Guarda-costas. Katerina rapidamente se irrita ao ouvir esse substantivo masculino.

– Eu não preciso de um guarda-costas.

– Você sofreu uma tentativa de assassinato, minha querida - Joffrey murmura sem mexer muito os lábios. - Está claro que precisa.

– Eu sei me defender, tio - a ruiva insiste. - Você me ensinou a usar uma arma - ela abaixa a voz - e você sabe que eu só levei aquele tiro porque estava despreparada. Fui pega de surpresa.

– Ninguém avisa quando vai matar uma pessoa importante. Só se a pessoa está muito confiante e mesmo assim precisa ter um puto ego - ele sorri - desculpe-me pelas palavras. Enfim, o que eu quero dizer, Katerina, é que a morte vem de surpresa. É inesperado.

– Eu não quero alguém na porta do meu quarto o dia inteiro. Você sabe que eu dispensei os seus seguranças porque eu gosto de privacidade.

– Fabrizio não ficará na porta do seu quarto, ele ficará dentro dele.

– Como é? - ela altera a voz. - Você não pode fazer isso comigo!

– Eu estou agindo não como o seu tio, Katerina, mas como o Regente de Frömming que quer manter a herdeira do trono viva.

– Eu serei a rainha e você deve atender todos os meus pedidos.

– Pelo menos você usa o tempo certo. Serei – ele enfatiza -, no futuro. Sim, você será a rainha e pode ter certeza de que quando isso acontecer eu terei que fazer reverências e me submeter a sua vontade, mas eu sou mais velho, sou o seu guardião e o seu Regente. Você me deve respeito.

O garoto pigarreia e toda a beleza que Katerina havia visto nele se esvai conforme a sua raiva aumenta.

Mentira, ela pensa. Não tem como ele ficar feio, mas mesmo assim eu não vou suportar alguém dentro do meu quarto junto comigo.

– Fabrizio, você pode trazer a sua mudança. Você acompanhará Katerina o dia todo e só dormirá quando ela já estiver dormindo. Se ela for ao banheiro, você fica na porta. Se ela está em uma reunião você estará junto. Se for algo confidencial, você espera em outro local, porém perto. Não quero que você desgrude dela, estamos entendidos?

– Sim, senhor - ele concorda com a cabeça.

– Traga pouca coisa. Tudo o que você precisar será disponibilizado para você aqui mesmo. Isso é tudo. Quero você aqui no fim do dia.

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Katerina passou o dia revoltada com o tio e discutiu com ele durante um bom tempo.

– Eu quero a minha privacidade!

– Você acha certo você ficar levando caras para o seu quarto estando noiva do herdeiro de Ahnmach?

– Eu nunca levei um cara para o meu quarto!

– Mas aposto que já foi para o de algum.

Ela não responde, apenas dá de ombros.

– Aposto que Erik Le Lëuken faz a mesma coisa. Eu não estou nem aí. Eu ainda sou solteira. Nunca quis casar com ele.

– Não diga isso! - ele aponta o dedo para ela. - Você irá se casar com o seu povo e com o dele, não com Erik. Esteja consciente disso.

– Os meus pais se amavam?

Essa pergunta o pega desprevenido.

– Como é?

– Meus pais se amavam? - ela repete a pergunta.

A mão de Joffrey coça e ele sente uma vontade louca de dar um tapa em Katerina, mas então se lembra daquela noite, há doze anos atrás, quando ele, Kurt e Harriet discutiram sobre quem ficaria com a garota. Ele se lembra de ter matado o irmão na frente da mulher dele, a mulher que ele sempre amou, e dela ter cuspido no rosto dele antes disso.

Se Harriet realmente amasse Kurt saberia o que eu faria e não teria me estressado, Joffrey diz para si mesmo. Ela sabia como eu era estourado.

– Não - ele afirma friamente. - É claro que não.

Isso quebra o coração da garota.

– Não?

– Por que você acha que reis tem amantes? As mulheres também tem, só que são mais discretas. Eles casam por pura conveniência, não porque se amam - Joffrey empurra os cabelos negros para trás com os dedos. - Você já deveria saber, Katerina, que herdeiros não podem se dar ao luxo de amar.

– Sorte tem os plebeus que podem se casar com quem quiser.

– Viver com amor e ser pobre? - Joffrey debocha. - Prefiro estar no meu palácio e ter todas as mulheres de Frömming no momento em que eu quiser. Plebeus não interessam a mulher alguma e também não tem dinheiro para pagar as outras.

Katerina se nega a ouvir aquilo.

– Com licença.

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No fim do dia, ela vê o seu novo guarda-costas sentado na poltrona de couro perto da escrivaninha lendo o seu diário. Quem ele pensa que é?

– O que você está fazendo?

– Isso? - ele levanta o livro de capa dura lilás. - Estava jogado no chão.

– Estava escondido!

– Então parece que alguém chegou antes de mim - ele sorri. - Sabe, tem coisas interessantes aqui. É verdade que você ficou magoada pelo seu noivo não ter vindo te visitar depois do atentado? Você já deu para o seu primo - ele sorri maliciosamente. - Isso sim é realmente interessante.

– Você... - Katerina aponta o dedo para ele e começa a tremer. Seus olhos logo ficam embaçados. - Você não tinha o direito! - as lágrimas escorrem rapidamente. - Eu nunca dormi com Michael - ela fala, mesmo não devendo satisfações para ele. - Nós nos beijamos. Uma vez, apenas.

– Seu tio adoraria saber disso.

Ela levanta a cabeça e seca as lágrimas.

– Quem você pensa que é? Eu sou a sua rainha! Você é um mero segurança e não tem o direito de vasculhar o meu quarto, mexer nas minhas coisas, ler o meu diário e ficar jogando tudo na minha cara.

– Sua posição na hierarquia não me mete medo.

– Você é bem atrevido mesmo - ela coloca as mãos na cintura. - Você poderia ser condenado a morte se eu quisesse que assim fosse.

– E mesmo assim você está aqui - o moreno se levanta e anda até ela. - Por que, princesa Katerina? O que será que eu fiz para receber tamanha piedade? - Fabrizio entrega o diário para ela e tem a ousadia de beijar o seu rosto. - Creio que você não vá dormir tão cedo, então vou logo para o meu quarto. Tenha uma boa noite.