A ruiva não conseguia entender como sua mãe pensava que ela funcionava. Ela queria a livrar de um casamento forçado para arranjar outro. Tudo porque Jean-Pierre está a ajudando. Ou há outro motivo por trás disso?

– Eu não o conheço - ela diz. - Nunca o vi. Francis Kionbach é um verdadeiro mistério. Nunca conseguimos uma reunião com ele, apenas com seu pai. Nunca consegui entender. Ele vai assumir Altulle algum dia.

– Francis é um garoto reservado.

– Você o conhece?

Você também o conhece, Harriet pensa, mas não diz nada.

– Você e o seu guarda-costas deveriam ficar aqui hoje.

– Não tenho nada para fazer aqui - ela volta a ser arisca. Sua mãe não pode estar querendo que ela se case com alguém que nunca viu. Erik pelo menos ela sabe que é bonito, e esse tal Francis? Ela nunca o viu nem em entrevistas. Se está tendo se que casar com um cara que não ama, ele deve ser pelo menos bonito. - Eu vou voltar para casa.

Harriet não tem como lutar com isso. Ela sabe como a sua filha é teimosa. Herdou o temperamento dos Archiberz.

– É perigoso - ela a alerta. - Joffrey não pode saber que eu estou em Altulle.

– Eu não vou contar - ela concorda em manter o segredo da mãe. - Bom, só quero que saiba que eu não tenho vontade alguma de desistir do meu casamento. Diga a Jean-Pierre que eu não estou interessada no filho dele.

– E o seu segurança? - Harriet pergunta como se eles não fossem a mesma. - Você não vai desistir nem por ele?

Katerina pensa por um segundo, mas não consegue hesitar por muito tempo. Ela não pode pensar em si mesma, tem que pensar no seu povo. Joffrey não quer saber deles, então ela está sozinha nessa.

– Nem por ele - ela afirma. - Eu não vou abandonar as pessoas que precisam de mim. O meu país precisa de mim mais do que nunca.

Harriet sorri.

– É uma bela atitude, mas você não pode deixar de pensar na sua felicidade. Você será rainha de Frömming, Katerina, não importa com quem você case. É o seu destino.

+++

Fabrizio abraça Hector e bate nas costas do irmão do meio.

– Como as coisas estão por aqui?

– Estou dando conta de ser o herdeiro do rei - ele sorri -, mas e você? Bom, dormir com uma gata como a princesa Katerina não deve ser muito difícil.

– Eu não dormi com ela - Fabrizio franze a testa. - Por que todo mundo acha isso?

– Está mais do que na hora, cara. Você está enfiado naquele país a quanto tempo? Quase um ano?

– Não chega a ser tanto.

– Mesmo assim. Está na hora. Nosso pai está botando pressão. Ele quer agir.

Hector é muito parecido com a falecida mãe deles, Alícia. Cabelos loiros claros, olhos em um tom de verde água vivo e sempre sorrindo. É impressionante.

– Acho que aquela ruiva me laçou - ele conta para o irmão. - Sério, velho.

– O grande Francis Kionbach, pegador da Corte, príncipe de Altulle, está apaixonado pela filha do inimigo - ele olha para o copo de uísque e o vira rapidamente. - Parece aquelas histórias medievais trágicas. Romeu e Julieta, hum?

– Sei lá. Ela tem algo.

– Peitos? - Hector sugere e o mais velho não consegue segurar a risada.

– É diferente. É sério. Por que você acha que eu estou esperando? Se fosse outra garota eu já tinha dado o meu jeito.

– Isso me parece falta de potencial.

Francis se levanta.

– É melhor eu ir falar com o nosso pai sobre o dia do casamento real. Com você não se consegue falar sério.

Hector segura o irmão pelos ombros.

– Calma, cara. Foi uma brincadeira. Relaxa - ele sorri. - Você é estressado demais.

Alguém bate na porta do quarto. Uma criada.

– A princesa Katerina deseja ir embora.

Francis assente com a cabeça e se despede do irmão com uma batidinha nas costas.

– Foi bom te rever, irmão - Hector diz.

Apesar das brincadeiras dele, Hector é irmão de Francis. Ele não podia ficar longe do irmão sabendo que não havia dito nada na despedida. As coisas em Frömming ficarão mais perigosas agora que Katerina provavelmente sabe a verdade sobre Joffrey e ele não sabe quanto tempo irá levar para voltar para casa. Não sabe nem se vai voltar.

– Estou feliz por ter passado por aqui.

– E Alison? - Hector pergunta antes que Francis possa sair.

– Ela está ótima. Está provando seu valor no laboratório escondido no palácio - ele sorri de canto. - Ela sempre esperou pela oportunidade de mostrar ao nosso pai que é boa com tecnologia.

– E realmente é - Hector concorda. - Nunca vi uma garota tão moderna. Bom, Francis, sinto que você tenha que voltar para aquele lugar.

Ele concorda com a cabeça. Depois de tanto tempo é bom ouvir alguém chamá-lo pelo nome verdadeiro.

+++

Katerina não trocou uma palavra sequer com Fabrizio desde que saíram do palácio Kionbach. O motorista de Jean-Pierre os levou até o hotel para pegarem as suas coisas e depois para a pista onde o jatinho de Joffrey os esperava a bastante tempo.

– Pensei que não viriam, senhorita - o piloto comentou.

– Tivemos um imprevisto. Podemos ir agora.

Ela tentou dormir, mas não conseguiu. Já Fabrizio dormiu o tempo todo. A boca estava levemente aberta e Katerina não conseguiu lembrar de outra coisa que não fosse o dia em que ele disse que ela babou enquanto dormia porque estava sonhando com ele.

A ruiva perdeu o humor quando a imagem de Joffrey voltou a sua mente.

Monstro, ela rosna. Eu te considerava o meu pai.

Depois de repetir essas palavras na sua mente por sabe-se lá quanto tempo, ela acabou dormindo. Na verdade, Katerina percebeu que havia caído no sono só quando o piloto a acordou.

– Chegamos, senhorita.

Ela levanta do assento e acorda Fabrizio, que está do mesmo jeito que ela lembrava enquanto ainda estava acordada.

– Tem certeza que está tudo certo? - ele a segura pelos ombros.

– Sim - ela assente. Como vê que o piloto já saiu do jatinho, dá um beijo rápido nele. - Eu não quero falar sobre isso agora. Tenho que engolir Joffrey.

– Você não precisa me contar nada - ele garante.

Eu já sei de tudo, ele pensa, mas não diz nada. Não foi pro isso que ele falou isso, mas porque ele quer que ela confie nele e sinta-se segura para se abrir.

– Obrigada - ela agradece.

Em frente ao palácio, Joffrey a espera. Katerina engole todo o seu orgulho e o seu nojo e consegue forçar um sorriso. Ele a abraça fortemente e não a larga.

Asqueroso, ela rosna em pensamento.

Para consegui suportar, ela tenta esquece por algum tempo o que ele fez e quem ele é de verdade. Ela tenta se lembrar somente do tio carinhoso que ele sempre foi. É difícil, mas quando você bloqueia a sua mente por bastante tempo, privando-a de lembranças e sentimentos, acaba se acostumando.

– Que cara é essa? - Joffrey pergunta.

– Sono - ela murmura. - Estou bem. Só preciso ir para o meu quarto - ela olha para Fabrizio. - Tenho algumas estratégias para discutir com você sobre a segurança do meu casamento.

Fabrizio presta uma reverência rápida a Joffrey e sobe com ela. Já no quarto, Katerina tranca a porta.

– Eu não aguentava mais olhar para a cara daquele nojento.

Ela conta para Fabrizio sobre a conversa que teve com a sua mãe, que tem que fingir surpresa. Realmente há pontos que ele não sabia, como a dúvida de Harriet por Joffrey e Kurt depois do seu casamento e outras coisas pequenas. Katerina não contou sobre sua mãe ter descoberto sobre eles dois, mas contou que Jean-Pierre queria que ela casasse com o filho dele, Francis.

– E aí? - Fabrizio pergunta. - Você aceitou?

– É claro que não! Eu não o conheço. Nunca o vi - ela se aconchega nos braços dele. Desde que chegaram no quarto, deitaram na cama e Fabrizio a manteve em seus braços por todo o tempo. - Além do mais, eu não quero me casar, você sabe, mas há mal que é necessário.

– Sim - ele concorda. - Eu sei como é.

Eu tenho te enganado por todo esse tempo sobre a minha identidade, ele age como se ela estivesse lendo seus pensamentos. Mas eu gosto de você, Katerina.

– Obrigada por estar aqui - ela o beija -, por ter paciência comigo.

– Eu faço isso porque estou completamente apaixonado por você.