A Garota de Cabelos Azuis escrita por Bruna Gonçalves


Capítulo 1
"Um professor idiota e um louco"


Notas iniciais do capítulo

Hey estranho ou estranha que está lendo a minha fanfic!
Espero realmente que gostem e que deixem um review!

Aproveitem o capítulo!



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Colocou os fones que tocavam um rock qualquer e caminhou lentamente até o grande portão verde da escola particular que estudava. Ajeitou sua mochila nas costas e respirou fundo antes de entrar. Só mais um dia, repetia mentalmente, como um mantra, mais um dia.

Sentou-se no banco ao lado da janela da sala do terceiro ano, onde as crianças tinham aula de música. Tocavam, com a flauta doce, uma música natalina, para a apresentação no final do ano. Ela tirou o livro de capa dura de dentro da mochila e o abriu na página do marcador.

Antes de começar a ler, pôde ver as garotas com quem estudava do outro lado do pátio, olhando para ela e soltando risadinhas, enquanto cochichavam alguma coisa. Odiava aquelas garotas como odiava a escola, o diretor e todos aqueles garotos idiotas, e a única coisa que fez foi descer os olhos para algum ponto invisível em seus All Stars, para esconder a dor que ainda estava sentindo. Apesar de ter passado muito tempo, aquelas cicatrizes ainda ardiam.

Quando voltou os olhos para as letras escuras do livro, o sinal do início das aulas soou. Como não queria ser expulsa de mais uma escola, teve que se levantar e caminhar até a sala como todo mundo. E só fez isso porque não queria ter mais uma briga com seu pai. Os gritos eram a única forma de comunicação entre eles.

Como fazia todos os dias, ligou o piloto automático e seguiu até a sala 12, depois das escadas, no final do corredor verde. Já que todos os lugares bons estavam ocupados, teve de se sentar ao lado da janela sem cortinas, que, àquela hora da manhã, era o lugar mais quente de toda a sala.

A primeira aula seria de redação, a matéria que Alice mais abominava. O professor logo entrou na classe e todos ficaram em silêncio. O Sr. Garcia, o educador mais novo da grade escolar – e o mais ridículo e metido também –, logo pediu para que todos entregassem a pesquisa do bimestre e fez um sorteio.

Na semana anterior, ele pedira para que todos os alunos fizessem um poema sobre o que sentiam no momento que escreviam. Como Alice não era hipócrita fez exatamente isso, colocando em detalhes todas as suas frustrações e medos.

Como por obra do destino, o nome dela foi sorteado de dentro do aquário e ela teve de ir à frente da sala e ler seu poema. Com a voz rouca e trêmula, começou, sentindo todos os medos daquele momento voltando para ela com força total. Ainda podia se sentir naquele banheiro de sua casa, suas mãos tocando os ladrilhos frios, o sangue escuro e espesso pingando no chão claro.

Um, dois, três cortes.
Quem é a ridícula, agora?
Engolindo o medo, saboreando a dor,
O que mais pode vir depois?

Quatro, cinco, seis cortes.
Quem é a esquisita, agora?
Engolindo os xingamentos, saboreando a dor,
O que mais pode vir depois?

Sete, oito, nove cortes.
Quem é a deslocada, agora?
Engolindo a insegurança, saboreando a dor,
O que mais pode vir depois?

Dez cortes.
Estão batendo na porta.
“Estou bem”, engolindo o choro,
O que mais pode vir depois?

Os pingos de sangue no chão
eram como rosas vermelhas
num dia quente e úmido
de primavera.

As letras escuras escritas nervosamente nas páginas brancas do fichário deixavam a história daquela garota assustada ainda mais real. Alice, apesar de não olhar para o professor ou para os alunos, sentiu vários olhares direcionados a ela. Cortando o silêncio, Sr, Garcia disse, sua a voz um pouco baixa demais:

– Isso foi um tanto... Perturbador, Alice. – Cerrou as sobrancelhas, fazendo risadas ecoarem pela sala.

Sem permissão, a porta foi aberta por um garoto. Ruivo, pele branca, olhos de uma cor verde completamente indescritível e um sorriso um tanto louco nos lábios. Além de um alargador preto em uma das orelhas e a ponta de uma tatuagem aparecendo pela gola da camiseta escura do colégio.

– Na verdade, senhor, eu adorei esse poema. Estava aqui do lado de fora bebendo um pouco de água e parei para ouvir. – o garoto falava com muita tranquilidade. – Sinceramente, não sei como te aceitaram como professor. Afinal, você só pode ser um idiota, não reconhecendo a beleza desse poema. Ele foi bem... Filosófico, e não perturbador.

– Se não quiser ser expulso, te aconselho a fechar essa porta e nunca mais cruzar comigo. – O professor apontava para a porta enquanto rosnava.

O garoto simplesmente fechou a porta e desapareceu, enquanto Alice voltava à sua carteira. Fechou os olhos, rindo consigo mesma. Pela primeira vez alguém gostara de seus poemas.

(...)

De volta ao pátio, na hora do intervalo, viu o garoto que a protegera na aula de redação no começo das aulas, em baixo de uma árvore, deitado na grama quente. Deitou ao seu lado, colocando as mãos em baixo da cabeça.

– O que está fazendo? – perguntou, olhando para o mesmo ponto que ele, vendo as folhas balançarem conforme o vento.

– Estava observando as nuvens, mas fiquei com calor e deitei aqui. – ele falou, sem nem abrir os olhos. – Observar as nuvens é meio que a coisa que eu mais gosto de fazer na escola.

– Achei que falaria alguma coisa filosófica. – Sorriu, observando-o se virar para ela e abrir os olhos.

– Ah, você não é a garota que fez aquele poema? – Arqueou as sobrancelhas. – Aquele dos cortes e coisa e tal?

– Qual foi sua primeira pista? A minha voz ou eu ser a única garota de cabelo azul na escola inteira?

– E qual é o seu nome, garota de cabelo azul? – Cravou os olhos nos dela.

– Alice. E o seu?

– Fui batizado como Isaac, mas prefiro ser chamado de Chapeleiro.

– Chapeleiro? Tipo aquele louco da história “Alice no País das Maravilhas”? – Cerrou as sobrancelhas. – Por quê?

– Não me acha um pouco louco? Quero dizer, eu invadi uma sala de aula por causa de uma garota de cabelos azuis que eu nem conhecia que lia um poema de (talvez) suicídio cheio de cortes e decepções, e que não é compreendida pelo professor idiota, além de ser bem atraente e ter olhos bonitos. Acho isso bem louco, você não acha?

Ela não disse nada, apenas voltou a olhar para as folhas da grande árvore, repetindo em sua cabeça “bem atraente” e “olhos bonitos”. Ninguém nunca a achara uma garota bonita, muito menos atraente. Nunca teve um namorado, já que todos a achavam estranha e antissocial.

Percebeu que seu sorriso estava lá, aquele mesmo sorriso louco que viu na primeira aula. Alice ficou perturbada, afinal, como conseguia ficar sorrindo o tempo todo?

– Com cinco anos – Isaac cortou o silêncio que pairava entre eles, ainda sem olhar para ela. –, fui diagnosticado com déficit de atenção e distúrbios bipolares. Meu pai ficava me chamando de louco o tempo todo, mas aí ele morreu e eu virei um louco sozinho.

– Minha mãe deu um tiro na própria cabeça quando eu tinha dez anos. E meu pai namora uma ridícula de trinta anos desde então. Mas ela acha que ainda é uma adolescente, agindo como uma idiota, e isso me estressa. Considero-a mais como uma colega de apartamento do que como uma futura madrasta.

De repente, Isaac se sentou na grama e puxou o braço de Alice, sentando-a do seu lado. Sorriu, um sorriso menos louco, um pouco normal.

– Quer ser minha amiga? Tipo, nós temos problemas parecidos, aí imaginei que poderíamos andar juntos e fazer coisas que amigos fazem. Sei lá. – Deu de ombros.

– Claro, seremos amigos. – Sorriu também.

– Não vamos precisar falar aquele negócio de “para toda eternidade”, não é?

– Acho que não. Não sei, nunca tive um melhor amigo ou coisa parecida.

– Eu também nunca tive uma melhor amiga.

E, como um acordo, os dois deram as mãos, selando aquela promessa. Seriam amigos.

Ficaram mais alguns minutos na grama quente, sentindo o vento no rosto e ouvindo os sons, mas tiveram que voltar relutantes para as salas por causa do sinal.


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Notas finais do capítulo

E aí?
Gostaram?
Eu sei, não dá para criar uma opinião concreta sobre a história já que é o primeiro capítulo e tudo mais, mas espero mesmo que tenham gostado desse cap, já que foi feito com muito amor... =3
Reviews para a minha auto-estima?
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Beijos com Nutella!
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