Unapologetic escrita por oakenshield


Capítulo 7
Quarentena


Notas iniciais do capítulo

O números de leitores está aumentando UHU. Obrigada a todos que tem acompanhado.



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Katerina teve uma lembrança enquanto dormia.

Ela tem seis anos e está em um palácio diferente do seu, mas também muito conhecido. Estava no velório do pai de Petrus. Hana, com quatro anos, dorme tranquilamente no colo de uma criada ao lado da rainha Harriet, que presta suas condolências a sua irmã. O padre fala palavras bonitas, mas Katerina pouco as entende. Petrus está ao lado do pai, que está pálido e com um véu branco lhe cobrindo o corpo todo.

É claro que está pálido, ela pensa. Está morto.

O rei de Las Mees sempre fora muito autoritário, então Katerina não podia dizer que sentia falta dele. Nem Petrus parecia muito triste com a morte do pai, mas Branka está arrasada. Parece que o rei morreu durante a madrugada.

– Eu sinto muito, tia - a ruiva fala, tentando abraçar a rainha, mas apenas alcança uma região logo abaixo da cintura.

Branka é bem diferente da sua irmã, Harriet. A mais velha e rainha de Las Mees tem cabelos loiros e curtos, logo abaixo dos ombros, levemente ondulados e com algumas mechas mais escuras. Seus olhos são castanhos escuros, assim como Petrus. Os dois são muito parecidos, assim como Katerina é parecida com a sua mãe.

Mesmo com lágrimas escorrendo dos olhos o tempo todo, Branka se abaixa e beija a bochecha da sobrinha.

– Obrigada, querida - ela tenta sorrir. - Tem chocolate na cozinha. Esse não é um ambiente bom para crianças. Chame seus primos e Petrus.

Katerina acorda do sonho e logo olha para seus pés, enfaixados. Em uma poltrona ao lado da sua cama está Fabrizio, mas essa não é a poltrona do quarto da princesa. Esses travesseiros grandes e brancos não a pertencem, pois ela sempre gostou das cores vivas do seu quarto e este lugar, definitivamente, não é dela.

– Onde estamos?

Não é um hospital, ela tem certeza. A cama é de casal e ela está com um cobertor marrom fazendo volume para deixar seus pés no alto. As paredes são amarelas clarinhas, quase brancas, e as cortinas tem um tom de creme.

– Em Las Mees.

– Como é?

– Petrus ofereceu o Palácio Hüfner para cuidar de você, dizendo que assim poderia te ajudar e você poderia ajudá-lo. Já avisei ao seu tio que você queria fazer visitas aos seus parentes.

– Você não...

Ela para de falar. Fabrizio é um aliado de Joffrey, não dela. Se contasse sobre o que Petrus disse a ela, ele poderia revelar tudo para o seu tio e ela não queria isso.

Desde quando os aliados de Katerina e de Joffrey são diferentes, afinal? Quando foi que a situação piorou tanto que os fez ficarem em lados opostos? Katerina sempre amou o seu tio Joffrey como se fosse o seu pai e ele também a tratava com muito carinho, mas algo está diferente. Algo mudou.

– Onde está Petrus?

– Joffrey veio visitá-la, mas ele disse que seu tio não era bem-vindo. Gerou uma briga breve, mas nada grave aconteceu. O rei Joffrey já retornou para Frömming.

– Por que você me trouxe até aqui?

– Você disse que queria vir.

– Eu disse?

– Sim - ele confirma. - Não se lembra?

Não, ela quer responder, mas a sua voz não sai. Eu não me lembro de nada.

+++

Katerina volta a dormir e tem flashbacks o resto do dia. Quando a lua já está no céu, Petrus vem visitá-la.

– Seu segurança está no banho, então aproveitei para ver se você está bem.

– Por que demorou tanto?

– Estive ocupado, Kate – ele pega a mão da prima. – Você está queimando.

– Estou?

– Acho que pode ter infeccionado – Petrus bate na testa. – Deveria ter chamado um médico. Temos que dar um jeito nisso.

– Petrus...

Ela tenta falar, mas suas palavras não saem. Algo trava dentro dela e a ruiva começa a tossir.

– Preciso de mais cobertores – ela consegue sussurrar.

Ele fica um tempo parado, processando as palavras baixas dela, mas logo entende e coloca mais dois cobertores em cima dela. O frio não passa, mas ela não diz nada.

Ela vê seu primo sair do quarto, dizendo que vai chamar um médico, mas não consegue responder. Ela vê Fabrizio entrar no seu quarto com o cabelo molhado, mas não consegue responder as perguntas dele sobre como ela está. A sua língua tem um gosto amargo e quando seus olhos pesam Katerina não hesita em fechá-los.

Na primeira vez que acordou algo gelado tocava os seus pés e ela viu um homem vestido com um jaleco. Depois, viu Fabrizio lendo um livro, Petrus mexendo no celular e a olhando pelo canto do olho às vezes e, na quarta vez, ao amanhecer, Branka estava lá.

A rainha tinha havia envelhecido, mas o tempo parecia não ter passado para ela. Estava exatamente como ela se lembrava. Com seus cabelos loiros na altura dos ombros e seus olhos castanhos escuros com o cobertor. Isso a faz pensar que pode não passar de um sonho.

– O médico disse que você já estava melhor.

– Acho que um pouco.

– E eu acho que está na hora de conversarmos.

Katerina se ajeita na cama devagar, porém com facilidade. Ela deve estar uma bruxa.

– Sim.

– Meu filho me contou que te encontrou em uma casa de festas e que você já sabe de tudo.

A ruiva concorda com a cabeça.

– Não entendo como Joffrey foi capaz disso. Ainda não consigo acreditar que ele possa ter feito isso com você.

– Você não acredita em mim?

Katerina pensa em dizer que acredita nela, mas ela saberia que está mentindo. A mentira transparece nos olhos do mentiroso e Branka logo descobriria.

– Eu vivo há doze anos com Joffrey e ele nunca fez nada que desse qualquer suspeita de que ele é diferente do que eu imagino.

– E como você o imagina?

– Meu tio é um rei bom. O povo gosta dele e apoia as suas decisões. Ele está cuidando de tudo para quando eu assumir, para que as coisas não fiquem tão difíceis.

– Você não acha estranho que justamente na sua festa de vinte anos você tenha sofrido um atentado?

– Os rebeldes gostam de chamar atenção, principalmente os do norte e do leste. Vivem perto de Altulle, onde os Kionbach devem fazer a nossa caveira diariamente.

– A festa de vinte anos de uma pessoa, principalmente de um herdeiro, é uma passagem não só entre a adolescência e a fase adulta, mas também é uma transição. Você precisa ser matura o suficiente para assumir um país, é nessa festa em que os nobres veem se você está preparada.

– O que você quer dizer, tia?

– Seu tio adora ser o Regente. Você não acha que é suspeito o fato de você ter quase sido morta justamente nesse dia, durante o seu discurso, onde os nobres a aprovariam como governante?

– Você não está... – a ficha cai. – Não. Joffrey não seria capaz. Eu não acredito.

– Onde ele estava na hora do discurso?

– Estava me ouvindo junto com as outras pessoas. Eu estava no tablado e ele estava com o povo, em baixo de mim.

– E de onde veio à bala?

Não, Katerina diz a si mesma. Ela está dizendo isso porque quer o meu apoio. Não é verdade. Não pode ser.

– Isso é mentira.

– Como alguém conseguiria uma bala especial, algo diferente e tão raro? – Branka questiona. – Você sabia que os seus vestidos têm um tecido que repele esse tipo de metal? Como você acha que alguns pobretões do outro lado do país descobririam tudo isso?

– Como você sabe de tudo isso?

– Eu e Petrus temos a observado, querida. Ele, mais de perto. Eu, daqui.

– Não – Katerina se recusa a aceitar isso. – Já chega. Eu agradeço por você ter chamado um médico para cuidar de mim, mas eu já estou boa e pretendo partir o mais rápido possível. Agora, se você me der licença, Branka, eu preciso descansar.

A tia anda pelo quarto, esvoaçando o seu vestido que vai do laranja vivo ao amarelo queimado. Ele é comprido e vai mudando de cor em cada camada. Seria um vestido mais lindo ainda se não estivesse vestindo uma manipuladora.

– Você está cega, Kate. Eu sinto muito por isso – ela sorri, fingindo um olhar de compreensão. – Joffrey a criou e eu estive afastada, entendo isso, mas você não quer ver porque o seu coração está cheio de emoção, repleto de sentimentos pelas pessoas erradas. Joffrey acabou com a nossa vida e o dia que você descobrir toda a verdade entenderá tudo.

+++

Joffrey chega zangado até o Palácio Archiberz e vai para a sala de reuniões, onde o seu filho, Michael, está presente. O pai da noiva do primogênito, Heinz Le Lëuken, está na outra ponta da mesa.

– Uma reunião de emergência – o homem de cabelos já grisalhos murmura. – Espero que valha a pena.

Os olhos verdes de Joffrey se fecham de raiva, ele respira fundo e volta ao normal.

– Eu tenho uma proposta, Heinz. Algo que você não recusará.

– Eu posso saber o porquê de eu estar aqui, Regente? – Michael pergunta.

Pelo menos ele me respeita, Joffrey reflete.

Desde antes de Katerina ser noiva de Erik, Michael já estava prometido a filha do meio de Heinz Le Lëuken, Leona. Agora, Joffrey havia tomado uma decisão.

Katerina está em Las Mees e aquela loira vagabunda já deve ter virado a cabeça dela contra mim, o Regente raciocinou enquanto voltava para Frömming. Eu preciso fazer alguma coisa para me manter no poder.

– Eu quero adiantar o casamento de Michael e Leona.

– Para quando? – Heinz pergunta, já aceitando.

– Temos muitas coisas adiantadas, então mais tardar no fim do mês.

+++

Fabrizio está passando os dedos pelos cabelos ruivos e cacheados de Katerina, colocando uma mecha rebelde atrás da orelha. A tintura havia saído, ainda bem, porque ela fica melhor com os cabelos naturais.

Ele se assusta quando ela acorda, mas não levanta da cama, onde está sentado ao lado dela.

– Como você está? – ele pergunta.

– Melhor.

– Foi mal por ontem – o moreno faz uma careta. – Isso já está virando rotina.

– Eu estava me divertindo, até nós brigarmos – ela fala –, mas valeu à pena.

– É mesmo?

– Eu reencontrei meu primo, vim para Las Mees depois de tanto tempo, mesmo que eu tenha ficado no quarto o tempo todo. Sabe, valeu à pena.

– Eu estava bêbado – Fabrizio começa a brincar com um cacho dela que mais parece uma mola. É lindo. – Eu me descontrolo quando fico bêbado. Não queria que você se machucasse.

– Você fez o seu trabalho.

Ele balança com a cabeça.

– Meu trabalho é te proteger e não fazer você fugir de casa.

– Você me trouxe para cá, no final. Você me ajudou.

– Quando eu vi seus pés sangrando embaixo daqueles cacos de vidro eu fiquei muito preocupado – ele fala. – Você estava ali porque eu havia te levado até lá.

– Você se sentiu culpado – ela fala com amargura na voz. É claro que ele não se preocuparia com ela de verdade, apenas em levá-la em segurança para o palácio para não perder a cabeça em praça pública.

Mas ele nega.

– Não. Quero dizer, só um pouco, mas não totalmente. Eu me desesperei, princesa Katerina – ele a olha nos olhos depois de tanto tempo. – Algo dentro de mim desejava que você sumisse, mas quando eu te vi machucada isso sumiu porque o meu zelo supriu a minha raiva. Ele a superou.

Palavras bonitas, mas talvez sejam tão enganosas quanto as de Branka.

Estou cansada de ser manipulada, Katerina se enraivece.

– Eu estou falando a verdade – ele fala, lendo o olhar dela. – Sei que você não vai acreditar em mim, princesa, mas é a verdade. Eu me preocupo com você.

– Fabrizio...

– Eu estou de saída – ele se levanta.

– Eu...

– Você precisa descansar – ele puxa o cobertor até a região do pescoço dela. – Vamos deixar essa conversa aqui.

Então ele lhe beija a testa.

– A febre já passou - ele afirma. - Durma mais um pouco, Katerina.

O seu nome cai tão bem na voz dele. É algo melodioso e belo. A chamá-la pelo nome é um sinal de igualdade.

Eu também me preocupo com você, ela quer dizer, mas Fabrizio já saiu do quarto.

Talvez os dois não sejam tão diferentes quanto Katerina pensou que fossem.


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Notas finais do capítulo

Mais um capítulo para vocês. Espero que gostem.



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