe por tudo, e ensinei a Percy a se perdoar também. Agora, todos nós, estávamos sarados das feridas que a vida nos causaram, mas já estávamos prontos para novas feridas. Dessa vez, a receberíamos como um aprendizado. Amadurecemos.

Mesmo que no futuro eu e Percy virássemos um erro, tenho certeza de que seria o melhor erro que eu cometeria em minha vida. E desse erro eu não me arrependeria.


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Notas finais do capítulo

Gente, esse é o desfecho de meu primeiro trabalho planejado, e eu amei que todas vcs estejam envolvidas nisso comigo, me incentivando e brigando comigo. Eu sei que trollei bastante no decorrer do capítulo, mas eu queria uma última vez despertar raiva, surpresa e emoção em vcs. Mas eu gostei de saber que você acham que eu sou má o suficiente para separar Percabeth depois de tudo. NÃO SOU GENTE, NÃO SOU. PERCABETH É VIDA, TINHAM QUE FICAR JUNTOS.
Eu não tenho mais o que falar, já que me despedi no outro capítulo.
Por enquanto não vou mais escrever fics, estou meio sem tempo, escrevendo em rpg, me empenhado na faculdade e tentando ter vida social, mas quando inspiração vim eu quero todas lendo minha nova fic se tiver. Unbroken não vai ter segunda temporada por um motivo: nunca dá certo.
Cai muito a qualidade e leitores em segunda temporada, e ficaria arrasada se acontecesse em Unbroken. Tipo, muita coisa aconteceria em New York, afinal, em SF exploramos todo o passado de Percy e as pessoas envolvidas com ele, mas em NY seria a vez de Annabeth com seus demonios, afinal, ela fez muita coisa errada também e muitas pessoas que poderiam a perseguir.
Mas infelizmente isso não vai acontecer, eles vão ter uma vida realmente estável agora, como está no capítulo, mas se quiserem imaginar, fiquem a vontade, a fic é de vocês.
Muito obrigada por tudo, tudo mesmo gente, sério.
E para não acharem que to trollando novamente, irei deixar a opção de marcar a fanfic finalizada.
Então isso é um adeus ;')