Unbroken escrita por Annia Ribeiro


Capítulo 21
Noise


Notas iniciais do capítulo

OOI GENTE, SEGUNDO DIA DA MARATONA!! UHUU...
AI GENTE, COMETEM TÁ?
Dedico esse cap a todas as lindonas que recomendaram UB e tipo, a todas as leitoras e as fantasminhas :*
ODEIAM A THALIA, SINTAM PENA DA ANNIE E SE JOGUEM NO PERCY PQ SOCORROOOOOO!!!!!
haha, enjoy



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Esta tarde de sexta feira não poderia ter sido mais monótona e deprimente. Nuvens cinzentas cobriam o céu azul límpido de São Francisco, fazendo com que gotículas de água caíssem cada vez mais depressa. Numa pequena varandinha no segundo andar de minha casa eu podia ter um bom panorama da praia, de lá que pude ver a areia da praia solitária, lutando contra as ondas enormes que alguns surfistas ainda se atreviam em fazer manobras. Em plena sexta feira a tarde eu fiquei vendo seriados e terminando de construir um projeto tridimensional para minha mãe. Legal, legal, muito legal.

Então, quando o meu celular toca eu dou um pulo de alegria na varanda do segundo andar e saio em disparada em direção ao meu quarto, conseguindo atender a ligação de Nico no último toque.

– Ni-nico! – eu digo, um pouco ofegante pela correria e feliz por alguém ter dado um sinal de vida.

– Annie nossa tudo bem? – ele estava animado e falava depressa, como se pontos e vírgulas não existissem.

– Sim, sim e você?

– Ótimo eu e Bianca vamos dar uma festa aqui em casa aproveitar que Hades está fora e tudo o mais pode deixar que não vai ser igual a aquele fiasco que Jason deu.

– Mas você não está no campus da universidade?

– Sim estou por isso Bianca e Thalia vão arrumar tudo e eu só vou chegar lá e agraciar todos com minha presença – Nico continuou falar depressa de maneira preocupante, se esquecendo das vírgulas e de respirar.

– Desde quando você usa a palavra agraciar?

– Desde que você usou ela um dia comigo – nós dois rimos da idiotice. – Cara quem fala agraciar? Só você mesmo garota. Agora eu tenho que desligar, te passo para te pegar as 20:00...

– Mas estou com o carro – a ligação já havia sido finalizada – do Leo...

Dou um sorriso idiota sozinha e sinto saudades de Leo e suas batatas fritas com cheedar. Leo e Nico são meus melhores amigos, os únicos que haviam conquistado totalmente minha confiança, pelo menos o suficiente para eu contar alguns de meus segredos. Mas agora... Leo estava distante, viajando e só voltava semana que vem, e Nico está preste a não se tornar tão confiável como antes, já que parece que está de enrolo com a Thalia... Parece que quanto mais amigos eu faço mais amigos escapam de minhas mãos.

[...]

Minha mãe havia deixado eu ir na casa de Nico e de Bianca “para assistirmos a um filme”. É obvio que eu não diria que iria numa festa na casa deles, Atena negaria na mesma hora e faria aquela cara de Minha Filha Não Tem Mais Jeito.

Como parecia uma festa social simples, eu apenas visto uma calça jeans e uma blusa preta com um modelo diferente; para não parecer simples demais eu calço saltos altos e passo delineador nos olhos, assim como um batom vermelho nos lábios. Faço uma trança de lado e deixo a franja loura sobre os olhos. Nico está atrasado, 30 minutos atrasado. Eu poderia pegar o carro de Leo e ir logo para sua casa, mas acontece que não gostaria de chegar à festa sozinha. Então eu o espero e fico mexendo no notebook, conferindo minha rede social e vendo as fotos que alguns de meus amigos de NY haviam postado. Aproveitei e também conferir o perfil de Percy no facebook, o que não foi nada agradável aos meus olhos, já que ele estava marcado em várias fotos com mulheres e em festas.

O visor do meu celular grita o nome de Nico na tela, numa ligação. Atendo a chamada e ouço a voz de Nico anunciar que já estava a minha espera lá em baixo. Visto um sobre-tudo e o fecho, já que o clima friento se arrasta até a noite. Minha mãe está na sala, assistindo ao Discovery.

– Você vai com o carro do seu amigo que viajou? – pergunta minha mãe, enquanto eu descia as escadas.

– Meu amigo que viajou se chama Leo; e não, o Nico passou aqui para me pegar.

– Tudo bem, não se esqueça do seu toque de recolher.

– Ok.

Abro a porta da frente e logo fecho, indo em direção ao carro negro parado em frente a minha casa. Nico estava lá dentro, com um casal de pessoas que eu não reconheço.

– E ai, loirinha, entra ai atrás – diz Nico, apontando para a atrás dentro do carro, no acento do motorista. Dou um sorrisinho sem graça, sentindo que ficaria deslocada não só no veiculo, mas na festa também.

Quando entro no carro vejo a garota com cabelos longos castanhos. Ela é extremamente normal, mas tem uma aura inocente quase perigoso. Ela tem headband com uma flor enorme e coral no cabelo que combina com seu vestido longo. Ela parece tão zen que me dá vontade de fazer yoga para entrar aquela paz que ela parece ter.

Comparada a ela, eu sou um furacão e isso não me faz sentir melhor.

Já o cara sentado no banco do carona, ao lado de Nico, não é lá um exemplo de harmonia. Sua pele bronzeada é bonita, mas o corte de cabelo louro não favorece seu rosto. Ele é bem agitado e se veste como um playboyzinho californiano.

– Oi – digo sem graça, batendo a porta do carro para fecha-la.

– Essa é Katie e esse é Will – anuncia Nico, virando a cabeça para me olhar. – Essa é Annabeth Chase.

– Eu sei me apresentar, Nico – aperto o nariz dele e dou uma risadinha.

– Prazer em te conhecer, Annabeth, é nova na cidade né?

Será que tem uma placa escrita “Nova na cidade” na minha testa? Por que todos deduzem isso logo de cara? Sorrio e balanço a cabeça em concordância.

– E de todas as pessoas que você poderia ser amiga você escolhe logo Nico Di Angelo? Cara... – Will não continua a frase, pois Nico dá um soco no braço do garoto.

E assim continua pelo resto do caminho até a casa do garoto, eles só terminam as implicâncias quando Nico estaciona o carro na sua garagem, o que era até um privilegio para ele, já que todas as vagas próximas estavam ocupadas por carros de diferentes estilos e cores. O som ali fora estava abafado, mas logo que pisamos dentro da casa as ondas sonoras atingiram meu ouvido avassaladoramente. Uma banda de rock se apresentava ao vivo e todos dançavam no centro da sala. O local estava enfeitado com luzes e tiras multicoloridas no teto. Havia uma caixa de isopor numa mesinha num canto, dentro tinha várias bebidas e copos. Eu fico um pouco tonta antes de minha visão se adequar a tantas luzes piscando, logo consigo achar alguns rostos conhecidos. Katie e Will pedem licença e vão até o centro da sala falar com alguns colegas que gritam e fazem alvoroço quando o casal chega, eles devem ser populares na faculdade. Vejo Piper acenar para mim sentada na escada com Jason, com um copo vermelho nas mãos dos dois.

Essa noite eu não vou beber, pois eu sei que quando chegar em casa minha mãe vai estar sentada no sofá me esperando.

– Aproveite, loira. Tenho que ser um bom anfitrião e falar com meus convidados, licença – Nico me abraça de lado e eu dou um beijo na bochecha do garoto, que era um pouco mais baixo e mais novo que eu.

Olho ao meu redor, me sentindo um pouco deslocada. Caminho até o isopor e pego uma lata de coca-cola, ignorando as bebidas alcoólicas mergulhadas em gelo dentro do isopor. Dou uma conferida, procurando o local do som, e logo acho um palco minúsculo onde Thalia tocava guitarra e cantava e Bianca extravasava na bateria. Tinha mais duas garotas, vocalista e baixista, que formavam a banda que animavam a festa com rock. A música era boa, mas fiquei indecisa em me divertir com o som de Thalia. Sabe, a parada do orgulho e tal... Mas, bem, eu não tenho nada contra ela... então.

Vejo Percy em um dos sofás, tinha uma garota com cabelos longos e pretos sentada no colo dele, de frente para o mesmo. Ele ri de algo e logo a garota se inclina para beija-lo. O lance começa a esquentar e eu desvio o olhar, me perguntando o por quê de eu ter ficado tão incomodada com aquilo. Abro a coca cola e dou um gole no líquido, sentindo meus olhos lacrimejarem por conta do gás ingerido depressa.

Isto é uma festa, então, tenho que me divertir. Nada de ruim vai acontecer, já que não tem drogas. Preciso me divertir. Não quero ser quem eu sou? Então vou ser quem eu sou!

Como eu vou ser quem eu sou sozinha?!!!

Céus!

Deixo a coca-cola em alguma mesinha e me jogo pulando no amontoado de gente no meio da sala, começo a dançar e a gritar, mexendo os braços para cima de deixando meu corpo se sincronizar com a melodia. Tiro os saltos de meus pés e fico os segurando com uma mão enquanto continuava a dançar e bater o quadril com pessoas que eu nunca tinha visto na minha vida.

O barulho me anima. Estar em meio a pessoas desconhecidas me faz voar no paraíso. E tudo que eu quero é Luke aqui comigo para compartilhar este momento. Luke. Faz tempo que não penso nele com dor. A dor está começando a ser varrida...

Agora a banda de Thalia começa a tocar uma música bem lenta, que logo faz com que todos procurem uma dupla para dançar juntos. Ok, essa é a parte constrangedora.

– Ei, gata – diz uma pessoa ao meu lado, segurando minha cintura com delicadeza e me rodando para fazer ficar de frente a ele. Moreno, olhos verdes, mas não era Percy. Não tinha aquele sorriso de lado como se tivesse nem ai para nada, nem aquelas bochechas que o faz parece um ursinho de pelúcia, e muito menos aquele ar de mocinho pronto para enganar qualquer uma.

– Hey – digo, não sabendo mais oque dizer. Todas as pessoas aqui são amigos de Percy, Nico, Thalia, Bianca, não sei oque esperar deles.

– Sou Matt, e você?

– Annabeth – digo em meio a música.

– Quer dançar?

Apenas balanço a cabeça e deixo minhas mãos repousarem nos ombros fortes de Matt, deixando os saltos pendurados entre os dedos, encostando nas costas do garoto. Ele é um pouco mais alto que eu, mas se eu tivesse usando meus saltos talvez eu ficasse do seu tamanho. Seu sorriso é um pouco safado enquanto me fitava, mas eu apenas decido me encostar no seu ombro e olhar para as outras pessoas dançando. Alguns segundos depois ele segura meu queixo e o guia para perto de seu rosto. Preste a me beijar.

– Ahn, acho que não estou bêbada o suficiente – digo, virando o rosto e o cortando do ato. Dou um risinho nervoso como se pedisse desculpas.

– Ah! Deixa disso, gata, vem – ele tenta mais uma vez me beijar, e seus lábios chegam a tocar o meu sem delicadeza. Eu uso as duas mãos para empurra-lo para longe, mas ele está segurando minha cintura com força. Ninguém ao redor parece notar a cena.

– Eu não quero, me solte – digo entre os dentes, tentando empurra-lo novamente e virando o rosto para o lado.

– Solta ela, seu idiota, filho da puta – diz Percy com raiva, afastando Matt de mim. Percy se coloca na minha frente de forma protetora – Mete o pé, não quero você mexendo mais com ela.

– Namoradinha nova Percy? Ela já sabe quantos chifres anda levando? – zomba Matt, cruzando os braços.

– Eu não sou a namorada dele – digo na defensiva, me sentindo ofendida pelo o garoto ter dito aquilo.

– Ela é minha amiga, agora sai cara – Percy empurra Matt para trás, e o garoto dá as costas indo para outro local, com uma expressão de raiva.

Olho para Percy com repugnância, me lembrando do que fez com Rachel, dele com a garota no sofá, da foto com uma garota no seu IPhone e das palavras que ele havia dito para mim, que sem dúvida deveria falar para todas. Dou as costas a ele e vou andando para um local longe o suficiente dele e de Matt, mas paro quando ouço meu nome na boca de Thalia. A música instrumental continua a tocar, mas a vocalista havia dado uma pausa e saído do palco, deixando o microfone apenas com Thalia.

– Já está indo embora, Annabeth? Fica um pouquinho, vamos jogar o jogo da verdade, oque acha?

Fico paralisada, sem falar nada, encarando Thalia em nossa briga particular. As pessoas ao redor pareciam não ligar, mas depois se deram conta do que estavam acontecendo e começaram a olhar entre si.

– Não faz muito tempo que você chegou, mas conseguiu fazer com que todos os meus amigos me achassem louca e ficassem contra mim. Parabéns! – sua voz sai cheia de veneno. Vejo Bianca dizer algo para Thalia, mas a mesma não dá atenção. Os olhos de Thalia estão vidrados em mim, esperando que eu me manifeste.

Eu sei que se eu falar todos os olhares vão se virar para mim, mas eu estou com tanta raiva que não consigo pensar em outra coisa a não ser dar um soco na cara de Thalia. Dou uns passos a frente até ficar a poucos metros do palco de onde ela estava. Eu a encaro como um fuzil, tendo minha postura rígida e a cabeça quente.

– Você que os colocou contra você mesma, sua louca. Não tenho culpa de você cismar em me colocar no chão desde que eu cheguei, só porque o seu pai te humilha e me exalta. Se você quer parar de ter todos contra você é melhor você começar a fazer por onde – eu digo com raiva, apontando o dedo para ela.

A música para geral e o silêncio chega em todos os lugares. Ninguém cochicha, ninguém sequer parece respirar; parece que cada átomo daquele lugar está olhando para mim e para Thalia. A garota parece não ter esperado por aquela resposta, por um momento ela se sente insegura ao fazer algo e afasta o microfone da boca.

– Aceitaria tudo dito pelo meu pai, Annabeth, se eu não soubesse que fosse mentira. Que tudo sobre você ser a filha perfeita fosse verdade, oque não é – Thalia diz. A garota logo se recompõe e segura o microfone com firmeza, como se quisesse que todos ouvissem oque ela tem a dizer. – Porque você está longe de ser a mocinha de qualquer história, você mente, faz joguinhos e manipula. Por que a verdade é: você além de vadia ainda é uma assassina. Ou você acha que todos vão acreditar que o seu namorado lá de Nova York se suicidou mesmo? Bobos são aqueles que acreditam. Se fosse verdade essa história de suicídio você não tentaria esconder de todos, né? E o seu papai, Annabeth, como está? Morto! Será que aos dez anos você já era uma assassina? Porque para sofrer por três anos de síndrome do pânico deve ser porque sua consciência deve ter pesado muito mesmo. Então, não venha se fazer de coitada para cima de mim, seu rostinho de boa moça não pode esconder suas mentiras para sempre. Mentirosa!

Minha visão está embaçada. Eu não sei bem o que estou fazendo, só sei que o sentimento dentro de mim é ruim. Tem raiva. Ódio. Tem tudo de ruim. Só sei que puxei Thalia pelo pé, fazendo-a cair, e arrasto-a para baixo do palco, usando a força que só a raiva poderia me fornecer. Eu tento chuta-la, acabar com a raça daquela vadia, fazer ela virar pó, mas braços fortes me seguram por trás. Eu continuo tentar chutar aquela filha da mãe, mas minha visão embaça tanto das lágrimas que não consigo mais saber aonde ela está, então apenas continuo chutando a deriva, torcendo para que a cara da desgraçada esteja na reta.

Por que disso tudo?! Por causa da merda de rejeição que o pai dela tem por ela? Eu não tenho culpa! O que ela quer prova fazendo isso? Que é melhor que eu?! Parabéns, ela conseguiu!

– SUA DESGRAÇADA, VÁ PARA O INFERNO QUE É O SEU LUGAR – começo a gritar, lutando contra os braços que me cercam, impedindo de que eu porre a cara sonsa de Thalia - MENTIROSA É VOCÊ. EU NUNCA MATEI NINGUÉM!

Alguém me pega no colo, lutando contra minha força. Me sinto humilhada... não, humilhada é muito pouco para me definir neste momento. Por fim deixo-me se arrastada para longe daquele lugar horrível; não me importo em descobrir quem me carrega. Nada mais importa agora.

– Vamos, eu te ajudo a andar – ele diz, mas minha cabeça está longe demais para dizer algo, então apenas deixo que meus pés toquem no chão e eu me apoio nos seus ombros. Limpo meus olhos, tendo a consciência de que havia borrado meu delineador por completo.

Ele me guia até um carro e abre a porta do carona para mim, colocando o cinto em mim como se eu fosse uma criança. Eu dou surto e afasto sua mão de perto de mim e do cinto, logo pegando a fivela e eu mesma coloco o cinto em mim. Quando ele dá a volta e se senta no banco no motorista ele me encara. Continuo olhando para frente, evitando o típico olhar de pena. Ele coloca meus saltos em cima das minhas pernas e continua me encarando.

– Cadê aquela Annabeth forte, aquela que chuta o saco das pessoas quando não gosta de algo? – pergunta Percy. Eu o encaro, incrédula por ele estar falando algo desse tipo nessa situação. Acho que ele apenas está tentando me fazer sentir melhor, ou talvez não saiba o que falar sobre o episodio.

– Eu teria deformado a cara daquela puta se você não tivesse me segurado!

– Não tenho dúvidas disso, mas Bianca iria surtar caso tivesse uma briga ali.

– Você ouviu que aquela psicopata disse? – digo, e soco o painel do carro de Percy com as duas mãos, como se aquilo fosse amenizar minha raiva.

– Ei, Hulk, calma, meu carro não... Vou te levar num lugar calmo – ele diz e dá partida no carro em silêncio. Eu arrumo minha cara borrada no espelho e o restante do caminho é silencioso, como se Percy estivesse tentando dar um tempo para eu esfriar a cabeça e pensar.

Continuamos no carro pelo o que pareceu uma eternidade. Eu estava encolhida no banco do carona, com os pés sobre o estofado, olhos fechados e a cabeça encostada na janela. Uma vez, quando paramos no sinal, Percy tirou um cobertor de uma mala no banco de trás, e me entregou. Parecia que eu estava tremendo. Eu estava num estado de quase inconsciência quando ouço a voz de Percy me chamando e sua mão tocando meu rosto. Tento parecer forte, mas não é fácil quando todos acham que eu matei as duas pessoas que mais amei em minha vida. Olho para o moreno, vendo-o com mais clareza agora, já que as lágrimas secaram.

– Obrigada por me tirar de lá – digo, engolindo em seco.

– Não gostei do que Thalia fez, acho que ninguém gostou. Vem cá ver a vista do Twins Perks – ele sai do carro e fecha a porta.

Enquanto eu estou calçando meus saltos, Percy aparece ao lado da minha porta e a abre. Ele coça a cabeça, olhando ao longe e me espera calçar os saltos. Quando saio do aconchego do carro percebo que o clima ali é muito frio. Ele me leva até o porta malas do carro e o abre. Sentamos-nos na beiradinha, eu enrolada no cobertor dele e ele um pouco longe de mim. Balanço os pés no ar, vendo a fantástica vista de toda São Francisco que Twins Perks me fornecia. Tinha alguns pontos de neblina aqui e ali, mas nada que fosse ofuscar a beleza de milhares de pontinhos de luz coloridos no mundo lá em baixo.

– É lindo – digo – Mas aposto que traz todas as suas conquistas amorosas aqui – forço-me a dar um risinho.

– Até que não, esse lugar não é muito bom para fazer sexo, venta muito – ele lança um sorriso de lado para mim e me olha de esguelha. – Você é uma conquista amorosa?

– Longe disso, garoto – digo, encarando a paisagem com um ar estupefato.

– Sobre o que Thalia disse...

– Não é verdade – eu o corto logo – Não tudo. Meu namorado se suicidou. Eu vi meu pai morrer. Não matei ninguém. Minha vida é uma merda, então não tente me usar como exemplo de superação. Não quero falar sobre isso, ok?!

Ele assente com a cabeça e chega próximo de mim; seu maxilar está rígido e quando seus dedos tocam em meu queixo eu sinto o frio de suas pontas passando para o meu corpo.

Não posso ser fraca, preciso mascarar essa dor, preciso esconder a humilhação, preciso superar. Preciso. Pelo menos na frente das outras pessoas.

Dou um risinho de deboche e encaro Percy, virando meu corpo um pouco para o lado e quase me desequilibrando na ponta do porta-malas e caindo lá dentro. Sorte que consegui segurar Percy.

– Qual foi daquele ciuminho, Percyto? – digo de forma bem provocativa, de proposito.

Percy se inclina para trás, fazendo-me desequilibrar totalmente e cair toda amassada dentro do porta malas, com as pernas e os braços para cima, absolutamente ridícula.

– Ah! Seu idiota! Fez isso só por causa do seu ciuminhos, é? – dou gargalhada da cara do garoto que ameaça a fechar o porta malas (que eu chutava e continuava a manter aberto). Percy sorria de um jeito diferente, sem malícia, pude captar um pequeno rastro transparente de felicidade nele, que eu nunca tinha visto antes.

– Está delirando, garota, ciúmes? Acho que não.

– Ah, Percy, você estragou tudo, eu já tinha arrumado para hoje! – digo, com uma expressão pseudo-indignada. Me ajeito no mínimo espaço que estava e puxo meu corpo para cima novamente, saindo de dentro do porta malas e ficando parada de frente para Percy.

– Ah, para com isso, não é ciúmes. Sou leal aos meus amigos e gosto de livra-los de coisas ruins.

– Mas você não disse que não somos amigos? Uhum... sei... – cantarolei, dando uns pulinhos na frente dele, em parte para me livrar do frio e em parte para zombar da cara dele mesmo.

– Annabeth, aquele cara não respeita nenhuma garota, só iria te usar e depois dizer para todo mundo que pegou – ele diz, irritado agora, coçando a nuca e olhando para a fantástica vista de São Francisco.

Ergui uma sobrancelha, olhando para ele com curiosidade. Não posso me controlar, a vontade de falar o que vem na minha cabeça é grande demais para ser contida.

– Está se descrevendo agora, Percy?

– Annabeth... Pare com isso. Nunca que serei igual ao Matt, ele é um canalha.

– Percy, você adora pegar mulher sem compromisso, cada dia eu vejo uma no seu quarto, e depois vem com aquela ladainha toda para cima de mim, fazendo parecer que eu sou diferente para você, que isso e aquilo, mas no fundo é tudo igual. Você só quer fazer comigo o que você faz com todas as outras, como você fez com a Rachel! Na real, eu nem sei porque eu estou aqui com você, não sei nem por que eu ainda tento ser sua amiga.

Por mais que cada letra que eu havia dito fosse verdade, ainda havia uma parte de mim que perigosamente se afeiçoara por aquele menino no quarto do Olympic Club e no próprio quarto do garoto, naquela divertida madrugada. Não o tipo de afeição romântica, mas algo sentimental como se ele fosse um amigo de verdade, quase como um irmão, que eu gostaria de entender.

– Você está estragando a coisa toda! – ele se afastou de mim e fechou o porta malas com raiva.

– Sim, sabe por que?! Porque eu adoro estragar tudo, eu adoro colocar defeito em qualquer coisa, para mim nunca está nada bom. Eu sou uma fábrica ambulante de problemas! E o que os problemas fazem? Estragam as coisas! Minha especialidade!

Frágil. Novamente.

Sinto algo ruim em meu peito e novamente as lágrimas enchem meus olhos. Parece que o monstro dentro de mim acordou, devorando-me viva aos poucos. Percy me abraça e afaga meu cabelo. Ele ainda está com raiva, eu sinto isso, mas seu sentimento de pena deve ser maior.

– Desculpe, estou tentando ser uma pessoa melhor – ele sussurrou.


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Notas finais do capítulo

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