Sobre Humanos e Deuses escrita por S Laufeyson


Capítulo 17
Capítulo 15 - Spellbound


Notas iniciais do capítulo

Olá, meu povo, tudo bem?
Comigo está mais ou menos. Estou tendo sérios problemas de bloqueio e isso tá me acabando na hora de escrever. Eu sinto muito, mas temo que se isso continuar, vou ter que demorar mais para atualizar. Sinto muito.

Á todos que tem favoritado e acompanhado, muito obrigada. Aos que estão chegando agora, sejam bem vindos e espero mesmo que estejam gostando.

Não vou me estender muito não. O capítulo foi difícil e com uma carga emocional grande. Espero mesmo que gostem.

*Spellbound - Confuso/Enfeitiçado



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A Ferrari estacionou na garagem da S.H.I.E.L.D. alguns minutos depois. Roxie e Loki desceram apressados e o deus parou a mulher antes que entrassem. Uma aura verde a encobriu e a garota perguntou-se porque.

– Você está horrível. – Loki respondeu a pergunta dela antes que a fizesse. – Saberiam que estivemos envolvidos em alguma luta só olhando para seu estado deplorável. – Roxie franziu o cenho em indignação.

– Se tivesse me ouvido chamar, eu não estaria assim.

– Eu ouvi e foi por isso que não concluímos o processo. – Ele respondeu de supetão. Percebeu que havia falado sem pensar. Mal sinal. – Quem consegue fazer alguma coisa com essa sua voz irritante chacoalhando na cabeça? – Roxie respirou fundo. Ele estava irritado, mas a culpa não era dela. Só tentou alertá-lo sobre o que estava acontecendo do lado de fora.

Os olhos azuis o olhavam seriamente. Roxie tentava prender o choro, mas mesmo assim Loki conseguia ver a tristeza naquele olhar. Já os conhecia bem. Levantou as sobrancelhas.

– Juro que se houver uma próxima vez, não serás importunado. – Roxie respondeu seriamente. Desviou-se de Loki e começou a fazer o percurso em direção a entrada da S.H.I.E.L.D, mas o deus a segurou pelo braço, a puxou e a abraçou. Beijou-lhe o topo da cabeça e depois segurou o queixo para olhá-la.

– Está ferida? – Perguntou seriamente.

– Não. – Roxie respirou fundo e respondeu baixo. Enterrou o rosto novamente no peito do deus e lá ficou. Adorava sentir o cheiro dele e, naquele momento, o perfume amadeirado que, com o tempo, parecia mudar para algo mais cítrico, estava mais forte do que nunca. Ela gostou de ficar ali.

Loki a afastou e eles entraram na sede. Correria.

Soldados armados saiam de todas as partes em direção a área de decolagem. Os dois caminharam apressados até onde aqueles homens estavam indo e encontraram todos os vingadores, já devidamente uniformizados.

– Onde se meteram? – perguntou Fury num rompante. Não era raiva, era apreensão.

– Eu precisava caminhar um pouco. – respondeu Roxie. – Loki acompanhou-me. – O deus olhava para Nick sem desviar. Ele seria o primeiro a cair. Faria questão de que antes de morrer, a ultima imagem que visse fosse a dele atravessando-lhe com a lança. Não conseguiu deixar de colocar um sorriso de prazer no rosto.

– Podia ter atendido o celular. – concluiu Steve. Ele seria o segundo. O deus estava mesmo querendo dar o troco pelo que ele fez na Alemanha e por ter beijado Roxie. Surpreendeu-se com aquele pensamento, lançando um olhar curioso na direção da ruiva. Não. Steve pagaria pela audácia de não ter ajoelhado-se diante de seu novo rei. Somente isso. Assim como Natasha, Clint e Tony Stark. Teria ainda a sua desforra.

– Acabou que me esqueci de levá-lo. – ela sorriu envergonhada.

– Houve um ataque da Víbora. – A voz de Thor se fez ouvir. Era firme e extremamente grossa. Como um trovão. Loki não o mataria, mas ele pagaria muito caro por aquilo, juntamente com Odin. O plano de lhe tirar suas memórias partiu de Thor, mas o Pai de Todos aceitou de bom grado. Só não os mataria por causa de sua mãe. Frigga não suportaria e ele não queria deixa-la triste.

– Foi na mansão de Charles. – falou Wanda. Ela e o irmão em nada entravam nos planos de vingança de Loki. Não tinha nada contra eles. Talvez até pudesse usá-los como aliados. Wanda era uma excelente feiticeira. Não melhor do que ele, mas suficientemente boa para trabalhar para ele. Pietro era rápido, poderia aturdir um exército inteiro antes que o ponteiro maior, de um relógio, desse a volta completa. Eles seriam úteis.

– Sério? – perguntou Roxie fingindo surpresa. Ela era boa em mentir. Loki a queria como aliada também, mas sabia que ela não cederia quando ele propusesse. Ela estava perdidamente apaixonada por ele, mas não se voltaria contra aquilo que acreditava. Midgardiana tola. Ela, no final das contas, serviria a ele. Torná-la-ia segunda em comando, seria subordinada apenas a ele. Não havia como recusar aquilo. – Eu vou pôr o macacão.

– Não. – Nick respondeu. – Pode ser outra emboscada. Precisamos que alguém fique fora disso tudo. – O homem encarou a ruiva e o deus. – Você e Loki permaneçam na base. Qualquer eventualidade, contataremos vocês.

– Mas, senhor... – Roxie começou a reclamar, mas foi interrompida.

– É uma ordem, agentes. – respondeu por fim. Loki quis matá-lo naquele exato momento. Ninguém dava ordens para ele. – E sem contar que precisam descansar. Não tiveram folga desde que voltaram da Rússia.

– Sim, senhor. – respondeu a ruiva vencida. Não adiantava discutir. Loki a olhou. Como assim ela aceitou de bom grado? Estava sendo a cadelinha da S.H.I.E.L.D? Eles a mandam rolar e ela deita e rola?

Odiou-a. Não daria mais o comando a ela. Ela só deveria ser submissa a ele e a mais ninguém.

– Vamos! – ordenou Fury. Todos os outros seguiram até a aeronave que decolou segundos depois.

Roxie e Loki seguiram na direção dos quartos e ele desfez a magia que a rodeava. O deus tinha razão em dizer que ela estava em estado deplorável, porque realmente estava. Os cabelos estavam desgrenhados, suas roupas rasgadas em algumas partes e sujas de sangue também. Não seu, de Logan.

– O que vamos fazer? – perguntou ela quando chegou à porta de seu quarto. – Eles vão contar para o Fury que estivemos lá.

– Não vão não.

– Como pode ter tanta certeza? – ela cruzou os braços em questionamento. Loki odiou aquilo. Apertou os olhos, mas Roxie permaneceu relutante, encarando-o firmemente. Ele deu de ombros e respirou fundo. Sabia que aquela humana não desistiria. Era teimosa.

– Enquanto o Xavier mexia em minha mente, eu mexia na dele. – Respondeu como se fosse algo simples. – Eu nos apaguei.

– Você fez o que?

– No dia em que vi seus pensamentos, eu descobri como manipular memórias. O professor foi minha cobaia.

– Mesmo que tenha conseguido...

– Eu consegui. – Loki corrigiu a mulher.

– E os outros?

– Ordenei que ele cuidasse disso. – Ele sorriu. Adorava se gabar. – Não se preocupe. Eu sou um deus, sei o que faço.

– Se você o diz. – ela virou-se e seguiu pelo corredor.

– O que vai fazer?

– Como você disse: Eu estou horrível. – Ela repetiu as palavras do deus e ergueu as mãos no ar. – Vou tomar um banho e comer alguma coisa. Com sua licença. – ela respirou fundo e o reverenciou com um aceno de cabeça. Deboche. Deu as costas e entrou em seu quarto. Loki a observou fechar a porta. Era teimosa e inconsequente. Onde já se viu desafiar um deus daquela forma? Ousada. Ele gostava.

...

Conforme havia dito, Roxie tomou um banho e vestiu uma calça de moletom, uma camisa branca nadador e um casaco grosso. Estava fazendo frio em Nova York. Os cabelos estavam presos em um rabo de cavalo. Sua intenção era correr um pouco, depois que comesse algo.

Seguiu para a cantina e estranhou estar completamente vazia. Naquele horário, normalmente, todos estariam almoçando, mas só havia alguns gatos pingados.

– Estão todos concentrados em achar a Víbora. – falou a agente treze cruzando a porta. – Acho que consegui ler sua mente.

– Estou acostumada com isso. – Roxie sorriu largamente.

– Percebi que não sei como te chamar. – a loira aproximou-se. Sorrindo. – Fica muito estranho te chamar de bisavó.

– Roxie está de bom tamanho. – A ruiva bebeu um gole do copo de café que havia posto minutos antes.

– Eu perguntei a meu pai, o que ele sabia sobre a avó dele. – Sharon encostou no balcão, ao lado de Roxie.

– E o que ele disse?

– Disse que sabia muito pouco. Que o vovô não falava muito dela. Apenas guardava uma foto na carteira. Para onde ia ele levava. – Ela colocou a mão no bolso e puxou o retrato antigo, em preto e branco. Entregou para a ruiva que não conteve as lágrimas. Se viu, sentada no chão, abraçada a um garotinho. Ele sorria e ela também. Estava feliz.

– Eu me lembro desse dia. – A ruiva enxugou uma lágrima. – Estávamos no parque. Estava fazendo um sol bom, depois de meses de frio. – Ela sorriu. – Nicola pediu para sair. Não aguentava mais ficar em casa. Era um menino agitado.

– Depois de velho ainda era. – comentou Sharon sorrindo – Velhos hábitos nunca mudam. - Roxie assentiu.

– Havia um homem, tirando fotos por um dólar e o Nicola tirou um dólar do bolso e me chamou para tirar uma com ele, mas ele exigiu que eu estivesse sentada no chão, na areia, feito criança. – O sorriso começou a desaparecer do rosto da ruiva. – Eu posso?

– É sua. – Sharon respondeu e Roxie forçou outro sorriso.

– Obrigada.

– Quer saber? – a loira puxou a mulher para um abraço. – Ele amava você.

– Eu sei. - A ruiva apertou a bisneta com força e depois a largou. Alisou-lhe os cabelos e afastou-se. Colocou o copo em cima da bancada e deixou o lugar. Encontrou com Wanda que lhe falou algo, mas ela não deu muita atenção. Se ela já estava ali, os outros já deveriam estar de retorno também.

Um bolo se formava em sua garganta. Ela queria gritar e chorar, sem que ninguém a visse. Queria tornar-se invisível.

Olhou em volta e uma crise de pânico a tomou. Correu para o primeiro lugar escuro que encontrou. Sentou-se encolhida, com a cabeça entre os joelhos, respirando rápido e tentando se acalmar. Queria voltar. Se tivesse uma máquina do tempo ela aceitaria ir de bom grado. Queria pegar aquele garotinho outra vez no colo. Queria ensiná-lo a ler e a andar de bicicleta, tudo de novo. Queria estar novamente quando ele partisse um coração ou quando tivesse o seu partido. Queria ver o sorriso dele outra vez.

Enfim, queria ser mãe outra vez.

Sentiu-se perdida. Sentiu-se desolada. Sentiu-se abraçada.

Os braços a puxaram para perto, mas ela não olhou quem era. Não precisava. O cheiro já o entregava. Loki a olhava sério, mas tinha pena em seu olhar. Ela era uma humana forte, muito forte na verdade, mas não deixava de ser limitada. A humanidade a limitava.

Ela encolheu-se nos braços dele e o soluço ficou mais forte. Ela precisava de um lugar seguro para chorar. Aquele abraço era o seu porto seguro.

O deus a manteve ali por alguns longos minutos. Ele se sentia estranhamente sujeito a acalmá-la. Cuidar dela. Se irritou quando percebeu todo esse apoio com a mortal. Ele tinha que transformá-la em algo mais duro, uma mulher fria. Segurou em seu queixo e forçou a olhá-lo. Parecia um animal ferido que apenas queria um lugar quieto para morrer.

Ergueu-a do chão e levou-a até o seu quarto. Colocou Roxie sentada na cama dele. Ela estava em estado de torpor, não se mexia para nada. Havia parado de chorar, mas parecia que sua mente estava desligada. Ele nunca a havia visto daquela forma. Nem quando lhe falou de Lorenzo ela agiu assim. De outra feita, ela esperneava e gritava, chorava feito uma louca. Aos berros. Aquela mulher em nada parecia a verdadeira Roxanne.

Ele aproximou-se e retirou o blusão de frio da ruiva. Ela não reagiu e ele se deu conta que aquilo estava pior do que imaginava. Ergueu-a novamente e a conduziu até o banheiro, abriu o chuveiro e a segurou enquanto a água lhe molhava a cabeça. Precisava fazê-la acordar de seu estado catatônico.

Ao sentir a água gelada tocar-lhe a pele, Roxie reagiu. Loki não sentia a frieza da água em si, mas, pela reação dela, deveria estar bastante frio porque começou a tremer. Ela sacudiu-se e o deus desligou o chuveiro.

– Bem vinda de volta. – falou ele quando ela virou-se para olhá-lo. Envolveu a mulher em uma toalha e a tirou do banheiro. Ela pingava, mas mesmo assim ele a colocou sentada em sua cama outra vez. Soltou-lhe os cabelos e secou-lhes com uma toalha. Com uma das pontas secou-lhe o rosto, fazendo o pano deslizar suavemente. Roxie estava de volta, mas ainda assim não olhava para Loki. Estava com vergonha. Seus olhos deveriam estar duas brasas de tanto ter chorado. Não era nada bonito de se ver, mas o deus queria olhar para eles.

Aproximou-se dela e lhe deu um singelo selo nos lábios. A garota o mirou de uma forma curiosa. Ele tinha estado estranho desde que saíram da mansão. Um pouco mais rude e muito mais calado. Quando alguém lhe falava algo, vinha com respostas curtas e diretas, mas ali parecia mesmo com o antigo Loki. Cuidando dela, fazendo-a melhorar. Isso a fez sorrir.

A ruiva aproximou-se novamente e o beijou. Os braços de Loki se fecharam ao redor da cintura de Roxie e o deus a puxou para mais perto, fazendo-a deitar-se na cama.

Não pode deixar de perceber em como aquela mulher era extremamente bela. Os cabelos vermelhos, agora soltos, espalharam-se no travesseiro tornando talvez um ar mais alegre a aquele quarto. Ela clareava o ambiente.

Colocou a mão embaixo da camisa de Loki, alisando suas costas e as vezes arranhando-o de leve. Ele gostava da ousadia dela. Na verdade, ele gostava de várias coisas nela e enquanto a beijava, começou a pensar em como aqueles lábios era doces, em como aquela pele era macia e cheirosa, em como ele gostava de estar com ela. Parou imediatamente.

Olhou para ela seriamente. Não podia deixar que aquilo acontecesse. Não poderia estar daquele jeito por causa de uma humana, inferior e visivelmente instável. Não podia negar que ela não era uma humana comum, mas estava longe de ser perfeita para um deus, quanto mais perfeita para ele. Saiu de cima da garota.

– O que houve? – Roxie sentou-se na cama, respirando pesadamente.

– Deixe-me. – falou ele ainda tendo os pensamentos revirados. Ela aproximou-se e alisou seu rosto.

– Está tudo bem? – Loki segurou a sua mão e a afastou.

– Deixe-me sozinho.

– Eu fiz alguma coisa errada?

– Você é um erro. – as palavras saíram mais rápido do que ele queria. Na verdade, não queria dizer aquilo. Ela o olhou tristemente. Os olhos marejaram-se novamente e Loki queria socar-se por ter feito aquilo. Ela levantou-se da cama rapidamente e seguiu até a porta, batendo-a com bastante força.

Loki apoiou o rosto com as duas mãos e respirou fundo. Idiota. Porque fez aquilo? Bastava afastar-se, inventar uma desculpa qualquer. Não precisava ter dito que ela era um erro.

Não. Foi melhor assim. Não podia envolver-se com ela mais do que já estava envolvido. Tinha prioridades, tais como achar um meio de derrubar a S.H.I.E.L.D e se vingar de seu pai e seu irmão.

Mas ela havia ficado triste e provavelmente estava chorando agora. Conseguia ver a cena se fechasse os olhos. Ele não gostava de fazê-la chorar.

Chorava porque era humana, sujeita a fraquejar diante das emoções. Isso era ridículo. Entristecia-se por qualquer coisa. Sentimental.

Mas ele foi rude demais.

Levantou-se da cama e respirou fundo. Iria falar com ela.

...

Roxie estava sentada na sua cama, havia acabado de criar coragem e se trocado. Chorava até alguns minutos antes. Estava despedaçada de várias formas possíveis e tudo o que menos queria era que a única pessoa que a fazia sentir-se bem e segura, a tratasse daquela maneira. Voltou a pensar naquilo e mais lágrimas lhe escorreram pelos olhos até que ouviu alguém bater na porta. Sentou-se na cama e respirou fundo, enxugou as lágrimas e levantou-se. Abriu a porta achando que era algum vingador que retornou com novidades do caso, já que ninguém havia lhe dito nada ainda. Deu de cara com Loki. Fechou a porta imediatamente. Estava triste e magoada com ele. Não queria falar agora.

– Não sabe que é falta de educação bater a porta na cara dos outros? – perguntou uma cópia dele, aparecendo logo atrás da ruiva. Ela respirou profundamente e encarou o deus que tentava sorrir. – Eu quero conversar.

– Eu não tenho nada para conversar com você. – respondeu ela desviando da projeção e seguindo até uma pequena pilha de roupa dobrada. Pegou-as e colocou nas gavetas de uma cômoda de cor marfim. – Deixe-me.

– Não posso fazer isso.

– O que você quer? – ela gritou virando-se, entre um soluço e outro. – já não bastou fazer o que fez?

– Abre a porta, Roxie. – A projeção mandou, não com autoridade. Encarou a ruiva por alguns minutos, sustentando o olhar. A respiração dela ficou acelerada e ela balançou a cabeça negativamente. Ele respirou fundo e aproximou-se. Queria enxugar aquelas lágrimas, mas sabia que se a tocasse, a projeção desapareceria. – Abra.

A ruiva abaixou a cabeça pensativa. Queria ver o que ele tinha a dizer. Já havia percebido que ele não era daqueles que pediam perdão. Fazia por onde perdoá-lo sem que disesse nenhuma palavra. A projeção continuava examinando-a de uma forma intrigante. Ele estava sério, mas havia doçura no olhar. Ela sabia como destruir as barreiras dele. Só aquele olhar já colocava seu muro abaixo, por isso ele se importou tanto.

Ela enxugou o rosto com as costas das mãos, como uma criança faria. Deu a volta na projeção e parou em frente a porta. O segundo Loki a olhou por cima do ombro quando percebeu a demora. Roxie estava com a mão na maçaneta, ponderando. Ele estava pronto para tentar convencê-la, quando a ruiva abriu a porta de uma vez. A projeção sumiu. O verdadeiro deus da trapaça estava diante dela com os olhos nada diferentes do da sua cópia. As sobrancelhas formando uma feição de arrependimento. Analítico às reações da mulher a sua frente. Ela tinha voltado a chorar.

Ele ergueu a mão, sem dizer nada e enxugou-lhe a bochecha. Ela ergueu os olhos para olhá-lo e mais lágrimas lhe escorreram. Ele balançou a cabeça negativamente, mandando-a parar. Sorriu. Roxie respirou fundo e assentiu. Ela estava magoada, mas aquele relacionamento era uma faca de dois gumes. Da mesma forma que Roxie destruía as barreiras de Loki, ele destruía as delas, sem pena. Por mais que ela quisesse ficar com raiva dele, não conseguia. Não quando ele estava ali, tentando o que parecia um desajeitado pedido de “perdão”. Ela sorriu.

Ele estendeu o carinho pelo rosto dela e Roxie fechou os olhos. Adorava sentir as mãos dele tocando-a. O jeito como ele alisava os seus lábios com o polegar ou a delicadeza em que ele colocava um fio teimoso de cabelo para trás da orelha. Era um lorde.

Ela abriu os olhos e passou o braço ao redor do pescoço dele, trazendo-o para perto e beijando-o. Era delicado no inicio, mas tornou-se algo imediato.

Loki entrou no quarto da ruiva e fechou a porta em seguida.

...

– Como é Asgard? – perguntou ela. A cabeça estava sobre a mão espalmada no peito do deus. Os cabelos vermelhos ainda estavam grudados na testa, por causa do suor.

– É a coisa mais deslumbrante que você um dia pôde imaginar. – respondeu ele. – Quando a luz do dia encandeia, diretamente nas paredes, a cidade parece ter luz própria. É um deleite aos olhos.

– Você me levaria lá? – A humana perguntou, elevando as duas orbes azuis para olhar o perfeito rosto do deus. Ele sabia que deveria dizer não, mas ouviu um sim sair por seus lábios. Ela, por sua vez, voltou a deitar a cabeça no peito dele e respirou profundamente. Desenhava formas na pele de Loki, com as pontas dos dedos.

Foi aquele olhar que o fez dizer que sim ou foi o sorriso de menina nos lábios cor-de-rosa? Ele não sabia responder. Acabou percebendo que ele havia aprendido todos os feitiços que sua mãe conseguiu lhe ensinar, mas estava claro que a midgardiana o enfeitiçou com um que ele não conhecia os meios de desfazê-lo.

Pegou-se com um sorriso ao pensar naquilo. Analisou a garota em seus braços. Era uma verdadeira tela onde haviam feito um excelente trabalho de pintura. Desceu os dedos pelas costas dela, no centro, seguindo a curvatura da coluna. Contornou a sua tatuagem no braço direito e percebeu conhecer aquele desenho. Era celta, um Triskle, símbolo da competência, progresso e muitas vezes confundido com equilíbrio. Era digno dela e foi uma escolha sábia.

Voltou a sua atenção para a mulher que acabara de fechar os olhos, mas não dormia ainda. Tentou adivinhar que criatura era aquela ali. Não poderia ser simples humana. Uma bruxa ou feiticeira, talvez? Era uma bruxa, uma extremamente poderosa. Como poderia tê-lo enfeitiçado daquela forma?

Perguntou-se quando aconteceu e dessa forma lembrou-se. No corredor, na primeira vez que se viram. Ela estava ao lado de uma agente que ele havia visto anteriormente, mas não se importou em descobrir onde. Roxie estava imponente, segura de si. Ele gostou daquilo nela. Depois se esqueceu daquele momento e tornou a conhecê-la naquela saleta. Novamente ela lhe passou segurança ao brincar com Wanda sobre não poder demonstrar seus poderes ali. Ele queria ver do que ela era capaz.

Definitivamente era uma bruxa. Ela pagaria por tê-lo enfeitiçado daquela forma e ele já sabia como. Ergueu o rosto dela e a ruiva sorriu, abrindo os olhos e encontrando as duas orbes verdes esquadrinhando-a. Aquele corpo era dele, aquela mulher era dele e naquele momento, ele a queria outra vez.

...

Roxie dormia com a parte de cima do corpo descoberta. Os seios firmes estavam a mostra enquanto que a cintura bem moldada e o quadril largo, estavam cobertos por um fino lençol de algodão. Loki havia perdido o sono, na verdade, não havia sequer dormido. Mesmo tendo tido uma tarde e início de noite agitados, com a midgardiana, ele não estava nem perto de se sentir cansado.

A ruiva estava tranquila, aninhada a seu corpo. Tão quieta que parecia estar dormindo o sono da morte. A única coisa que denunciava o seu sono pesado eram os lábios levemente separados e o ressonar doce que saia por eles.

Loki puxou o braço, que apoiava a cabeça da garota, e ela murmurou algo ininteligível. Virou a cabeça para o lado oposto onde ele estava e voltou a ficar imóvel. Estava cansada demais e por isso, não percebeu de imediato que o deus se levantou.

Resolveu tomar um banho, para tentar relaxar, e retornou alguns minutos depois, vestindo apenas uma calça verde musgo. Sentou-se na cama. Estava preocupado. A mulher havia falado em Asgard mais cedo e isso o colocou a pensar em como faria para recuperar o que era seu. Ele tinha direito á aquele trono e seria dele, mais cedo ou mais tarde.

Duas mãos passaram por seu peito e uma sequência de beijos pousou em suas costas. Ele olhou para Roxie por cima dos ombros e voltou a sua posição.

– Não consegue dormir? – Ela perguntou docemente, quase em um sussurro.

– Não. – respondeu ele calma e ponderadamente.

– Quer conversar?

– Não. – foi mais rude. Ela começou a irritá-lo.

– Eu sou sua parceira. – Roxie alisou os braços de Loki e os beijos passaram para seu pescoço. – Pode falar comigo. – O deus levantou-se da cama. Não estava com raiva, apenas queria que ela parasse com aquela insistência.

Midgardiana tola! Quando um deus faria parceria com um humano? E se tinha, não ousaria confirmá-la, mas pegou-se rindo. Ela era sua parceira.

Os olhos verdes voltaram-se para a garota nua, ajoelhada na cama. Perguntava-se como uma midgardiana poderia ter nascido com o corpo de uma deusa? Olhou-a de alto a baixo e a garota corou. Puxou a coberta e cobriu-se. Ele aproximou-se e passou uma das mãos nos cabelos vermelhos despenteados. Macios. Puxou-lhe a coberta gentilmente, não deveria se esconder. Era bonita e a beleza deve ser mostrada, não ocultada.

– Eu sei como te fazer dormir. – respondeu ela. – Mesmo que não confie em mim. – Ele confiava. Não, não podia confiar. Humanos são suscetíveis a erros e não poderia haver margens para erros.

Roxie o pegou pela mão e o fez subir na cama. Ela deitou-se e fez com que o deus deitasse por cima dela. Colocando a cabeça de Loki entre seus seios. Afagou-lhe os cabelos delicadamente, cantarolando alguma coisa que ele não entendia. Ela estava ninando ele? Ergueu os olhos na direção dela e achou um sorriso maroto no rosto da ruiva. Definitivamente, ela era uma bruxa, porque o fez sorrir. Forçou-o a deitar-se novamente, voltando a cantar aquela música, e Loki levou seus pensamentos a outro lugar.

O que aconteceria com Roxie quando seu plano fosse concretizado? Se ela demonstrasse apenas dez por cento do potencial que vinha mostrando, certamente sobreviveria. E depois disso?

Ele a queria ao seu lado em Midgard, mas quando tivesse que partir para Asgard? Ele a levaria ou a deixaria?

Levaria, afinal, havia prometido a ela mostrar-lhe o seu mundo.

Não, o que estava pensando? Humano é sinônimo de fragilidade. Não poderia ter uma humana a seu lado.

Não!

Quando estivesse no trono de Asgard, seria motivo de chacota. Piada. Mas se ele dissesse que ela era uma deusa? A qualidade de vida longa ela já tinha. Talvez não vivesse cinco ou seis mil anos, como eles, mas passaria um bom tempo antes de morrer.

Quem ousaria desafiar o novo rei de Asgard e dizer que aquela mulher não era uma deusa? Quem seria tolo o suficiente para dizer que não?

Estava decidido, ele a levaria.

Os olhos começaram a pesar. O sono o queria.

Olhou uma última vez para a ruiva, antes de se entregar de vez a aquela sensação. Parecia estar em casa. Aqueles braços eram seu lar. Aquele corpo era o seu templo e ela a sua deusa. Uma deusa midgardiana.


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Notas finais do capítulo

É isso..
Beijos!

S. Laufeyson!!!