Unapologetic escrita por oakenshield


Capítulo 32
Justice or Revenge?




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Francis não fecha os olhos a noite toda. Ele pensa em como as coisas estavam dando tudo errado e foi recapitulando a sua vida: desde que Katerina descobriu que ele é Francis Kionbach e não Fabrizio Schwanz até o dia em que viu a sua mãe morrer e foi tirado do seu pai, esse fato que lhe causou muitos pesadelos, inclusive na noite passada.

Perto da amanhecer ele sente o sono chegando. Fecha os olhos por alguns instantes, tentando dormir. Apenas quando o sol está no seu ápice que ele consegue mergulhar em um sono profundo, o que inclui os seus temidos pesadelos.

+++

Quinze anos atrás

Joffrey caminha em círculos ao redor da cadeira, apenas observando Francis. As mãos do garoto de oito anos estão amarradas atrás das costas com duas cordas um pouco frouxas. No caminho eles injetaram algo no seu pescoço que deixou o seu corpo mole. Francis ainda estava meio sonolento.

– Por que eu estou aqui? - ele consegue perguntar. - Vocês já mataram a minha mãe. O que mais querem?

– Queremos o resgate.

O garoto guardou um sorriso para si ao ver a faixa ensanguentada ao redor do braço de Joffrey.

– Está na hora de trocar isso aí - ela indica com a cabeça, o que irrita o homem.

– Queremos que o seu pai faça de tudo para te encontrar.

– Você disse que não queria terras e nem dinheiro, apenas sangue. Você teve o sangue da minha mãe, a França chora pela princesa perdida e Altulle pela sua rainha.

Alícia era a segunda filha do rei da França, o que tornava o país europeu um grande aliado. Agora que uma de suas filhas está morta, será uma questão de tempo até a revolta dos franceses incendiar o continente Manske.

– E eu realmente não quero. Não preciso de dinheiro.

– Então qual é o motivo de tudo isso?

– Ver JP sofrer - Joffrey sorri. - Há motivação maior?

Francis não consegue entender. Como um homem que tem tudo pode ser assim tão amargurado?

– Para que todo esse ressentimento?

– Seu pai fez muito mal há mim e eu estou apenas retribuindo. Quero casar você com minha sobrinha Katerina.

– Então é isso? Essa é a sua vingança?

– Eu sou paciente. Isso é só o começo - ele sorri. - Esse é o começo da minha justiça.

– Se você quer justiça foi buscá-la em um local errado.

Ele se aproxima da cadeira do garoto.

– Seu pai virá buscá-lo e o compromisso será firmado se ele quiser que você viva.

– Seu irmão sabe disso? O rei Kurt é o pai de Katerina.

– Você sabia que não parece ter oito anos?

– Já me disseram isso.

– Eu gostaria de ter um filho assim - ele se afasta e balança a cabeça. - Bom, você atirou em mim. Não desse jeito, mas um filho que fosse maduro o suficiente para entender assuntos assim de extrema importância.

– Você tem um filho.

Joffrey parece se lembrar de Michael repentinamente, mas apenas balança a mão.

– Ele não é o tipo de filho que eu considero meu. Quero um filho homem de verdade.

Francis tenta não demonstrar seu espanto diante daquelas palavras frias. Ele nunca queria ser filho daquele monstro.

– O rei Kurt vai mandar executá-lo. Ele tem um acordo de paz com a França e com Altulle. Serão dois grandes países revoltados pela morte da minha mãe. A morte que você causou!

– Apesar de maduro, você ainda é tão inocente... - ele sorri de forma irônica e seus olhos verdes se tornam sombrios. - Apesar das nossas divergências, meu irmão me ama. Você acha mesmo que Kurt mandaria me matar?

– Se fosse o caso, pediria a ele a honra de ser o executador - Francis solta. - Aposto que há vários na lista, ansiando por esse momento, mas um rei como Kurt daria preferência a um príncipe de Altulle, não é mesmo?

– Você é ousado, garoto. Isso é bom. Um garoto precisa ser ousado, o que leva a impulsividade, o pior defeito dos reis. Você, definitivamente, não será bom para Altulle.

– Você não conhece o meu país - ele balança a cabeça. - Não sabe nada sobre ele ou a nossa cultura. Não sabe nada sobre mim.

– Isso faz alguma diferença?

Ele olha para o segurança mascarado atrás de Joffrey. De dentro do terno ele deixa apenas uma parte do lenço vermelho sangue, a cor da bandeira de Altulle. Francis pisca, porque aquilo parece um sonho, mas o segurança apenas assente e leva a mão ao coldre, destravando a arma para uma eventual luta. O garoto entende a deixa e começa a desamarrar as cordas que já estão um tanto frouxas. Não foi difícil.

– Se soubesse saberia que meu pai nunca viria pessoalmente - ele diz, deixando as cordas caírem no chão. - Em Altulle nós somos inteligentes o bastante para saber quando vale e quando não vale a pena aparecer.

Os outros seguranças de Joffrey atacam quando o garoto se levanta, mas Francis é rápido o bastante para se ajoelhar e usar a cadeira como escudo enquanto o segurança enviado do seu pai combate os mais perigosos.

Uma arma escorrega até o pé de Francis e ele a pega sem hesitação. Não tinha treinamento apropriado e nunca havia matado alguém, mas sabia o básico sobre como uma arma. Nada mais lhe daria um prazer tão grande quanto matar os homens que mataram a sua mãe.

Francis começa a atirar em todos que vê pela frente, tomando cuidado para não atingir o segurança que está o ajudando. De repente, ele acerta uma bala na testa de um homem. O seu crânio faz um estalo quando se choca contra o chão e sangue começa a escorrer. Ele havia matado um homem.

O garoto vai até Joffrey e arranca a faixa do seu braço e o move, fazendo o irmão do rei gemer de dor. Há apenas dois seguranças vivos e o seu mais novo amigo faz questão de combatê-los sozinho. Francis desfruta do prazer ao ouvir os guinchos de dor de Joffrey quando ele pressiona o seu dedo indicador contra o buraco que há no seu braço, fazendo o sangue voltar a escorrer do local onde ele havia o baleado no dia anterior.

– Guarde para a sua vida toda esse momento: o dia em que você foi derrotado por um garoto de oito anos - ele pressiona tanto o seu dedo contra o ferimento que o sangue respinga em seu rosto, mas ele não faz questão alguma de limpá-lo. - Isso é pela minha mãe.

Então a hora que ele pega a arma para atirar em Joffrey, o mascarado segura o seu braço no ar. Francis vê as marcas vermelhas nos pulsos do homem: ferimentos em carne viva.

– Pai?

O homem retira a máscara e mostra ser Jean-Pierre, o rei de Altulle.

– Você acha mesmo que eu mandaria alguém atrás de você? - ele pergunta, abraçando o filho. - Acha que eu confiaria a sua vida a alguém?

Francis o olha de forma pedinte.

– Pai, me deixe fazer isso. Por favor.

– Você foi muito corajoso hoje, Francis, mas não quero que isso se repita. Você ainda é um garoto de oito anos e não merece essa vida miserável de assassino - ele olha para Joffrey. - Esse homem não vale a pena. Ele não vale o peso na sua consciência.

– E ele vale a minha mãe? - ele questiona, indignado. - Minha mãe morreu por causa desse cara!

– Sua mãe não vai voltar, Francis. Matar Joffrey não a trará de volta.

Ele pega o filho pelo braço e os dois saem do palácio sem muitas dificuldades. Do lado de fora, eles entram em um carro forte.

Mais calmo, Francis decide perguntar ao pai:

– Por que você disse aquilo sobre a minha consciência?

– Porque é verdade - Jean-Pierre olha para o filho. - O primeiro homem que eu matei foi quando eu tinha dez anos e isso foi muito pesado para mim. Imagine você apenas com oito anos! Sua mãe não ia querer isso.

– Se fosse você que tivesse morrido, eu sei que ela mataria ele por você.

– Se fosse eu que tivesse morrido, a sua mãe faria justiça por mim. É diferente, filho. Nós temos que prendê-lo, não matá-lo. Temos que fazer Joffrey sofrer.

– E como nós podemos fazer isso? - ele pergunta. - Por favor, pai, não me deixe de fora dessa. Eu quero ajudar.

– Vai levar tempo. Muito tempo.

Francis se lembra das palavras de Joffrey e sorri ao repeti-las:

– Eu sou paciente. Isso é só o começo - ele sorri. - Esse é o começo da minha justiça.

+++

Hana e Donald Linznert adentram o Pequeno Salão que de pequeno não tem nada. É chamado assim porque consegue abrigar trezentas e cinquenta pessoas confortavelmente, já o Grande Salão chega a abrigar até mil pessoas. Katerina espera a irmã e o noivo lá para recepcioná-los com uma festa apenas para os mais íntimos. Cento e cinquenta pessoas.

Erik está ao seu lado, sorrindo, e isso a faz se animar um pouco. Depois da noite passada os dois estavam melhor. Ele fez um desenho dela e a ruiva podia garantir que ele tem mesmo talento.

– Jean-Pierre partiu pela manhã - Erik lhe contou. - Não entendo. Nós dissemos que ele seria bem-vindo aqui.

Katerina não sabia mais o que sentia em relação a tudo isso. Jean-Pierre é o verdadeiro pai de Francis e ela o odeia, então deveria odiar o pai também, certo? Bom, ela não sabia se isso era o mais sensato a se fazer, mas depois de brigar com Francis ela não conseguia mais discernir muitas coisas.

– Ele deve ter ficado desconfortável com meu tio - ela sugere, dando de ombros. - Joffrey não é o melhor exemplo de rei amigo do continente.

Erik sorri.

– Suponho que o verdadeiro lugar dos Kionbach seja em Altulle. Todos eles.

– Todos eles - ela concorda.

Katerina se levanta para abraçar a irmã.

– Finalmente vocês chegaram! - ela sorri. - Estava ficando preocupada. O casamento é amanhã, sua maluca!

– Desculpe, mas decidimos estender mais um pouco nossa viagem. Don procura por quadras de tênis por todas as cidades que passamos.

– Não canso de perder - Donald fala e os dois casais dão risada.

Don tem os cabelos castanhos avermelhados, olhos verdes e pequenos e lábios finos. Ele poderia ser filho de Harriet.

Katerina inveja a irmã por um momento. Não pelo noivo, mas pela facilidade com que Hana leva a vida. É claro que a vida de uma princesa é mais fácil que a de uma rainha, mas mesmo assim, Katerina queria poder tirar uma semana de férias do reino. Uma semana tão calma e boa quanto a que ela teve com Fabrizio em Altulle.

Fabrizio...

Francis, ela lembra a si mesma. Preciso me adaptar com isso.

Após o jantar as pessoas começaram a dançar. Katerina se retirou por um instante para ir até a sacada e observar o sol se pôr. Com uma taça de campanhe na mão, ela apoia os cotovelos no metal da sacada, que é tão alta que dá visão de boa parte da cidade.

Alguém toca o seu ombro e ela se vira rapidamente.

– Han.

– Você parece um pouco desanimada.

Ela conta para a irmã resumidamente sobre como havia se apaixonado loucamente por Fabrizio e que havia descoberto que ele na verdade é Francis Kionbach, o herdeiro do trono de Altulle.

– Foi tudo muito rápido - ela diz a irmã mais nova. - Eu não tive tempo para pensar. Quando eu vi foi, putf, estava amando.

– Você sabia que corria esse risco, Kate.

– Sim. Eu disse que o odiava, lembra?

– E eu fui a primeira pessoa a dizer que isso poderia se tornar amor - ela sorri. - Bom, agora as coisas mudaram de figura. Ele traiu a sua confiança, Kate. Isso é algo bem mais sério do que trai-la fisicamente.

– Eu sei - ela olha para irmã. - Eu o amo, sabe? Mas eu sou casada agora e Erik está se esforçando tanto para nos darmos bem. Ele é tão atencioso comigo que eu até me culpo por não amá-lo do jeito que eu amo aquele maldito.

– Eu acho que você deveria dar uma chance ao seu casamento. As coisas estão indo bem entre vocês, pelo que você me disse, e é melhor que tudo fique numa boa entre vocês. Vai ser difícil manter o casamento se vocês pelo menos não se gostarem. Você sabe, logo os Conselheiros a pressionarão para ter um filho dele.

– E essa é a pior parte. Eu odeio ser pressionada. Eu gosto que as coisas aconteçam no seu tempo certo e eu realmente estou tentando gostar de Erik, mas não sei se há algo forte o bastante para que aconteça novamente, entende? Tivemos que fazer aquilo por causa da consumação, é obrigatório, mas fazer de verdade é totalmente diferente.

– Sexo, filhos... Kate, você é rainha de duas grandes nações do continente. Você é uma das mulheres mais ricas e poderosas de todo o mundo - Hana pega as mãos da irmã e sorri. - Você precisa confiar em si mesma e no seu potencial.

Katerina percebe que ter desconfiado de Hana, mesmo que por poucos momentos, havia sido uma total bobagem. A irmã a amava de verdade, estava sempre lhe dando bons conselhos e fazendo de tudo para vê-la feliz.

– Eu não sei o que faria se você não estivesse aqui - ela fala, abraçando a irmã.

– Provavelmente seria um pouco infeliz, mas conseguiria sobreviver.

Katerina ri.

– Somos Archiberz. Somos as sobreviventes.

– Nós sempre sobrevivemos - Hana concorda, beijando a bochecha da irmã. - Agora eu preciso me encontrar com a nossa mãe.

Hana não estava na coroação de Katerina, que foi o dia em que Harriet apareceu para todos. Ela ainda não havia visto a mãe.

Katerina ficou ali, sozinha. Ela refletia sobre as sábias palavras da irmã mais nova, porém mais esperta do que ela. Hana seria um boa rainha, ela conclui.

Braços fortes e masculinos a envolvem e Katerina vê fios dourados no canto do seu campo de visão. Erik está ali.

– Posso saber o que você está fazendo aqui?

– Apenas pensando.

– Será que você me daria a honra de pensar com você?

Ela sorri e beija a bochecha dele.

– É claro que sim.

E os dois ficam ali, abraçados e em completo silêncio, apenas observando o sol ir embora.

Mais um dia se foi. Um dia difícil e o dia seguinte seria mais difícil ainda, mas Katerina sabia que Erik estaria ali ao seu lado, a ajudando e a protegendo, e isso a reconfortava.


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