A Garota de Cabelos Azuis escrita por Bruna Gonçalves


Capítulo 9
"Sangue e declarações"


Notas iniciais do capítulo

Olá!
Como vão?
Estou postando cedo porque meu lado inconsciente está cheio de ideias!
Percebi que vocês não ficaram muito felizes com o capítulo passado, sobre o lado sombrio de Isaac e tudo mais. Mas quero que saibam que tudo vai se resolver, está bem?
Mary R, minha querida, eu li o seu comentário e usei aquela parte: "Gosto de pensar que eu o abraçaria até que todos os pedaços quebrados e sombrios dele se juntassem!". Você não se importa, não é? Achei tão lindo que resolvi colocar no capítulo.

Aproveitem o capítulo!



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Já passavam das onze e meia quando Alice tocou a campainha. Demoraram cerca de dez minutos para a porta ser aberta, e, quando o homem a viu, deu um sorriso de orelha a orelha. A garota só abaixou a cabeça e segurou as lágrimas que ainda insistiam em vir.

– Alice? – seu pai perguntou. – O que faz aqui? Porque está segurando essas malas?

– Resolvi voltar para casa. – Levantou o rosto, que, naquele momento, carregava um sorriso falso e vazio. – Voltei para você, papai.

– Foi a melhor decisão que você podia ter tomado. – Deu espaço para que ela entrasse. – Vamos, entre, está frio aí fora.

– Obrigada. – Entrou e o beijou no rosto. – Vou para o meu quarto, está bem?

– Boa noite, querida.

Alice subiu as escadas como se seus pés pesassem uma tonelada. Sentia-se o pior ser da face da Terra. Isaac mentira para ela, mas a garota sabia como ele era: uma granada a ponto de explodir e matar todos ao redor. Devia ter conversado, abraçado Isaac.

Chegou até seu quarto, que estava do jeito que tinha deixado quando saiu por aquelas portas, e, quando se jogou na cama, ficou imaginando se aquela teria sido sua melhor escolha.

...

Acordou no meio da madrugada com um barulho irritante e insistente. Ainda era cedo, o sol estava começando a nascer, deixando o quarto alaranjado. Olhou para o foco do som, e percebeu que vinha da janela. Ao abri-la, pôde ver Isaac na grama do jardim, lá em baixo.

– Posso subir aí? – ele perguntou, um sorriso leve nos lábios.

– Pode. – Afastou-se da janela. Dois minutos depois, ele já estava dentro da quarto, as mãos nos bolsos da calça jeans, a cabeça abaixada.

– Precisamos conversar, Alice. – sua voz falhou.

– Como descobriu que eu estava aqui? – a garota perguntou, intrigada, vendo-o aproximar-se dela lentamente.

– Sei tudo sobre você, se esqueceu?

Naquele momento, Isaac já segurava a cintura de Alice contra a sua. Apesar de tudo, ela não queria afastar-se dele, Alice só queria beijá-lo como fizeram no esconderijo. Ele encostou-a delicadamente na parede do quarto e começou a beijá-la.

Alice não queria parar. Apesar das mentiras de Isaac, ela ainda sentia que não poderia viver sem ele. Precisava senti-lo, precisava tocá-lo, precisava, desesperadamente, amá-lo.

– Eu preciso de você, Alice. – ele murmurou, sem fôlego, beijando delicadamente cada parte de seu rosto e pescoço. – Todos os dias da minha existência, eu preciso de você. Não me abandone.

A garota acordou suando frio e arfando. Já estava de manhã, e, em poucos minutos teria que se levantar para ir à escola. Mas, ao invés de sair da cama, afundou a cabeça no travesseiro, sentindo as lágrimas que segurara na noite anterior vindo com força.

– Eu também preciso de você, meu Chapeleiro Maluco. – murmurou sem ar, sentindo como se apertassem seu pescoço e enfiassem lâminas em seu coração.

...

Na saída da escola, Alice mal respirava. Estava deprimida, se sentia um lixo, só queria pensar em voltar para seu quarto e chorar como se tudo dependesse daquilo. Isaac não tinha ido à escola naquele dia, e tudo ficou muito mais escuro e triste sem ele lá. Ficou pensando se deveria ir atrás dele para conversar, talvez pudessem voltar a serem amigos.

Não! Isso não vai funcionar, só vai me fazer sofrer mais, pensou. E se Isaac quisesse voltar a falar comigo, ele me procuraria.

Com esses pensamentos caminhou lentamente até sua casa, mas, antes, parou em uma farmácia. Estava sentindo aquilo novamente, e a única coisa que poderia satisfazê-la era o sangue pingando no chão.

Comprou a lâmina, e, ao entrar correndo em seu banheiro, trancou tudo. Com as mãos tremendo, se despiu e encheu a banheira com água quente. Pegou a lâmina na sacola e entrou na água. Posicionou a lâmina em seu pulso, observando as cicatrizes antigas, e começou a pensar em tudo que a levou àquilo.

A primeira coisa que invadiu seus pensamentos foi sua mãe com a bala alojada no crânio; depois, Isaac, sorridente como um louco; Gato de Cheshire com a arma apontada para sua cabeça; Isaac chorando.

Quando percebeu, a água já estava avermelhada, e seus pulsos tinham vários cortes profundos. Odiava fazer aquilo, sabia que existiam outros modos de esquecer a tristeza, mas tudo era difícil demais. Não tinha mais sua base de sustentação, chamada Isaac.

Saiu da banheira, fez curativos e jogou-se na cama apenas com uma camiseta e dormiu, querendo esquecer tudo aquilo que a fazia sofrer.

...

– Alice... – Seu pai batia na porta pela centésima oitava vez. – Eu sei que você está de férias e tudo mais, mas não acha que precisa sair desse quarto? O dia está tão bonito lá fora.

– Não pai, obrigada. Estou... – parou, tentando inventar alguma coisa. – Estou terminado de ler um livro que peguei emprestado. Juro para você que desço daqui há pouco.

– Estou te esperando. Ah, e o almoço está servido.

– Já vou descer. – disse, sentindo enjoo só de ouvir a palavra “almoço”.

Fazia dois meses, quando entrou de férias escolares, que Alice não se alimentava direito. A garota tinha criado um escudo, uma espécie de bolha que a protegia de tudo no exterior, inclusive de seu pai. Evitava descer para comer ou conversar, e já tinha perdido de dois a três quilos. Mas, naquele dia, não teria como escapar do almoço.

Depois de colocar uma roupa apresentável – já que estava de pijama. – desceu as escadas e encontrou Catarina e seu pai conversando animadamente enquanto comiam peixe. Engolindo em seco, a garota sentou-se ao lado do pai, que entregou a ela um prato lotado.

– Sabe, pai, não estou com muita fome... – começou. – Será que posso comer só a salada?

– Alice, você está tão magra, não anda se alimentando direito. – Catarina disse, lançando um olhar piedoso para ela. – Acho melhor você comer tudo.

– Eu comi um sanduíche e tomei um copo de suco há algumas horas. – mentiu. – Posso deixar para amanhã?

– Tudo bem, Alice. – o pai disse, entregando a salada a ela. – Mas só hoje, está bem?

– Certo.

Comeu a salada rapidamente e voltou ao quarto, sentindo uma súbita vontade de vomitar. Nada que colocava na boca durava muito tempo em seu corpo, mas, daquela vez, decidiu aguentar. Estava mesmo muito magra, e sentia como se seu estômago estivesse se auto-digerindo.

Olhando para o teto, levou um susto quando seu celular tocou.

– Alô?

Alice? – Ela ouviu a voz de Isaac, e teve uma súbita vontade de chorar.

– O que você quer? – Engoliu um soluço.

Preciso te ver, Alice. – Ouviu o garoto respirando fundo. – Só uma última vez.

– Porque mentiu para mim? Isaac... Tudo o que você fez foi horrível, mas, se tivesse me contado, eu não me sentiria tão magoada. Eu só iria te abraçar e dizer...

Dizer o quê?

– Dizer que eu te amo, Isaac. Eu iria te abraçar e até que todos seus pedaços quebrados e sombrios se juntassem. Nesse tempo que ficamos afastados, tudo que eu quero, todos os dias que acordo de manhã, é te abraçar e beijar seus lábios... – As lágrimas já caiam, e ela não iria segurá-las. – Você me faz falta, mesmo com essa ponta de medo dentro de mim.

– Eu preciso de você, Alice. – ele murmurou. – Todos os dias da minha existência, eu preciso de você. Não me abandone. Eu te amo.

Ao ouvir aquelas palavras, tudo ficou escuro, e podia ouvir Isaac chamando-a desesperado do outro lado da linha, como um eco.


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Notas finais do capítulo

E aí?
Gostaram deste?
O que será que aconteceu com nossa querida Alice?
Mereço reviews?

Beijos com Nutella!
o/