Unbroken escrita por Annia Ribeiro


Capítulo 43
Let Me Go


Notas iniciais do capítulo

Eu sei que nem de longe eu fui a autora mais compromissada do mundo - comparada as minhas autoras, eu até que fui u.u porque a história foi finalizada. Mas eu queria pedir desculpas e agradecer por tudo! Quero pedir desculpas pelas minhas filhas da putagem, pelas pessoas que matei, pelas brigas, pela enrolação e tudo o mais que aconteceu nesses 44 capítulos. Quero agradecer por vocês serem tão maravilhosas e terem comentado a fic! Por me fazerem feliz quando eu estava extremamente abatida e por não me matarem de verdade e ficando só na ameaça.
Eu espero que vocês não me matem por causa do final. Eu quis fazer algo realmente diferente. Não acho que aqui seja uma fic qualquer sobre um casal de adolescentes. Eu vejo Unbroken como um meio de ver como as pessoas superam e aprendem com as coisas, como que novas chances vem e vão, como coisas muito ruins acontecem a pessoas que não tem envolvimento e como o amadurecimento vem com toda a dor. Além de tudo isso, o final de Unbroken não é o final de algo. Confuso, sei, mas para mim o diferencial de Unbroken é que seu final é o final do começo, e não o final do final HSUAHSUAHSHSA foda-se a lógica, tentem entender.
Muito obrigada a todos vocês, espero que gostem e se apaixonem pelo último capítulo dessa novela mexicana sz
LEIAM AS NOTAS FINAIS!!!
XX.



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A semana sucessora do aniversário de Percy foi uma droga para mim. Pelo menos dentro de mim, para minha mente, para minha cabeça. A cada dia que passava eu me sentia muito mal por não contar a verdade para Percy, mas eu ainda não tinha coragem. Falar em voz alta para ele seria como jogar fora todos os momentos que vivemos, como se eles fossem nada. Eu ainda preferia que ele achasse que eu iria estudar em Stanford do que dizer que eu iria estudar no outro lado do país, em Havard. Não é como se eu tivesse muita escolha, afinal.

Suspirei, lembrando das palavras que eu disse na noite do aniversário dele. Parecia fazer tanto tempo. Sabia que ele não tinha entendido nada, Percy pensava que eu me referia ao fato de morar com ele, mas na verdade eu falava sobre me mudar para Massachussets. Minha mãe iria voltar para Nova York e queria me arrastar junto; nunca me deixaria em São Francisco. Eu não posso fazer nada. Não tenho coragem... me desculpe. Fechei os olhos, sentindo aquelas palavras me atormentarem pela milhonésima vez naquele dia. Tudo se referia a Havard, em sair de São Francisco... Eu fui tão cautelosa que acabei sendo tola. O sentido de 'férias temporárias' havia se perdido completamente em minha cabeça a medida que eu me apaixonava pelas praias daqui, pelos restaurantes, pelos meus amigos, pelas risadas e saídas, por Percy. No final, me fodi, e fodi todo mundo a minha volta também. Parabéns, Annabeth, não é como se fosse a primeira vez.

― ... ai ele disse que eu deveria parar de sempre achar que ele tinha razão, que eu também tinha que ter uma opinião - conclui Piper.

― Então você está me dizendo que você e Jason estão a um dia sem falar... - começou Leo, mas foi interrompido por Piper que o corrigiu e disse "Exatamente 22 horas, Leo, não presta atenção no que eu digo?". O garoto bufou, deu de ombros e continuou: ― Estão a um dia sem falar um com o outro porque você concorda com tudo que ele diz? Cara, vocês me deixam diabéticos.

― Falou o "Leolicia" da "Calinda" - zombou Pips, esticando a língua para Leo e jogando um de meus travesseiros no garoto. Observando a cena, percebo que o que mais vou sentir falta é disso: o companherismo, a amizade verdadeira e pura, as risadas. Nunca tive nada parecido em Nova York.

― Annabeth, você está com cara de idiota novamente - disse Nico, jogando um travesseiro no meu rosto. Me assustei e olhei espantada para todos os presentes. Pips e Nico estavam esparramados em minha cama, Leo estava sentado na poltrona e eu sentada na cadeira da escrivanhia porque ela rodava e eu gostava de ficar girando.

― Não estou não - rebati.

― Cara de idiota ela sempre teve - zombou Leo, gargalhando. Peguei o travesseiro que Nico jogou em mim e joguei em Leo.

― Babaca! - resmunguei.

― Guerra! - gritou Nico atirando todas as almofadas ao seu alcance em todas as direções. Respirei fundo para não gritar que havia arrumado o quarto ontem.

― Sem guerra, estamos num momento delicado onde nossa amiga Pips está a 22 horas sem mandar nenhuma mensagem de texto para Jason, carta, ligação ou postagem no facebook relacionada a ele. É realmente tempos difícies, caros amigos - falo, deixando a voz num tom sério apenas para todos explodirem em gargalhadas segundos depois.

Era tão bom estar com eles, me deixava tão em paz. Embora Piper falando de Jason fosse uma chatice e eu acabasse caindo em depressão sobre a merda de vida que tenho. De qualquer forma, eles haviam se tornado minha família, uma parte de mim que eu não abriria mão. Eles tornaram meu passado distante em apenas lembranças enevoada, como se fosse um filme. Eles tornaram a dor suportável, até que ela deixasse de existir.

A porta do quarto foi aberta e todos pararam de ri instantaneamente. Por um minuto eu pensei que fosse minha mãe que chegara cedo da empresa, eu juro que preferia que fosse ela... Mas era Percy. Ele estava vestindo trajes formais, denunciando que havia acabado de sair da sua primeira reunião na empresa, sua expressão me deu medo, ele estava vermelho, com raiva e os olhos escuros... eu não via aquelas íris daquele tom de verde desde, bem, desde que tudo ficou em paz.

― Eu preciso falar com Annabeth - ele disse, tão ríspido que senti todos os ossos de meu corpo se amolecerem.

De repente senti um frio inexplicável. Percy não precisou dizer mais nada, Piper, Leo e Nico olharam para mim preocupados e eu acenti tentando dizer que tudo vai ficar bem, depois eles se levantaram e sairam do meu quarto aos tropeços. Quando eles fecharam a porta eu me senti sozinha, senti como se o teto tivesse desabando. De alguma forma, eu sentia que Percy descobriu. E agora ele estava furioso comigo. Tentei controlar o tremor do meu corpo e me levantei, nervosa. Fiquei quieta até que Percy falasse, eu temia piorar as coisas.

― Quando você iria me contar? - ele perguntou, tensionando o maxilar. Sua voz estava carregada de raiva. Perdi o ar e as palavras pareceram desconexas em minha cabeça, sem ordem certa para que eu pudesse falar algo. ― Quando você iria me contar que daqui a uma semana você vai sair daqui? Sair da minha vida. Annabeth, não acredito que você escondeu isso de mim. Era para sermos sinceros um com o outro!

― Percy... - é tudo que eu consegui dizer. As palavras se atrapalhavam em minha cabeça e eu não sabia o que pensar, não sabia de mais nada. Só conseguia me odiar por tudo, odiar minha mãe por me obrigar a sair de São Francisco quando tudo está tão bem.

― Melhor não falar nada, é sério - engoli em seco, fechando os olhos e fazendo as lágrimas voltarem. Apesar de tudo, eu me sentia impotente de fazer qualquer coisa; eu não podia fazer nada para mudar aquela situação. ― Você quer sabe como eu descobri? Da forma mais humilhante possível. Sua mãe falou na reunião que estava voltando para a matriz em Nova York e que você iria junto, ainda acrescentou desnecessariamente que você iria estudar em Havard! Na frente de todos os sócios.

Fiquei imaginando a cena... minha mãe devia ter feito de propósito, ela devia ter percebido que ele não sabia sobre Havard. Aquela era a nossa primeira briga de verdade, e, pelo visto, a última. Eu não poderia deixar isso acontecer. Não poderia perder um minuto sequer com ele, pois o tempo cada vez mais diminui. Por fim, eu encontrei minha voz.

― Me desculpe, tá. Me perdoe... Eu queria que tudo ficasse normal até... - fui cortada por Percy, sua voz saiu fria e cruel.

― Até o que? Até ser um lindo dia e você falar que está indo para o aeroporto? Esse tempo todo você agindo como se tudo estivesse dando certo. Eu pensei que isso fosse a primeira coisa na minha vida que realmente daria certo. Que teria um futuro. - ele respirou fundo e olhou para a sacada, se perdendo dentro de si. ―Por isso que você não aceitou morar comigo? Você percebe que isso seria uma solução?! Você estudaria em Stanford e ficaria aqui... Mas parece que você quer ir para Havard.

― Eu não quero - minha voz sai tão baixa que não tenho certeza se ele ouviu. Engoli aquele nó angustiante na minha garganta e olhei para meus pés descalços. Nunca os achei tão interessante como naquele momento. Não queria brigar com Percy, ele não entendia... ele não estava entendendo.

― Ótimo, então fique - ele disse, cruzando os braços e me encarando.

― Eu não posso! - gritei. Respirei fundo e tentei abaixar a voz ― Eu já disse os motivos Percy, se você não se lembra trate de lembrar!

Fechei os olhos, sentindo meu coração se transformar numa casquinha de noz. Talvez eu tenha cometido um erro em me fazer de vítima, talvez aquilo arranhasse o ego de Percy, mas eu não pensei; estava furiosa e com medo.

― Eu faria de tudo para você ficar, mas primeiro você teria que querer também - ele disse, antes de se virar, abrir a porta e sair do meu quarto.

Tentei gritar o nome dele, mas suas palavras entraram dentro de meus ouvidos e se solidificaram, se transformando em trevas que me consumiam de forma lenta e dolorosa. Respirar era um sacrifício e eu sentia meus joelhos amolecerem. Então me perguntei o motivo de eu estar ali parada olhando para a porta sem fazer nada. Forcei meus pés a trabalharem e sai correndo até a porta, atravessando o corredor e vendo a porta da sala acabar de ser fechada. Desci as escadas tão depressa que temi que eu tropeçasse em meus próprios pés.

―Percy! - gritei, abrindo a porta e o vendo dar partida no carro. Ele sequer olhou, apenas dirigiu reto.

Escondi a vontade de pegar o carro e segui-lo, mas tinha que aceitar que ele não queria falar comigo. Eu teria que esperar um pouco. E essa parte era pior que tudo.

Bati na porta três vezes antes de uma mulher muito bonita me atender com um sorriso contagiante. Senti tudo dentro de mim cair novamente, como que a presença ela pudesse revelar meu verdadeiro estado, e não aquele que eu finjo ter para me manter forte.

― Querida... - disse Afrodite, me puxando para um abraço forte ― O que aconteceu?

― Eu... eu fiz algo que magoou muito uma pessoa... não tem conserto - suspirei, retribuindo o abraço e logo me afastando.

Afrodite me puxou para dentro de sua casa, conduzindo-me até o sofá onde me ofereceu algo para beber, recusei e fiquei quieta, sem saber por onde começar, sem saber o motivo de eu ter ido ali.

― Sinto muito querida. Pelo jeito que saiu da reunião hoje eu soube que não havia contado para ele - ela disse com uma voz calma e doce, acariciando as costas da minha mão como se aquilo pudesse me fazer sentir melhor. Demorei um pouco para lembrar que Afrodite era sócia da empresa de minha mãe, portanto ela sabia de tudo. ― Você é uma menina inteligente, vai consertar isso melhor do que ninguém... Ele só precisa de um tempo, foi um choque para ele. Sabe, Percy é um garoto fácil de se desvendar, teve problemas com o pai e quando Poseidon morreu ele sentiu toda a responsabilidade de uma só vez, sempre fora muito relaxado, não se preocupava com nada e depois de pagar por tudo que aprontou só queria ficar em paz. Ele só está chateado, talvez pensando que tudo sempre dá errado para ele... enfim, meninos também se sentem inseguros e dramáticos.

Assenti com a cabeça, tentando parecer com a expressão mais neutra possível, todavia internamente eu estava muito surpreendida com toda aquela análise de Afrodite. Percy não era nem um pouco fácil de se desvendar, mas ela fez parecer como se ele fosse um livro trancado com aquele cadeado de 1,99. Me senti bem por ter escolhido falar com Afrodite, ela não me fazia falar e falar, dizer como me sentia, como tudo aconteceu. Ela carregava o peso comigo e aquilo era aliviador.

― Dê um tempo para ele digerir... mande mensagens, sabe, demonstrar que se importa. Tente o procurar amanhã para que ele possa pensar. Não desista. Vocês dois são lindinhos demais para que a megera da sua mãe possa atrapalhar.

Permito-me sorri. Fiquei mais um tempo conversando com ela e me senti menos pesada após entrar no carro e voltar para casa. No caminho, me lembrei de Silena, que a essa hora deveria estar em algum lugar em Paris. Nunca pensei que iria sentir saudades de uma pessoa que convivi menos de duas semanas, mas eu senti. Preciso me lembrar de escrever uma carta para ela.

Ao chegar em casa fiz tudo que Afrodite me aconselhou. Mandei mensagem para Percy; obviamente ele não respondeu nenhuma. Tentei ligar, mas ele não atendeu nenhuma das 33 tentativas. Por fim, desisti e tentei um livro qualquer para tentar esquecer tudo aquilo. Tive que ignorar as mensagens preocupadas de Pips, Leo e Nico. Eles já deviam saber do acontecido, ou parte dele. Não estava com cabeça de falar nada, de explicar sobre a briga e de como me sentia.

Quando minha mãe me chamou para jantar fora eu recusei. Eu tentava enxergar o lado dela, os motivos que a levaram a me arrastar para o outro lado do país, mas não conseguia. Não era como se eu fosse a filha exemplar e ela quisesse me proteger dos males do mundo de Percy Jackson. Era como se ela quisesse que eu fosse do jeito que ela queria, uma pessoa perfeita e que fazia tudo do jeito que ela queria, como ela queria... ela queria que eu fosse ela. Mas eu nunca seria e nunca vou ser. Sei disso desde os 15 anos, quando fugi de casa pela primeira vez para ir a uma festa. Nunca seria do jeito que ela queria.

Me arrependo amargamente por ao meno ter tirado boas notas na escola, se não fosse por isso eu sequer sentiria o cheiro de Havard. Senti o celular vibrar e quase dei um salto na cama. Peguei o celular no criado mudo e era Piper, em sua trilhosésima mensagem.

Respirei fundo e coloquei o celular de volta no móvel, desligando a luz do abajur e fechando os olhos. Uma hora ou outra a incosciência me pegaria. [...]

Sai de cada trinta minutos depois do horário que Percy sai da empresa. Dirigi por um bom tempo, dando voltas na cidade e parando no Starbucks para comprar uma bebida. Tudo tinha que ser tranquilo, meu dia, minha mente, minha conversa com Percy. Fiquei pensando do dia que cheguei em São Francisco. Eu estava arrasada, com raiva, depressiva. Só queria procurar paz e ficar longe de qualquer tipo de problema. Naquele tempo eu ainda estava mal por meu ex-namorado, Luke, ter se suicidado. Fechei os olhos, apertando o volante e me lembrando de ter acordado na cama dele sozinha, desci para a cozinha e depois fui para garagem, onde vi o corpo dele pendurado numa corda pelo pescoço. Um arrepio percorreu pelo meu corpo e eu respirei fundo. Não sentia mais incoformidade, nem dor por ele ter se ido - um dia o luto passa, ou você aprende a conviver com ele -, apenas senti horror. De todas as coisas que eu já passei, essa era de longe a mais macabra.

Graças a Percy e a meus amigos, eu não pensava mais em Luke, não como antes. Nem no meu pai e no maldito acidente de carro que o levou de mim. São coisas tão distantes e irreais que me pergunto se realmente aconteceu. De alguma forma, São Francisco foi o melhor psicólogo que eu tive - e acredite, já tive muitos.

Embora sejam pensamentos funébres, eu me senti bem relembrando isso. Me senti forte. Sempre dei um jeito em tudo, contornei os problemas, venci a dor. Nunca pensei em me matar, ou cortar os pulsos ou sei lá mais o que que os jovens fazem hoje em dia. Apenas vivi. Me arrastando no começo, mas vivi. E agora gosto de viver, gosto da minha vida aqui, gosto de ficar com Percy na praia, de ir para o Olympic Club e tentar jogar golf, gosto de como Piper fica bonita em qualquer roupa e de como Nico é antissocial.

Estacionei na garagem do edifício onde Percy estava morando e sai do carro, me sentindo mais confiante. Descobri que meu problema não era estar mal por Percy quase me odiar, mas sim porque eu havia transformado-o em minha âncora para ser inquebrável, e quando a âncora fica instável, eu também fico. Talvez ninguém possa ser inabalável de verdade, inatingível, e se sim, essa pessoa não é humana. Ela vai ser cruel, fria, indiferente, ignorante. Eu não quero perder minha humanidade.

Percorri o corredor que já conhecia muito bem, e parei na porta do apartamento de Percy; toquei a campainha três vezes, bati na porta outras três. Esperei por dez minutos e nada. Mandei mensagem. Nada. Talvez ele não estivesse em casa, ou talvez queria continuar me ignorando.

― Annabeth? - assim que ouvi meu nome me virei. O par de olhos azuis elétricos me encaravam confusos; a pele estava tipicamente bronzeada e os cabelos louros molhados. Me senti desconfortável com a presença de Jason Grace a minha frente, nunca nos falávamos em particular depois que sua irmã foi assassinada.

― Hm, Jason, olá - eu digo, passando as palmas da mão nos quadris antes de cruzar os braços. Era um pouco constrangedor falar com ele, já que eu sabia que ele tão pouco se importava em falar comigo.

― Esperando o Percy? - ele perguntou.

― Sim, mas acho que ele não está em casa.

― É, não está. Acho que foi na universidade trancar a matrícula. Quer entrar? - ele tirou um chaveiro com um carrinho pendurado e caçou a chave do apartamento; após encontrar abriu a porta e passou sem esperar uma resposta minha.

Entrei e deixei a porta aberta, já que não iria demorar e ficar num local com porta fechada com Jason provocaria pensamentos assassinos em Piper. Olhei a sala, vendo a total bagunça que estava; copos e embalagens de comida jogados na mesinha de centro, almofadas no chão e roupa espalhadas.

― O que veio fazer aqui? - perguntei para Jason, o vendo futucar a geladeira em busca de algo.

O garoto olhou sobre os ombros para mim e franziu o cenho, me olhando como se não acreditasse que eu não sabia de algo.

― Estou morando aqui agora. Percy queria vender o apartamento e comprar um menor, e eu queria sair da casa de meu pai, então ofereci para dividirmos o apartamento, os gastos e tudo mais.

― Pensei que só tivesse um quarto aqui... - falei, tentando deixar minha voz descontraída e não surpresa. A informação me deixou bastante magoada, mas não tinha o porque, afinal, eu não aceitei morar com ele. Eu sentia o tempo correndo a minha frente, passando e passando, e eu ali parada.

― Calma, não irei dormir na cama com Percy - ele riu, fechando a geladeira com duas latas de energéticos nas mãos. Jason estendeu uma lata em minha direção, me oferecendo, mas recusei. ― Estou esperando o engenheiro para realizarmos as mudanças.

― Ah, sim, legal.

― Sinto muito... por você ter que se mudar e tal. Espero que você e o Percy fiquem bem.

Quase botei a mão nos ouvidos para não ouvir mais nenhuma palavra sobre isso, já bastava Pips ter passado a manhã inteira me fazendo falar sobre o assunto. (Ela ainda falou que meu namoro era como videogame, com um monte de fases e vilões, e ainda disse que minha mãe era o 'chefão', mereço.)

― É. Até mais Jason - digo, já virada caminhando apressada para a porta. Estava cansada demais para tentar ser gentil. Eu não precisava me preocupar, o garoto não ficaria magoado, pensaria que eu estava chateada demais para tocar no assunto. Jason me perguntou algo, mas mal ouvi direito e não respondi. Corri para o estacionamento e fiquei sentada no banco do motorista do meu carro, sem nenhuma vontade de sair dali ou de ficar ali. Eu queria apenas encontrar Percy.

Um dia. Talvez ele só precise de mais um dia. Mais um maldito dia. Por fim o ânimo necessário para sair dali; dirigi e fui direto para casa. Minha mãe conversava com Zeus e Hera de forma animada, talvez sobre a empresa, já que era a única coisa que ela sabia falar. Cumprimentei Zeus e Hera e corri escada acima, indo direto para o meu quarto. Abri a porta do quarto e a tranquei, fechando os olhos e respirando fundo. Pensei que resolveria tudo hoje.

Passei a mão no rosto e me virei abrindo os olhos e me surpreendendo com Percy a minha frente. Antes que eu me recuperasse da surpresa, o garoto me abraçou forte e eu enterrei meu rosto no seu pescoço, sentindo uma onda de energia correr pelo meu corpo. Suspirei e beijei o pescoço dele várias vezes. Eles sussurrou algo, mas eu mal ouvi. Não íamos mais perder o tempo que não tinhamos. Meu coração batia tão forte que doía... mas era uma dor boa, se isso sequer existisse. Eu, enfim, podia sentir o cheiro dele, seus braços fortes me rodeando com força, sua respiração sobre minha pele. Eu precisava dele, como se ele fosse uma droga. Eu precisava muito dele, e isso doía tanto que por um instante muito louco eu cogitei largar tudo e morar com ele, ser somente dele.

Ele me beijou e eu retribui com a mesma intensidade e paixão. Não precisávamos de palavras.

Na verdade, sim. Três palavras. Três palavras que eu estava guardando dentro de mim desde o aniversário dele; eu estava certa que não iria dizer primeiro, mas com nossa atual situação eu pouco me importava com quem iria falar primeiro ou não. O importante era colocar para fora aquelas três palavras que nunca pensei em dizer novamente, as palavras que me aterrorizaram após a morte de Luke. Agora, sentindo os lábios de Percy contra o meu e cada canto de mim se transformar em fogos de artifícios, percebo que elas não podem ser contidas.

Me afastei meus lábios dos deles, abrindo os olhos e encarando com firmeza os olhos deles. A onda de energia que passava entre nós era palpável, e pensar que não a sentiria mais daqui uns dias me deixava triste.

― Percy... - comecei, mas ele me cortou.

― Shh... não fale nada... sei que vamos dar um jeito, não vou te deixar ir tão facilmente assim - ele disse, colocando o dedo indicador sobre meus lábios. Ele devia estar pensando que iria pedir desculpa e voltar para o assunto de nossa briga. Sorri de lado e toquei a lateral de seu rosto enquanto ele encostava sua testa na minha.

― Eu preciso falar... - sussurrei, e continuei: ― Eu te amo.

Senti a ansiedade fluir dentro de mim como água. Percy ficou com uma expressão surpresa, depois confusa e depois novamente surpresa. Depois sorriu e eu não contive uma risada alegre. Ele também riu e me abraçou novamente, selando nossos lábios por alguns segundos antes de, ainda bem perto de mim, sussurrar de volta:

― Eu também te amo - e acho que essa é a coisa mais louca e verdadeira que já dissemos um para o outro.

Por incrível que possa parecer, eu me sentia anestesiada. Quanto mais se aproximava o dia do meu voo, mais eu me odiava. Afinal, por que não ficar? Por que não estudar em Stanford? Mas ai, vinha minha razão com um taco de baseball matando minhas esperanças: eu tinha que fazer a vontade de minha mãe, para ter a empresa. Então, mais uma vez minha parte sonhadora dizia: faça outra coisa, tem outras oportunidades. Todavia, não era fácil. Não mesmo. A empresa era meu desejo, meu sonho, mesmo após tudo, era o que eu queria fazer pelo resto da minha vida. E daqui uns anos, sei que vou me encontrar com Percy, afinal, ele irá trabalhar para mim. Era um pensamento estranho, bizarro até, e doloroso. E se ele não me esperasse? E se ele voltasse para aquela vida de uma por noite ou se ele amasse outra? Se casasse com ela e eu continuasse pensando dele...

― Eu adoraria saber o que minha invejável namorada está pensando - comentou Percy, levando minhas mãos até seus lábios e beijando o local com delicadeza. Sorri, sentindo a maciez de seus lábios e me aninhei junto a ele.

Dizer que ele estava sendo um fofo naqueles dias era eufemismo. Hoje ele optara até mesmo em ir ao aeroporto de taxi comigo apenas para ficarmos mais um tempo juntos.

― Palavras depressivas que os ouvidos de vossa majestade não merecem ouvir - respondi, inclinando-me para beija-lo.

Era para ser rápido, mas ele o prolongou com vivacidade, incendiando-me completamente por dentro. Sua língua tocava a minha com paixão e pressa. Meus dedos tocavam seu abdômen, querendo decorar cada pedacinho dele.

― É um pouco irônico - eu sussurrei amargamente.

― O que? - ele perguntou, sem se afastar de mim. Nunca fomos um casal meloso, na verdade, eramos meio "entre tapas e beijos", desde o começo, mas malditamente Percy foi ser fofo, romântico e meloso justamente naquele semana. E agora eu já me preveria carente na cama comendo besteira e estudando num sábado a noite.

― Até alguns meses atrás, eu estava deixando a cidade que eu odiava sem olhar para trás... agora estou deixando a cidade que eu amo. A pessoa que eu amo... - meu peito doeu ao dizer aquilo, e senti que Percy também ficou um pouco desconfortável. Ele havia prendido a respiração? ― É injusto... porque mamãe veio para cá sem nenhuma vontade, ela apenas aproveitou a situação que eu estava e pensou que seria bom para mim ir para um lugar completamente diferente... mas depois era só pela empresa. Mas eu agradeço por isso, porque se não fosse por essa maldita empresa que está me tirando de você agora, eu não terei conhecido você.

― Tecnicamente, nós conhecemos antes daquele jantar de sócios da empresa... - ele comentou, sorrindo meio bobo. Apertei sua mão forte, fechando os olhos.

― Sim, na praia, você me molhando como um cachorro. Eu nunca iria falar com você depois daquilo se você não fosse filho de Poseidon.

― Duvido muito, você é chata demais e pegou no meu pé demais para eu não acreditar que fomos feitos para ficar juntos - franzi o cenho, me perguntando desde quando Percy era tão... gay.

― Também acredito. Iremos ficar juntos, sempre - eu disse, acreditando nas palavras deles e nas minhas, me juntando a gaysisse dele. Cada palavra era sagrada e guardada dentro de mim. Minha aventura com Percy, eu tinha total certeza, será uma coisa que eu nunca esquecerei, nem um mínimo detalhe. Ele sempre será minha aventura, meu problema, meu amigo mais chato, irritante e odioso. Meu amor.

A despedida durou quase dez minutos, e talvez se não avisassem que o meu avião decolava daqui a dez minutos eu continuaria abraçando meus amigos e trocando promessas de que iria ligar, mandar presentes e que um dia fugiria para visita-los. Até Bianca e Jason estavam lá, e isso foi um tanto que surpreendente e emocionante para mim. Eu gostaria de dizer que não chorei. Talvez não por fora, mas eu me segurava muito por dentro. Receber os abraços calorosos de meus amigos era muito bom, mas o toque de despedida, como se eu nunca mais fosse vê-los, era doloroso demais. Então, pela milésima vez, minha mãe me chamou. Ela se virou e entrou pelo corredor que a levaria para o pátio onde estaria pousado nosso avião. Zeus, Hera e Afrodite ficaram encarando o nada depois da partida de minha mãe, Afrodite foi a única a se despedir de verdade de mim, enquanto Zeus e Hera apenas disseram um breve adeus.

Por fim, parei em frente ao portal, com apenas Percy ao meu lado. Agora sim eu não conseguiria segurar as lágrimas. Elas desceram pelo rosto de forma livre e silenciosa, e naquele instante agradeci por meus amigos terem saído do aeroporto para deixar eu e Percy ter nosso momento. Novamente, eu estava sentindo aquela terrível dor. Eu não podia comparar essa dor com a de perder Luke, pois a dor de deixar Percy era tão maior, mil vez mais sufocante, mais agoniante. Ele estava ali na minha frente, ele não escolheria me deixar.

Seu abraço foi reconfortante, eu apenas encostei minha cabeça no seu ombro e fechei os olhos, sentindo seu cheiro, sua respiração, seus batimentos rápidos.

― Eu sempre serei sua... uma parte de mim sempre vai te pertencer - sussurrei, guiando meus lábios até os seus.

Dor, paixão, calor... era uma sensação estranha ter seus lábios junto aos meus daquela forma tão calma e proveitosa. Suas mãos me apertavam com tanta força que pensei que poderia deixar marcas, mas logo me dei conta que eu devia estar fazendo o mesmo com ele. Eu não queria o deixar.

― Eu te amo, cabeça de alga - me afastei dele, reunindo forças do além para fazer isso.

― Eu também te amo, sabidinha - ele sorriu e eu retribui seu sorriso.

Engoli em seco dei as costas a ele, começando a andar pelo enorme corredor que me levava até o exterior. Segurei o pingente de coral vermelho que estava preso artesanalmente por uma corda preta em meu pescoço, me lembrando do dia que Percy havia me dado, o mesmo dia em que nos tornamos oficialmente namorados. Fechei os olhos por um momento, me lembrando das vezes que ficávamos conversando na cama e acabávamos dormindo, de como ele babava em cima de mim, ou de como ele ria enquanto comentava que eu ficava repetindo fórmulas matemáticas enquanto dormia. Do sorri bobo apaixonado dele quando eu gritei que eramos namorados, de como eu fiquei relutante por achar que estava gostando demais dele... foi tão bom, tão maravilhoso que meu peito se inflou de calmaria. Mesmo sendo doloroso, Percy Jackson havia sido incrível na minha vida. Mesmo depois de tanta confusão, morte, perseguição... Eu o amei como se nada disso tivesse acontecido. E ele me amou. Então, para mim, tudo isso valeu muito a pena.


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Notas finais do capítulo

NÃO ME MATEM NÃO ME MATEM NÃO ME MATEM
Essa foi a minha primeira fic completa, e eu estou muito feliz com esse feito, com a história, com tudo! Tanto que estou pensando em transforma-la num original e mudar um pouquinho do enredo (calma, não irei exclui-la aqui no Nyah e reposta-la como fiz com Legendary). Então, pensando nisso quero fazer uma pergunta?
QUE PALAVRA FICARIA LEGAL COMO TÍTULO DE UNBROKEN, SÓ QUE EU PORTUGUÊS?
Pode ser uma frase curta também, ou algo parecido. Algo de impacto e que façam vocês quererem ler. Talvez eu publique novamente aqui no Nyah essa nova versão original de Unbroken, mas não irei excluir essa aqui, ok?
Minha segunda pergunta é:
O QUE UNBROKEN SIGNIFICOU PARA VOCÊ?
Só quero saber, pois gosto de quando o livro significa algo, ou passe algo para mim.
Muito obrigada a todas vocês! Vocês são incríveis! É uma honra te-las como leitoras fieis, que me acompanharam até aqui nessa longa jornada.

—--- PREVIEW DE ALGO MISTERIOSO que vcs só vão saber se continuarem a acompanhar unbroken ----
"― Annabeth, outro embrulho para você - disse Jamie, me entregando uma caixinha pequena embrulhada de papel metalizado vermelho.
Franzi o cenho, me sentido desconfortável. Aquilo já estava ficando estranho. Agradeci a garota fugi para o banheiro para ter mais privacidade. Era como eu esperava: meu nome estava escrito no topo e em baixo a frase "do seu admirador secreto" continuava a me assombrar. "